Importantes ainda são os estudos de Lévy-Strauss, do grupo da “decolonality” latino-americana como Eduardo Viveiros de Castro, Walter Mignolo, Aníbal Quijano, ou de antropólogos como Aparecida Vilaça, Yvone de Freitas Leite, Elisa Loncon Antileo, Pedro Niemeyer Cesarino, ou líderes índios como Ailton Krenac. Estes últimos, ao mesmo tempo que denunciam o extermínio das línguas nativas, também as estudam, tentam registá-las quando tal ainda é possível.
A ler
17.02.2019 | por António Pinto Ribeiro
Ficávamos todos surdos por umas horas! - comentavam internamente. Enquanto a esmagava, o homem enfurecido dizia em sua santa consciência que agia para o bem de todos. São tempos de sufrágio e as prostitutas cantam no meu leito: o meu corpo é um veículo em emergência. A ambulância atrasa novamente. Morreu de quê? Morte matada. Com um sémen presente no gene e dois ventrículos castrados. Fomos parar à Mutamba e lá estava a frase legitimando: "A interrupção voluntária é máscula". Chamamos a ambulância, a menina durante o congestionamento pediu-nos, em agonia: "Chamem o obituário! Eu e o nato não queremos mais respirar...".
Corpo
13.02.2019 | por Indira Grandê
Enquanto o país se consome de forma autofágica com os seus problemas, este país onde, nos dias que correm, muitos trocam o respeito pela atenção, nós seguimos tentando, com a nossa arte, provocar naqueles que gostam de ouvir com os olhos e ver com os ouvidos, a sensação reconfortante de estarem acompanhados. Por entre tantas adversidades que assolam este quintal, não há tragédia maior do que a seca para à qual foram conduzidas as mentes, que se tornaram estéreis e incapazes de gerar conhecimento para, juntos, darmos a volta por cima. A seca está nas mentes.
Palcos
12.02.2019 | por vários
Para um colombiano que viveu (e ainda vive) o conflito armado através da imprensa e da televisão, este itinerário museológico pelos trilhos da memória (dos indivíduos e da terra) resulta numa experiência tão perturbadora quanto renovadora a propósito dessas vozes no silêncio. Enquanto percorria esta segunda exposição e as suas histórias de dor e esperança, recordei-me de uma das peças do museu de Medellín acima referido, intitulada Susurros: historias para gritar, e que se compõe de pequenas caixas em madeira com altifalantes, das quais emanam, murmurantes, os testemunhos das vítimas de uma realidade atravessada pela brutalidade. São todas estas vozes que, afinal, sobreviveram e sobrevivem.
Vou lá visitar
12.02.2019 | por Felipe Cammaert
A acção principal decorre, saltitante entre quatro ilhas de Cabo Verde - Sal, São Vicente, Santo Antão e Santiago, sendo recortada por episódios desenrolados de Norte a Sul de Portugal, e suavemente pontuada por anotações de uma Índia por descobrir, denunciando um desejo iminente de continuação do enredo pela Ásia.
Partir para voltar. Este mote, ecoando numa busca por voltar a casa, transformou-se num relato urgente de lições apreendidas, num momento de abertura total à sincronicidade do Universo. Que os Mestres de Esquina que conduziram a autora nesta jornada, possam agora acompanhar o leitor também.
A ler
12.02.2019 | por Ana Pracaschandra
O neologismo “artivismo” terá sido introduzido nos anos 1960 para dar conta das manifestações contra a guerra do Vietname, assim como dos movimentos estudantis e de contra-cultura. Nesse sentido, Guy Debord teorizou sobre o situacionismo em seu livro A Sociedade do Espetáculo (1967), onde apontava para a necessidade da superação da política e da arte, para sabotar as diretrizes do capitalismo e, assim, dar um novo saber a arte e, por conseguinte, à vida. É apenas em meados de 1990, com a revolução da internet, que o termo volta a aparecer no vocabulário crítico para ilustrar não apenas uma prática de arte política, mas para reavaliar o que se considera política e arte, numa reactualização do conceito de Debord.
A ler
12.02.2019 | por Fernanda Vilar
O contínuo desaparecimento de importantes segmentos da memória artística e cultural do nosso país, bem como a falta de atenção à grande parte da actual “cultura viva” não são metáforas catastrofistas: são factos que assistimos dia após dia, sem dizermos nem fazermos nada com medo de sofrer represálias até mesmo quando, na verdade, a culpa é colectiva e chamamos à responsabilização de todos.
A ler
09.02.2019 | por Adriano Mixinge
Num povo dito de brandos costumes, e que dispõe de um discurso oficial no qual os problemas de discriminação racial tendem a não se colocar, falar de um humor racista afigura-se excessivo, além de epistemologicamente contraproducente. Porém, basta efectuar uma breve pesquisa no Google para confirmar a resiliência dos herdeiros de «Parafuso», traduzida na irradiação e popularidade das anedotas racistas.
A ler
07.02.2019 | por Marcos Cardão
A imagem parece preservar a subjetividade e individualidade das pessoas fotografadas, a mulher e a criança. Mas o texto manuscrito vem perturbar a imagem, transformando esta mulher, num“tipo”,representativode“todas” as mulheres do norte de Angola em relação às quais o “Vitor” faz um comentário racista. Muitas destas imagens foram feitas em contexto de grande desigualdade – étnica, social, sexual. Mas a dignidade humana e o olhar da mulher sem nome, e da filha ou filho que leva ao colo, desafiam as palavras manuscritas que carrega às costas.
Vou lá visitar
07.02.2019 | por Filipa Lowndes Vicente
Não sei como começou esta febre da “apropriação cultural” mas vem mesmo a calhar. É a expressão que faltava para caracterizar a burocracia. Sim, nós mangolês apropriamos a burocracia dos tugas e infelizmente fizemo-lo à letra; apropriamos a burocracia como cultura, ou a burocracia é que nos apropriou; a burocracia como doutrina, a burocracia agora é nossa, burocracia e mais burocracia. BU-RO-CRA-CIA. Vive la bureaucratie! Quem está bem é o bebé nas costas da mãe, cochila desconhecendo as nossas malambas diárias.
Cidade
06.02.2019 | por Indira Grandê
Pois o que é o silêncio? A resposta clássica seria ausência de vibrações mecânicas transmitidas pelo ar. O silêncio pressupõe que qualquer coisa exterior ao ser humano estaria em estado de repouso ou seria anulada por algum efeito. O ruído seria neste sentido tudo aquilo que, não desejado, imprime uma qualidade de perturbação ao sinal: ou o próprio sinal. Na verdade, nunca houve silêncio. Sempre houve muito ruído. O silêncio é, por vezes, a representação do vazio, da ausência de algo, de um termo, de outro elemento ou pessoa.
Vou lá visitar
06.02.2019 | por Marta Rema
Não pode haver lusofonia em conjugação (ou em simultaneidade) com ‘portugalidade’. Ambos os termos são hiperidentitários, remetendo para uma mesma origem, uma vez que a ‘portugalidade’ pressupõe um sublinhado de alegadas características portuguesas, conceção referida exclusivamente a Portugal, enquanto a lusofonia, se bem que na sua etimologia remeta para ‘luso’, abrange outros países que falam o português, abarcando por isso um lastro que vai para além do seu significado imediato.
A ler
06.02.2019 | por Vítor de Sousa
O filme de Nebyinga Kafando traz a lume a questão: quais os desafios para os mais jovens e para a sociedade em geral no que diz respeito ao acompanhamento dos mais velhos nos dias de hoje e num futuro próximo, nomeadamente em África, quando a doença bate à porta e o idoso, já algo afastado do convívio da família nuclear, se torna ainda mais excluído por via da invalidez?
Afroscreen
06.02.2019 | por Luísa Fresta
Porque este bastão não é apenas uma insígnia de poder africano. Ele é também um suporte de escrita, já que apresenta aposto um lacre, marcado com um carimbo daquela chefia. Atrás desta peça está uma longa história que começa no século XVI,
Vou lá visitar
04.02.2019 | por Catarina Madeira Santos
A ancestralidade de Cabral e do anticolonialismo é um crucial memorando de que há lutas que não podemos trair, um memorando das muitas latitudes de indignidade racista e, finalmente, um memorando de que os corredores das instituições, a escola piloto de Conacri, as matas da Guiné-Bissau e o Bairro da Jamaica no Seixal são referências cruciais para as cartografias partilhadas de um futuro antirracista e anticolonial.
Cidade
02.02.2019 | por Bruno Sena Martins
A grande maioria das vezes não é um discurso de ódio aberto; é um discurso em que se naturaliza a diferença racial e em que se entende o outro, muitas vezes português mas negro, como inferior ou como alguém que é suspeito de alguma coisa – veja-se a relação que as polícias têm com as periferias racializadas.
Cara a cara
01.02.2019 | por Miguel Cardina
Sem o envolvimento de nenhum partido político, movimento partidário ou social. As pessoas, maioritariamente jovens, mobilizaram-se pela luta contra os atos de violência da polícia e em solidariedade pela Família Negra do Bairro da Jamaica.
Mukanda
30.01.2019 | por Son Ibr Jiobardjan
Entendemos como as mulheres se tornam agentes da sua emancipação e confirma-se a necessidade de tratarmos da reconfiguração das relações no espaço privado, nas relações amorosas e, em particular, a reconfiguração das relações sob o ponto de vista masculino. Quais as controvérsias que o processo de emancipação feminina engendra em Cabo Verde? Que transformações radicais foram operadas? Que efeitos concretos foram trazidos pela entrada maciça das mulheres na vida pública?
Corpo
29.01.2019 | por Iolanda Évora
Mekas nos deixa em um momento sombrio, quando todas as forças parecem querer apartar os laços que unem uma mão à outra e autoridades celebram o exílio dos que ousam sonhar outros mundos. Que ele e seus filmes permaneçam como as “coroas da vida” de que falou quando escreveu sobre Richter; pontes sinalizando que, mesmo em tempos graves, é possível seguir adiante para (como diz o título de um de seus filmes) “ocasionalmente encontrar lampejos de beleza”.
Afroscreen
28.01.2019 | por Patrícia Mourão
A propósito da estreia em Portugal da adaptação cinematográfica de 'Mais Um Dia de Vida', um percurso pelos lugares e personagens do livro clássico do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski, que descreve Angola em 1975, o fim do colonialismo, o nascimento de um novo país e o início de uma guerra civil.
Afroscreen
28.01.2019 | por Susana Moreira Marques