Ao olhar para as questões levantadas no começo desta abordagem, pode inferir-se que com Cinéfilos & Literatus ganha-se “novos olhares” sobre o cinema e a literatura; angolana e não só. Vê-se a literatura a partir do cinema. Alargam-se as competências de leitura e de imagética; elementos fundamentais para análise das transposições cinematográficas. Especificamente no campo da literatura angolana, o projeto permitirá conhecer, ainda que de maneira reduzida, que obras literárias foram adaptadas e especificar a razão da escolha das mesmas. Esse procedimento é importante, porque tende a possibilitar de (re)pensar a situação do cânone literário; e este é um elemento fundamental para o Plano Nacional de Leitura.
Afroscreen
31.08.2023 | por Salvador Tito
A partir da revisitação da sua filmografia, em particular da série documental Presente Angolano, Tempo Mumuíla (1979) e da ficção Nelisita (1982), bem como através da análise das reflexões encetadas pelo autor no ensaio O Camarada e a Câmara (1984), o presente artigo procura contribuir para a discussão teórica em torno das possibilidades de um encontro entre cinema e antropologia para além do filme etnográfico.
Ruy Duarte de Carvalho
18.07.2023 | por Sofia Afonso Lopes
Os tempos mudaram e as famílias acompanharam estas mudanças. Hoje, tendencialmente, vai-se valorizando as relações afectivas em detrimento dos modelos de família do passado. Em vez de se alimentar mentalidades retrógradas da nossa sociedade que ainda hoje condenam mães solteiras, temos de compreender o fenómeno e tentar incluí-lo como um dado nas, cada vez mais variadas, formas de ser família, desde monoparental a famílias compostas, passando por pais ou mães do mesmo sexo. Por outro lado, as mães solteiras são consideradas guerreiras, lutadoras, elogiando-lhes o sacrifício e a abnegação, o que não deixa de ser manifesto de uma mentalidade machista, em que a mulher, cuidadora por excelência, "aguenta tudo" e pode perfeitamente abdicar de si. Uma coisa é ser mãe solteira por opção, outra é, como na maioria dos casos, sê-lo porque o homem não assume a paternidade ou é mais um pai ausente. A educação e o trabalho remunerado foram fundamentais para a emancipação da mulher, a partilha das responsabilidades em relação aos filhos também o são, assim como o direito a ser mãe solteira por opção mas com condições.
Corpo
24.01.2023 | por Marta Lança
A sociedade angolana, diz a jornalista angolana, é profundamente patriarcal e as mulheres sofrem todos os dias. São forçadas a uma tripla jornada, são vítimas de violência obstétrica, sofrem assédio no local de trabalho e todas as tarefas de cuidado recaem sobre elas. Sem falar da violência e desproteção contra as trabalhadoras do comércio informal. "É das coisas mais difíceis de fazer, a luta dentro e fora de casa. É preciso ter um certo cuidado, afinal, somos todos consequência do mesmo sistema. Nós abraçamos uma luta, mas compreendemos a nossa realidade, temos de contextualizar o nosso discurso também. Se formos muito agressivas e radicais acabamos tendo resultados contrários. A pessoa tem de perceber que está a defender uma coisa que não faz sentido para a maioria, para poder convencer a outra pessoa de que há necessidade de mudar, que as visões já não são as mesmas, porque ninguém precisa de ser como antigamente."
Cara a cara
04.01.2023 | por Marta Lança
Esta conversa, entre Michelle Sales e Marta Lança, na revista Vazantes em 2019, é motivada pelo desejo de pensar um espaço de troca entre Brasil, Portugal e África tendo em conta os desdo- bramentos, contradições e críticas ao pensamento pós-colonial. Transitando livremente entre o cinema e as artes visuais tentamos vislumbrar um cenário comum em que questões semelhantes no campo das artes emergem de forma concomitante em várias partes do mundo.
A ler
28.12.2022 | por Marta Lança e Michelle Sales
Nasci em 1989 e cresci num país onde nunca vi um partido diferente a governar, nunca vi alternância política, cresci com um único Presidente da República, que só mudou há quatro anos. Estou a ver outro Presidente no poder e aí se quer manter. Por causa disso, penso que houve mais união popular para fazer pressão e empurrar o sistema. A ativista angolana fala das dificuldades de quem trabalha em recorrer à Justiça angolana e de como falha em casos de abandono familiar, situações de abuso e violações sexuais e despedimentos por gravidez. "Temos as mulheres totalmente acorrentadas e condenadas a serem cada vez mais pobres."
Cara a cara
14.12.2022 | por Marta Lança
O corte simboliza a situação do que aconteceu comigo com a minha cicatriz. Foi em Luanda. A festa é já cá em Portugal no bairro Fim do Mundo, as festas que a minha mãe fazia. A amnésia são partes em que busco coisas no subconsciente.
Cara a cara
28.11.2022 | por Marta Lança
Se outros sistemas económicos e sociais caíram no passado, porque é que o capitalismo não pode acabar, mais tarde ou mais cedo? Porque não levantar essas questões, geralmente declaradas como "impossíveis" de resolver? Por vezes, pensamos nas organizações económico-políticas das sociedades como estruturas imutáveis, as formações guerrilheiras não o fizeram, mesmo quando tudo podia parecer perdido. Sonhando e praticando sonhos, as utopias tornam-se realidade.
Vou lá visitar
23.11.2022 | por Francesco Biagi
A instalação é o pretexto para falarmos da sua trajetória de vida. Equilibrista entre várias culturas, vive há 31 anos numa Lisboa agora mais aberta e diversa, abertura e diversidade para as quais pessoas como Lucky tanto contribuíram, desde construí-la a pô-la a dançar. Uma cidade de momentos duros, mas de encontros e possibilidades com os quais foi crescendo. Neste texto, são as memórias de Dj Lucky que nos conduzem, entre várias pistas de som, de quisange, semba e afroblues, e várias pistas no chão, de Kinshasa ao bairro da Graça, passando por Luanda, Cova da Moura e Bairro Alto.
Cara a cara
15.11.2022 | por Marta Lança
Inserindo vários monólogos de Amílcar Cabral consigo próprio, vazados e lavrados em modo diarístico na sua depois desaparecida, ou, melhor, surripiada agenda azul, o romance 'A Última Lua de Homem Grande' pretende ser ser uma espécie de reconstituição póstuma dessa mesma agenda azul e de eventos marcantes da vida e da obra de Amílcar Cabral, esse Morto Imortal, cujos dilemas, paradoxos, ambivalências e notável coerência do ser e do estar são traçados à saciedade nesse deslumbrante e cativante, mas também trágico perfil social e psicológico de Amílcar Cabral que é o romance A Última Lua de Homem Grande, doravante um marco fundamental do percurso literário de sucesso de Mário Lúcio Sousa que vem, aliás, marcando com um verbo muito próprio e luzente as letras caboverdianas contemporâneas, tornando-se assim por mérito próprio um dos maiores, mais criativos, imaginativos e produtivos escritores
Mukanda
22.09.2022 | por José Luís Hopffer Almada
Na sua Temporada de 2022, a Companhia de Dança Contemporânea de Angola apresenta ISTO É UMA MULHER?, uma criação conjunta de Ana Clara Guerra Marques e da coreógrafa Irène Tassembédo do Burkina Faso.
Esta peça convoca o público à descoberta, desafiando-o a confrontar-se consigo próprio e a envolver-se num universo onde, em cada pergunta e em cada resposta, existe uma probabilidade de razão.
Não se pretendem apresentar soluções, muito menos se tenciona homenagear, exaltar, mostrar compaixão ou assumir qualquer lugar comum, pretendendo-se apenas integrar a construção de um lugar humanizado e evoluído onde ser Mulher já não cabe nos paradigmas do passado.
Palcos
16.05.2022 | por vários, Ana Clara Guerra Marques e Irène Tassembédo
Depois de quinze anos de luta pela libertação e independência – numa guerra iniciada em Angola, que seguiu forte para a Guiné-Bissau e Moçambique -, dá-se o 25 de Abril como um desenlace que muitos esperavam. Em 1974 abre-se um novo capítulo, ainda que polémico, para o processo de descolonização. Como é que algumas personalidades angolanas viveram a Revolução portuguesa que pôs fim ao longo regime ditatorial fascista de Salazar e Caetano? Momentos de emoção ou de apreensão? O que foi dominante: a perplexidade, ou já era previsível? Em que circunstância se encontravam? Que implicações trouxe para a vida de cada um? Qual foi a percepção para o futuro do país? Conforme o lugar de enunciação, o 25 de Abril acabou com a guerra ou foi esta que o desencadeou? Recolhemos vários depoimentos que ajudam a construir este puzzle de memórias, pois para além da História que vem nos livros, interessa-nos as suas entrelinhas.
A ler
28.04.2022 | por Marta Lança
Acho que existe um preconceito, não só na sociedade, mas no meio artístico também. Não podemos ter em conta que um personagem tenha a cor de quem a representa, a não ser para certos personagens históricos, que impliquem zelar pelo que escreveu o autor. Qualquer personagem é feito por qualquer outra pessoa, só que, infelizmente, quem dirige ou coordena as companhias, ao pensar num espectáculo não pensam nos actores negros, sejam africanos ou afrodescendentes.
Não existe esse pensar de que há no meio artístico português actores negros. Quando se pensa tendencialmente, os pápeis são característicos digamos.
Cara a cara
27.04.2022 | por Sílvia Milonga
Já passaram 30 anos. E ainda há quem reviva o desespero da simulação de um fuzilamento. E não poucos têm medo de falar. Mas os angolanos não esquecem. Há uma comoção que atravessa as pessoas ligadas ao 27 de Maio pelas mais variadas razões: a cumplicidade que só a dor e o mistério perpetuam em três décadas de não esquecimento. Nesta grande família reunida, com a evidência das palavras de Martin Luther King e relato da experiência de Michel, o silêncio era mais para ouvir e não para calar.
A ler
19.04.2022 | por Marta Lança
São artistas que pintam e mostram uma nova Angola, com técnicas e estéticas tão ousadas como os seus discursos e olhar para o cenário artístico. Nas artes visuais angolanas, a produção mais potente vem da periferia, longe do centro onde se encontram as galerias e salas de exposição.
Em outubro do ano passado fui desafiado a sair da minha zona de conforto — a música — para entrevistar os jovens da residência artística ResiliArt que produziram obras para a II Bienal Africana da Cultura da Paz. Aceite a proposta, tornou-se evidente que essa produção artística não está na elite de Luanda e que apenas uma parte destes artistas entra nos grandes centros durante as exposições e não tem acesso às condições de produção e mercado.
Vou lá visitar
16.02.2022 | por Analtino Santos
O empoderamento económico pressupõe que mulheres e homens participem, contribuam e beneficiem dos processos de crescimento, tenham acesso igual às fontes de renda e tenham igual controlo dos recursos produzidos.
Em Angola, as estatísticas nacionais de acesso ao emprego e a fontes de rendimento da população economicamente activa, assim como, as estratégias de desenvolvimento nacional na área do emprego, demonstram um cenário desigual, em que as mulheres têm maior dificuldade no acesso ao emprego formal.
Neste estudo são discutidos alguns dos fundamentos da disparidade salarial entre géneros, isto é, a relação entre as fontes de rendimento e o nível de remuneração por género, por zona geográfica de residência e por nível de escolaridade. São também discutidos o acesso a bens e recursos importantes para a sobrevivência e garantia de autonomia financeira, como sejam, o acesso à terra e a recursos animais.
Jogos Sem Fronteiras
16.02.2022 | por vários
“O Sistema”, sob curadoria de Katherine Sirois, é a mais recente exposição de Cristiano Mangovo, um artista contemporâneo natural de Cabinda, Angola. De entrada livre, na galeria .insofar, a mostra de obras do artista no estilo de expressionismo figurativo, retrata questões sociopolíticas intrincadas através da liberdade das suas pinceladas e escolha de cores fortes. É assim que decide retratar e endereçar a problemática das hierarquias e o exercício de poder.
Sentados frente a frente conversámos sobre o seu passado, as inquietações que o movem a pintar e a reflexão sobre o que é “O Sistema”, as injustiças causadas pelo mesmo e como o podemos combater. A realidade, ou melhor, os resultados finais são merecedores de serem observados com todo o tempo e minúcia.
Cara a cara
07.02.2022 | por Alícia Gaspar
Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.
Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.
Vou lá visitar
05.01.2022 | por Inês Ponte e Maria José Lobo Antunes
Eu me inicio a partir daquele lugar (Angola), mas tenho em mente que não me encerro naquele lugar. Sou angolano, sou africano, sou um homem, mas, mais do que isto, eu sou as somas de todos os lugares por onde eu passei, de todas as pessoas com quem me encontrei e que causaram alguma espécie de impacto na minha formação e na minha personalidade. Angola é importante para mim, mas não Angola no sentido de nação, no sentido de pátria, porque essa é uma construção e é uma construção que não foi iniciada por angolanos…
Cara a cara
19.11.2021 | por Doris Wieser
Em finais de 1947, um grupo de jovens irreverentes (Salim Miguel, a sua companheira de toda a vida, Eglê Malheiros, Aníbal Nunes Pires, Ody Fraga e Silva e Antônio Paladino) forma o Grupo Sul, em Florianópolis, «numa tentativa de produzir alguma coisa na área da cultura, em Santa Catarina».
Operando em várias frentes, desde o teatro ao cinema, das artes plásticas ao jornalismo e à literatura, o grupo publicará em Janeiro de 1948 o primeiro número da revista Sul
A ler
29.10.2021 | por Zetho Cunha Gonçalves