A actual geração de jovens é muito crítica ao posicionamento da geração de jovens dos anos 80, que fez e viveu uma guerra. Quer comentar?
A geração dos anos 80 sabe muito bem as amarguras de uma guerra, de um conflito, não teve uma juventude ou infância condigna, porque nasceu e viveu num país em conflito; teve os seus sonhos vendidos e destruídos. Muitos dos jovens dos anos 80 tiveram de abandonar o país para viver numa terra que nunca os acolheu, olhou para eles como estrangeiros que vieram estragá-la. Portanto, não estão dispostos, hoje, a perder esta estabilidade conseguida desde 1992.
Cara a cara
29.12.2020 | por Tânia de Carvalho
Fernando Ulrich é trisneto de João Henrique Ulrich (1815-1885), um homem que enriqueceu com o tráfico de pessoas negras escravizadas e que a partir daí construiu o vasto império empresarial da família. Nascido em Portugal, este homem sinistro enriqueceu na costa Angolana e no Rio de Janeiro com a venda clandestina de pessoas, quando já era proibida a entrada de novos escravizados no Brasil. De regresso a Portugal, passou a dominar diversas empresas, ligou-se à banca e foi deputado da monarquia.
A ler
12.11.2020 | por Pedro Varela
O conflito entre a “direção brasileira” e o “movimento de reforma angolano” veio à tona em 28 de novembro de 2019, com a publicação de um “Manifesto Pastoral” assinado por mais de 300 pastores e bispos angolanos e encaminhado ao bispo Honorilton Gonçalves. Nele, exigiam que os líderes brasileiros deixassem o país e que a liderança da Igreja passasse aos homônimos angolanos, num movimento de “angolanização”. As acusações foram graves: prática de nepotismo, racismo, concessão de privilégio a religiosos brasileiros na atribuição de responsabilidades eclesiásticas e administrativas, tratamento discriminatório com os pastores angolanos, evasão de divisas para o exterior.
A ler
19.08.2020 | por Pedro Feitoza e Jéssica da Silva Höring
Uma pesquisa transnacional sobre cultura material. Um documentário etnográfico rodado numa aldeia agro-pastoril do Sul de Angola. A reação de duas audiências: estudantes do secundário, em Portugal, e protagonistas do filme, em Angola.
A ler
29.07.2020 | por Inês Ponte
E agora, José? A pergunta não é para Luandino Vieira, angolano, Prémio Camões 2006, declinado pelo autor de A Cidade e a Infância. A pergunta é para os seus leitores. Ele faz oitenta anos. É biográfico, a insistência e a teimosia de durar. Não é coisa pouca pôr uma cidade no nome, agora ortónimo, dele e dela.
A ficção, a obra de Luandino, é o futuro, como compete a um clássico. Da infância no Braga, Makulusu, Kinaxixe – bairros de Luanda -, da Porta Treze, Associação de Poesia, em Vila Nova de Cerveira, da colecção de Poesia que vem editando, a Nossomos. Das estórias infantis, dos desenhos. E o rio Kwanza, sempre, mesmo quando atravessa o Minho para ir à Galiza.
A ler
15.07.2020 | por Marta Lança
Os “papéis velhos” representam para mim a herança arqueológica de trajetos de vida, memórias e eventos nacionais. Por circunstâncias várias, sou eu a guardiã destas memórias materiais que invadem o meu escritório com o seu perfume do antigamente. Existem silêncios, lacunas e incógnitas. Amiúde, interrogo-me: o que terá decidido não arquivar e deixar de fora? Que narração decidiu guardar para que não fosse condenada ao esquecimento? Não entendo o arquivo como um fim em si mesmo, é antes uma porta que se abre para a exploração do testemunho que o avô desejou deixarmos.
A ler
27.06.2020 | por Yara Monteiro
As fotografias dispersas no álbum sugerem uma organização peculiar: as imagens da infância e da juventude aparecem em páginas paralelas às da guerra colonial, não obedecendo a uma linearidade espacial ou temporal, criando uma narrativa simultânea e particular das diferentes geografias e afetos. Dentro da mesma página as imagens estão organizadas segundo dois critérios: por temáticas oriundas de atividades e por locais, pessoas e vivências.
Corpo
04.04.2020 | por Lana Almeida
Onde foi que nos perdemos de nós? Deitamos fora o tempo, não mais nos sabemos direito. Uns para um lado. E outros sem ele. Não insistimos no que nos pertence... e por aqui nos “vence” com estórias que são as nossas. Fazemos nada por ser parecido, quando se é igual. A vida passa ao lado. Nada nos amola. A festa não rola.
O que foi que nós fizemos? O que foi que permitimos que nos fizessem?
Cidade
09.02.2020 | por Isabel Baptista
Desde 2014, centenas de angolanos estão em marcha desesperada pela selva, montanhas e desertos da América, em migração clandestina para os Estados Unidos ou Canadá. Fogem da insegurança e da crise económica no país, num caminho perigoso onde vários angolanos já perderam a vida.
Jogos Sem Fronteiras
29.01.2020 | por Pedro Cardoso
Se a descolonização impactou sensivelmente o imaginário e obrigou a uma reelaboração de dimensões da identidade nacional portuguesa, também incidiu diretamente sobre a vida quotidiana nacional, com a chegada de milhares de retornados das agora ex-colónias, sobretudo de Moçambique e Angola.(...) O livro de Carlos Alberto Alves é, também, um material valioso para compreender a conformação da memória pública acerca da colonização e da descolonização de Angola no distrito de Leiria e em Portugal.
A ler
25.11.2019 | por Helena Wakim Moreno
'Poderosas Frequências' captura cuidadosamente todas as experiências sensoriais que se acumularam, à medida que a radiodifusão e o poder estatal se expandiram e se foram redefinindo na Angola colonial e pós-colonial. Os leitores que lerem o livro em busca de uma experiência auditiva rapidamente se apercebem que Moorman reúne variadíssimos modos de percepção.
A ler
15.11.2019 | por Jesse Bucher
As fotografias foram tiradas por um membro do exército português, o olhar colonial vem da sua condição histórica. Porém, estas mesmas fotografias admitem e apontam - involuntariamente talvez - para um testemunho espetacularmente raro do seu tempo: a luta e a reacção das populações nativas ante as campanhas de conquista e a subjugação colonial, testemunho este que seria muito difícil de alcançar de qualquer outro modo dado que o povo Cuamato não teve oportunidade de registar a sua própria luta e discernimento sobre a batalha.
Afroscreen
18.10.2019 | por Marta Lança
A descoberta de um pequeno conto da década de 1970 abriu-me a possibilidade de estabelecer uma comparação com outro escritor angolano da mesma geração, Pepetela, cuja obra analisara em detalhe para a minha tese de doutoramento (Santos 2011). A coincidência de ambos terem escrito, com um intervalo de quase 30 anos, sobre o mesmo tema, facilitou um exercício comparativo cujo objetivo é salientar a originalidade e pertinência das ideias de Ruy Duarte de Carvalho (RDC) a respeito das identidades coletivas parcelares.
Ruy Duarte de Carvalho
23.08.2019 | por Alexandra Santos
Algumas destas histórias também revelam que esses “regressos” a Angola por pessoas da geração de Nuno podem, na realidade, ser derivações críticas, quando, após o regresso a Portugal, originam atitudes críticas sobre a persistência colonial na sociedade portuguesa. No contexto europeu, poderia o caso português representar uma alternativa: algo que, através de viagens pós-coloniais, levasse a uma sociedade mais igualitária que aceite uma nova narrativa pública plural do passado?
A ler
29.07.2019 | por Irène dos Santos
A Angola que eu deixei em 1992 não tem rigorosamente nada a ver com a Angola actual, e acho bem que as coisas mudem. Não tenho saudades nenhumas do tempo colonial, que era um tempo de injustiça, mesmo eu que ia à escola e à universidade, e estava do lado privilegiado, sei muito bem que é um sistema para esquecer (ou para lembrar....). Como também está resolvido sem nostalgia esses tempos de envolvimento quase amoroso: a Independência, o nascer um país, criarmos os filhos, uma avalanche de coisas que nos estavam a acontecer e nós tínhamos 20 anos.
Cara a cara
24.06.2019 | por Marta Lança
RDC buscou desfazer a confusão comum entre a ética e a política, colocando-se contra a verdade oficial e a razão do Estado ao narrar os sofrimentos impostos à população no contexto da crise. A crise se instalou pela guerra, igualmente pelos diversos modelos ocidentalizantes que se tentaram aplicar, levando a uma permanente desestruturação, instabilidade e incerteza que forneciam argumentos aos dirigentes para manterem um estado de exceção que justificava a penúria dos angolanos.
Ruy Duarte de Carvalho
22.06.2019 | por Kelly Araújo
E ensinam a “ler”a ilha. E oferecem o sorriso, os olhos feito berlindes a brilhar, a surpresa inquieta que não pára e é amiga da alegria, de caxexe a magia o encantamento que a cor provoca em seres mínimos que, sem saberem ler ou escrever, assinam o testemunho disso que é ser pequenino e ser “só” numa ilha sem casinha a sério, ou um calção novo, ou um vestido novo, com um laço... ou um lanche abrilhantado com um pão fresco mesmo seco e um sumo desses de pacote que chegam vazios com a calema...um rebuçado de mel... ou um par de chinelos sem ser um de cada nação.
Mukanda
14.05.2019 | por Isabel Baptista
Enquanto o país se consome de forma autofágica com os seus problemas, este país onde, nos dias que correm, muitos trocam o respeito pela atenção, nós seguimos tentando, com a nossa arte, provocar naqueles que gostam de ouvir com os olhos e ver com os ouvidos, a sensação reconfortante de estarem acompanhados. Por entre tantas adversidades que assolam este quintal, não há tragédia maior do que a seca para à qual foram conduzidas as mentes, que se tornaram estéreis e incapazes de gerar conhecimento para, juntos, darmos a volta por cima. A seca está nas mentes.
Palcos
12.02.2019 | por vários
O contínuo desaparecimento de importantes segmentos da memória artística e cultural do nosso país, bem como a falta de atenção à grande parte da actual “cultura viva” não são metáforas catastrofistas: são factos que assistimos dia após dia, sem dizermos nem fazermos nada com medo de sofrer represálias até mesmo quando, na verdade, a culpa é colectiva e chamamos à responsabilização de todos.
A ler
09.02.2019 | por Adriano Mixinge
Não sei como começou esta febre da “apropriação cultural” mas vem mesmo a calhar. É a expressão que faltava para caracterizar a burocracia. Sim, nós mangolês apropriamos a burocracia dos tugas e infelizmente fizemo-lo à letra; apropriamos a burocracia como cultura, ou a burocracia é que nos apropriou; a burocracia como doutrina, a burocracia agora é nossa, burocracia e mais burocracia. BU-RO-CRA-CIA. Vive la bureaucratie! Quem está bem é o bebé nas costas da mãe, cochila desconhecendo as nossas malambas diárias.
Cidade
06.02.2019 | por Indira Grandê