Os atos sexuais que geraram aqueles filhos são tendencialmente vistos como despojados de violência ou interesse; o tom de pele mais claro, denunciador de atos sexuais com o colonizador, foi motivo de ostracismo social e frequentemente familiar; do lado de cá, os pais tentam maioritariamente esquecer ou resistem aos contactos, ciosos dos impactos da descoberta na sua família.
A ler
10.06.2018 | por Miguel Cardina
O projeto “A Ilha de Vénus” além de ser um questionamento sobre a legitimação de uma história que exclui o “outro”, é também uma reflexão sobre uma das maiores tragédias da humanidade no presente, que começa na busca de um sonho que somente é realizado cruzando o Mediterrâneo. A realização deste sonho muitas vezes termina num pesadelo.
Mukanda
09.06.2018 | por Kiluanji Kia Henda
O recém-modernizado Museu Centro-Africano em Tervuren não se desfaz do velho, nem clarifica a questão dos propósitos servidos hoje por um ‘museu africano’ na Europa. Ao invés, quem o visitar após a sua reabertura confrontar-se-á com a problemática relação entre passado e presente que Tervuren sempre encarnará — e com a presença insistente do fantasma do Rei Leopoldo.
Vou lá visitar
08.06.2018 | por Ana Naomi de Sousa
Esse movimento de reparação abre vias de modificação de organizações sociais, ainda hoje sustentadas por esses mitos sobre o ser homem e do valor da exploração e submissão dos mais fracos e dos povos mais fracos, o que, evidentemente, é simbolizado na submissão ao Deus do Antigo Testamento: O elemento chave de justificação do tráfico de escravos e sua aceitação por quase toda boa sociedade europeia.
Mukanda
02.06.2018 | por Miguel Sayad
De que passado colonial ou imperial estamos nós a falar? O que sabemos sobre esse passado, longínquo ou bem recente? O que conhecemos, de facto, de aspectos tão fundamentais como a estrutura ocupacional ou de rendimentos, os padrões de consumo, os graus de literacia, as práticas culturais, as opções ideológicas, os níveis de formação e participação política, as políticas de cidadania ou da terra nas antigas sociedades coloniais, em espaços urbanos ou rurais e nos trânsitos entre estes? Mais: o que sabemos sobre a própria descolonização, processo mais amplo e complexo que a mera “transferência do poder”?
A ler
02.06.2018 | por Miguel Bandeira Jerónimo
Acredito que Portugal precisa de aprender a contar bem melhor as suas tantas histórias, e que essa é necessariamente uma injunção do presente. Um museu dedicado a uma “história única” contada na língua do eufemismo boicota esse esforço, que já vai atrasado. O que nos vale é que seja um atraso necessariamente recuperável: é sempre possível ser mais livre.
A ler
01.06.2018 | por Pedro Schacht Pereira
O filme Martírio é talvez um dos mais importantes e perturbantes documentos da atualidade brasileira e do etnocídio indígena em curso, perpetuado pelo governo brasileiro. Vincent Carelli, em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tatiana Soares de Almeida, recolhe imagens históricas da resistência guarani Kaiowá ao conflito com as instituições governamentais.
Afroscreen
26.05.2018 | por Ritó aka Rita Natálio e vários
Numa altura em que o discurso pós-colonial começa a complexificar-se, pela luta conjunta de pessoas e iniciativas em várias áreas, a visão ignorante e eurocêntrica que atravessa este festival não devia passar incólume. Apelo a que se celebre África, no dia 25 de maio e todos os dias, claro, mas em eventos e contextos inclusivos, onde se considere o pensamento contemporâneo africano, com ética, respeito e conteúdo.
Mukanda
24.05.2018 | por Marta Lança
Perderemos uma oportunidade histórica (e ética) se mantivermos uma nomenclatura de “descoberta” a propósito deste período histórico e não pensarmos uma metodologia adequada para este museu que esteja à altura de abrir um espaço novo capaz de articular crítica e criativamente, de forma informada, inclusiva e respeitadora da legitimidade das várias perspetivas e experiências que são a realidade da cidade de Lisboa e do país.
Mukanda
21.05.2018 | por vários
Os museus hoje ou são pós-coloniais ou não são nada. O que quer isto dizer? Primeiro que esta posição tem antecedentes: nos efeitos da revolução pós-colonial protagonizada pela negritude, pelas independências, pelo pós-colonialismo nas suas várias expressões e pelo pensamento ameríndio contemporâneo, com um impacto e uma energia intelectual só comparável à revolução coperniciana. Do mesmo modo como não é equacionável fazer um museu da história da ciência que terminasse num planisfério em que o sol e todos os corpos celestes girassem à volta da terra, não é admissível pensar a expansão portuguesa e a europeia dissociadas das narrativas dos ocupados e dos vencidos, dos seus acervos, quando os há, e da sua narrativa sobre a expansão.
A ler
19.05.2018 | por António Pinto Ribeiro
Metáfora sarcástica de Yonamine para analisar, com senso comum e olhar emancipado, a história mais recente de Angola.O artista inverte a sintaxe criativa à qual nos tem habituado: onde ele acumulava agora esvazia, onde ele organizava em forma de quadrículas, agora o faz unindo a irregularidade de contornos das palavras e das frases, onde ele antes colava na parede, agora pendura ou estende como se já tivesse lavado e purificado tudo, como se a realidade tivesse deixado de ser um lençol corrompido e insano.
Vou lá visitar
18.05.2018 | por Adriano Mixinge e JAHMEK CONTEMPORARY ART
peça construída por estudantes que viveram o processo de ocupações e manifestações do movimento secundarista em 2015 e 2016. Frutos da primavera secundarista, 14 corpos insurgentes deslocam para a cena a experiência dentro das escolas ocupadas, criando uma narrativa coletiva e comum a partir da perspectiva de quem viveu intensamente o cotidiano dentro do movimento. Ocupando o tempo presente, a ColetivA provoca de maneira pulsante o universo que compõe esse movimento que transformou o corpo e vida de todos que participaram.
Palcos
13.05.2018 | por Jean Tible
Até ao dia 3 de Junho, o MASP (Brasil) apresenta "Maria Auxiliadora da Silva: vida quotidiana, pintura, resistência" no contexto da sua programação dedicada às histórias afro‑atlânticas: as histórias dos fluxos e dos refluxos entre a África e as Américas através do Atlântico. Este texto aborda o trabalho da artista e os elementos críticos e criativos que foram negligenciados em favor de sua “crônica de vida”, apontando alguns dos desafios curatoriais à exposição deste trabalho, no contexto institucional.
Vou lá visitar
13.05.2018 | por Marta Mestre
A família é o objeto opaco e indecifrável o que torna os estudos das memórias privadas um desafio problemático. De fato, como se pode perfurar o diafragma espesso que protege e encobre os passados subjetivos, privados, denegados, afundados como cárceres de grupos afetivos nas regiões mais escuras e profundas do perímetro familiar?
A ler
12.05.2018 | por Roberto Vecchi
“Afrotopia é uma utopia activa que procura no real africano os diversos espaços do possível e os fecunda”. Não defende nem o afro-pessimismo (que olha para o continente como estando à deriva), nem o afro-euforismo (que olha para África como o futuro económico). Qual será o lugar de um afrotópico? “O realismo”, responde.
Cara a cara
08.05.2018 | por Joana Gorjão Henriques
A chegada à Europa de grandes contingentes de população, com vivência colonial corporizava a realidade distante dos impérios perdidos e perturbava traumaticamente a narrativa europeia. Estas populações e a história de que eram portadoras denunciavam a relação organicamente imperial europeia e iriam compondo parte das sociedades multiculturais europeias que ocultamente emergiam. A análise dos seus prolongamentos atuais, sob a forma dos "descendentes" e de uma cultura outra, exige-nos a inscrição da violência colonial, pública e privada, na história.
A ler
05.05.2018 | por Margarida Calafate Ribeiro
Em entrevista, o filósofo camaronês fala sobre xenofobia, nacionalismo, o lugar do estrangeiro, os perigos de “culturas únicas” e espaços de articulação para a diferença. A diferença se tornou um problema político e cultural no momento em que o contato violento entre povos, por meio da conquista, do colonialismo e do racismo, levou alguns a acreditarem que eram melhores que outros. No momento em que começamos a fazer classificações, institucionalizar hierarquias em nome da diferença, como se as diferenças fossem naturais e não construídas, acreditando que são imutáveis e portanto legítimas, aí sim estamos em apuros.
Cara a cara
30.04.2018 | por Katharina von Ruckteschell-Katte
O que se celebra é o conhecimento e não uma qualquer forma de mobilização ou adesão à acção. Bem o contrário do que foi a tradição em Portugal de usos da história para celebrações identitárias no período colonial, mas também no pós-25 de Abril, e sempre ancoradas na grande metáfora das descobertas. Foi assim com a exposição do mundo português de 1940, foi assim com a adopção do luso-tropicalismo como narrativa moderada e afectuosa das consequências das descobertas, mas, depois, também nos anos 90, a emular a sequência das datas de descobrimentos que se memorizava na escola básica, a Comissão dos Descobrimentos de 1992 e a própria Expo-98.
A ler
27.04.2018 | por André Barata
O império português usou Cabo Verde como país de degredo desde que “achou” as ilhas, e a escolha deste lugar teve a ver com o isolamento, a facilidade de vigilância e a aridez desoladora, que deveria contribuir para o abatimento dos espíritos aprisionados. (...) É impossível, de facto, pormo-nos no lugar de quem aqui esteve dentro. Mas também é impossível não ver o império português, porque é isso que aqui está.
A ler
23.04.2018 | por Alexandra Lucas Coelho
Uma visão antológica do trabalho do fotógrafo moçambicano, apresentado em dois núcleos diferenciados, explorando os seus temas de eleição e o itinerário dos lugares que percorreu e onde vive. Dão-se a conhecer peças de referência do percurso de Cabral mas também imagens esquecidas, direcções experimentais ou fotografias inéditas.
Vou lá visitar
21.04.2018 | por Alexandre Pomar