Algures no meio há algo mais humano que tenta compreender estas pessoas, imagine se tivesse de fugir da sua casa e só pudesse levar consigo uma coisa, como continuaria a ser você mesmo? Para além de fugir e experimentar um conflito traumático, aparece num lugar que é suposto ser civilizado e é tratado como uma abominação. Este projecto está prestes a tentar humanizar os migrantes e torná-los indivíduos e pessoas reais, nossos amigos, nossos vizinhos.
Cara a cara
07.12.2020 | por Alícia Gaspar e Rachael Kiddey
Este ensaio examina a forma como as práticas artísticas contemporâneas têm contribuído para uma descolonização epistémica e ético-política do presente através da investigação crítica de vários tipos de arquivos coloniais, quer públicos, quer privados, quer familiares, quer anónimos. Tomando como estudos de caso obras dos artistas Ângela Ferreira, Kiluanji Kia Henda, Délio Jasse, Daniel Barroca e Raquel Schefer, este ensaio indagará até que ponto a estética destas práticas videográficas, fotográficas e escultóricas implica uma política e uma ética da história e da memória relevantes para pensar criticamente as amnésias coloniais e as nostalgias imperiais que ainda caracterizam uma condição pós-colonial marcada por padrões neo-coloniais de globalização e por relações difíceis com comunidades migrantes e diaspóricas.
Jogos Sem Fronteiras
06.12.2020 | por Ana Balona de Oliveira
Para ativar a discussão sobre a relação entre memória e criação artística os organizadores, Maria João Brilhante e Tiago Rodrigues, propuseram três eixos de aproximação ao tema que, resumidamente, questionavam: (1) como o próprio fazer teatral desenvolve-se como um trabalho da memória; (2) como o teatro produz e performa memórias; e (3) em que medida a memória torna-se matéria do teatro, isto é, como o teatro elabora e relaciona memórias coletivas e individuais e pode assim construir contra-versões das “histórias oficiais” produzidas pelas sociedades.
Palcos
04.12.2020 | por Joana Levi
A resistência às máquinas identitárias também passa pela sua compreensão, pela análise de exemplos, que são efectivações e não modelos. Por isso, neste texto pretende-se analisar alguns aspectos de dois textos recentemente publicados e que se propõem reflectir sobre a actualidade em Portugal – O texto de Luís Trindade, «Fado, Futebol, Fátima, Foices e Martelos. Combates pelo senso comum no século XX português», e o livro de José Gil, com o título Portugal Hoje. O Medo de Existir.
Jogos Sem Fronteiras
03.12.2020 | por Silvina Rodrigues Lopes
Os relatos eram acompanhados, entrecortados, muitas das vezes ditados por fotografias, revolvidas em álbuns, caixas de sapatos, molduras, envelopes; fotografias que me mostraram, nas quais peguei, e que quase sempre digitalizei e voltei a arrumar nos álbuns, caixas de sapatos, molduras, envelopes… Aqui fica a segunda parte de fragmentos de impressões dos diários de “campo”, que relatam episódios da pesquisa dessas imagens fotográficas.
Jogos Sem Fronteiras
03.12.2020 | por Ana Gandum
Num ano complicado no plano da saúde pública, bem como do ponto de vista social, político e económico, a escolha de existir é nada mais, nada menos do que heróica. Mas o Plateau 2020 existiu, sim, desta feita em pequeníssimos ecrãs digitais espalhados pelo mundo inteiro, com uma audiência internacional e provavelmente maior que nunca. Durante cinco dias, o cinema exibiu-se a partir de Cabo Verde.
Afroscreen
03.12.2020 | por P.J. Marcellino
Os pais de Lawrence, empresários inconformados com o rumo da nova China de Mao Zedong, na ânsia de salvaguardar liberdades e património, engrossaram a longa lista de imigrantes que, na década de 50, confluíram no território. Em 1945, Hong Kong tinha 600 mil habitantes e, passados seis anos, o número excedia dois milhões. Hoje refaz-se o ciclo. Com a instabilidade política e a crescente interferência de Pequim nos assuntos da região semiautónoma chinesa, Lawrence prepara o caminho para deixar esse abrigo provisório que o tempo fez casa.
Cidade
01.12.2020 | por Catarina Domingues
O triunfo do filme consiste, por isso, em mostrar, mas sobretudo em interromper e interpelar os filmes que mostra, com comentários, observações e justaposições, demonstrando que não há neles rigorosamente nada de natural. Tomando em consideração o modo sistemático como se tem vindo a demonstrar quão artificiais, postiças, desequilibradas, encenadas e ocultadoras são as imagens dominantes que foram produzidas em contextos imperiais, Benjamin Stora perguntou recentemente: será que a imagem colonial ainda mantém uma ligação ao real? Ariel de Bigault levou esta inquietação a sério no documentário, dando-lhe uma resposta enfática na negativa, concentrando-se no imaginário e ficção do cinema colonial como se uma história de fantasmas.
Afroscreen
01.12.2020 | por Afonso Dias Ramos
"Something Happened on the Way to Heaven" é formulada como uma observação sobre o mundo mediterrânico com duplo sentido – um idílio aparentemente paradisíaco que revela a presença do seu oposto. Com efeito, as obras de Kiluanji Kia Henda evidenciam a dialética contraditória entre um esplendor natural dotado de traços idealizados e um obscuro reverso de ameaças históricas e atuais.
Vou lá visitar
30.11.2020 | por Luigi Fassi Luigi Fassi e Kiluanji Kia Henda
Não existia muito diálogo entre nós, não discutíamos os nossos problemas comuns perante a tropa e a previsível mobilização para uma guerra que ambos detestávamos. Só assim se compreende que ele nunca me tenha falado sobre o assunto, ou tenha sequer esboçado uma tentativa de encontrar uma solução (uma eventual deserção?) para evitar a guerra, apesar de ele saber bem quais eram as minhas ideias sobre a guerra e sobre o regime fascista.
Jogos Sem Fronteiras
30.11.2020 | por Fernando Mariano Cardeira
No seu ensaio, Kertész deixa clara a grande distância crítica que o separa de muitas formas de apropriação e mesmo instrumentalização da memória do Holocausto por uma segunda ou terceira geração, mas isso não turva a lucidez com que analisa o processo nos termos que referi e, particularmente, a consciência clara de que, sendo a memória um legado, a forma que a apropriação desse legado poderá assumir não é legislável pelo seu detentor original. Esta lucidez não é universalmente partilhada.
A ler
29.11.2020 | por António Sousa Ribeiro
Fazer rede mantendo autonomia, mapear conflitos sócio ambientais, friccionar saberes, linguagens, perspectivas e impasses, acompanhar contextos específicos e agregar conhecimento singular e local, foram alguns dos desejos que moveram residências de pesquisa e encontros entre intervenientes das áreas da dança, cinema, performance, artes visuais com cientistas, agrónomos, arqueólogos, cooperativas e ativistas nas regiões de Ourique, Castro Verde, Montemor-o-Novo, Aveiro, Ílhavo e Gafanha da Nazaré.
A ler
28.11.2020 | por Marta Lança e Ritó aka Rita Natálio
Mas gostaria de contrariar dois mitos: a ideia fácil de que a estética africana é caracterizada pela presença da cor negra, o que é absolutamente redutor; e o falar-se de UMA estética africana quando África é bastante diversa, tanto a nível das comunidades como das religiões, dos próprios ex-poderes coloniais, para além da enorme diferença dos espaços, dos cenários, dos ritmos…
Cara a cara
26.11.2020 | por Sílvia Vieira e Tiago Resende
À medida que a noite cai em São Teotónio, as luzes ainda estão acesas na escola. Três vezes por semana, permanece aberta até à meia-noite para realizar aulas para adultos da região, que aqui vêm ao fim de um longo dia nas estufas - sabendo que precisarão de falar um pouco de português para se qualificarem para residência permanente. Existem actualmente 500 estudantes adultos inscritos para as aulas nocturnas - quase correspondendo à entrada diurna de 600 crianças. O moldavo Vitali Siminionov, que colhe flores para viver, e cujas duas crianças estudam ambas na escola, brincaram: "Eles estão sempre a corrigir-me dizendo: 'Pai, não é assim que se diz!"
Jogos Sem Fronteiras
24.11.2020 | por Ana Naomi de Sousa
Porquê "mecânica racista"?
A palavra "mecânica" refere-se em primeiro lugar ao carácter artificial do racismo, em oposição a uma ideia preconcebida que tomo o tempo necessário para desafiar no livro: a ideia de que o racismo se baseia basicamente no medo do outro ou do desconhecido, inerente à natureza humana. Mostro que esta ideia é absolutamente falsa, por um lado, e eticamente errada, por outro, na medida em que conduz à complacência com a violência racista: se deriva de uma inclinação natural, pode ser controlada, mas não pode ser erradicada, e não se deve ter pressa em exigir igualdade de tratamento. Em contraste com esta abordagem "naturalista", salientaria a dimensão cultural do racismo, a sua dimensão histórica, social e política...
Cara a cara
23.11.2020 | por Pierre Tevanian
Os rebelados advertiram as fortalezas de Santa Cruz, Laje e São João a não dispararem os seus canhões sobre as naves de guerra rebeladas, sob pena de serem arrasadas. Os navios fizeram alguns disparos de aviso, aos quais as fortalezas não responderam, mantendo-se mudas. O poder de fogo dos couraçados era muito superior ao das fortalezas e aos contratorpedeiros que não entraram na revolta. João Cândido, o primeiro marinheiro a comandar uma frota de navios, era consciente do seu poder. Na torre do Minas Gerais, permanecia com o seu uniforme de marinheiro, ao qual apenas acrescentara um lenço vermelho, símbolo da rebelião. Se quisesse, teria arrasado o Rio de Janeiro. Mas não era esse o objetivo do “Almirante negro”, como passou a ser conhecido.
Jogos Sem Fronteiras
23.11.2020 | por Luís Leiria
Com curadoria de Alexey Artamonov, Denis Ruzaev e Ines Branco López, “Os olhares em confronto” é um ciclo que faz parte do programa da 14ª edição do Lisbon & Sintra Film Festival. Organizado entre Lisboa e Sintra, de 16 a 23 de novembro, este evento consiste na exibição de vários filmes/documentários sobre temas como feminismo, emancipação feminina, sexualidade, etnia, pobreza, infância, negritude, identidade, memória coletiva e saúde mental.
Afroscreen
21.11.2020 | por Alícia Gaspar
O assassinato de Amílcar Cabral desencadeou a imediata iniciativa dos Comités de Desertores no sentido de realizar manifestações públicas de protesto nas principais cidades suecas. Juntamente com outros responsáveis do Comité de Malmö-Lund, estabelecemos de imediato os contactos necessários para a realização de manifestações, muito bem sucedidas, tanto em Malmö no dia 26, como em Lund, no dia seguinte. Antes disso já havia distribuído panfletos um pouco por todo o lado, logo no dia seguinte ao crime.
Jogos Sem Fronteiras
21.11.2020 | por Fernando Mariano Cardeira
O amor aviva a vida e os desejos. Tive sorte. O meu corpo já vai expandindo um pouco sinto. Tenho uns pelos escassos no queixo e de seguida já lá vão 10 meses de Testosterona, mas acho que tenho daquelas constituições em que a transição é mais lenta. Vou aguardando saltos, que dizem muitos se dão na transformação. Olho-me ao espelho mas só me parece tudo muito vagaroso. Enfim, paciência. Isto anda tudo a passo de caracol lately. Temos que esperar por janeiro também para ver o Trump fazer as malinhas. Espero que alguém grite a plenos pulmões “You're fired!”
A ler
20.11.2020 | por Adin Manuel
"Tenho visto que racismo, homofobia, queerfobia e transfobia são coisas interligadas que existem em todas as sociedades, ao longo do tempo. Como sou tratada quando me desloco entre países, a linguagem desumanizante utilizada nas fronteiras e nos costumes, diz muito sobre a raça. No mundo em geral, só agora conhecemos o alcance da violência racial que tem vindo a acontecer, bem como as suas raízes e efeitos sistémicos. Só recentemente, enquanto sociedade mais alargada, nos foram fornecidos os instrumentos e a linguagem para apontar e abordar o racismo. Como disse anteriormente, a violência é mais antiga do que todos nós".
Cara a cara
19.11.2020 | por Osei Bonsu e Zanele Muholi