No título, Paulo Tavares dá o tom de seu ensaio ao perguntar: “Lucio Costa era racista?” Em seguida, revê alguns de seus textos cruciais, demonstrando como a questão racial e o colonialismo embasam seu pensamento. Se em 1928, na entrevista que concedeu ao jornal O Paiz, Costa diz que “Tudo é função da raça. A raça sendo boa o governo é bom, será boa a arquitetura. Falem, discutam, gesticulem, o nosso problema básico é a imigração selecionada, o resto é secundário, virá por si”, em 1957, no Relatório do Plano Piloto de Brasília, ele afirma: “Trata-se de um ato deliberado de posse, de um gesto de sentido ainda desbravador, nos moldes da tradição colonial”.
Jogos Sem Fronteiras
23.02.2022 | por Roberto Conduru e Paulo Tavares
O presente livro propõe uma etnografia e história do funaná, uma prática de música e dança que emergiu na ilha de Santiago, Cabo Verde, no período pós-escravatura de final do século XIX, ligada às práticas expressivas de tocadores de gaita (um acordeão diatónico de botões), fero (uma barra de ferro friccionada e percutida com uma faca) e cantores, assim como de audiências participativas. Ao situar esta prática expressiva numa trajetória colonial e pós-colonial o livro procura questionar de que modo a prática cultural e a raça enquanto formação discursiva se entrelaçaram em contextos coloniais, como esse entrelaçamento foi questionado na pós-colonialidade, e que legados desse processo de racialização persistem no presente.
A ler
20.09.2021 | por Rui Cidra
Hoje, encontramo-nos ainda em pleno processo de aprendizagem. A invisibilidade pode omitir e silenciar, mas não pode extinguir. E sim, podemos “desaprender” o colonialismo; mas primeiro, para que assim seja, as suas marcas e efeitos terão de ser confrontados. A desmemória do colonialismo é uma doença política - uma doença para a qual ainda não foi encontrada a cura. Ao contrário das palavras proferidas pelo assassino de Bruno Candé, não existem mais senzalas às quais se possa regressar. Mas, alinhado com o tema que hoje nos trouxe aqui, “reckoning”, ou reconhecimento, para se desaprender o colonialismo, e para que nos descolonizemos a nós próprios, assim como ao mundo à nossa volta, o passado tem de ser confrontado.
A ler
05.04.2021 | por Patrícia Martins Marcos
Angela Davis tenta dar voz às mulheres de etnia negra, silenciadas durante o percurso da história, ao desconstruir as correntes feministas convencionais para poderem abarcar a questão da raça e das suas vicissitudes. Portanto, nunca é transparente que Davis se assuma como uma feminista, já que a sua preocupação em momento algum descarta essa dimensão racial. É uma linha de pensamento que, cruzando o ativismo e a militância política com a formação intelectual, se vai desenvolvendo da classe e da raça até à questão do género, que lhe chega nas relações profissionais que vai experienciando na própria militância, mesmo no próprio seio das comunidades negras.
Mukanda
22.03.2021 | por Lucas Brandão
A Suécia está ainda no eixo do socialismo (social democrata) e mantém relações bem ao seu estilo, apaziguadoras e pacificadoras. Ganhou com a presença da Greta internacionalmente uma missão: a de ser dura nos limites e exigências com o green deal. Ganhou presença discursiva com esta saída dos ingleses do panorama moral europeu. Há muitas décadas que trabalha discretamente nas relações internacionais em direitos humanos e questões ligadas ao ambiente. Tem uma visão muito particular de socialismo que promove um tipo de Swedish dream que contempla uma sociedade mais feliz e menos desigual, mas não condena a riqueza nem a abundância. Querer pagar os impostos numa sociedade que os aplica de forma a criar mesmo uma rede de segurança e bem estar social, é apenas um resultado.
A ler
08.08.2020 | por Adin Manuel
A figura quer conhecer-se ou receia fazê-lo? Resistência e tensão palpáveis. Mais um paralelismo com uma versão adulta mas que resume bem os anos de opressão capilar: Rodrigo ao espelho, máquina de cortar cabelo em riste, domando e inibindo, uma vez mais, o cabelo que não se permite conhecer. Ao ver o seu portfólio, encontro uma figura feminina de costas voltadas para um espelho.
Corpo
10.12.2019 | por Gisela Casimiro
Falta a certos discursos uma compreensão histórica do papel que a raça desempenha na construção da modernidade ocidental capitalista, de sua promíscua indissociabilidade. W. E. B. Du Bois foi talvez um dos primeiros pensadores afroamericanos a revelar, com bastante argúcia, as cumplicidades entre modernidade e terror.
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06.09.2017 | por Marcos de Jesus
O que perdi enquanto não percebi que era negra não foi por isso qualquer coisa de exterior à experiência de percebê-lo. Não perdi parte da minha vida enquanto a negra que sou, mas parte da minha relação com a pessoa que poderia ter sido se o tivesse percebido anteriormente: um monólogo de difícil tradução.
Mukanda
08.01.2015 | por Djaimilia Pereira de Almeida
A ‘raça’ não é, tão pouco, um dado natural que se imponha à classificação que os seres humanos façam do mundo. É, sim, uma das várias identidades, socialmente construídas e arbitrárias, com que contactamos; um caso particular que, como todos os outros, é situado social, política e historicamente.
Da mesmo forma, apesar de toda a sua importância histórica, o racismo é apenas uma forma particular de entre os etnocentrismos, com os quais partilha os mecanismos de construção e afirmação. Só compreendendo-os o poderemos combater com eficácia.
A ler
21.11.2014 | por Paulo Granjo
Na sua campanha presidencial há quatro anos, Barack Obama disse que a questão racial não devia ser ignorada. Mas como Presidente, tem falado sobre o tema de forma episódica e só depois de ter sido publicamente pressionado. Qualquer menção de raça vinda da Casa Branca cria uma tempestade porque a América branca votou nele para acabar de vez com a conversa sobre a barreira racial. Esse é um dos maiores paradoxos da sua eleição: a raça tornou-se um tabu – para ele.
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11.10.2012 | por Kathleen Gomes
A crioulização tem claramente a sua base no estudo do complexo Afro-Americano e nas sociedades de plantação das Caraíbas, talvez apenas com ramificação para o Brasil como instância comparativa. Na sua review da antropologia da Afro-América Latina e Caraíbas, Yelvington (2001) diz que a actual preocupação antropológica com os processos de globalização, dispersão, migração e transnacionalidade, com o colonialismo, o hibridismo, etc., elide muitas vezes a produção fundacional que remete para os estudos da diáspora africana nas Américas.
A ler
06.05.2011 | por Miguel Vale de Almeida
Escravatura ou liberdade, homogeneidade cultural europeia e diversidade africana, desequilíbrios de género, criação de grupos intermediários são, pois, determinantes. Para Mintz e Price, o conceito de “crioulização” surgiu como um útil substituto de “aculturação” e “assimilação”, pois descreve uma expressão sincrética que leva ao surgimento de novas formas culturais, tal como no passado aconteceu na Europa.
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06.05.2011 | por Miguel Vale de Almeida
"Raça é menos um fato biológico do que um mito social e, como mito, causou severas perdas de vidas humanas e muito sofrimento em anos recentes." A declaração é de 1950, quando, no calor do pós-guerra, das lembranças recentes do Holocausto e dos ecos da política racial de Estados Unidos e África do Sul, a Unesco tentou deslanchar uma campanha mundial contra a discriminação racial.
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10.09.2010 | por Vilma Homero
Como tem sido produzida a identidade do africano na história, qual é o papel dos media nas novas percepções, representação e discurso sobre os africanos e negros? A globalização cultural traz novos modos de representação identitária que vão para além do que é visível, englobando aspectos simbólicos e de fraternidade em relação às diferentes raças. As identidades visíveis entram num caos globalizado.
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19.06.2010 | por Gerson Geraldo Machevo