Antes de mais e depois de tudo, poemas de Regina Guimarães

O DO AMOR 

Espaço sem portas, sem estradas, o do amor.

O primeiro desejo dos amantes é serem velhos amantes.

E começarem assim o amor pelo fim.

 

O LIVRO DOS MORTOS

Entra sim mas não repares

no estado em que a casa está.

Não repares no que vês por mim

já não vale a pena

o estado, a casa é pequena,

e os olhos sempre cruéis.

Se entrares fica então sabendo

que o corpo só de si fala

se de pés e mãos atadas

e se paisagem correndo

tapar todas as entradas.

Não passes além da porta

e escolhe um ponto de vista

que te dê razão de sobra

para não seguires em frente

- quem irá adivinhar que não mandas, obedeces,

que escutas e não te ouvem?

Não entres, nem que quisesses

não poderias galgar o estorvo

que significa chegar

sem ser convidado.

Existe um pacto do corpo

com o espaço e com o tempo

no primeiro o corpo pára

no segundo julga andar.

Em vez de quereres entrar

onde nem porta nem fecho

repara no que há lá dentro

e não esqueças que a nudez

vestida como castigo

e usada no pensamento

por desgosto delirante

viria a ser castigada.

Ou seja: se não entrares

darás a subentender

que só de livre vontade

que só por vontade tua

ficas no olho da rua.

Quem sai da mira dos deuses

passa a ser presa dos homens.

Ou alvo em movimento.

Do livro Antes de mais e depois de tudo, a primeira antologia de poemas escolhidos de Regina Guimarães. Um livro breve e pensado para oferecer, tanto quanto possível, uma visão panorâmica da extensa e singularíssima obra poética da autora. A apresentação é no domingo, 30 de Agosto, às 16h00, no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no âmbito do programa oficial da Feira do Livro do Porto. Com a presença de Regina Guimarães e Ana Deus, para uma conversa com os leitores e leitura de alguns poemas do livro.
Evento no facebook.

23.08.2020 | por martalanca | poesia, Regina Guimarães

Foco Africano – INDIELISBOA 2020: PROGRAMA

25 Agosto a 5 de Setembro 

Competição Internacional

27, Quinta | 21h30 | Capitólio | Cinema ao Ar Livre

29, Sábado | 21h30 | Culturgest 

Baamum Nafi | Nafi’s Father 

Mamadou Dia

Senegal, fic., 2019, 109’

A primeira longa de Mamadou Dia chega-nos duplamente premiada no Festival de Locarno (Leopardo de Ouro Cineastas do Presente e Melhor Primeiro Filme). Rodado na sua cidade natal, Matal no Senegal, esta é a história de dois irmãos, Tierno e Ousmane, que se zangam por causa do casamento dos seus dois filhos. O primeiro quer casar o seu rapaz com a filha do segundo, a bela Nafi. O que está em causa é o alastrar do fundamentalismo numa pequena comunidade.

Nafi’s Father, de Mamadou DiaNafi’s Father, de Mamadou Dia

27, Quinta | 21h30 | Culturgest

1, Terça | 21h30 | Cinema São Jorge

Eyimofe| This is My Desire

Arie Esiri, Chuko Esiri

Nigéria, Estados-Unidos, fic., 2020, 115’

Todos os anos Nollywood, a Hollywood nigeriana, produz cerca de mil filmes. Destes quase nenhuns viajam para fora de África. Caso diferente para a primeira longa metragem dos irmãos gémeos Esiri que, a partir de duas histórias, em certo sentido também elas gémeas, abordam o desejo de sair para o Ocidente. Mofe, um homem que faz reparações numa fábrica e Rosa, empregada de bar e cabeleireira, procuram uma saída da colorida e aprisionante capital, Lagos.

Retrospectiva Ousmane Sembène

25, Terça | 21h30 | Cinemateca

5, Sábado | 19h | Cinemateca

BOROM SARRET

Ousmane Sembène

Senegal, doc., 1963, 20’

É já com quarenta anos e com vários romances publicados que Sembène começa a filmar. Nesta sua segunda curta, considerada por muitos historiadores como um dos primeiros filmes realizado por um negro em África, seguimos um condutor de carroça pelas ruas pobres e desoladas de Dakar.

+

LA NOIRE DE…

Ousmane Sembène

Senegal, França, fic., 1966, 65’

A longa-metragem inaugural de Sembène é tida como o primeiro filme de um realizador da África subsariana a ter atenção internacional. Baseado num conto homónimo do autor, ela acompanha a vinda, de Dakar para a Riviera francesa, de Diouana, uma jovem senegalesa, contratada como babysitter por um cosmopolita casal francês. Este é um trajeto de silenciosa rebelião, na passagem dos sonhos ilusórios por uma vida melhor a uma realidade de exploração.

LA NOIRE DE..., Ousmane SembèneLA NOIRE DE…, Ousmane Sembène

+

TAUW

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1970, 24’

Tauw e Ouman são irmãos. Tauw, o mais velho, procura, em vão, um emprego. Ouman, 11 anos, procura, em vão, apoios para o seu líder religioso. Diferentes fases de crescimento, o moderno e o tradicional em confronto, nas ruas de uma Dakar em mudança após a independência.

29, Sábado | 15h30 | Cinemateca

4, Sexta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

CAMP DE THIAROYE

Ousmane Sembène, Thierno Faty Sow

Senegal, Argélia, Tunísia fic., 1988, 157’

Talvez a grande obra-prima de Ousmane Sembène e o grito mais intenso de condenação das injustiças do colonialismo. No rescaldo da 2ª Guerra Mundial, os soldados senegaleses regressam da Europa e, antes do retorno a casa, são colocados no acampamento militar de Thiaroye. Perante as más condições de acomodação e a redução de pagamento, os soldados revoltam-se e são massacrados às mãos do exército francês. Vencedor do prémio especial do Júri em Veneza.

27, Quinta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

3, Quinta | 15h30 | Cinemateca 

CEDDO

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1977, 120’

Ceddo é o nome dado aos últimos detentores do espiritualismo africano antes da chegada do islamismo e cristianismo. Numa aldeia senegalesa do séc. XVII, o rei Demba War cede às pressões do líder islâmico e os ceddo raptam a sua filha para prevenir a conversão forçada à nova religião. Este “micro épico”, como foi apelidado, foi à época censurado e conta-se que Sembène distribuía, à saída dos cinemas, panfletos que descreviam as cenas removidas.

CEDDO, Ousmane SembèneCEDDO, Ousmane Sembène

29, Sábado | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

2, Quarta | 15h30 | Cinemateca

EMITAÏ

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1971, 103’

Durante a 2ª Guerra Mundial, as forças colonialistas francesas do governo de Vichy requisitam o bem mais precioso que têm os habitantes da aldeia senegalesa de Efock: o arroz. A minoria étnica dos Diola reorganiza-se para a resistência: enquanto os anciãos rezam a Emitaï, o Deus do trovão, as mulheres, mais pragmáticas, escondem a colheita. Esta história de silenciosa resistência esteve censurada 5 anos após a sua estreia em toda a África francófona.

31, Segunda | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

8, Terça | 19h | Cinemateca

FAAT KINÉ

Ousmane Sembène

Estados Unidos, fic., 2001, 120’

Quase uma década após o seu último filme, Sembène assina o que seria o primeiro volume de uma planeada trilogia sobre o heroísmo quotidiano da mulher africana. Faat Kiné é mãe solteira numa Dakar moderna, plena de contradições e aspirações de mudança. Vive com os seus dois filhos, de dois ex-maridos, tendo de lidar não apenas com a pressão social da sua condição, mas também lutar pelas suas aspirações profissionais num mundo dominado pela condição patriarcal. 

28, Sexta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

7, Segunda | 15h30 | Cinemateca

GUELWAAR

Ousmane Sembène

França, Alemanha, Senegal, Estados Unidos, fic., 1992, 115’ 

Esta comédia de enganos começa com a morte de Guelwaar (que significa “o nobre”), padre e ativista católico. Quando a família vem reclamar o corpo à morgue apercebe-se que este desapareceu e que foi enterrado por engano num cemitério muçulmano. Sátira a uma África atolada pelos pequenos conflitos, por uma burocracia paralisante e pelos dogmas e crenças religiosas em confronto. A ironia fina e os pequenos detalhes revelam toda a mestria de Sembène.

1, Terça | 15h30 | Cinemateca

5, Sábado | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

MOOLAADÉ

Ousmane Sembène

Senegal, França, Marrocos, Tunísia, Camarões, fic., 2004, 124’ 

O último filme de Sembène e segundo de uma planeada trilogia sobre o heroísmo da mulher africana. Numa pequena vila senegalesa, Collé Ardo, a segunda mulher de um próspero agricultor, prepara o casamento de sua filha. Eis que resolve acolher quatro meninas que procuram refúgio na sua casa para escapar ao ritual de “purificação”, que consiste na sua excisão genital. Tal atitude inicia um conflito que divide irremediavelmente os membros da sua comunidade.

2, Quarta | 19h | Cinemateca

5, Sábado | 15h30 | Cinemateca

NIAYE

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1964, 35’

Inspirado em factos reais, Niaye narra através de um griot - um contador de histórias africano - o caso de uma jovem cuja inesperada gravidez vem escandalizar a comunidade e agitar os valores tradicionais de uma pequena vila senegalesa.

 +

MANDABI

Ousmane Sembène

França, Senegal, fic., 1968, 90’

Um homem senegalês de meia idade, desempregado, vive com as suas duas mulheres e filhos em Dakar. Quando recebe um vale postal vindo do seu filho, trabalhador em Paris, começam os problemas burocráticos para o levantar. Sembène foca-se, pela primeira vez, na corrupção da vida quotidiana do seu país, cumprindo o sonho de fazer um filme todo falado em língua Wolof. O olhar crítico valeu-lhe a censura no Senegal e um prémio internacional da crítica no Festival de Veneza.

2, Quarta | 21h30 | Cinemateca

11, Sexta | 19h | Cinemateca

XALA

Ousmane Sembène

Senegal, fic., 1975, 123’

Nos anos pós-independência, no Senegal mantém-se a influência ocidental. Um ganancioso homem de negócios retira dividendos dessa situação e, como prova do seu sucesso, casa-se com a sua terceira mulher. Mas eis que, ao tentar consumar o casamento, se vê atacado por uma terrível xala, uma maldição que o deixa impotente. Baseada no romance que Sembène escreveu dois anos antes, esta é uma simbólica sátira acerca da impotência social e política do seu país.

Retrospectiva 50 Anos Forum Berlinale

26, Quarta | 15h30 | Cinemateca

3, Quinta | 21h30 | Cinemateca | Cinema ao Ar Livre

ELDRIDGE CLEAVER, BLACK PANTHER

William Klein

França, Argélia, doc., 1970, 75’ 

Após acusação de uma tentativa de assassinato, Eldrige Cleaver, militante do movimento Black Panther Party, exila-se na Argélia. O realizador e fotógrafo William Klein fará aqui o retrato de um homem multifacetado, escutando o seu discurso ativista sobre a revolução, a luta na América, os seus rivais políticos, como Nixon ou Reagan. Mas esta é também uma obra além da ideologia, o retrato de um revolucionário romântico, num exílio lírico e comovente. 

28, Sexta | 15h30 | Cinemateca

SOLEIL Ô 

Med Hondo

França, Mauritânia, fic., 1970, 104’

O realizador e actor da Mauritânia, Med Hondo, espantou o mundo do cinema com este seu filme inicial (vencedor do Leopardo de Ouro em Locarno), rodado durante quatro anos e com um baixo orçamento. Esta é a luta de um emigrante mauritano em Paris, em face das precárias condições de trabalho, remuneração discriminatória, humilhação e indiferença. Um manifesto original, com influências do cinema verité, da montagem eisensteiniana, da sátira e do absurdo.

27, Quinta | 15h30 | Cinemateca

MONANGAMBEE

Sarah Maldoror 

Argélia, fic., 1969, 18’

Sarah Maldoror, cineasta maior da causa da libertação africana, assina aqui o seu primeiro filme. A denúncia da tortura no colonialismo português em Angola, bastando uma palavra com significado desconhecido para dar origem à violência.

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PHELA-NDABA (END OF THE DIALOGUE)

Members of the Pan Africanist Congress

África do Sul, doc., 1970, 45’

Em 1970, membros do Congresso Pan-Africano formaram um colectivo cinematográfico. Um grupo de sul africanos exilados em Londres utilizou imagens de arquivo e vídeos filmados em segredo no seu país para realizar o que seria um dos primeiros filmes sobre o Apartheid.

Foco Mati Diop

29, Sábado | 21h50 | Cinema São Jorge

ATLANTIQUE

Mati Diop

França, Senegal, Bélgica, fic., 2019, 106’

Trabalhadores de uma obra na capital do Senegal não recebem há meses. Um deles, o jovem Souleiman, decide atravessar o oceano em busca de uma melhor vida. Ada, de 17 anos, apesar de prometida a outro homem, espera o regresso do seu amor. Inspirada na figura de Penélope, mas também em Romeu e Julieta, Atlantique é um conto de espíritos, traumas e crescimento. Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes de 2019. 

ATLANTIQUE, Mati DiopATLANTIQUE, Mati Diop

27, Quinta | 19h15 | Culturgest

MILLE SOLEILS

Mati Diop

França/Senegal, fic., 2013, 45’

Mille Soleils, vencedor do IndieLisboa em 2014, conta o regresso da realizadora ao Senegal, revisitando dois atores do filme Touki Bouki (1971), realizado pelo seu tio, Djibril Diop Mambéty. Memórias reais e liberdades de ficção, o cinema e/é a sua família.

20.08.2020 | por martalanca | cinema africano, Mati Diop, Ousmane Sembène, Sarah Maldoror

Estreia de Parto Sem Dor, de Maria Mire, no Indie

O filme de Maria Mire sobre Cesina Bermudes estará na Competição Nacional de curtas-metragens do Indie Lisboa Festival Internacional de CinemaSerá exibido no dia 26 de Agosto e no dia 3 de Setembro, no Cinema São Jorge em Lisboa. Programa do Indie.

O filme marca a estreia de Maria Mire na realização e é uma homenagem pessoal da realizadora à`médica obstetra Cesina Bermudes (1908-2001), pioneira da introdução do parto sem dor em Portugal e resistente anti-fascista, que ajudou no parto muitas mulheres na clandestinidade. Cesina Bermudes foi a primeira mulher portuguesa a doutorar-se em medicina.

 

 

Sobre o filme, realizado e produzido de forma completamente independente, a realizadora revela: “Perante a degradação da imagem da mulher no fnal da Idade Média, produziu-se e perpetuou-se no imaginário europeu que a prática de feitiçaria estava ligada à natureza feminina e, por extensão, que toda a mulher era uma feiticeira em potência. Queimadas nas fogueiras como seres demoníacos este movimento histórico anti-feminino para além da pesada repressão que infigiu, desprestigiou-as ao longo do tempo, só ficando para a História das feiticeiras, uma ideia de histeria, loucura e charlatanismo.

As acusações de bruxaria estavam, na sua maioria, associadas a práticas ancestrais de medicina empírica e recaiam violentamente sobre as curandeiras e as parteiras. Quais os resquícios desse tempo sombrio? Procuramos a resposta a esta pergunta na vida e na acção de Cesina Bermudes, uma importante médica obstetra que foi pioneira da introdução do parto sem dor em Portugal, assim como uma importante oposicionista ao regime do Estado Novo. Misturando-se a história de Cesina Bermudes com a história de Portugal do século XX.

Na preparação do flme, o mergulho histórico foi feito inicialmente através da leitura dos inúmeros textos científcos escritos por Cesina Bermudes, assim como da consulta a documentos históricos nos arquivos nacionais sobre o períododo fascismo e da realização de entrevistas a pessoas que foram suas pacientes, colegas ou que se ligaram a ela em algummomento da sua vida. Os inevitáveis buracos de uma história indirecta, as omissões constantes sobre a sua vida pessoal ou as considerações revestidas de aparente neutralidade ideológica sobre a sua militância política, que surgiram na pesquisa para este flme, tornaram-se reveladores do caminho que deveria tomar: uma conversa que começa no beiral de uma janela e que se prolonga através de uma intimidade imaginada. As imagens de uma viagem familiar são o pano de fundo desta história, na procura de novas e subtis poéticas que consigam identifcar actuais protagonistas para as conquistas de Cesina Bermudes.” 

Maria Mire

 

PARTO SEM DOR / Documentário / HD / 21’ / 2020

 

 

 

10.08.2020 | por martalanca | cinema, Maria Mire, Parto sem Dor

Podcast - Impérios, Colonialismo e Sociedades Pós-coloniais.

Está no ar o episódio piloto do podcast do Grupo de Investigação Impérios, Colonialismo e Sociedades Pós-coloniais. Disponibilizamos ao público um debate sobre iconoclastia anticolonial, memória do império português e descolonização.
O debate reuniu investigadores em história e antropologia e teve como principal objeto os protestos em torno à estátua do Padre António Vieira erigida em Lisboa, em 2017, bem como as reações públicas à sua pichagem a tinta vermelha e com a palavra “Descoloniza”, em junho de 2020. 
Gravado em 25 de junho de 2020, o debate contou com a moderação de Ricardo Roque e as intervenções de Annarita GoriÂngela Barreto XavierInês GalvãoIsabel Corrêa da SilvaKevin Carreira SoaresMafalda Soares da CunhaMarta MacedoMatheus Serva PereiraNuno Gonçalo Monteiro e Pedro Cardim.O episódio – “Descoloniza” Vieira – pode ser ouvido nas páginas do podcast nas plataformas: AnchorPocket Casts; e Spotify.Mais informações aqui.

11.07.2020 | por martalanca | Colonialismo e Sociedades Pós-coloniais, Impérios

Revista Língua-lugar: Literatura, História, Estudos Culturais

Língua-lugar é a mais recente publicação do Centre d’Études Lusophones da Université de Genève, em conjunto com a Universität Zürich, cujo objetivo é difundir as culturas e literaturas em língua portuguesa.

Neste número inaugural inclui-se um dossiê temático dedicado à reflexão sobre os discursos da Expo’98. Em complemento são apresentados os desenhos de Ângelo Ferreira de Sousa desconstruindo a mascote e os ideais da mesma exposição. São ainda tema a língua portuguesa vista na sua materialidade, marcada pelo lugar onde é falada, no ensaio de Eduardo Jorge de Oliveira, a linguagem e a contracultura brasileira no texto de André Masseno, o espaço da memória na experiência pós-imperial no artigo de Paulo de Medeiros recordando a obra de Luandino Vieira em relação com a de Djaimilia Pereira de Almeida. É dada a palavra a Lídia Jorge numa longa entrevista sublinhando a importância da literatura na res publica.

Javier del Real (Teatro Real) Ópera Corvo Branco · Javier del Real (Teatro Real) Ópera Corvo Branco ·   

Dossiê Temático: A Expo’98 e o Portugal pós-imperial em busca de uma narrativa nacional.

O primeiro dossiê temático de Língua-lugar, coordenado por Pedro Cerdeira, reúne artigos de Pedro Martins, Marta Araújo, Nazaré Torrão e Octavio Páez Granados e Catarina Duff Burnay.

O dossiê revisita a Expo’98 e produtos culturais a ela associados, designadamente a ópera Corvo Branco e a telenovela Terra Mãe. Interrogando a forma como a exposição se apropriou do período histórico da expansão marítima, o dossiê pretende ser um contributo para o entendimento do impacto de iniciativas comemorativas e da construção da identidade nacional no Portugal contemporâneo. Para tal, convoca diferentes disciplinas, nomeadamente a história, as ciências da comunicação, as ciências da educação e os estudos literários. 

Regino Cruz Arquitectos, Pavilhão Atlântico.Regino Cruz Arquitectos, Pavilhão Atlântico.

Lançamento & Acesso

29 Junho 2020 / 18 h - 19h (CET)

Acesso Revista e Informações sobre o Evento

oap.unige.ch/journals/lingua-lugar

Apoios

ASSH-Académie suisse des sciences humaines et sociales 

Joint Seed Funding

Instituto Camões

Design: Igor Ramos

Contacto lingua-lugar-info@unige.ch

Morada física Rue Saint-Ours 5, 1211 Genève 4 

Morada postal Rue De-Candolle 5, 1211 Genève 4 

Facebook www.facebook.com/107870490912933

Desenho de Ângelo Ferreira de Sousa, My Friend Gil Desenho de Ângelo Ferreira de Sousa, My Friend Gil

26.06.2020 | por martalanca | língua, revista

FUTURE NOW! (RE)PENSAR A CULTURA

FUTURE NOW! é um espaço de diálogo e intercâmbio digital que pretende discutir a Cultura e as Indústrias Criativas num contexto de pandemia, que desenham um conjunto de novos paradigmas sociais a nível mundial.

FUTURE NOW! pretende juntar vozes operacionais do(s) sector(es) em espaços de partilha, cruzamento e questionamento sobre o futuro que tem presente uma série de novos contextos e protocolos cujos impacto socioeconómicos já se fazem sentir, exigindo ações a curto/médio e longo prazo, pensadas coletivamente.

A Plataforma

  • Do Que Um Ciclo de Conferências

FUTURE NOW! irá reunir várias vozes do sector cultural numa plataforma comum de diálogo live: a partir do zoom em directo para o Facebook e  o Instagram.

Será criado um site com: (1) um catálogo digital com informação sobre todos os participantes inscritos: oradores, público em geral e entidades parceiras; (2) audios em português, inglês e francês de cada um dos painéis; web docs de 3m introduzindo cada painel; resumos do dia; publicação final de um manifesto FUTURE NOW!

DECLARAÇÕES PÚBLICAS 

Pedro José-Marcellino 

(Cabo Verde/Canadá/Portugal) 

Cineasta, Cientita Político, Autor

FUTURE NOW! Creative Team 

Samira Pereira 

(Cabo Verde/Portugal)

Produtora e Programadora Cultural 

FUTURE NOW! Creative Team 

“Com o desconfinamento total a assomar, é crucial que tomemos um momento *agora* — antes que voltemos todos às nossas vidas — para refletir amplamente no que é, por certo, um momento de charneira para as Indústrias Criativas no mundo inteiro. Confrontadas já com uma crise existencial catastrófica causada pela pandemia COVID-19, este momento de pausa forçada é igualmente uma oportunidade ímpar para que nos detenhamos, re-avaliemos, reestruturamos, e agarremos o incrível progresso a nível de representação e diversidade advindo diretamente da discussão internacional em redor do movimento BLM, que acaba de — finalmente — fazer tremer os alicerces coloniais da nossa sociedade, e que construamos, portanto, algo mais robusto, e mais justo.

É chegado o momento de fazer desta indústria com tantas desigualdades, uma indústria que funcione para todos. Não haverá, porventura, melhor momento para insistir na diversidade de vozes do que o rescaldo e reconstrução de um ano que viu manifestações feministas, anti-fascistas, pró-LGBTQ2+, pró-imigração e direitos humanos, o #MeToo e o #TimesUp e finalmente o terramoto do COVID-19, reforçado pela benvinda explosão do protestos BLM no mundo inteiro, com a conseguinte consciencialização acelerada de um mundo sonolento (ou dormindo de sorrateira).

Juntem-se à conferência digital Future Now de 29 de Junho a 10 de Julho (Gratuito, via Zoom e nas redes sociais), para uma (retro)(pers)pectiva e discussão de futuros sobre estes e outros tópicos relacionados com as resiliências e vulnerabilidades nas Indústrias Criativas e dos profissionais da cultura, como estxs têm interagido com o mundo nos últimos 3 meses, e como se estão/virão a reinventar através deste processo.

Falemos do FUTURO. Agora.

De Cabo Verde para o mundo, colocando no centro as vozes africanas, realçadas por colegas e aliados do mundo.”

Abraão Vicente

Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas da República de Cabo Verde

“Pensar a cultura após a declaração da pandemia do COVID-19, das sucessivas declarações do Estado de Emergência e do impacto negativo sofrido no setor da cultura e das indústrias criativas é, agora, mais do que urgente.

As instituições públicas e o setor privado viram a paralização destes dois setores como uma oportunidade de criar outros caminhos para debelarem os novos desafios impostos.

Debater e encontrar as melhores soluções para o setor da cultura e das indústrias criativas têm sido uma das prioridades do Governo de Cabo Verde, através do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas. O mesmo departamento que apoia iniciativas da sociedade civil.

Nisto, surgiu já o Future Now - O setor cultural em Cabo Verde no contexto da COVID-19 e pós-pandemia. Uma conferência digital que reúne pensadores de vários quadrantes e de vários países com o fito de debater o novo paradigma social a nível mundial.

Neste contexto, o Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, reuniu-se, por videoconferência, com os promotores da conferência digital.

O grupo do FUTURE NOW! é formado pela especialista em comunicação, Samira Pereira (São Vicente), o grupo formado por Pedro José-Marcellino (P.J. Marcellino) politólogo e cineasta residente no Canadá (América do Norte), Edna Lopes, Cônsul HOnorária de Cabo Verde em Itália, Simoni Cruz, Estudante Universitária e membro do Conselho Diretivo da Associação Cabo-verdiana de Cabo Verde em Portugal, e Ivan Santos, Diretor da Cultura da Câmara Municipal da Praia (ilha de Santiago).

Samira Pereira explicou o cerne do Future Now que acontecerá em duas semanas, dividido em 27 painéis e conta com 130 oradores.

Uma iniciativa louvável que conta com total apoio do titular da pasta da cultura e das indústrias criativas. O governante acredita que para além de um período de reflexão é preciso um “call for action.” ”

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Participantes

Opening Address: H.E. Minister of Culture and the Creative Industries, Mr. Abraão Vicente 

Confirmed speakers:

Christine Semba (France/Germany) — Head, WOMEX Academy and WOMEX Special Projects

Paola Valdivieso (Colombia) — Cultural Manager | DJ Selector | Co-founder Loa Productora

Elena Vida (Italy) — Architect

Michelle Ngommo (Italy/Cameroon) — Chair, AfroFashion Association, Milano Afrofashion Week

Mário Lúcio (Cabo Verde) — Singer-Songwriter, Writer, Thinker (former Min. Culture CV)

Suzana Souza (Angola) — Curator

Guilherme Tavares (Brazil)  — Cultural Producer, Creative Director of Favela Sounds Festival

Prof. Maria Miguel Estrela (CV) — Researcher

Cláudia Leitão (Brazil) — Director, Observatory of Fortaleza, former Min. of Culture

José da Silva (CV/France) — CEO, Sony Music Africa

Ivan Santos (CV) —Director, Praia Municipality UNESCO Cities of Music

Nuno Andrade Ferreira (CV) — Journalist

Jeff Hessney (USA, CV) — Cultural Programmer, Anthropologist

Samira Pereira (CV) — Cultural Programmer, former Director, Nat. Palace of Culture

Belarmino Kiwla Santos (Angola) — Building Society.org

Nuno Flores (Portugal) — Architect, Urban Planner

Redy Lima (CV) — Researcher, Sociologist

Renee Robinson (Jamaica) — Jamaican Film Commissioner, JAMPRO

Pedro José-Marcellino (CV/Canada) — Film/Cultural Producer, Political Scientist 

Janaina Alves Branco (CV) — ALAIM 

Mariana Duarte Silva (PT) — Lx Factory

Helena Moscoso (Portugal/CV) — Responsible Tourism Manager

Chris Benjamin (Jamaica), Vice-Consul in NYC, JAMPRO Trade & Investment Jamaica

Carlos Santos (CV) — Historian 

Miguel de Barros (Guinea Bissau) — Executive Director, Tiniguena. Equator Prize 2019

Angela Coutinho (CV/Portugal) — Professor/Researcher

 

Paulo Veiga (CV) — Cabo Verde Minister of the Sea Economy

Josina Freitas (CV) — Ministry of Culture representative 

Ivan Santos (CV) — Director of Praia UNESCO City of Culture, Municipality of Praia

Ana Gommel (CV) — Eco-Gourmand | Sumbia Café, hybrid cultural space 

Miriam Simas (CV) — Bombu Minino cultural organizaton 

Anayka Bettenncourt (Angola) — Zungueira Concept Store

Sueli Duarte (CV) — Art Educator 

Kwame Gamal Monteiro (CV) — Artist, Activist 

Rita Pedro (Portugal) — Philosopher

Marcela Lúcia Rojas (Colombia/Canada) — Artist, Art Educator, Art Therapist

Rita Rainho (Portugal) — Art Educator 

Lúcia Cardoso (CV) — Musician

Heitor Augusto (Brazil) — Founder, Nicho 54, Curator, Film Critic 

Abel Djassi Amado (CV) — Cultural Programmer/Producer

Gualter Monteiro (CV) — Artist, Producer 

Shakura S’Aida (USA/Canada/Switzerland) — Blues Singer, Activist

Guilherme Tavares (Brazil) — Favela Sounds

Solange Cesarovna (CV) — Cabo Verdean Society of Music 

 

Mário Bettencourt  (CV) — CV Associação of Producers

Paulo Lobo Linhares (CV) — Producer

Samira Vera-Cruz (CV) — Director, Parallax Productions

Pedro Soulé (CV) — Producer, Kriolscope

Sélim Harbi (Tunisia) — Filmmaker

Marta Lança (Portugal) — Researcher, Cultural Programmer, Editor, Buala.org 

Ana Cordeiro (CV/Portugal) — Director, Cabo Verde National Reading Plan

João Branco (CV/Portugal) — Theatre Director, MindelACT

Flávia Gusmão (CV/Portugal) — Actress

Sara Estrela (CV) — Theatre Director 

Chullage (Portugal/CV) — Playwright, Rapper, Activist, Sociologist, Griot Theatre 

Helardenson Duarte (Portugal/CV) — Actor

António Tavares (CV) — Dancer, Choreographer 

Šara Stranvovsky (USA) — Dancer, Educator

César Schofield Cardoso (CV) — Producer,  Multimedia Artist

Diogo Bento (CV/Portugal) — Photographer, Curator

 

Susana Souza (Brazil) — Visual Artist 

Alan Alan (CV) — Artist, Activist

Stephanie Silva (CV/Senegal) — Fashion Designer

Rosário da Luz (CV) — Activist 

Lorenzo i Bordonaro (Italy) — Artist, Activist

Adeline Bird (Canada/Tanzania) — Writer, Producer, Radio Host, Activist

Nathalie Younglai (Canada) — Screenwriter, Founder, BIPOC TV & Film

Celeste Fortes (CV) — Cultural Programmer, Professor, University of Cabo Verde

Anubha Momin (Canada/Bangladesh) — Writer, Producer, Activist 

Lolo Arkizi (Cabo Verde) — Producer/Director

 

 

 

 

 

 

 

 

25.06.2020 | por martalanca | FUTURE NOW!

As coisas fundadas no silêncio / Performances

A artista plástica Susana Mendes Silva, desenvolveu para As coisas fundadas no silêncio, o projeto expositivo “Como silenciar um poeta”. 

Com base na Sala Polivalente do Museu Nacional de Arte Contemporânea, o projeto inclui duas performances que se debruçam sobre a tradução de um poema da poeta Judith Teixeira para as outras duas línguas oficiais Portuguesas, a Língua Gestual Portuguesa e o Mirandês — “Tradução #1” e “Tradução #2” — e a leitura performativa da conferência “De mim”, publicada por Judith Teixeira em 1926.
“Tradução #1” - com Patrícia Carmo
3 de julho, sexta-feira 17:30 Estúdios Victor Córdon Duração: 2h
No sentido de contrariar a potência destrutiva do silenciamento em “Tradução #1” partiremos da tradução de um poema de Judith Teixeira para Língua Gestual Portuguesa.
- Não é necessária qualquer experiência anterior em LGP ou dança.
- Deverá chegar pelas 17:30.
- É necessário trazer roupa que permita os movimentos e seguir as instruções de participação dos estúdios: https://www.cnb.pt/evcsegurancacovid19/
- Participação gratuita para maiores de 18 anos, sujeita a inscrição.
- As inscrições podem ser feitas até ao dia 28 de junho enviando nome completo e data de nascimento para o e-mail atelier@efabula.pt
- Lotação 11 participantes.
“De mim” - com Marta Rema
3 de julho, sexta-feira
21:30 Rua das Gaivotas 6 Duração: 50 minutos
“DE MIM: Conferência em que se explicam as minhas razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral”, é um manifesto no qual a escritora se defende dos ataques e críticas a que vinha sendo sujeita desde 1923. Como afirma Fabio Mario da Silva, este texto é “acima de tudo (…) um discurso — para além de ter como destinatária a burguesia fútil e a sua conceção retrógrada de arte, defendendo que os artistas não se devem limitar às emergências dos mercados editoriais — de exaltação ao exótico e ao futurismo, que seriam sinónimos, naquela altura, para a sociedade portuguesa, de imorais, doidos e pagãos”. Não se sabe se este discurso terá sido alguma vez lido em público e por isso convocamos a sua presença fantasmática.
Participação gratuita para maiores de 18 anos sujeita a inscrição.
As inscrições podem ser feitas até dia 2 de julho para o e-mail atelier@efabula.pt Lotação de 25 participantes.
“Tradução #2” - com Alda Calvo
4 de julho, sábado 16:00 Rua das Gaivotas 6 Duração: 2h
No sentido de contrariar a potência destrutiva do silenciamento em “Tradução #2” partiremos da tradução de um poema de Judith Teixeira para Mirandês.
- Não é necessária qualquer experiência anterior em Mirandês ou em leitura de poesia.
- Participação gratuita para maiores de 18 anos sujeita a inscrição.
- As inscrições podem ser feitas até dia 2 de julho para o e-mail atelier@efabula.pt
- Lotação 20 participantes.
Susana Mendes Silva (Lisboa, 1972) é artista plástica e performer. O seu trabalho integra uma componente de investigação e de prática arquivística, que se traduz em obras cujas referências históricas e políticas se materializam em exposições, ações e performances através dos mais diversos meios de produção. O seu universo contempla e reconfigura contextos sociais diversos sem perder de vista a singularidade do indivíduo. A sua intimidade psicológica ou a sua voz são inúmeras vezes veículos de difusão e receção de mensagens poéticas e políticas que convocam e reativam a memória dos participantes e espetadores. Susana estudou Escultura na FBAUL e frequentou o programa de doutoramento em Artes Visuais (Studio Based Research) no Goldsmiths College, Londres, tendo sido bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. É Doutorada em Arte Contemporânea, pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, com a tese baseada na sua prática performativa – A performance enquanto encontro íntimo. É Professora Auxiliar na Universidade de Évora/DPAO no curso de Arquitetura Paisagista.

25.06.2020 | por martalanca | Performances, silêncio, Susana Mendes Silva

'Bustagate', de Welket Bungué

Bustagate com Isabél Zuaa e Cleo Tavares. // Um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa) eis o panorama escandaloso da violência e desigualdade social em Portugal. Eis um filme-intervenção póstumo à sua personagem imaginária, dedicado aos portugueses. // “Temos de entender quais são as questões sociais fraturantes da nossa sociedade. Somos brandos, e por isso acreditamos que a colonização de África, da América do Sul (…) foi uma missão importante que uniu a humanidade. Hoje grande parte da nossa riqueza deriva dos ganhos do nosso passado de violência, portanto devemos muito a esses povos agora ex-colonizados. LIVRES.”

Bustagate é um filme híbrido, que mistura textualidade e três narrativas visuais para contar e asfixiar o público, fingindo colocá-los no mesmo lugar que a nossa deflagrada heroína (a Sociedade). Bustagate, um ano depois do incidente do Bairro da Jamaica (zona da margem Sul de Lisboa). Através dos comentários do artista como agente político em nome do Ministério Público Português, Welket faz o recorte de um panorama escandaloso e desajustado de violência e desigualdade social em Portugal. Aqui está um filme-intervenção póstumo ao personagem imaginário aqui chamado Pretugal (personificando o Luís Giovani Rodrigues), dedicado ao povo português (aos tradicionalmente “nativos” e aos descendentes do continente africano que nasceram aqui). Esta criação segue o assunto principal do filme-manifesto (ou filme-intervenção) anterior Eu Não Sou Pilatus (Seleção Oficial DocLisboa - Competição Internacional, 2019).

 

05.06.2020 | por martalanca | Welket Bungué

Festival digital Latitude

De 4 a 6 de junho terá lugar o festival digital Latitude. O programa dedica-se, em performances artísticas e debates, à questão de como estruturas coloniais perduram até à atualidade e como podem ser ultrapassadas. Partindo de projetos artísticos e discursivos que foram iniciados e apoiados pelo Goethe-Institut durante os últimos anos, o Festival Latitude reúne posições internacionais das áreas da cultura, da ciência e da política e reflete sobre assimetrias e injustiças sociais, políticas e económicas que se foram perpetuando desde os tempos coloniais até aos nossos dias.

Film Archives, foto de Bruno CastroFilm Archives, foto de Bruno Castro

Entre estas iniciativas encontra-se o projeto Tudo passa exceto o passado, no âmbito do qual o Goethe-Institut Portugal organizou em Lisboa, em setembro de 2019, um workshop sobre arquivos cinematográficos e formas de lidar com material cinematográfico de origem colonial.
Num painel a realizar sexta-feira, dia 5 de junho, às 18h30, 15 dos participantes - artistas, cineastas, arquivistas e investigadores de 12 países diferentes - reunir-se-ão novamente para discutir o passado, o presente e, especialmente, o futuro das coleções coloniais em arquivos cinematográficos. O ponto de partida para o debate é a leitura coletiva de um apelo desenvolvido em conjunto para mudar a forma como os arquivos cinematográficos europeus lidam e permitem acesso a material de origem colonial.
O documento é o resultado dos debates durante o workshop de Lisboa, que tratou da relação entre arquivo e poder, bem como de diferentes estratégias artísticas com material de arquivo de origem colonial e material das lutas de libertação colonial. O documento, que será lido, comentado e discutido em conjunto pela primeira vez no contexto do Festival Latitude, reflete a diversidade de vozes e posições do workshop.
A participação gratuita realiza-se online através do livestream e do chat.
Pode consultar o acesso, links e outros detalhes sobre o festival aqui.  

FESTIVAL LATITUDEFESTIVAL LATITUDE
Leitura e debate com: Inês Beleza Barreiros (Historiadora Cultural, Lisboa, Portugal), Ganza Buroko (Agente cultural, Goma, Congo), Maria do Carmo Piçarra (Curadora, Lisboa, Portugal), Filipa César (Artista plástica, Berlim, Alemanha), Didi Cheeka (Cineasta, Lagos, Nigéria), Inadelso Cossa (Cineasta, Maputo, Moçambique), Fradique (Cineasta, Luanda, Angola), Sana Na N’Hada (Cineasta, Bissau, Guinea-Bissau), Yaa Addae Nantwi (Investigadora, Accra, Gana), Inês Ponte (Antropóloga, Lisboa, Portugal), Tom Rice (Professor Sénior de Cinema, Londres, UK), Tamer El Said (Cineasta, Cairo, Egito), Raquel Schefer (Investigadora, Paris, França), Catarina Simão (Artista plástica, Lisboa Portugal), Stefanie Schulte Strathaus (Curadora, Berlim, Alemanha) e Antje Van Wichelen (Artista plástica, Bruxelas, Bélgica).

TEXTO DE INÊS PONTE SOBRE O ENCONTRO ANTERIOR Arquivos, filmes e memórias: ingredientes para lembrar e esquecer o passado

 

 

 

02.06.2020 | por martalanca | arquivos, Goethe Institute Lisboa, Latitude

Elinga Teatro 1988/2018 de Paulo Azevedo

13 março, 01:35, na RTP1

Este documentário foi um dos nove vencedores da terceira edição do Programa CPLP Audiovisual - DOCTV III, programa que tem como meta facilitar o intercâmbio entre os países que falam português e a produção audiovisual nesses países. Fazem parte da iniciativa Angola, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, Timor Leste, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe.O retrato do processo de produção, preparação teatral e a evolução da companhia que há mais 30 anos leva a arte teatral às gentes de Luanda

Este documentário conta a história de um edifício colonial que há trinta anos alberga a companhia com o mesmo nome. O Elinga fez sua missão mostrar teatro aos luandenses. Muitas peças do grupo e de vários outros grupos nacionais e internacionais passaram pelo Elinga, até como outras manifestações artísticas que vão da dança às exposições e concertos. Este edifício deu aos luandenses acesso a cultura e tem importância na história contemporânea de Angola e da cidade de Luanda.
É feito um retrato do dia de todos os que trabalham no Elinga: os auxiliares de limpeza, os técnicos, os atores, a subdiretora, o diretor e encenador, desde o momento em que ali chegam e até ao final do noite. O momento dos ensaios a montagem de um novo espetáculo. As suas histórias de vida e a sua perspectiva que o teatro é um barómetro da sociedade angolana.
O documentário avança com delicadeza e levanta questões sobre a destruição do espaço e o desterro do Elinga Teatro, o seu tempo de vida e a sua dinâmica, as questões arquitectónicas e históricas, e a sua preservação no coração de uma nova Luanda.

12.03.2020 | por martalanca | documentário, Elinga Teatro

Tchiloli, de René Tavares - Luanda

12.03.2020 | por martalanca | René Tavares, tchiloli

Índie Lisboa: O cinema como arma: de Berlim ao Senegal destruímos muros e levantamos vozes.

A retrospectiva integral da obra do realizador senegalês Ousmane Sembène, os filmes da realizadora Mati Diop, e uma celebração dos 50 anos do Fórum da Berlinale, são algumas novidades da 17.ª edição do IndieLisboa, em 2020. Uma triangulação de vozes tantas vezes abafadas ao longo da história política, social e cinematográfica que agora revisitamos num diálogo com ecos também no programa de filmes recentes do festival, a revelar no dia 2 de Abril.

Em co-programação com a Cinemateca Portuguesa, o IndieLisboa apresenta a retrospectiva integral da obra do pai do cinema africano, Ousmane Sembène, um cinema marcado pelo feminismo, a luta de classes, contra a europeização da cultura do Senegal e a brutalidade do colonialismo. Com Sembène inicia-se uma viagem vinda de dentro, um contraponto à visão europeia que domina a produção cinematográfica. São filmes que operam uma reparação fílmica e histórica, que não se contentam com estereótipos, não procuram a estetização. Um cinema sem calculismo ou medo de uma nova linguagem e que respira livre.

Mati DiopMati Diop

Para marcar os 50 anos da secção Fórum do festival de Berlim, Berlinale, em colaboração com o Goethe-Institut Portugal e também com a Cinemateca Portuguesa, o IndieLisboa vai mostrar uma selecção que integra alguns dos filmes exibidos na sua primeira edição em 1971, na altura chamada Fórum Internacional do Novo Cinema. Foram filmes que colocaram em causa o status quo e que abriram portas para novas estéticas. Eram reacções à política turbulenta dos seus tempos e, por isso, foram essenciais para o fenómeno político. Na altura, abordando temáticas como as lutas anti-coloniais, os direitos das mulheres e direitos LGBTQ, abriram novas estradas políticas e cinematográficas.

Na secção Silvestre, o foco será na realizadora franco-senegalesa Mati Diop, que competiu com a sua primeira longa metragem Atlantique no Festival de Cannes. Mostraremos a sua obra como realizadora, desde a longa Atlantique às curtas Liberian Boy, Mille Soleils, Big in Vietnam e Snow Canon. Mati terá em exibição novamente no IndieLisboa o filme Mille Soleills que venceu em 2013 a competição internacional de curtas, uma homenagem ao filme Touki Bouki do seu tio Djibril Diop Mambéty, reconhecido cineasta senegalês.

Os pedidos de acreditações para estudantes e para a indústria já estão disponíveis com valor de early birds em indielisboa.com/acreditacao

Actualizações em indielisboa.com 

Programa

Retrospectiva: Ousmane Sembène

Mooladé (2004)

Faat Kiné (2001)

Guelwaar (1992)

Camp de Thiaroye (1988)

Ceddo (1977)

Xala (1975)

Emitaï (1971)

Tauw (Short) (1970)

Mandabi (1968)

Black Girl (1966)

Niaye (Short) (1964)

Borom sarret (Short) (1963)

Retrospectiva: 50 Anos do Fórum da Berlinale

Eldrige Cleaver, Black Panther, William Klein (1970)

W.R. – Misterije Organizma / W.R. – Mysteries of the Organism , Dušan Makavejev (1971)

Angela – Portrait of A Revolutionary,  Yolande du Luart (1971)

El cuarto poder, Helena Lumbreras, Mariano Lisa (1971)

Ostia, Sergio Citti (1970)

Soleil Ô / Oh, Sun! , Med Hondo (1970)

Mes voisins / My Neighbours , Med Hondo (1971)

Eine Prämie für Irene / Bonus for Irene , Helke Sander (1971)

The Woman’s Film (Newsreel #55) , Women’s Caucus – San Francisco Newsreel (1971)

Monangambeee , Sarah Maldoror (1969)

Phela-ndaba (End of the Dialogue), Members of the Pan Africanist Congress  (1970)

Nicht der Homosexuelle ist pervers, sondern die Situation, in der er lebt / It Is Not the Homosexual Who Is Perverse, But the Society in Which He Lives , Rosa Von Praunheim (1971) 

Foco Silvestre: Mati Diop

Atlantique (2019)

Liberian Boy (2015)

Mille Soleils (2013)

Big in Vietnam (2012)

Snow Canon (2011)

Atlantiques (2009)

10.03.2020 | por martalanca | Mati Diop, Ousmane Sembène

Fuckin’Globo - 19 a 26 março I Luanda

O que se passa na arte contemporânea Angolana?

A 6ª edição do Fuckin’Globo questiona e inicia o debate de 19 até ao dia 26 de Março, no Hotel Globo, na baixa de Luanda. Afinal, o que se passa na arte contemporânea Angolana? (What about Angolan Contemporary Art?

Sob este ponto de partida, ainda longe de respostas prontas, 18 artistas questionam, pensam, interpretam e registam nas suas produções artísticas e culturais da contemporaneidade, nesta plataforma irreverente, independente, autónoma e intelectual que é o Fuckin’ Globo.

Com o maior número de artistas de sempre, esta edição conta com:

Toy Boy, Kiluanji Kia Henda, Thó Simões, Lola Keyezua, Orlando Sérgio, Daniela Vieitas, Ery e Evan Claver, Mwamby Wassaby, Indira Grandê, Verkron, Mussunda Nzombo, Kapela, Iris Buchholz Chocolate, Yola Balanga, Flávio Cardoso, Rui Magalhães e Pedro Pires.

Além da curadoria de Adriano Mixinge e Tila Likunzi, a Casa Rede vai participar pela primeira vez com um programa de intervenção artística no pátio interior do hotel.

O “Fuckin’ Globo 2020 promete desafiar novamente as fronteiras dos seus espaços de linguagem visual e plástica, destacando novas vozes e outras perspectivas ao longo de micro-relatos visuais, plásticos e fotográficos, happenings, performances e instalações em que cada vez mais sobressai o lugar da dramaturgia nas criações visuais e plásticas - com teatro e com poesia -, a arte e cultura urbana do graffiti e do spoken word, entre outras, como formas de renegociar novas configurações sociais, morais, religiosas, políticas, cívicas, sexuais, estéticas e estésicas capazes de abraçar novas audiências”, lê-se na nota curatorial.

Nesta edição a provocação é nítida: Inverter tendências e dinâmicas institucionais e de mercado; Mudar a percepção actual e os propósitos da arte contemporânea angolana; E descobrir visões, interesses, fusões e equilíbrios próprios.

A mostra temporária decorre em oito dias. A partir do próximo dia 19 de março, as portas abrirão todos os dias às 19 horas, até 26 de março. A entrada é livre.

Desde a primeira edição, em dezembro de 2015, o Fuckin’Globo mantém-se fiel ao “From the people to the people… Fuck institutions”, à liberdade criativa dos artistas e ao compromisso e diálogo com as realidades sociais, políticas, históricas e culturais. Pelos quartos já passaram vários artistas como: António Ole, João Ana, Edson Chagas, Elepê, Marcos Kabenda, André Cunha, Angel Ihosvanny, Irina Vasconcelos, Alekssandre Fortunato, Gretel Marin, Lubazandyo Mpemba Bula, Joana Taya, Nelo Teixeira e Maria-Gracia Latedjou.

10.03.2020 | por martalanca | arte angolana, Fuckin’Globo

Oráculo de Sara Anjo e Teresa Silva

7 de Março às 21h30 e 8 de Março às 17h30
Teatro do Bairro Alto, Lisboa inserido no Festival Cumplicidade

Pode o corpo ser um oráculo?
Este é um exercício hipotético, que mais do que procurar respostas, escuta, observa, lê, interpreta sinais e símbolos de forma a criar possibilidades. Confronta-nos no presente com o momento da acção e suspende a obsessão pelo futuro.
O escuro do teatro torna-se o meio para iluminar algo menos visível e mais oculto. A experiência teatral pode revelar-se como uma perspectiva real e transformadora.
Oráculo lança o convite para juntos praticarmos outras formas de vidência.
 Direcção artística: Sara Anjo e Teresa Silva
Criação em colaboração com: Ana Maria Silva, Artur Pispalhas, Filipe Pereira e Jean-Baptiste Veyret-Logerias
Gestão administrativa: Vítor Alves Brotas | Agência 25
Fotografia e registo videográfico: Joana Linda
Co-produção: Teatro do Bairro Alto em colaboração com Eira/Festival Cumplicidades
Apoio: Fundação Calouste Gulbenkian e República Portuguesa-Cultura/Direção-Geral das Artes
Apoio residências: O Espaço do Tempo, Estúdios Victor Córdon, O Rumo do Fumo e Pólo Cultural das Gaivotas     
Agradecimentos: Sara Machado, Cátia Mateus, Anabela Mendes, Andrea Rodella e Tânia Albuquerque

+ info TBA
+ info Festival Cumplicidades

 
 

 

22.02.2020 | por martalanca | dança

Festival Tanto Mar, Loulé. Consolidar, na diversidade, as afinidades entre povos falantes do português

Vila Vox, foto Medeia NegraVila Vox, foto Medeia NegraAo lançarmos a edição zero do Tanto Mar em co-produção com a Câmara Municipal de Loulé, sabíamos que a mesma seria um teste à nossa capacidade organizativa nas suas várias vertentes. A “folha de medronho”, como colectivo, tem uma existência recente (foi fundada em finais de 2017) e as fragilidades inerentes à ausência de um núcleo profissional permanente. No entanto e como contra-ponto, há experiências individuais sólidas em diversos domínios, assim como há uma herança de relações cúmplices no meio artístico nos PALOP´s - para o qual está vocacionado o Festival - e institucional que nos induziu a partir à aventura.

Ouvindo-nos e ouvindo quem tínhamos de ouvir (instituições, grupos, convidados e amigos), o balanço global da primeira edição, ou edição zero, o panorama pareceu-nos positivo, adequado às nossa projecções e motivador para continuarmos. Por isso aqui estamos novamente com as águas de Março sem alterar a estrutura geral do Festival, organizativa e artística, não foi alterada. O tempo continua a ser de testar e robustecer, perceber e transformar variáveis em invariáveis, para dar passos consistentes.

Assim mantemos os dois eixos principais do “Tanto Mar”: completar a oferta regional e também desenvolver, ao longo do ano, directa ou indirectamente, trabalho de cruzamento de experiências entre os criadores dos países onde o português é a língua oficial, de preferência tentando que estas experiências, e os seus resultados, encontrem em Loulé, a médio/longo  prazo, o palco europeu privilegiado, e o espaço físico para um futuro arquivo do material do labor necessário para chegar ao efémero do palco, como por exemplo, cartazes, livros, programas e audiovisual.

Se o primeiro objectivo começa a fixar-se na agenda regional e nacional – com a articulação  de datas e espectáculos com o Festival Internacional de Teatro do Alentejo -, a segunda intenção ganhou mais corpo com a participação da “folha de medronho” em três festivais (no FITA/Portugal, no CIT/Angola e no Festluso/Brasil) e em São Tomé e Príncipe, a convite para relançarmos as actividades de Formação e Criação de artes performativas e contribuir para o desenho futuro festival internacional naquele país. Outro sinal neste objectivo de estabelecer laços e cumplicidades substanciou-se no convite que me foi feito (como Director do “Tanto Mar”), para ser Curador da programação internacional do festival CIT/Luanda/Angola assim como um outro convite feito à actuadora /encenadora Tânia Farias(Porto Alegre/Brasil), para com o seu grupo co-produzir em Loulé um espectáculo com a “folha de medronho”, e ainda  um segredo bem guardado entre Maputo/Moçambique e Loulé…

Como escrevia o ano passado, nesta procura de cruzamentos e intercâmbios, não nos move qualquer tentativa de homogeneização, muito menos hegemonização cultural. Antes e sempre a procura da colisão criativa de narrativas e contra-narrativas, que substanciam a longa história e consolidam, na diversidade, as afinidades entre povos falantes do português.

João de Mello Alvim

21.02.2020 | por martalanca | Festival Tanto Mar, Loulé

On the 20 th anniversary of Provincializing Europe (open)

Dipesh Chakrabarty’s Provincializing Europe – Postcolonial Thought and Historical Difference (2000) has significantly challenged the limits of European enlightenment and of the modern forms of knowledge associated with it. The book animated debates concerning historicism, the code of history, the writing of history, the politics of time, as well as the questioning of categories central to social and political theory, such as modernity, universalism, capitalism, difference, subjectivity, Man.

On the 20th anniversary of Provincializing Europe, the journal Práticas da História – Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past welcomes articles and essays which directly or indirectly explore, develop or criticize Chakrabarty’s arguments, for instance his view that the concepts and strategies developed by modern European knowledge are both indispensable and inadequate in representing different life-worlds.

Pieter van Laer, The Flagellants (c. 1635), Munich, Alte PinakothePieter van Laer, The Flagellants (c. 1635), Munich, Alte Pinakothe

The journal also welcomes articles and essays discussing the impact of the book on intellectual and disciplinary traditions such as Subaltern Studies, Marxism, Imperial History, Global History and Transnational History, as well as its place in Chakrabarty’s trajectory from his early studies on the Bengali working class to his writings on the climate of history and the Anthropocene.
At the same time, this call is an opportunity to encourage analysis, reflection and debate on the impact of Postcolonial Theory in the discipline of History in different parts of the world.
The articles and essays accepted for publication will be published in the issue of Práticas da História to be released in the end of 2020. The issue will also include an interview with Dipesh Chakrabarty.

The articles and essays must be submitted no later than the 5th of June 2020.Only articles and essays submitted according to the journal’s guidelines will be considered for publication: http://www.praticasdahistoria.pt/en/submissions/submission-guidelines/

19.02.2020 | por martalanca | Provincializing Europe, Subaltern Studies

Neocolonialismo, barbárie e cultura contemporânea sobem ao palco do CCVF com 'Tierras del Sud' (22 fevereiro, Ciclo Poder)

No final de fevereiro e durante o mês de março, o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, apresenta um ciclo de 3 espetáculos que tem como eixo temático a ideia de ‘Poder’, sob várias das suas perspetivas possíveis. A primeira parte deste ciclo – que terá continuidade no último quadrimestre do ano – inaugura já no próximo dia 22 de fevereiro com Tierras del Sud, da dupla hispano-chilena Azkona & Toloza. Trata-se de uma pertinente peça com uma forte carga documental, que lhe confere uma acutilância desarmante. A barbárie sobre os povos nativos da América Latina e as novas formas de colonialismo são alguns dos temas tratados. A primeira parte deste ciclo fica completa com A Tragédia de Júlio César (6 de março), de Luís Araújo e, finalmente, com Eins Zwei Drei (27 de março), que marca o delirante regresso de Martin Zimmermann a Guimarães.

Este ano, o Centro Cultural Vila Flor irá apresentar um ciclo de espetáculos comandado por uma das maiores formas universais de intervenção na relação com as mais diversas temáticas: o Poder. Cabe à dupla de artistas Azkona & Toloza lançar este ciclo, já no próximo dia 22 de fevereiro, às 21h30, com Tierras del Sud, uma peça que aborda a estreita relação entre as grandes fortunas estrangeiras, a barbárie sobre os povos nativos da América Latina, o desenvolvimento de novas formas de colonialismo e as várias expressões da cultura contemporânea.

 

Tierras del Sud foca-se no estreito relacionamento entre a fortuna dos empresários italianos Carlo e Luciano Benetton e a barbárie sobre o território localizado entre as províncias da Patagónia de Neuquén, Chubut e Rio Preto. Território que o povo Mapuche reconhece como ancestralmente seu. Em cena, os dois artistas transformam um palco completamente vazio num pedaço da atual Patagónia Argentina. Entre cadeias de montanhas, lagos, florestas virgens e cidades fictícias, é reescrita a história do nascimento do estado argentino, a sua relação com as grandes capitais e a barbárie estrangeira e sistemática que, durante séculos, assolou o território e os povos do sul da América Latina.

 

O que leva, ano após ano, bilionários e celebridades a investir e comprar terras na Patagónia Argentina? Qual o valor geopolítico estratégico da área? O controlo do território e dos seus recursos naturais é um dos pilares da pesquisa documental de Tierras del Sud. Mas esta é apenas uma das possíveis perspetivas deste problema, às quais podemos acrescentar a especulação imobiliária e a indústria do turismo.   

 

No passo seguinte deste ciclo em torno do ‘Poder’, o encenador Luís Araújo e a Ao Cabo Teatro levam-nos de volta aos fatídicos “idos de março” de William Shakespeare e de A Tragédia de Júlio César (6 março). Peça-problema, densa e controversa, ambientada no tempo-charneira da sangrenta metamorfose da República Romana no Império Romano, A Tragédia de Júlio César, mais do que a tragédia de um homem ou do poder, é a tragédia de Roma enquanto Cidade, palco e epítome expressivo da vida em comum dos homens. Alienada e podre, abate um tirano para apaziguar a culpa de si que não admite, e ergue uma outra, ainda mais feroz, tirania. A Tragédia de Júlio César é também a tragédia de um “tempo estranho”, cego, volátil, tenso, de ambíguos vínculos entre a vida privada e a responsabilidade pública e entre política e moral – estranheza essa que é metonímia possível e implacável do negrume que carateriza o nosso tempo.

 

Após mergulharmos na sociedade, dirigimos o nosso olhar sobre o indivíduo e a sua complexa luta pelo poder, onde poesia e violência podem caminhar lado a lado. Tudo isso estará refletido em Eins Zwei Drei (27 março), de Martin Zimmermann, que regressa a Guimarães para transpor todos os limites da comédia convencional, numa criação que se inspira no circo, uma das origens do artista suíço, para se cruzar com a dança, o teatro e a música numa elegante alquimia. Em Eins Zwei Drei (Um Dois Três), Zimmermann utiliza três personagens, arquétipos de palhaços, para abordar questões poderosas como a autoridade, a submissão e a liberdade. Três figuras arrancadas do mundo anárquico do circo sobrevivem, ou não, no ambiente estritamente controlado de um museu? Esta é a pergunta que se instala. O que se desenrola é altamente absurdo e trágico. Quanto mais controlado, mais cómico se torna o contexto. Com música tocada ao vivo por Colin Vallon, Eins Zwei Drei é interpretado magistralmente por Tarek Halaby, Dimitri Jourde e o português Romeu Runa.

 

A terra (propriedade), a sociedade e o indivíduo, enquanto temáticas, traçam perspetivas de atualização sobre o exercício de poder no contexto atual. Esta trilogia forma a primeira parte desta linha de programação do Centro Cultural Vila Flor, que terá continuidade no último quadrimestre do ano. Os bilhetes para assistir a cada um dos espetáculos têm um custo de 10 euros ou 7,50 euros com desconto, havendo a possibilidade de adquirir um bilhete conjunto para os três, no valor de 20 euros.

12.02.2020 | por martalanca | barbárie, neocolonialismo

Contos de Lisboa de Mónica de Miranda expõe memórias da cidade pós-colonial

Inauguração: 18 de fevereiro, terça-feira, 18h30

Exposição patente de 19 de fevereiro a 16 de maio

Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico
Rua da Palma, 246 | 1100-394 Lisboa

A artista Mónica de Miranda inaugura no dia 18 de Fevereiro, pelas 18h30, no Arquivo Municipal de Lisboa, a exposição Contos de Lisboa, com curadoria de Bruno Leitão e Sofia Castro.

A actual exposição da artista e investigadora insere-se no projecto Pós-Arquivo, que envolve a criação de um arquivo digital com documentos, vídeos, áudio e fotografia, reunidos no âmbito da sua ampla pesquisa sobre as relações que se estabelecem entre migrações, associadas à descolonização e aos movimentos independentistas africanos, e as paisagens urbanas da Europa. Paralelamente, Contos de Lisboa assinala a doação do arquivo de trabalho da artista, composto por 239 imagens em bruto que retratam bairros informais da antiga Estrada Militar, ao Arquivo Municipal de Lisboa.

O arquivo de Mónica de Miranda reúne imagens captadas ao longo de mais de uma década de pesquisa nos bairros do Talude, Azinhaga dos Besouros, Fim do Mundo, Mira Loures, 6 de Maio e outros bairros localizados na periferia da cidade. O conjunto de imagens agora doadas ao Arquivo Municipal de Lisboa constitui um importante registo visual das geografias pós-coloniais da cidade e antecipa a transformação, nalguns casos a demolição total, dos bairros que até há poucos anos dominavam o traçado da Estrada Militar. A Estrada Militar Caxias-Sacavém ou Estrada Militar de Defesa de Lisboa mantinha na periferia da cidade os habitantes, maioritariamente imigrantes de origem africana, dos bairros informais que nos anos 70 do século XX começaram a marcar a paisagem da histórica circular, prosseguindo, ironicamente, o propósito que no início do século XIX orientou a sua construção - proteger a cidade contra invasões estrangeiras.

“A exposição Contos de Lisboa surge deste arquivo visual criado ao longo de uma década, mas é muito mais do que a recolecção fotográfica destes bairros, é um objecto polimórfico, uma continuação desse arquivo inicial composto por fotografias”, descreve o curador Bruno Leitão no texto que acompanha o projecto. O curador prossegue: “A artista mergulha num processo inquisitivo e humanizante destes lugares e ao ficcionar estes espaços cria um exercício de empatia. Uma possibilidade de reconhecermos emocionalmente uma Lisboa fora do centro, mas que se afirma por dentro”.

No Arquivo Fotográfico de Lisboa, Mónica de Miranda apresenta um conjunto de trabalhos de fotografia e vídeo, na sua maioria novas obras como Tales of Lisbon (2020)Timeline (2020) e Torres Gémeas (2020), bem como o vídeo Estrada Militar (2009), criado na fase inicial da sua pesquisa. A exposição integra também uma instalação de som e fotografia que retrata seis casas que foram alvo de demolição, ali convocadas a partir de imagens de objectos deixados para trás pelas pessoas que nelas habitavam e que posteriormente foram recolhidos e fotografados pela artista. Uma cassete de VHS com o título “Arma Mortífera”, uma cassete de áudio partida com marcas de lama, um dicionário sem capa, apontamentos do curso de economia política da Universidade de Lisboa, um vinil, uma boneca e sapatilhas “Deeply”, são alguns dos objectos que estarão presentes na instalação, junto com seis contos inéditos de Djaimilia Pereira de Almeida, Kalaf Epalanga, Yara Monteiro, Ondjaki e Telma Tvon, autores que foram convidados a imaginar universos habitados a partir dos objectos recolhidos nas imediações de cada casa. 

Contos de Lisboa estará patente até dia 16 de maio, contempla a edição de um catálogo com os seis contos originais, textos de Jorge MalheirosManuela Ribeiro SanchesSónia Vaz Borges e outros contributos. Na sala de leitura do Arquivo Municipal de Lisboa será possível aceder à página da internet do projecto Pós-Arquivo, onde Mónica de Miranda disponibiliza um arquivo em permanente actualização e, particularmente, as imagens dos objectos encontrados nas seis casas.

Além da actual exposição, a pesquisa que o arquivo sobre a paisagem da Estrada Militar materializa, está na base de trabalhos que a artista tem vindo a apresentar, individualmente ou em colectivo, em contextos como o Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2019 (MAAT, Lisboa), a exposição e publicação Devir Menor: arquitecturas e práticas espaciais críticas na iberoamerica, Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, e na investigação e exposição Underconstruction and New territories 2009 (Pav28, Lisboa).

Mónica de Miranda é uma artista visual e investigadora portuguesa com origem angolana. Baseia o seu trabalho em temas de arqueologia urbana e geografias pessoais, apresentando-o na forma de desenho, instalação, fotografia, vídeo e som, e prosseguindo uma pesquisa que procura esbater fronteiras entre ficção e documentário.

Foi nomeada para o Prémio EDP Novos Artistas (2019), o Prémio Novo Banco (2016) e para o Prix Pictet Photo Award (2016). Participou em eventos artísticos de relevo, como os Encontros Fotográficos de Bamako (2015), a Bienal de Arquitectura de Veneza (2014), a Bienal de Dakar (2016), e em inúmeras residências artísticas, de entre as quais se destacam: Artchipelago (Instituto Francês, Ilhas Maurícias, 2014); Verbal Eyes (Tate Britain, 2009); Muyehlekete (Museu Nacional de Arte, Maputo, 2008); Living Together (British Council/ Iniva, Georgia/London 2008).

Começou a expor em 2004 e das suas exposições individuais destacam-se: Hotel Globo (Museu Nacional de  Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa, 2015); Arquipélago (Galeria Carlos Carvalho, Lisboa, 2014); Erosion (Appleton Square, Lisboa, 2013); An Ocean Between Us (Plataforma Revólver, Lisboa, 2012); Novas Geografias (198 Gallery, Londres / Plataforma Revólver, Lisboa / Imagem HF, Amsterdão, 2008).

Entre as exposições colectivas em que participou, destacam-se: Telling Time (Rencontres de Bamako  Biennale Africaine de la Photographie 10 éme edition, Bamako, 2015); Ilha de São Jorge (14ª Bienal de Arquitectura de Veneza, Veneza, 2014); Line Trap (Bienal de São Tomé e Príncipe, 2013); An Ocean Between Us (Paris Foto e Arco Madrid, 2013); Do silêncio ao outro Hino (Centro Cultural Português, Mindelo, Praia); Arquivos Secretos (AFL, 2012); Once Upon A Time (Carpe Diem, Lisboa, 2012); L’Art est un sport de combat (Musée des Beaux Arts de Calais, França, 2011); This location (Mojo Galeria, Dubai, 2010); She Devil (Studio Stefania Miscetti, Roma 2010); Mundos Locais (Centro Cultural de Lagos / Allgarve, Portugal, 2008); Do you hear me (Estado do Mundo, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2008); United Nations (Singapura Fringe Festival, Singapura, 2007).

O seu trabalho está representado nas colecções públicas do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia (MAAT), Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, entre outras.

Mónica de Miranda é investigadora de Pós-doutoramento no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. Licenciada em Artes Visuais pela Camberwell College of Arts (Londres, 1998) e Doutorada pela Universidade de Middlesex (Londres, 2014). É uma das fundadoras do projecto de residências artísticas Triangle Network em Portugal e do Hangar - Centro de Investigação Artística, em Lisboa.

Conteúdos adicionais:

Mais sobre Mónica de Miranda - https://monicademiranda.org/ 

Pós-Arquivo / Objectos – https://postarchive.org/objetos/

Locuções dos seis contos originais - https://soundcloud.com/user-323862203

Contos de Lisboa – Tales of Lisbon

Mónica de Miranda

19 de fevereiro a 16 de maio

Inauguração: 18 de fevereiro, 18h30
Visitas guiadas pelos curadores: 14 de março e 16 de maio, 15h
Finissage e lançamento do catálogo: 16 de maio,17h00
Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico
Rua da Palma, 246 Segunda a sábado, das 10h00 às 19h00, encerra aos feriados Entrada Livre

 

11.02.2020 | por martalanca | Monica de Miranda

Os Miseráveis, deLadj Ly, retrato dos subúrbios parisienses

Vinte-cinco anos depois de La Haine – O Ódio, chega às salas de cinema o filme Os Miseráveis, do realizador Ladj Ly, um novo retrato dos subúrbios parisienses nos dias de hoje.

Os Miseráveis segue Stéphane, um polícia que integra a Brigada Anti-Crime (BAC) de Montfermeil, nos arredores de Paris. Aí conhece os seus novos colegas de equipa, Chris e Gwada, dois agentes experientes e não tarda a descobrir as tensões entre os diferentes gangues locais. Durante uma detenção, um drone filma todos os seus actos e gestos.

O filme propõe um olhar realista e “sem filtro” sobre as problemáticas de integração e de violência policial nos subúrbios franceses. Inspirado numa história verídica, o realizador retrata a realidade do bairro onde cresceu e questiona as relações entre polícia e moradores.

Os Miseráveis estreia a 20 de Fevereiro nas salas de cinema nacionais. Em Lisboa, estará em exibição no Cinema City Alvalade, Cinema Ideal, Espaço Nimas, Cinemas NOS Amoreiras e UCI El Corte Inglés.

Mais informações sobre o filme: Dossier de imprensa | Trailer

 

06.02.2020 | por martalanca | paris, subúrbios

História, Género e Conhecimento

O Seminário História, Género, Conhecimento pretende ser uma oportunidade para reflectir sobre a forma como a problematização de género marcou a produção de uma plêiade de autor@s e, também, a forma de produção de conhecimento da História e demais disciplinas. O seminário terá lugar no dia 6 de Fevereiro entre as 14h e as 17h no Colégio Almada Negreiros, Campus de Campolide da Universidade NOVA de Lisboa (Sala 217).

Após uma intervenção inicial, a cargo de Teresa Joaquim, seguir-se-á a discussão de breves textos e/ou imagens a distribuir pelos participantes. A partir dos materiais propostos queremos reflectir de forma crítica sobre estruturas e transmissão do conhecimento, práticas e teorias relacionadas com o ser-mulher, o feminino, a construção dos géneros no debate historiográfico, a par de outras disciplinas.

Este é um evento organizado no âmbito do Grupo “Cultura, Identidades e Poder” do IHC. A convidada para a abertura do seminário, Teresa Joaquim, é Professora Auxiliar da Universidade Aberta e coordenadora do Mestrado de Estudos sobre as Mulheres – Género, Cidadania e Desenvolvimento. É autora, entre outros, de livros como: Dar à luz, ensaio sobre as práticas e crenças da gravidez, parto e pós-parto em Portugal, Publicações D. Quixote, 1983, Menina e Moça, Construção Social da Feminilidade séculos XVII-XIX, Fim de Século, 1997; As causas das Mulheres. A comunidade infigurável, Lisboa, Livros Horizonte, 2004; Cuidar dos outros, cuidar de si – questões em torno da maternidade, Lisboa, Livros Horizonte, 2006 e Masculinidades/Feminilidades. 2010 (org). Porto, Edições Afrontamento.

A participação é livre, mas de inscrição obrigatória via o email culturaidentidadespoder@gmail.com

04.02.2020 | por martalanca | conhecimento, género, história