Curar-nos-emos? Sim. A violência, como a lança de Aquiles, pode cicatrizar as feridas que abriu. Hoje, estamos presos, humilhados, doentes de medo: estamos muito em baixo. Felizmente isto não chega à aristocracia colonialista: ela não pode concluir a sua missão retardatária na Argélia, sem colonizar antes os franceses. Cada dia retrocedemos frente à contenda, mas podem estar certos de que a não evitaremos: eles, os assassinos, precisam dela; seguem revoluteando em redor de nós e espancam a multidão. Assim, acabará o tempo dos bruxos e dos feitiços: terão que ser espancados ou apodrecer nos campos. É o momento final da dialéctica: condenam essa guerra, mas não se atrevem, todavia, a declarar-se solidários com os combatentes argelinos; não tenham medo, os colonos e os mercenários obrigá-los-ão a dar este passo. Talvez, então, encurralados contra a parede, desenfreareis por fim essa violência nova suscitada pelos velhos crimes acumulados. Mas isso, como costuma dizer-se, é outra história. A história do homem. Estou certo de que já se aproxima o momento em que nos uniremos a quem a está fazendo.
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04.10.2016 | por Jean-Paul Sartre