“O rosto que falta” é um pungente texto sobre a guerra, mas sobretudo sobre a titularidade da experiência das situações traumáticas ligadas ao conflito armado, e nomeadamente ao fim do colonialismo português em África.
A ler
12.11.2019 | por Felipe Cammaert
E eis que agora, na praia, Teófilo aguarda para que o sibilar do vento erga as ondas. Vê-a agitar as asas com graciosidade. Os seus pulsos tocam-se na fluidez da respiração. As penas negras da cabeça confundem-se com o tutu negro e o ondular de todo o corpo flutua em círculos pelo mar. E, de repente, uma perna tem a liberdade de um braço. A cabeça basculante debate-se. Fátima voa, foge, tem medo, encolhe-se. Mergulha e emerge. É devorada pela água. Emerge. Vai para cima e para baixo, repetidamente. Entre o mar e o céu, o céu e o mar.
Jogos Sem Fronteiras
30.10.2019 | por Yara Monteiro
The Garden está a par das imagens domésticas de Deana Lawson. Adão e Eva estão ainda em casa, nesta aldeia do Congo. Mas, na casa de quem? Serão dois amantes deixados pernoitar em casa de amigos? Estarão na casa de todos, que é toda parte e lado nenhum? O que é uma casa, pergunta Eva. Deixa-te de perguntas, meu amor, responde Adão.
Mukanda
28.10.2019 | por Djaimilia Pereira de Almeida
Este livro é como uma radiografia e nela transparece e impressiona uma incómoda presença da humanidade, quase repulsa da mesma depois de a ter conhecido, uma necessidade de esquecer fantasmas (constantes sombras nas paredes) e, como pano de fundo, o desejo de esquecer o peso insuportável da popularidade, e de esquecer os pesadelos de uma infância dura e traumática.
Palcos
16.10.2019 | por José Manuel Castanheira
…a estória, então, ou a viagem que tenho para contar começaria assim: tem um lugar, dizia eu, tem um ponto no mapa do Brasil, tem um vértice que é onde os Estados de Goiás, de Minas Gerais e da Bahia se encontram, e o Distrito Federal é mesmo ao lado. Aí, sim, gostaria de ir…
Ruy Duarte de Carvalho
18.09.2019 | por Sonia Miceli
é partindo desta componente africana que José Luís Hopffer Almada projecta no universal a luta e história do povo cabo-verdiano enquadrando-as nas lutas dos povos africanos contra a opressão colonial e pela liberdade.
A ler
31.08.2019 | por Adolfo Maria
A descoberta de um pequeno conto da década de 1970 abriu-me a possibilidade de estabelecer uma comparação com outro escritor angolano da mesma geração, Pepetela, cuja obra analisara em detalhe para a minha tese de doutoramento (Santos 2011). A coincidência de ambos terem escrito, com um intervalo de quase 30 anos, sobre o mesmo tema, facilitou um exercício comparativo cujo objetivo é salientar a originalidade e pertinência das ideias de Ruy Duarte de Carvalho (RDC) a respeito das identidades coletivas parcelares.
Ruy Duarte de Carvalho
23.08.2019 | por Alexandra Santos
No Kwanza-Sul percebeu os vários ritmos e a imponência de um país que cultiva o riso e a memória curta para se defender dos dramas que o desumanizam: a escravatura, o colonialismo, a dominação, os pequenos e grandes poderes, os oportunismos e a ignorância. De como é vertiginoso o urdir da história no quotidiano. A geração à qual pertence preocupou-se em recuperar a memória cultural perdida nessas e noutras violências, também com o olhar vívido e intrigante das ingenuidades e militâncias da independência.
Cara a cara
21.08.2019 | por Marta Lança
manifesta a contestação à imagem “extrovertida” que a política assimilacionista e colonialista nos legou da dita “Guiné Portuguesa”, isolada, exótica e inexistente como fato histórico, antes da presença dos europeus. Essa visão lusocêntrica estabeleceu fronteiras entre “civilizados” e “indígenas” e tentou ocultar as dinâmicas internas da sociedade guineense, anteriores a essa chegada.
A ler
27.07.2019 | por Ricardino Jacinto Dumas Teixeira
Há três anos, com Esse Cabelo, apresentaram-na como representante de uma literatura acerca de raça, género, identidade. Voltou agora com Luanda, Lisboa, Paraíso e diz que quer apenas participar na longa e antiga conversa sobre literatura. Enquanto procura escrever o seu livro ideal, totalmente inventado, uma mancha de texto sem capítulos que resista a discussões acerca do presente.
Cara a cara
25.07.2019 | por Isabel Lucas
Este artigo pretende demonstrar como essa trajetória se reflete na sua produção literária desenvolvida a partir do final da década de 1990 e compreender as bases sobre as quais se construiu o diálogo entre esses campos. A análise sobre como as diferentes expressões e linguagens se inserem no texto de Carvalho dá o arranque a uma reflexão sobre as relações entre antropologia e literatura, e os questionamentos acerca de autoria e narração, que sustentam o projeto literário desenvolvido na trilogia Os filhos de Próspero.
Ruy Duarte de Carvalho
25.07.2019 | por Christian Fischgold
Ao distanciar-se de qualquer apego a um possível messianismo, não raro presente em concepções literárias que emergem nas periferias, o sentido da escrita que o movia levou-o sempre a encarar impasses que mais interferem na formulação de perguntas do que no oferecimento de respostas. O gosto pela interrogação, não como estilo, mas como método de reflexão dominou o seu itinerário, condicionou a ruptura das formas cristalizadas e a prática do diálogo com os contextos em que se vê inserido como duas das marcas centrais da obra de Ruy Duarte de Carvalho nas quais se enraíza a força da sua complexidade. Desse modo, situando-se no terreno da radicalidade, o seu projeto intelectual pautava-se pela eleição de parâmetros fundamentais para propor a transformação que entendia necessária.
Ruy Duarte de Carvalho
17.07.2019 | por Rita Chaves
A Angola que eu deixei em 1992 não tem rigorosamente nada a ver com a Angola actual, e acho bem que as coisas mudem. Não tenho saudades nenhumas do tempo colonial, que era um tempo de injustiça, mesmo eu que ia à escola e à universidade, e estava do lado privilegiado, sei muito bem que é um sistema para esquecer (ou para lembrar....). Como também está resolvido sem nostalgia esses tempos de envolvimento quase amoroso: a Independência, o nascer um país, criarmos os filhos, uma avalanche de coisas que nos estavam a acontecer e nós tínhamos 20 anos.
Cara a cara
24.06.2019 | por Marta Lança
Por instinto, acima de tudo, Jul’Antone é um homem que ama o arquipélago, é um puro ilhéu. Nota-se-lhe o apego plasmado a São Vicente, laços espirituais que a miséria e a falta de condições não conseguem quebrar. Nem dado de vidro abandonará em definitivo a sua terra, foi aqui que nasceu e será aqui que terminará os seus dias.
A ler
23.05.2019 | por Paulo Lima
Quando a literatura busca transmitir a experiência da violência, o resultado está determinado pela distância entre quem escreve e a realidade traumática referida. Existem, no entanto, constantes entre as representações artísticas da memória feitas pelas testemunhas directas dos acontecimentos e aquelas reelaboradas pelos seus descendentes (as chamadas pós-memórias).
A ler
24.02.2019 | por Felipe Cammaert
Zenith assegurou que Fernando Pessoa «escreveu aquelas coisas citadas» e que isso «desqualifica o seu nome para ser associado a iniciativas da CPLP. O seu pensamento evoluiu, felizmente, e em 1935 não teria subscrito àquelas afirmações..., mas também não chegou a renunciá-las. Aliás, pode nem se ter recordado de as ter escrito. Escreveu-as, porém, e compreendo e concordo com a revolta das pessoas cuja dignidade feriu.»
A ler
18.02.2019 | por Eurídice Monteiro
O que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa, não se rasurando - antes reunindo-os um curativa convivência - os fragmentos dolorosos de uma história feita de frustrações e desilusões , de fracturas e distanciamentos e de ambíguos sentimentos.
A ler
21.12.2018 | por Inocência Mata
Excerto de 'Lampreia Alerta', livro de contos da autoria de Ermelinda Freitas, com textos e desenhos baseados em notícias provenientes de vários media, mais ou menos recentes e insólitas, que envolvem animais ou falam da sua presença no espaço ocupado (também) por humanos. Inspirado no género fábula, Ermelinda traz-nos uma prosa diversa, concisa, leve e irónica, acompanhada por ilustrações fulgorosas.
Mukanda
12.12.2018 | por Ermelinda Freitas
a história deles se torna a história habitual de muitos imigrantes que vieram das antigas colônias em busca de um tratamento médico ou de uma vida melhor. Em Angola, Cartola era parteiro. Em Lisboa, virou servente de obra, e a cidade o tornou reticente e sombrio. Aquiles, que ainda era adolescente ao mudar de país, deixou de se sentir angolano: “Esse olhar de quem vê o mundo da cama, contrariado, a morder-se de raiva porque ninguém o ouve, ninguém acode, foi a sua nacionalidade assim que pisou em Lisboa.”
A ler
29.11.2018 | por Tatiana Salem Levy
O que se guarda no espaço íntimo e privado são imagens efetivas ou simbólicas de vivências pessoais, de experiências agradáveis ou dolorosas. A sua evocação remete sempre para a relação discursiva e vivencial, afetiva e familiar entre gerações, guardada e alimentada na esfera doméstica onde os gestos, os afetos, os símbolos, são até mais importantes do que a ordem e o fundamento do discurso.
A ler
01.09.2018 | por Roberto Vecchi