Em 2008 Samuel Chiwale escreveu sobre a contribuição deste movimento na luta anti-colonial. A tensão política destes movimentos está na génese da luta fratricida angolana que se seguiu, “o grande paradoxo da história de Angola e a fissura que levou o país para caminhos sinuosos e imprevisíveis, com consequências nefastas para as suas populações.” Para as quais a UNITA contribuiu. Chiwale, tentando por várias vezes ser conciliador, faz a distinção, dentro do MPLA, entre os que estiveram na luta, os guerrilheiros propriamente ditos, e os dirigentes que vinham à mata só para “tirar uma fotografia”.
Cara a cara
31.07.2021 | por Marta Lança
e, de repente, acabou-se o paraíso deles e voltaram a Portugal… e eles também dizem: “Deixamos tudo…”. Ali ficou um sentimento de perda, um sentimento de saudosismo, que representa o tal retorno, os tais retornados. Há, na palavra retorno, nuances que se perdem. E essas nuances se perderam porque o discurso dominante do retorno sempre foi expresso, articulado por uma classe de portugueses, a maior parte brancos, que falavam duma África mística, maravilhosa etc.
A ler
30.07.2021 | por Doris Wieser, Aida Gomes e Paulo Geovane e Silva
A intuição e sensibilidade são evidentes – as imagens denotam a qualidade da relação com as pessoas fotografadas, e o empenho em relevar todos os aspectos da luta em curso. Não obstante a reportagem estar enquadrada pelo militantismo da autora, nela destacam-se os retratos e a fixação de situações, simples ou disruptivas, do quotidiano dos guerrilheiros e povo no contexto da luta. Os manuais de alfabetização, as armas de uns e outro (também para cultivar os campos); a manutenção das mesmas; o(s) seu(s) uso(s) e integração dos gestos – da sua importância – num movimento, colectivo, de uma comunidade em luta pela sobrevivência e libertação, mas em que, nem por isso, Conchiglia deixa de olhar para as pessoas na sua singularidade.
A ler
26.07.2021 | por Maria do Carmo Piçarra
Reescrevi biografias, topografias e narrativas. Quiçá, tentando, sem que o soubesse, desconstruir traumas, conciliar e articular, pelo uso da imaginação, o meu lugar de pertença, esta minha vida repartida entre dois continentes, querendo dar sentido à nostalgia e ao sofrimento sentido pelo avô. Seguindo ao seu lado, enquanto dá as voltas à mística mulemba e diz: “O que fica, fica aqui.”
A ler
22.07.2021 | por Yara Monteiro
Uma visão mais alargada dos contornos dos acontecimentos do 27 de Maio, prestando especial atenção aos sentimentos dos que ficaram, em particular as mães. Com isso, não pretendemos de todo ignorar os restantes familiares, mas sim começar por onde a humanidade tem o seu início: no ventre materno.
As consequências destes acontecimentos foram de tal maneira nocivas, que pretendemos dar início a um longo processo de cura, humanizar a tragédia para mitigar a dor e buscar a paz interior.
Vou lá visitar
11.07.2021 | por vários
O livro "Estamos Aqui | Twina Vava | Nous Voici" é uma viagem pela cosmogonia kongo e o mote para o regresso da escritora Branca Clara das Neves ao "Mar de Letras".
Mukanda
08.07.2021 | por Branca Clara das Neves
De 1 a 6 de junho, no Cinema São Jorge, em Lisboa, o Arquiteturas Film Festival reafirmou a importância de uma plataforma para a disseminação da cultura arquitetónica. Celebrou também o cinema produzido em Angola, país convidado. Para além do programa de filmes, o tema do festival foi explorado através de exposições e de um ciclo de debates abordando questões culturais, territoriais e sócio-económicas próximas da comunidade angolana e afrodescendente em Lisboa.
Afroscreen
09.06.2021 | por vários
Este documentário valoriza os dançarinos enquanto pessoas e profissionais e reconhece-lhes o devido valor, e das coreógrafas e toda a equipa, enfatizando as dificuldades pelas quais passam para que o seu trabalho seja reconhecido e os esforços que fazem para continuarem a trabalhar na sua paixão. É também um alerta e uma crítica subliminar à falta de apoio aos artistas e ao não investimento no setor cultural.
Afroscreen
02.06.2021 | por Alícia Gaspar
A 8ª edição da Arquiteturas tem como objetivo refletir sobre a construção social do espaço conectado a um fio que circula dentro de suas próprias narrativas de dominação. Narrativas também sobre identidade que muitas vezes é retirada ou forçada a representar o nosso corpo. Contra algumas suposições atuais, vemos este paradigma perceptivo — um epítome da visão de nossos tempos — como fundamentalmente social, espacial e corporal.
A arquitetura trabalha com poderes administrativos, económicos, políticos e estruturais que controlam, segregam e colonizam, mapeando ativamente os territórios espaciais habitados pelos nossos corpos.
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30.05.2021 | por vários
O Arquiteturas Film Festival vai levar até ao Cinema São Jorge, em Lisboa, uma seleção de onze filmes produzidos em Angola, o país convidado desta oitava edição do festival, que se realiza entre os dias 1 e 6 de junho.
Para além da programação cinematográfica, o café do Cinema São Jorge receberá um ciclo de debates intitulado “África Habitat”, bem como as instalações dos angolanos Lino Damião e Nelo Teixeira. Os cineteatros de Angola estarão também em destaque numa exposição organizada por Afonso Quintã, a partir de material do Cine-estúdio do Namibe, do arquiteto José Botelho Pereira.
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27.05.2021 | por Flávia Brito
Angola entrou para a lista do Património Mundial da Humanidade em 2017, com a inscrição de Mbanza Congo, na Lista do Património Mundial da UNESCO como paisagem cultural pré-colonial. Esse momento marca a entrada de Angola na corrida patrimonial gerida de forma supranacional pela UNESCO.
Em 2018, a Ministra da Cultura de Angola avançou com a vontade de começar o processo de patrimonialização do semba com ecos na imprensa angolana e para satisfação dos músicos e sembistas.
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11.05.2021 | por André Castro Soares
Partindo de princípio que a historiografia bantu é obra colonial, o método da Tradição Oral em pesquisa correctiva pode ter consistência, no âmbito da Antropologia Cultural em auxílio. A pesquisa histórica, strictu sênsu, particulariza-se das demais ciências humanas por limitar-se das fontes arquivísticas em análise e síntese enquanto instrumentos-padrão obedecendo às críticas interna e externa, heurística e hermenêutica. A alegação ocidental, reprovada em África, da dependência historiográfica às fontes escritas, neste aspecto, torna-se consistente clarificando fronteiras entre a História e as demais ciências humanas.
Mukanda
11.05.2021 | por Armindo Jaime Gomes
É assim, os tugas disseram que o 25 de Abril de 1974, foi o dia da Revolução d’Escravos, que os capitães do Abril foram tomar o poder lá na Grândola da Vila Morena, porque o povo ordena. Na verdade, o povo nada ordena, o povo é ordenado, porque os tugas não conseguem fazer nada por si mesmos, precisam sempre e têm mania de capitães, os quais adoram e até lhes fazem estátuas. Quando chegaram ao Brasil tinham um capitão, à Guiné, outro capitão, ao Moçambique, mais um capitão, e na Madeira é o Cristão Ronaldo o capitão.
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26.04.2021 | por Marinho de Pina
Thó Simões, artista plástico angolano, acabou de apresentar em Luanda a sua mais recente exposição intitulada “Entre Homens e Monstros”. As imagens criadas pretendem alargar o debate sobre as microviolências de uma cidade em constante mutação. O artista foi um dos percursores da arte urbana em Angola com uma trajetória com passagem por Linda-a-Velha, Oeiras, Malanje e Luanda. A prática profissional em agências de publicidade e depois a rua trouxeram-lhe a vontade de intervir politicamente através do mural e da arte urbana. Nesta conversa questiona a forma como a arte pode mudar as vivências de uma cidade e um país em crise económica e social e ainda com os estilhaços da guerra civil e a ocupação colonial.
Cara a cara
19.04.2021 | por André Soares
Sem desprimor para quem pensa o contrário, eu considero essa discussão importantíssima em Angola. Isso porque a maioria das pessoas desta terra que é Angola, ainda se vê presa pela matriz colonial e pela razão imperial. Na construção dos meus textos eu tento passar a ideia de que precisamos de virar os conteúdos de cabeça para baixo. É necessário rever o que se pensa sobre o saber, como se pensa a história ou as estórias e recuperar os modelos de conhecimento, de produção do saber, de transmissão de experiências de uma geração para outra e incluir outras vozes para escrever outras histórias. Só assim vamos deixar de perpetuar o modelo imposto pelo Estado colonial e o sujeito branco burguês.
Cara a cara
16.04.2021 | por André Soares
No Arquiteturas Film Festival, procura-se representar, a cada edição, documentários, ficções, animações e filmes experimentais com relevância para a divulgação da arquitetura portuguesa contemporânea, ao nível nacional e internacional. A edição de 2021 não é diferente, tendo sido dividida em três pilares distintos: na seleção oficial, na programação de competição e na programação do país convidado.
Como também já é habitual, todos os anos o Arquiteturas Film Festival procura um ponto de foco sobre o qual desenvolve e explora a sua programação. Este ano, o festival está de olhos postos na produção cinematográfica saída de Angola, onde a confluência de tempos e regimes é visível na sua arquitetura e na sua memória coletiva.
Vou lá visitar
17.03.2021 | por vários
Este álbum faz-me regressar a um passado sonhado com uma visão e uma identidade muito fortes. Vejo-o como uma das obras mais marcantes da música portuguesa e da cultura de Angola, com uma estética vanguardista que ainda hoje se manifesta global, progressiva e contemporânea em todo o seu esplendor. Sem barreiras ou amarras, assumindo todas as culturas como matriz de todos os tons e ritmos, todas as cores e dialectos, onde a primeira brincadeira de infância, a primeira lembrança, a tradição, surgem traduzidas com alma, honestidade intelectual e pureza estética.
Palcos
02.02.2021 | por Paulo Flores
Zezé Gamboa fala calorosamente das coisas que gosta, episódios de outros festivais, rodagens e problemas que o métier do cinema envolve. As pessoas riem-se pelo empolgamento e exagero. Quer trabalhar em paralelo, os homens no mar e o desespero das famílias na terra.
Cara a cara
05.01.2021 | por Marta Lança
Chegou, acabada de acordar, de saia comprida às riscas e sapato brilhante, alta e altiva. O seu enorme riso interior provocou uma empatia imediata, a ousadia da artista Titica é desarmante. Afectuosa no trato, prefere não falar muito da sua sexualidade, explicando, de forma assertiva e cansada de ter de se justificar, que é “mulher e ponto”. E uma mulher com convicção. A cantora, que diz preferir o carinho do público ao cachet, ganhou o prémio de Melhor Artista de Kuduro em 2011 e sente-se “reconhecida”. Explica que, na sua vida de artista, “tudo acontece de uma forma natural”. Acrescenta porém que, apesar da sua energia tudo fazer acontecer, no palco, Titica encarna “outra pessoa”.
Cara a cara
05.01.2021 | por Marta Lança
Nas últimas décadas, o conflito na África subsariana não só devastou as aldeias e criou campos de refugiados em lugares dispersos, como também transformou as cidades e vilas onde agricultores aterrorizados procuravam segurança e oportunidade. Apesar dos subúrbios desordenados – fruto de um crescimento urbano não planeado – não escaparem à visão dos gabinetes das autoridades do Estado e das instituições de apoio internacional, estas organizações não têm abordado a relação entre conflito e urbanização. Tal negligência compromete a reconstrução pós-conflito, desperdiça oportunidades para o desenvolvimento e arrisca-se a quebrar uma paz muito débil.
Cidade
02.01.2021 | por Simone Haysom