Novo Ano, sem Novo Jornal?

Novo Ano, sem Novo Jornal? Em Angola já tivemos de tudo um pouco em matéria de violência contra a imprensa e os jornalistas, onde se incluem agressões policiais, detenções arbitrárias e ilegais, assassinatos e fogos-postos, mas ainda não tínhamos tido um caso do género e em plena luz do dia. Tudo aconteceu na sequência de uma providência cautelar decidida em finais de novembro do ano passado por um Tribunal de Luanda que foi chamado a arbitrar um conflito societário entre dois irmãos, o Álvaro Sobrinho e o Emanuel, também conhecidos pelos “Madalenos” que é o seu nome de família, em torno da posse da empresa que é, alegadamente, proprietária do Novo Jornal.

A ler

11.01.2024 | por Reginaldo Silva

"Leio um poema, sinto a sua musicalidade e passados 10 minutos estou a musicar"- entrevista a Ruy Mingas

"Leio um poema, sinto a sua musicalidade e passados 10 minutos estou a musicar"- entrevista a Ruy Mingas A música ocupa um espaço na minha vida mas não do ponto de vista profissional, eu nunca seria uma profissional na música, já na educação e no desporto sim. São áreas que me estimulam muito, sinto-me bem, gosto de estar aqui com os jovens e estudantes, discutir com eles, como gosto de estar no desporto, são as relações humanas mais tocantes a que me prendo. Já a música é natural, eu cresci com a música, desde os meus avós, faz parte da minha vida como prazer e convívio.

Cara a cara

05.01.2024 | por Marta Lança

O patusco (Daniel) Medina, seus fajutos asseclas & os descaminhos da Academia Cabo-verdiana de Letras

O patusco (Daniel) Medina, seus fajutos asseclas & os descaminhos da Academia Cabo-verdiana de Letras Pior, só a deriva direitista (aliás, é um rumo bem traçado e coerente no alinhamento) do estado de Cabo Verde no âmbito das relações internacionais. Agora fez-se luz sobre aquela parte desse documento redefinidor do posicionamento de Cabo Verde no âmbito das relações externas e que começava por dizer que Cabo Verde se definia ou regia por valores judaico-cristãos. Judaicos, sim, quando se põe do lado de um bárbaro, inumano e continuado morticínio, mas mui pouco ou nada cristãos na assunção do único absoluto, o inegociável valor da vida humana.

A ler

04.01.2024 | por José Luiz Tavares

Um pequeno pormenor

Um pequeno pormenor Haverá quem ache que uma coisa (a esmola que a mão direita dá) redime de certo modo a outra (as vidas destruídas que a mão esquerda tira). E haverá também quem sinta o embaraço que tal dilema lhe impõe. E a que não pode escapar: no nome de uma rua, de uma praça, diante de uma estátua pública que não pode deixar de ver, não pode agora deixar de adivinhar a sombra daqueles milhares de vidas roubadas até aí ignoradas, que agora nos assombram, que, essas, não podemos já deixar de ver, tão presentes como as estátuas do Conde. Do negreiro beneficente.

A ler

01.01.2024 | por José Lima

Da missão em “A Missão da Missão”, ou de como se aplaude de pé quando o Teatro nos explode o coração

Da missão em “A Missão da Missão”, ou de como se aplaude de pé quando o Teatro nos explode o coração   Quadro “eu é que sou a mais negra”, trazendo ao de cima questões sobre o lugar de fala, sobre o direito (ou não) de reclamar para si a negritude quando a pele, à vista desarmada, não conta essa marca; Quadro “é estrutural”, usando um saco de boxe, numa clara analogia ao cansaço do argumento que justifica tudo como “estrutural” e as vezes em que essa ideia iliba os indivíduos das suas responsabilidades no quotidiano; Quadro “a solidão da mulher negra”, uma longa conversa – hilariante e profunda – sobre a constatação de que a maioria dos homens negros que alcançam algum poder (ou fama) acabam quase sempre por escolher mulheres brancas para suas companheiras;

Palcos

30.12.2023 | por Maria Lima

László Magyar, explorador húngaro do séc. xix ou traidor Bantu?

László Magyar, explorador húngaro do séc. xix ou traidor Bantu? As peripécias de Ladislau Magyar têm respaldo nas consequências da inesperada proclamação da independência do Brasil, de 1822, que inflacionou o tráfico de escravos bantu forçando os esclavagistas ocidentais a apearem nas fontes de origem, numa altura em que o desenvolvimento das forças produtivas britânicas prescindia deste mercado, tendo frustrado as expectativas euro-internacionais com a promulgação do final do comércio esclavagista, de 1836. Tendo Portugal resistido até 1856, com paragem no sultão Nova Calabar, do Brasil, o explorador alcançou o estuário do Khongo em 1846, mas desembarcou em Benguela em 1848.

A ler

28.12.2023 | por Armindo Jaime Gomes

Matana Roberts: tecer o tempo do agora

Matana Roberts: tecer o tempo do agora Tal como para Filomela privada de voz, poderíamos perguntar que outra hipótese haveria para uma história dos oprimidos que não esse movimento sem fim de tecer e destecer? Matana Roberts, que frequentemente se refere a si própria no plural, pode ser um nome desse movimento. Uma vez mais, um nome que não é bem um nome, mas um artifício. Tal como a história que escutamos nas faixas de Coin Coin não é bem uma história. É talvez uma manifestação do tempo do agora, o Jetztzeit de Benjamin, o instante que baralha a cronologia, aberto à escuta da experiência, e que pode, eventualmente, abrir uma hipótese de ruptura.

A ler

28.12.2023 | por Fernando Ramalho

Moçambique: por uma terceira via?

Moçambique: por uma terceira via? O status quo nos leva a pensar que não estamos a ser capazes de resolver os nossos problemas. Nem capazes de materializar a justiça social nem permitir a efectivação das liberdades. Neste contexto, a proposta de imaginarmos uma terceira via faz todo sentido. E nessa festa da imaginação, noutro livro, Mondlane, regresso ao futuro, Severino Ngoenha propõe o resgate do pensamento da figura considerada Arquitecto da Unidade Nacional, entre as possibilidades existentes. E porquê não, para uma terceira via?

A ler

28.12.2023 | por Leonel Matusse Jr.

Sim aos Comboios, Não aos Saloios*

Sim aos Comboios, Não aos Saloios* Tal como os novos velhos políticos percebem que, para ascenderem, devem excitar a comunicação social esfomeada — enquanto regam com álcool as feridas das democracias. E a violência da guerra começa assim, não é? Quando nos viciamos nesse frenesim alucinante do sangue a esguichar a qualquer hora, em qualquer direcção.

Palcos

28.12.2023 | por Francisco Mouta Rúbio

Memórias do Rio Envenenado

 Memórias do Rio Envenenado Se o cuidado que um rio manifesta ao mundo for retribuído, poderá viver uma vida longa e saudável. Ao longo da sua vida, o rio vê coisas, aprende coisas e transmite o seu conhecimento a quem quiser ouvir. A história de um rio é também a nossa história; a música que canta também é a nossa. Poderíamos dizer que o passado de um rio é uma lente para o nosso futuro e que a morte de um rio prenuncia a nossa própria morte.

Mukanda

23.12.2023 | por Imani Jacqueline Brown

Memorial às Pessoas Escravizadas

Memorial às Pessoas Escravizadas Se, entre os séculos XV e XIX, Portugal foi um dos principais países esclavagistas, perguntamos com espanto: porque é que só agora ainda não foi edificado o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas? Esta ausência dá pistas para se questionar o modo como o país lida com o passado e como tal passado ecoa no racismo sistémico de hoje. A acontecer, a sua concretização vem ainda assinalar um momento em que se está a pensar e a ressignificar a memorialística imperial, aspirando a uma cidade onde todos se sintam representados na capital do país e de um antigo império.

Cidade

22.12.2023 | por Marta Lança

Despejados para nada – Um passeio de memórias pelo vazio cósmico de Lisboa

Despejados para nada – Um passeio de memórias pelo vazio cósmico de Lisboa    A Lisboa viva das coletividades e das associações, onde uma comunidade solidária e vizinha se reunia para jogar, brincar, cantar, comer e beber, musicar, politizar e conversar, foi transformada em apartamentos de luxo, hotéis ditos de charme, residências para alojamento chamado local, mas que expulsa os locais, ou simplesmente ruínas à espera de um investidor-ainda-melhor-do-que-os-outros.

Cidade

21.12.2023 | por Carla Baptista

Terra Longe / Diásporas - excerto (poema de Nzé de Sant'y Ago)

Terra Longe / Diásporas - excerto  (poema de Nzé de Sant'y Ago) Ai noites de Assomada dos prantos em Fundura suplicando pelas almas redivivas pelas vozes exuberantes nos jardins da Praça Estrela na Praça Camões na Praça do Rossio na Praça Figueira no Largo Martim Moniz no bairro da Mouraria no bairro da Alfama nas colinas da Graça no Canecão no Conde Barão no Lontra no Coquenote no Cave Adão no Monte-Cara lá na Dedês na Casa de Cabo Verde...

Mukanda

19.12.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Há uma medida para a infâmia?

Há uma medida para a infâmia? A justiça cósmica não existe. É o que me parece, pelo menos. Nunca instância nenhuma alguma vez nos pedirá contas do nosso silêncio, cumplicidade, indiferença, nem tão pouco da nossa indignação, perante tanta desumanidade, tanta crueldade, tanta infâmia a que todos os dias assistimos ou que nos chega pelas notícias. É assim, mais nada.

Mukanda

19.12.2023 | por José Lima

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 11)

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 11) Primeiro os tugas encheram as suas caravelas e foram para as nossas Áfricas se tropicalizar e nos tugalizar. Quando percebemos o mecanismo da movimentação, começamos a juntar dinheiro, juntamos, juntamos, juntamos e hoje enchemos a sua TAP e vimos cá para a terra reclamar o nosso pedaço da cultura. Com que então querem dançar kizomba e nós ficarmos a olhar? Fogo, não!

A ler

17.12.2023 | por Marinho de Pina

Lee-Ann Olwage: “Se procuramos melhorar, globalmente, a vida das pessoas com demência, então não podemos ignorar a parte que diz respeito às diferentes perceções culturais”

Lee-Ann Olwage: “Se procuramos melhorar, globalmente, a vida das pessoas com demência, então não podemos ignorar a parte que diz respeito às diferentes perceções culturais” Lee-Ann Olwage, que admite lutar contra os seus próprios problemas de saúde mental, tem também familiares que sofreram ou sofrem com Alzheimer. Por essa razão, afirma que, com o seu trabalho, pretende criar um espaço no qual as pessoas que fotografa possam desempenhar um papel ativo na criação das imagens e que, acima de tudo, as faça sentir como as verdadeiras “heroínas” das suas próprias histórias.

Cara a cara

13.12.2023 | por Mariana Moniz

Filme 'Noites Alienígenas': a juventude urbana amazónica no abismo da fronteira.

Filme 'Noites Alienígenas': a juventude urbana amazónica no abismo da fronteira. “Os moleques ficam-se matando todo o dia” diz Alê, personagem interpretada pelo ator Chico Díaz, no início de Noites Alienígenas (2022), filme realizado por Sérgio de Carvalho. A calamidade descrita na curta frase de Alê poderia ter lugar em várias geografias do Brasil, mas nesta longa-metragem de ficção é uma tragédia amazónica que se desenrola a partir dos bairros de palafita da periferia da cidade de Rio Branco, no Estado do Acre, território atingido pelo flagelo que transcende fronteiras, regiões e países na floresta tropical: o tráfico internacional de drogas.

Afroscreen

11.12.2023 | por Anabela Roque

Siríaco e Mister Charles, excerto

Siríaco e Mister Charles, excerto Chamar-te-ei Siríaco, velho, que foi o teu nome próprio de baptismo, bem antes de as trevas e o lume brando dos dias fazerem de ti menino-onça ou negro «pigarço», e de eu poder, aqui e agora, escrever a tua história — a vida extraordinária do homem coberto pelo manto do espanto e do mistério. E nesta noite, de vento e de forte maresia, a pergunta que te assola, nesse canto da taverna, tem a forma de uma espada sobre a tua cabeça: terá sido essa tragédia, que levou Aurélia tão cedo, um castigo por não teres seguido viagem e acompanhado a família real para o Brasil?

A ler

07.12.2023 | por Joaquim Arena

O Textamento do Magnânimo e Magnífico José Luiz Tavares [sobre como um segredo na boca do universo]

O Textamento do Magnânimo e Magnífico José Luiz Tavares [sobre como um segredo na boca do universo] A poesia de José Luiz Tavares exige um modo esquivo de dizer ou de se dizer; diz-se sempre num como se fosse – desembaraçado da realidade suposta e das funções pragmáticas da linguagem que pretende servi-la. Se de um segredo se trata, a poesia há de ser íntima e inocente, avessa ao vozear deôntico da praça pública; e se o universo é coisa ubíqua, haverá outra cidade ou outra praça onde ressoa, ecoando, o seu segredo comum.

A ler

06.12.2023 | por Rui Guilherme Silva

O meu irmão David

O meu irmão David Para mim, enquanto pessoa e cidadão caboverdiano, mas sobretudo como irmão mais novo, o exemplo do meu irmão David permanece marcante e indelével tanto como juristas que somos como também como poetas, ensaístas e estudiosos da caboverdianidade que também somos, em especial no que respeita à sua impoluta integridade moral, ao seu gosto pelo saber e pelo conhecimento e à sua intimorata pugna pela nossa afro-crioulidade e por uma caboverdianidade multidimensional no entendimento da diversidade das suas matrizes e das suas acttuais vertentes culturais.

Cara a cara

05.12.2023 | por José Luís Hopffer Almada