Marchas, grupos, associações, festas, hortas, ocupações, ações e criações mil constituem a irrupção singular de novas subjetividades preta, LGBTQ+, trabalhadora, periférica, feminista, indígena, múltiplas que desperta medo (todos os levantes brasileiros foram seguidos de uma brutal repressão – a revolta do malês de 1835 como um dos inúmeros exemplos). O golpe (que segue) como uma peculiar contra-revolução, desencadeada pelo temor da exuberância vital dos corpos livres, insubmissos, descolonizados, não domesticados. Daí as reações identitárias (branca, masculina, heteronormativa) que pululam e os ataques constantes às principais esferas de atuação (cultura e educação) dessas emergências.
A ler
12.12.2018 | por Jean Tible
Excerto de 'Lampreia Alerta', livro de contos da autoria de Ermelinda Freitas, com textos e desenhos baseados em notícias provenientes de vários media, mais ou menos recentes e insólitas, que envolvem animais ou falam da sua presença no espaço ocupado (também) por humanos. Inspirado no género fábula, Ermelinda traz-nos uma prosa diversa, concisa, leve e irónica, acompanhada por ilustrações fulgorosas.
Mukanda
12.12.2018 | por Ermelinda Freitas
Proponho-vos um feminismo onde a palavra solidariedade não seja um ponto de comunhão das nossas semelhanças, mas sim um ponto de entendimento das nossas diferenças. Tal como nos propõe Awino Oktech no livro Queer African Reader, quando discute solidariedade como substituto de irmandade.
Corpo
11.12.2018 | por Paula Sebastião
A memória é uma espécie de consciência seletiva do tempo, não se opondo ao esquecimento. A memória é uma interação entre a supressão e a conservação, sendo que restituição integral do passado é impossível uma vez que memória implica sempre uma seleção. O historiador Fernando Bouza cita mesmo um ditado africano que sintetiza o que foi referido sobre o modus operandi da memória: A memória vai ao bosque e trás de lá a lenha que quer.
Cidade
10.12.2018 | por Vítor de Sousa
Salvo exceções de pioneirismo, só nos últimos anos se começa a ouvir e ler o prefixo “afro” nos diferentes fóruns europeus, com uma conotação positiva: das artes à academia, do associativismo e ativismo aos média e às redes sociais, das associações locais comunitárias às políticas europeias.
A ler
10.12.2018 | por Mónica V. Silva
Chamar-lhe Vénus era já uma das muitas distorções que o mundo do espetáculo e a ciência da época tinham aplicado a Sarah. E acrescentar hotentote mostrava também como o europeu via o resto da Humanidade em função de si próprio: aquela palavra é uma onomatopeia que designa uma espécie de gaguez, porque os nativos africanos assim designados pareceram, aos primeiros colonizadores, ser gagos; ou talvez seja a fixação de alguns sons comuns da sua língua, que soavam como “hot on tot”. Desde que a Europa fez por se desalojar da posição que tinha concedido a si própria, a de centro do mundo, chamamos khoikhoi ao grupo étnico de que Sarah Baartman fazia parte, porque este próprio assim se designa, e khoisan à sua língua, porque é esse o nome que os khoikhoi lhe dão. Já não são gagos, ou melhor, nunca o foram. Numa era pós-colonial, dizer khoikhoi implica começar a ver os elementos desta população como eles se veem a si próprios.
A ler
10.12.2018 | por Vasco Luís Curado
Entre 2005 e 2018 podemos observar que o interesse pela criatividade do continente africano e das diásporas negras se ampliou bastante, a avaliar pelo número de iniciativas que, desde Lisboa, a fomentam. Este evento pretende fazer o balanço sobre o que realmente mudou em termos de criação, reflexão e acolhimento, seguindo processos singulares de afirmação de subjectividades. Queremos indagar como estamos no que toca à produção cultural afrodiaspórica desde Lisboa, debatendo as perspectivas de quem a protagoniza, e considerando as limitações do debate incipiente da sociedade portuguesa sobre o racismo.
Cidade
04.12.2018 | por vários
Lucy está internada num hospício em Moçambique. Sonha com o seu filho Zacaria e o marido Pak, soldado numa zona de guerra ao norte do país.
Lucy toca um instrumento musical curioso: a própria cama. Aquela virtuosidade musical atrai a atenção das enfermeiras. Um dia a música passa num programa da Rádio Moçambique e Rosa Mário, pastora evangélica, vai ao hospital para conhecer a intérprete da canção.
Afroscreen
04.12.2018 | por vários
"No Intenso Agora" João Moreira Salles questiona a memória, seja ela pessoal ou coletiva, e fá-lo a partir da perspectiva da pós-memória. Uma das principais questões do filme é a busca do narrador para entender como sua mãe foi feliz e viveu intensamente num dado momento de sua vida, quando viajou para a China em 1966 integrada numa delegação variada, para testemunhar transformações produzidas pela Revolução Cultural. Em vez de constituir um "interlúdio", pode-se dizer que o foco naquela viagem e as filmagens que sua mãe trouxe consigo poderiam ser uma, ou a, parte central de todo o filme. Mas isso também seria impor uma estrutura que o filme recusa.
A ler
01.12.2018 | por Paulo de Medeiros
Músicos e compositores do meio rural participam numa plataforma digital com capacidade para aceder a uma audiência global e promover a sua música. Gravações de campo são regularmente realizadas através de equipas locais em cada província contribuindo para um arquivo digital de música tanto tradicional como contemporânea.
Palcos
30.11.2018 | por vários
O programa coloca a hipótese de estéticas africanas e afrodiaspóricas em contraponto às formas visuais dominantes, apelando mesmo a uma releitura das declinações históricas do par dialético hegemonia/subalternidade. Nestes filmes, o ato de centrar decorre, em larga medida, de um processo de descentramento: descentramento histórico e formal, acompanhado do descentramento das posições enunciativas e cognitivas convencionais através de poéticas relacionais que deslocam a reflexão sobre as categorias de identidade e alteridade rumo a um pensamento da relação nos sistemas de representação.
Afroscreen
30.11.2018 | por Raquel Schefer
O hotel traz consigo a simbologia da viagem, dos trânsitos diaspóricos, é um dos elementos arquitectónicos recorrentes nas explorações da artista. Em Hotel Globo (2015), obra que tem como ponto de partida o hotel construído na década de 50 na Baixa de Luanda, o edifício adquire um estatuto de quase resistência às mudanças aceleradas em seu redor; Panorama materializa a decadência, é um navio naufragado, resignado à própria sorte.
Cidade
29.11.2018 | por Paula Nascimento
Sonhou que via Luanda lá de cima. No alto do Morro da Cruz, um mpungi gigante de marfim equilibrava-se na sua ponta. No Morro da Fortaleza, outro mpungi igual. Da terra chegou um sopro grave que subiu pelas pontas maiores dos mpungis. Este alcançou as nuvens, e o céu palpitou em resposta. O barulho feito pelo céu espalhou-se por onde lhe levou a vontade. Depois juntaram-se marimbas a tocar na Corimba e mukupelas na Samba.
Mukanda
29.11.2018 | por Yara Monteiro
a história deles se torna a história habitual de muitos imigrantes que vieram das antigas colônias em busca de um tratamento médico ou de uma vida melhor. Em Angola, Cartola era parteiro. Em Lisboa, virou servente de obra, e a cidade o tornou reticente e sombrio. Aquiles, que ainda era adolescente ao mudar de país, deixou de se sentir angolano: “Esse olhar de quem vê o mundo da cama, contrariado, a morder-se de raiva porque ninguém o ouve, ninguém acode, foi a sua nacionalidade assim que pisou em Lisboa.”
A ler
29.11.2018 | por Tatiana Salem Levy
A luz negra, que havia encarnado em tudo com toda intensidade, foi aos poucos escorregando por entre os cantos do labirinto, banhando nosso corpo e se cravando outra vez no profundo. Estivemos ali por muito tempo, cozinhando junto com a terra. Pouco a pouco, à medida que nossos corpos foram recuperando o acesso às pernas, decidimos nos separar e mover pelo labirinto de túneis, a tentar captar as repercussões do nosso ataque, e estudar as implicações do que havíamos feito.
Corpo
26.11.2018 | por Jota Mombaça
O novo caso, actualmente a ser julgado em tribunal, rejeita a versão dos acontecimentos tal como foi transmitida pelos agentes da polícia, e acusa-os de agressão física, rapto agravado, tratamento desumano, e de incitamento à discriminação, ódio e violência por motivos raciais – bem como de injúria e falsificação de testemunhos e documentação.
Corpo
25.11.2018 | por Ana Naomi de Sousa
Os sacos de algodão apertados na camioneta, numa alta muralha, escorrem água em fio. A carga já não pesa somente oito toneladas, pesa bem mais, mas as contas estão feitas, agora pouco importa. Na minha camisola, nas minhas peúgas, as fibras de algodão entrelaçam-se em fios de petróleo. Se a verdade é leve e a mentira pesa chumbo, o camião, a bambolear-se a dez à hora pela estrada ensopada, traz agora no dorso uma grande carga de mentira. Mas talvez seja ao contrário, a mentira leve e a verdade pesada. Nas oito horas que passei na aldeia, o preço do barril de petróleo desceu um dólar.
Mukanda
24.11.2018 | por Paulo Faria
Na obra Soliloquios en Inglaterra e Soliloquios Posteriores, escrita entre 1914 e 1921, o filósofo espanhol George Santayana disse: “Apenas os mortos viram o fim da guerra”. De facto, quando as guerras terminam, nem tudo aquilo que elas destruíram, criaram, violentaram e profanaram parece ter fim. Contudo, entre os muitos restos, destroços e heranças que as guerras vão deixando, e que inevitavelmente contaminam várias gerações, por vezes nem sequer os mortos parecem ver o seu fim.
A ler
17.11.2018 | por Fátima da Cruz Rodrigues
O mito, ao mesmo tempo que dissimula também revela a ideologia em que se inscreve. É oportuno lembrar que a memória também se configura como um simulacro onde a questão não é a do falso ou do verdadeiro, mas a do acesso subjetivo, o mais amplo possível, à fruição do tempo passado.
A ler
12.11.2018 | por Roberto Vecchi
Quando pensamos no universo da lusofonia somos remetidos para uma comunidade internacional de pessoas que partilham a língua portuguesa e que comungam aspetos culturais semelhantes. Porém, há que ter presente que a lusofonia congrega identidades culturais diversas, bem como diferentes perspetivas do real comum e particular, que importa dar a conhecer na sua pluralidade.
O conceito desdobrado “Frente, Verso, Inverso” que denomina esta mostra pretende dar uma visão alargada da arte desenvolvida por artistas de várias gerações do século XX que, em momentos e contextos díspares, com recurso a múltiplas linguagens da criação artística, da pintura ao desenho, da escultura ao vídeo e à instalação, nos trazem abordagens distintas sobre o mundo lusófono.
Vou lá visitar
09.11.2018 | por Adelaide Ginga