Do Haiti mobilizado esse semestre todo pela destituição do seu presidente às jovens do Extinction Rebellion interpelando a Europa rica. E nas lutas pela vida de corpos coletivos no Brasil, que sobrevivem à guerra colonial em curso (Canudos é reencenada desde sempre, clama Zé Celso no barco pirata em Paraty), lutando e criando, resistindo e construindo, em territórios livre e libertos, permanentes e fugazes.
Mukanda
23.07.2019 | por Jean Tible
enquanto que muitos dos nossos antepassados continuarão silenciados e anónimos para sempre, des-lembrados nos livros de História escritos pelo mesmo tipo de homens que era o seu ‘dono’, tenho sorte agora, como sua descendente, de ser capaz de ajudar a contar o futuro da sua história”. São histórias como estas que nos dão esperança de que outros ventos possam em breve soprar para varrer esses resquícios de Império para o caixote de lixo da História onde pertencem, ou para o monte de destroços que Benjamin imaginou para nós.
A ler
20.07.2019 | por Paulo de Medeiros
Ao distanciar-se de qualquer apego a um possível messianismo, não raro presente em concepções literárias que emergem nas periferias, o sentido da escrita que o movia levou-o sempre a encarar impasses que mais interferem na formulação de perguntas do que no oferecimento de respostas. O gosto pela interrogação, não como estilo, mas como método de reflexão dominou o seu itinerário, condicionou a ruptura das formas cristalizadas e a prática do diálogo com os contextos em que se vê inserido como duas das marcas centrais da obra de Ruy Duarte de Carvalho nas quais se enraíza a força da sua complexidade. Desse modo, situando-se no terreno da radicalidade, o seu projeto intelectual pautava-se pela eleição de parâmetros fundamentais para propor a transformação que entendia necessária.
Ruy Duarte de Carvalho
17.07.2019 | por Rita Chaves
O entrelaçar de mensagem lírica (“mudaram os tempos, mudaram as leis, de certa forma ainda estou nessa roça”) e frases imagéticas como “black lives matter”, sintonizam indivíduos no anseio da libertação. Em Waters é possível identificar referências do movimento, do teatro imagem e físico, de alto contraste. Tudo isso num jogo de imagens entre presente e passado.
Palcos
17.07.2019 | por vários
Para cumprir com a sua missão assume primeiramente a sua condição de mulher indígena, branca, detentora de certos privilégios. Ao reconhecer esta cumplicidade afirma “sou uma criminosa que subcontrata o seu crime”. Através de uma série de exemplos nomeia os privilégios, da macro à microestrutura, que fazem dos corpos que habitam a “colónia interna da metrópole” meros objetos ao dispor da “boa consciência branca”.
A ler
16.07.2019 | por Apolo de Carvalho
Em Coimbra, era opinião corrente que apenas em último caso, quando os quartos bolorentos ficavam em prédios em ruínas e demoravam a arrendar, então as senhorias e os senhorios abriam uma excepção a estudantes africanos (gente de cor, como diziam), alegando que tardavam ou se esqueciam de pagar a renda, que gastavam muita água por causa do banho e muita luz devido à música, que faziam rebuliço até altas horas da noite e que davam muitas festas
Cidade
16.07.2019 | por Eurídice Monteiro
A reflexão sobre a glotofobia também permite questionar os imaginários linguísticos e culturais numa perspetiva pós-colonial ou descolonial. Devem ser novamente pensados os discursos apoiados numa territorialização política ou ideológica e sustentados por referências à pureza da origem, da língua, da religião ou do dogma ideológico
A ler
13.07.2019 | por Graça dos Santos
No presente, porém, essa população miscigenada de forma forçada e violenta não encontra respaldo, nem reconhecimento por parte da elite política e econômica do país, que ainda reproduz comportamentos enraizados de discriminação dos afro- descendentes, sem esquecer que o primeiro grande contingente de escravos trazido a Portugal
A ler
11.07.2019 | por Miguel de Barros
Embora desapossada do olhar colossal que a navegação espacial lhe trouxe nos anos 70, a ideia de humanidade enquanto espécie converte-se progressivamente em colosso geológico imanente capaz de influenciar ritmos cardinais do mundo, ou pelo menos assim é descrito o seu alcance. Antropoceno é a época geológica da espécie humana, dizem, e a prova são os depósitos sedimentares que se originaram a partir dos anos 50 com os primeiros experimentos nucleares. Ignora-se claro que essa “espécie” foi inseminada artificialmente pelo casamento normativo e cisgénero da modernidade e da colonialismo, e que a visão colossal ainda se crê parada de fora e em frente ao globo, mesmo que, a bom ver, muitxs chafurdem na lama, em especial xs que não foram inclusos dentro dessa ideia unificadora de humanidade.
Mukanda
10.07.2019 | por Ritó aka Rita Natálio
Os autores confrontaram-se com a ausência de informação sobre a representação de homens e mulheres negros na pintura europeia, o que os levou a interrogações muito objetivas: quem eram as pessoas representadas, o que motivou a sua representação, e porque é que na pintura raramente tinham uma identidade individualizada.
A ler
10.07.2019 | por Ana Paula Rebelo Correia
O objetivo desta análise é um deslocamento da perspectiva, a partir do qual se busca compreender menos a forma como os africanos resistiram a um processo imposto a partir de fora e que avança de maneira coerente, mas como certas estratégias sociais e ações políticas por eles articuladas impuseram mudanças ao conjunto das relações entre os agentes implicados na situação colonial. Importam aqui os interstícios ainda pouco iluminados da agência africana no sul de Angola: o que os africanos faziam do que se tentava fazer deles a partir da década de 1920?
Ruy Duarte de Carvalho
08.07.2019 | por Rafael Coca de Campos
O racismo e sexismo, de que foram alvo desde a escravatura, contribuíram para as deploráveis condições e estatuto das mulheres negras: «nenhum outro grupo na América teve a sua identidade tão rasurada da sociedade quanto as negras. Raramente nos reconhecem como grupo autónomo e distinto dos negros, ou como parte integrante, nesta cultura, do grupo alargado de mulheres.»
Corpo
07.07.2019 | por Marta Lança
O que resta do Hotel Império, além de uma alegoria asiática com referência a Portugal? Não só um aglomerado de ruínas de um edifício que evoca a memória de um esplendor antigo e agora desbotado, que sobrevive só residualmente, mais como imagem estética do que como um fato documentável e reconhecido.
Afroscreen
06.07.2019 | por Roberto Vecchi
Trazendo algumas reflexões sobre práticas de decolonização do conhecimento e artes no contexto afro e índio brasileiro, este artigo alerta sobre o possível esvaziamento de termos e teorias, concentrando-se no movimento afrofuturista. Em paralelo, o debate sobre o afropolitanismo em relação ao cosmopolitanismo, pan-africanismo, e a formação da identidade africana, reconhecendo múltiplas modernidades. Para concluir, aponta-se para o perspectivismo ameríndio como possível fuga na assunção de humanidades como base de um pensamento decolonizado. E ainda alguns trabalhos de artistas africanos, afrodescendentes e indígenas brasileiros.
A ler
02.07.2019 | por Laura Burocco
Quando proponho a experiência estética como algo que nos coloca a ver a democracia – e aqui penso estética como Rancière a propõe em sua partilha do sensível, ou seja: como aquilo que possibilita a estese – em consonância com o título da intervenção estadunidense contra a anestesia de uma posse fascista, o que proponho de fato nada mais é do que observar aquilo que difere.
A ler
01.07.2019 | por Allende Renck
O facto deste assunto estar por todo o lado quer dizer que transbordou da esfera político-museológica para o espaço público e mediático, o que é bastante positivo, sobretudo se for acompanhado de intervenções e de debates esclarecedores. O processo, que não era simples à partida, tornou-se mais complexo importando novos problemas e, dada a heterogeneidade das posições dos Estados envolvidos, aumentou a sofisticação que era exigida para tratar deste assunto.
A ler
30.06.2019 | por António Pinto Ribeiro
Partindo das formas existentes no percurso estabelecido e do imprevisto provocado pelos sujeitos, 'Partituras para ir' procurou instaurar relações de movimento e de repouso, de velocidade e de lentidão, através das quais se instaura o devir, um devir entendido enquanto processo de desejo.
Cidade
30.06.2019 | por Marta Rema
A Angola que eu deixei em 1992 não tem rigorosamente nada a ver com a Angola actual, e acho bem que as coisas mudem. Não tenho saudades nenhumas do tempo colonial, que era um tempo de injustiça, mesmo eu que ia à escola e à universidade, e estava do lado privilegiado, sei muito bem que é um sistema para esquecer (ou para lembrar....). Como também está resolvido sem nostalgia esses tempos de envolvimento quase amoroso: a Independência, o nascer um país, criarmos os filhos, uma avalanche de coisas que nos estavam a acontecer e nós tínhamos 20 anos.
Cara a cara
24.06.2019 | por Marta Lança
Por que é que a Europa tem (ainda) tanta dificuldade em mostrar uma atitude coerente perante os discursos legitimadores dos racismos e da xenofobia? Quais são essas máscaras que lhe impedem de aceitar o seu passado colonial e considerar, de uma vez por todas, as diásporas como parte integrante da riqueza do mapa cultural europeu? O “velho continente” será capaz de conciliar o seu glorioso legado cultural (incluindo o teatro grego, dentro do contexto histórico em que este se insere) com o seu – menos glorioso – passado colonial?
A ler
22.06.2019 | por Felipe Cammaert
RDC buscou desfazer a confusão comum entre a ética e a política, colocando-se contra a verdade oficial e a razão do Estado ao narrar os sofrimentos impostos à população no contexto da crise. A crise se instalou pela guerra, igualmente pelos diversos modelos ocidentalizantes que se tentaram aplicar, levando a uma permanente desestruturação, instabilidade e incerteza que forneciam argumentos aos dirigentes para manterem um estado de exceção que justificava a penúria dos angolanos.
Ruy Duarte de Carvalho
22.06.2019 | por Kelly Araújo