Infância em tempos de guerra: Sarajevo, Luanda, Gaza I Um passo atrás

Infância em tempos de guerra: Sarajevo, Luanda, Gaza I Um passo atrás Talvez o esforço de reconciliação entre vítimas e agressores - dois lugares por vezes ocupados simultaneamente pelos mesmos sujeitos - não sirva para curar as feridas de quem viveu a fractura do conflito em si, mas sim para criar um espaço de possibilidade de re-invenção e reparação nas gerações futuras. Assim, o irreparável e o reparável podem coexistir no tempo dos vivos, com a condição inegociável de não deixar que o esquecimento apague aquilo que aconteceu, por mais insuportável que seja lembrar.

Mukanda

29.11.2023 | por Aline Frazão

Rosto soberano - primeira estação (terceira variação)- segundo excerto

Rosto soberano - primeira estação (terceira variação)- segundo excerto Assistiu ainda jovem adulto Nas vastas terras angolanas À devoração do irmão natural Pela ferocidade das águas impetuosas E tempestuosas do rio Kwanza

Mukanda

29.11.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Angola Degredo Salvação, pré-publicação

Angola Degredo Salvação, pré-publicação Futuro de Angola, leia-se, futuro de Portugal. A fusão de destinos – real e fantasiada – permitia inventariar uma série de dependências e subordinações entre metrópole e colónia. A prosperidade e desenvolvimento de Angola era desejável na justa medida em que servisse o interesse português e tivesse repercussão positiva na metrópole.

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28.11.2023 | por Nuno Milagre

"Não mates a minha mãe!"

"Não mates a minha mãe!" T-shirts e cartazes a pedir «Justiça para Cláudia Simões», frase que infelizmente teve e terá diversos nomes de vítimas. Recebo um papelinho com instruções para o caso de sermos agredidos ou presos. Descemos a Avenida com centenas de pessoas a gritar «Gentalha unida jamais será esquecida», ou seria «Gentalha esquecida sempre unida»?, «a nossa luta é todos os dias, contra o racismo e a xenofobia». Cláudia Simões, mais uma mulher negra espancada, cara desfeita num golpe mata-leão, em que o leão era o polícia da PSP Carlos Canha que a agrediu em frente à filha, desesperada, a assistir ao desespero da mãe.

Cidade

25.11.2023 | por Marta Lança

Sisal em Carne Viva - introdução

Sisal em Carne Viva - introdução Enquadrado pelo imaginário imperial racialista, o regime do Indigenato consagrava uma delimitação entre indígenas e não-indígenas, que serviu a hierarquização da ordem de interação colonial. Esta delimitação admitia que, de entre os africanos, algumas – poucas – pessoas se aproximavam dos padrões de conduta e estatuto social valorizados pela população de origem europeia, ali monopolizadora das posições de maior poder económico, simbólico e político, geralmente associadas a uma certa ideia de urbanidade. Tal aproximação seria oficialmente reconhecida pela concessão do estatuto de assimilado, e quem assim fosse consagrado estaria isento das obrigações exigidas aos indígenas, incluindo o trabalho forçado.

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24.11.2023 | por Inês Galvão

Autoras como Produtoras: dispositivos em (e)moção

Autoras como Produtoras: dispositivos em (e)moção Neste artigo monto apparatus forjados por mulheres, diversos na sua natureza, mas, argumento, similares no seu móbil. Ao dar corpo às suas urgências individuais, os seus dispositivos desbloqueiam não só processos de auto-cura das autoras, mas igualmente de construção e reparação de colectivos. Sou amiga ou colega de algumas destas mulheres, pelo que este conjunto é também um reconhecimento ao seu trabalho. Muitas faltarão aqui. Mobilizei aquelas que, neste momento, me permitem argumentar o que aqui não cabe escrever. As breves notas que em seguida deixo são brechas por onde entrar nos seus dispositivos.

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24.11.2023 | por Inês Beleza Barreiros

Amérika: Gestos Cinematográficos para Reencantar o Mundo

Amérika: Gestos Cinematográficos para Reencantar o Mundo O ciclo explora os cruzamentos entre o cinema experimental e a etnografia através de uma cartografia de práticas e gestos cinematográficos desenvolvidos histórica e contemporaneamente na América Latina. Dos filmes de Bruce Baillie e Chick Strand realizados no México ao cinema amazónico, que supera e desloca o terreno de intersecção entre o cinema experimental e a etnografia, e da obra do etnógrafo Jorge Prelorán à do cineasta experimental Bruno Varela, passando pelas peças pioneiras de videoarte de Juan Downey e pelos “poemas etnográficos” (Nicole Brenez) de Raymonde Carasco e Régis Hébraud, as treze sessões deste ciclo de três anos propõem um percurso representativo da diversidade visual e epistemológica do continente latino-americano.

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21.11.2023 | por Raquel Schefer

No Need for European Decolonial Instruction

No Need for European Decolonial Instruction O resultado evidente do processo disciplinar desencadeado pela Documenta15, confirmado pelo que está a acontecer nos últimos dias, é o desmascarar da hipocrisia perversa da política cultural descolonial europeia. Em vez de resolver questões internas que vêm à tona de modo cada vez mais flagrante, o Estado alemão prefere aplicar medidas disciplinares autoritárias, repetindo antigas formas de gaslighting implementadas na Alemanha de Leste durante as décadas de 1970 e 1980 e criando, a cada situação, novos bodes expiatórios.

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21.11.2023 | por Laura Burocco

Brasileiros assinam carta em apoio a ativista negro condenado em Portugal

Brasileiros assinam carta em apoio a ativista negro condenado em Portugal A luta de Mamadou Ba não é individual, é coletiva, e é de todas as pessoas e organizações democráticas que resistem ao crescimento dos fascismos e recusam o regresso de regimes monstruosos associados à chamada extrema direita. Deste modo, requeremos revisão da sentença condenatória e da pena imposta. Que a justiça seja restaurada já! Mamadou já fez saber que usará os instrumentos que o Estado de Direito lhe garante para levar a justiça até às últimas instâncias, incluindo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, se necessário. A luta antirracista continua!

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20.11.2023 | por vários

Universidades sem algemas

Universidades sem algemas Num momento em que, no país e no mundo, ideias e políticas anti-democráticas e autoritárias crescem e ameaçam direitos e liberdades que há muito temos como garantidos, a repressão feita às estudantes e o silenciamento forçado da comunidade universitária dá passos num sentido particularmente perigoso. À beira do ano em que nos preparamos para celebrar meio século do 25 de Abril, tudo isto é revoltante.

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20.11.2023 | por vários

Jogos de Palavras

Jogos de Palavras A língua é quase sempre o último reduto desses ódios recalcados. As palavras são de certo modo um espelho da sociedade e o racismo e a xenofobia são ainda hoje os herdeiros dessas palavras que ferem, que podem mesmo matar. E que sobrevivem até aos dias de hoje, mesmo quando há muito se esfumaram as razões históricas que lhes deram origem.

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20.11.2023 | por José Lima

Política da língua como prática da decolonialidade: uma reflexão começada

Política da língua como prática da decolonialidade: uma reflexão começada A língua tem lugar, enraizada num chão onde é vivida, mas, além disso, é lugar de expressão de lugares. No sentido em que através dela algo se mostra, a língua é faculdade de ser atravessada, lugar de influências e dependências que levam o nome de uma negociação e que são também uma forma de atravessar, o resultado de uma viagem do lugar de sentido que somos por lugares de sentido que outros são e reciprocamente. Era esse o sentido de negociação de identidade a que se referiu Chiziane. Travessia que consiste em se deixar atravessar, língua e território percorrem-se como uma fita de Moebius.

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15.11.2023 | por André Barata e Liliana Coutinho

Rosto soberano - primeira estação (segunda variação)

Rosto soberano - primeira estação (segunda variação) Um país em busca Do seu verde nome Ou, melhor, do verde Lacrado no seu nome Ou, muito melhor ainda, Do lugar verde imaginado Lavrado e ajuramentado Com o seu inoxidável nome No sonho do poema de amanhã

Mukanda

10.11.2023 | por José Luís Hopffer Almada

A Poesia não é um luxo - Pré-Publicação de "Irmã Marginal"

A Poesia não é um luxo - Pré-Publicação de "Irmã Marginal" Para as mulheres, a poesia não é, pois, um luxo. É uma necessidade vital da nossa existência. Forma a qualidade da luz pela qual manifestamos as nossas esperanças e sonhos no sentido da sobrevivência e da mudança, tornando‐os primeiro linguagem, depois ideia, e depois acção mais tangível. A poesia é o modo como nomeamos o inominado para que possa ser pensado. Os horizontes mais longínquos das nossas esperanças e medos são calcetados pelos nossos poemas, esculpidos na experiência rochosa do nosso quotidiano.

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08.11.2023 | por Audre Lorde

Resem Verkron, arte de revelar emoções silenciadas

 Resem Verkron, arte de revelar emoções silenciadas Lola & Mami - Um Fragmento de amor é a sua primeira curta-metragem. Nela explora as masculinidades tóxicas que habitam a cidade de Luanda, esses homens que tudo dizem poder e fazer, simultaneamente com uma auto-estima de rastos. Com guião e produção promovidos nas residências do Atelier Mutamba, pelo Kino Yetu (em português “nosso cinema”), teve a participação de vários realizadores como Gegé M'bakudi e Irene A’Mosi.

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08.11.2023 | por André Soares

A magnificente metaforização do poema: poesia marroquina contemporânea escrita por mulheres.

A magnificente metaforização do poema: poesia marroquina contemporânea escrita por mulheres. Cumprida a função da poesia que em seu empenhamento político foi um modo de consciencialização, de resistência contra o colonialismo, e de luta pela independência de Marrocos, uma nova expressão poética, com o advento da independência, começa a tomar forma, criando o seu próprio espaço no panorama da poesia árabe. É neste contexto que se inserem as poetas que aqui se dão a ler, em pé de igualdade com a poesia escrita por homens, a qual, desde há séculos, detém uma preponderância incomensuravelmente maior.

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08.11.2023 | por Zetho Cunha Gonçalves

COLÓQUIO INTERNACIONAL AFROLAB 2023 Escritas Afrodescendentes

COLÓQUIO INTERNACIONAL AFROLAB 2023  Escritas Afrodescendentes "O objectivo desta reflexão é discutir os termos de (auto)identificação e de pertença em Portugal, através da localização da escrita de autoria afrodescendente no sistema literário português, cujo contexto é claramente português, sendo os seus autores sujeitos conscientes do deslocamento geográfico e psico-cultural, porém com um sentido de pertença claramente europeu – razão por que vêm sendo designados afropeus a sua escrita afropeia, evidenciando particularidades de uma diversa cenografia literária nacional que, em certa medida, desafia a visão hegemónica do “cânone literário” português." Inocência Mata

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06.11.2023 | por vários

Os africanos estão na moda

Os africanos estão na moda Esta moda existirá há duas décadas em alguns países europeus, mas a outra perversão que resulta do conceito de Taye Selasi é a que permite que se exclua deste grupo de afropolitanos todos os africanos que não obtêm os vistos necessários para acederem às capitais europeias, todos aqueles que estão afastados dos circuitos do poder e da possibilidade de serem tomados como um novo exotismo.

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03.11.2023 | por António Pinto Ribeiro

A morte é um eterno regresso

A morte é um eterno regresso Esta noite, os mortos regressam à nossa dimensão. Dançam com os vivos. Lambuzam-se com as comidas preferidas e embriagam-se com tequila e mezcal. Na sua incorporalidade, chegam desde o inframundo, guiados pelo aroma das flores de cempasúchil, pelo fumo do copal e pela luz das velas dos altares e campas. Nos espelhos e nas fotografias reconhecem-se; nos objetos pessoais, materializam-se. Esta noite, a vida e a morte fundem-se num abraço nostálgico e espectral.

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01.11.2023 | por Pedro Cardoso

O que leva um Ser Humano? Repensar a partir da catástrofe Israel-Palestina

O que leva um Ser Humano?  Repensar a partir da catástrofe Israel-Palestina Tratando-se de um colonialismo moderno, iniciado em 1948, num período em que começou também o processo que poria fim a colónias, a tática da desumanização foi reproduzida pelo novo Israel. O Outro, neste caso o povo autóctone palestiniano, é, tal como foram os povos africanos ou os povos indígenas nos vários continentes, caracterizado como “animal”, como “verme”, e por outros nomes que tentam quebrar a tal “igualdade” a que nos convida a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda hoje, o uso destas catalogações inumanas do Outro serve para justificar a forma como é tratado, a violência que é exercida sobre ele, a humilhação lenta, a tortura, o assassínio – como se acabar com um animal fosse mais fácil ou justificado.

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31.10.2023 | por Alix Didier Sarrouy