Havia autocolantes a serem distribuídos gratuitamente com a inscrição: “No one is born in the wrong body” [Ninguém nasce no corpo errado, em tradução livre]. Havia livros, com o custo de 30 euros para cima, que indicavam ser a ajuda que os pais precisavam para “salvarem” os seus filhos da disforia de género. Havia panfletos de propaganda a igrejas que “providenciam um lugar seguro e passível de reflexão sobre o que significa ser gay, lésbica, bissexual e cristão, através de reuniões, rezas, retiros e conferências”.
A ler
19.11.2024 | por Mariana Moniz
Nesta obra, pretendo, pois, repensar em parte as questões levantadas nos Problemas de Género que provocaram desorientação, e reflectir sobre o funcionamento da hegemonia heterossexual no forjar de matérias sexuais e políticas. Este livro, como reformulação crítica de práticas teóricas distintas – entre elas os estudos feministas e queer –, não se quer programático. Ainda assim, enquanto tentativa de clarificar as minhas «intenções», parece destinado a gerar um novo conjunto de equívocos. Que ao menos sejam equívocos produtivos.
Corpo
24.06.2023 | por Judith Butler
Angela Davis tenta dar voz às mulheres de etnia negra, silenciadas durante o percurso da história, ao desconstruir as correntes feministas convencionais para poderem abarcar a questão da raça e das suas vicissitudes. Portanto, nunca é transparente que Davis se assuma como uma feminista, já que a sua preocupação em momento algum descarta essa dimensão racial. É uma linha de pensamento que, cruzando o ativismo e a militância política com a formação intelectual, se vai desenvolvendo da classe e da raça até à questão do género, que lhe chega nas relações profissionais que vai experienciando na própria militância, mesmo no próprio seio das comunidades negras.
Mukanda
22.03.2021 | por Lucas Brandão
Têm quatro anos de existência e centram o seu trabalho no diálogo e na acção para mais igualdade e justiça das pessoas LGBTQ+ em Luanda. Para isso partem de dinâmicas feministas negras e descoloniais para a criação de redes de acção e solidariedade. Esta abordagem já tem ecos junto das instituições do Estado como o Ministério da Justiça em Angola para a criação de uma agenda pela igualdade e respeito pelos direitos humanos das pessoas LGBTQ+. Líria de Castro é a activista angolana que dirige a AIA e falou-nos dos desafios da organização do colectivo AIA em tempos de pandemia.
Corpo
04.02.2021 | por André Castro Soares
A grande revolução do género foi e é marcada pelo objectivo de que um dia este não seja mais um problema, por isto o alvo é a dissolução da mesma quando esse momento chegar que deve ser lá para o século XXII. O dia em que ser pessoa conta mais que ser de um género ou de outro, ou mesmo transitar nesse corredor, ainda está muito longe.
Cidade
02.10.2020 | por Adin Manuel
Apenas a lente intersecional, assumindo a realidade de uma opressão racial, pode combater a narrativa patriarcal branca, pois o sexismo e o racismo não são dois sistemas de opressão de génese e agressões comparáveis, mas dois fluxos opressivos distintos, produzidos pelo mesmo sistema, que agridem em uníssono a mulher negra.
Corpo
09.05.2020 | por Catarina Valente Ramalho
Descobri recentemente que Disforia temos todos, ou seja, um estado latente de várias condições não contempladas pelo estreito, bem estreitíssimo, traço imperialista dos Estados Unidos em modo regiões económicas, onde até a China se constipa de morte. Disforia Intelectual, Social, Económica, Moda e até Médica (foi a mais surpreendente). Disforias que nos deixam a braços com uma vida em teia de mecanismos de cope ou coping ou aguentamento lol. Um colossal trabalho de compensação imaginada, mas sentida e sofrida, ausência de um instrumento de adequação cultural que sabemos estar em falta desde sempre.
Jogos Sem Fronteiras
16.02.2020 | por Adin Manuel
O que peço ao feminismo é simplesmente radicalidade nas suas propostas: abolição da determinação da diferença sexual no nascimento e despatriarquização radical de todas as instituições e administrações. Se começarmos por aí, veremos o que resta da estrutura social patriarcal que conhecemos.
Corpo
16.10.2019 | por Paul B. Preciado
Entendemos como as mulheres se tornam agentes da sua emancipação e confirma-se a necessidade de tratarmos da reconfiguração das relações no espaço privado, nas relações amorosas e, em particular, a reconfiguração das relações sob o ponto de vista masculino. Quais as controvérsias que o processo de emancipação feminina engendra em Cabo Verde? Que transformações radicais foram operadas? Que efeitos concretos foram trazidos pela entrada maciça das mulheres na vida pública?
Corpo
29.01.2019 | por Iolanda Évora
O meu intenso empenho na crescente consciência feminista levou‑me a confrontar a realidade das diferenças de raça, de classe social e de género. Tal como me tinha revoltado contra as ideias sexistas acerca do lugar de uma mulher, também contestava o lugar e a identidade das mulheres no seio dos círculos de emancipação feminina; não conseguia encontrar lugar para mim no movimento. A minha experiência enquanto jovem e negra não era reconhecida.
Mukanda
17.09.2018 | por bell hooks
No Brasil, em outros contextos, parte da esquerda tentava opor classe e diferença e isso está muito preso no debate político nacional. O que, a meu ver, nos ajuda a pensar é o seguinte: a classe sempre foi preta, a classe sempre foi mulher, a classe sempre foi indígena. O conceito de multidão pode nos ajudar a entender justamente isto: como essas questões se colocam, ou seja, muitas vezes ficamos nos opondo a questões que estão muito mais conectadas. Inclusive, os adversários dos “de baixo” percebem isso.
A ler
28.06.2018 | por Jean Tible
somos o bestiário. nossa animalização nos afirma como parte da natureza. o animal pré-alegórico é o coração latente; é uma violência. a livre caça na sociedade de consumo e produção arrebata nossos corpos de margem : nos tirem do centro; é para onde caem os desejos. quiçá os vagalumes nos façam atear fogo ao céu : a luz é pulsante - o escuro é largo e espaçado pela micropolítica da carne do monstro. é a carne que sobrevive.
Mukanda
22.02.2018 | por Jonas van Holanda
Não há bom e mau racismo, nem sequer mau e pior. Hoje em dia, muitas pessoas, demasiadas, são discriminadas, perseguidas e violentadas com base no facto de, basicamente, não serem brancas. Isto acontece independentemente de outras características, como idade, origem, classe e género. Mas tal não significa que, quando associadas, estas categorias, onde, infelizmente, tendemos a encaixar as pessoas humanas, não agravem o quadro de discriminação já existente.
A ler
09.12.2014 | por Sofia Branco
Quanto mais avançava na colonização do mundo exterior, tanto mais o homem branco precisava ajustar a si mesmo, e quanto mais assim se ajustava, mais precisava colonizar o mundo. Os senhores do autodomínio, que tinham vertido sangue no Novo Mundo, lançavam agora seu olhar abstrato e utilitário para o continente europeu. A colonização externa das culturas não-européias se reverteu directamente em colonização interna do próprio mundo. Na medida mesma em que promovia a capitalização da produção e a industrialização, o colonialismo também destruía o modo de produção agrário da antiga Europa e impelia a parcela empobrecida da população para as fábricas, então com jornadas de trabalho de 14 horas e bárbaro trabalho infantil.
A ler
03.10.2013 | por Robert Kurz
A forma particular, histórica, como aparece a regulação das posições de gênero em Moçambique, não dissimula, é óbvio, o caráter estrutural das disposições simbólicas que são necessárias para produzir a sujeição/subjetificação de um sujeito dispersivo e heteróclito que chamaríamos “a mulher”. Desse modo, ampla engenharia social e todo o poder das disposições simbólicas, e da violência, foram mobilizados para reconformar/reconhecer a mulher como um sujeito (assujeitado) no interior das estruturas em transformação do Estado em construção.
Corpo
09.04.2013 | por Osmundo Pinho
Claramente que o fenómeno da existência de grupos femininos em actividades delituosas não é novo em Cabo Verde, nem a existência de brigas entre “konbossas” (onde o troféu é o homem). No entanto, a adesão de jovens do sexo feminino em actividades grupais de hooliganismo pode ser considerada uma novidade. A moda pode não ter pegado no rap, mas pegou na manifestação thug da violência. De facto, deparo-me hoje na Praia com alguns grupos thugs femininos, em que as principais actividades são o “kasu bodi” e o hooliganismo.
Cidade
28.12.2011 | por Redy Wilson Lima
Não dizemos que foi a partir do cinema da retomada que se fez filmes no Brasil sobre mulheres e suas questões inerentes. Na verdade, se intensificaram. Todavia não haja uma classificação clara de um cinema de/para mulheres no Brasil, é notável o aumento de argumentos que abordam claramente o universo feminino atualmente. Filmes que misturam dados não-ficcionais e ficção, colocam papéis femininos no foco da narrativa e concedem espaço para interpretarem, a seu modo, lacunas da História sobre a participação das mulheres na vida social e política, bem como sobre a cultura dos costumes na vida privada.
Afroscreen
01.03.2011 | por Sumaya Machado Lima