Para Cabral a luta armada, filiando-se numa tradição de resistência que remontava ao início da ocupação portuguesa, era igualmente um meio de agregação política de uma população social e etnicamente diversa, na senda da formação de uma “consciência nacional”. Depois, porque no entendimento estratégico de Cabral o modo de travar a guerra pela independência delineava as próprias feições do período pós-independência.
A ler
05.06.2020 | por Inês Galvão, José Neves e Rui Lopes
Amélia da Silva escreveu um livro a contar como recusou o noivo tradicional que lhe estava atribuído e questiona a poligamia, uma prática bastante enraizada entre os manjacos que, no seu entender, não dignifica a mulher, nem respeita a sua escolha e liberdade individual.(...) O sujeito indicado para receber as mensagens do irã é o namanha. O irã pode ser considerado um espírito bom, que protege a comunidade e os seus membros, e o espírito mau que deve ser afastado, uma vez que causa problemas.
A ler
02.06.2020 | por Carlos Alberto Alves
A agricultura, então chamada de “indígena”, assentava na produção de arroz para o autoconsumo das comunidades rurais, a qual era praticada há cerca de três mil anos e na produção de uma cultura de exportação, a mancarra (amendoim) incentivada pelas empresas estrangeiras que se revezam na sua exportação para a Europa (em bruto ou em óleo). O ciclo da mancarra começa na zona de Buba, incentivada por alemães e percorre um itinerário fácil de identificar pela erosão e degradação dos solos que provoca na Guiné e que passa por Bolama, norte do Oio, Bafatá e Gabú.
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21.05.2020 | por Carlos Schwarz da Silva
Nas sociedades tradicionais africanas, é particularmente interessante verificar o diálogo e a proximidade entre os vivos, os mortos e as re-interpretações das comunicações com o defunto e/ou a alma, antes e depois do enterro. Em alguns grupos étnicos animistas, quando uma pessoa morre, antes do enterro determinam-se as causas da sua morte pelo sacrifício de uma galinha (através da forma como saltam depois de degoladas ou então pela cor do seu umbigo), de modo a que se possa decidir se a razão da morte é digna ou não (por exemplo quando alguém é morto numa ação considerada criminosa ou decorrente dela) e, consequentemente, escolher o modo e o local do enterro – dentro ou fora da comunidade.
Corpo
05.04.2020 | por Miguel de Barros e Mónica Sofia Vaz
Se a imagem é potência, uma vez que fixa e revoluciona pela multiplicidade de interpretações que inocula do sentimento humano, já a palavra irá fixar problematizando, porque está veiculada a uma ideia de linguagem de dominação e de autoridade – isto é, porque só escreve e fala quem é soberano no sentido da legitimação social-política.
Afroscreen
17.03.2020 | por Marta Lança e Welket Bungué
Odete Semedo e Eneida Nelly deixam seu legado propondo obras escritas em crioulo, revelando as suas vivências e exaltando a terra natal. Fazem emergir um olhar sobre dois países africanos pouco estudados no Brasil, buscando apresentar um apanhado da complexa rede de relações que compõe a literatura, a língua e a cultura de ambos os países e abrindo uma nova possibilidade de inscrição no cânone através de autoras que fazem da afirmação da língua materna sua bandeira.
A ler
13.03.2020 | por Claudia Moraes
A realidade é que, cada vez que o mundo mais nos chama na Guiné-Bissau, para dar resposta sobre a educação, o cruzamento da educação na conquista de objetivo que propicia os indivíduos a oportunidade de observarem o mundo consciente e real – a preocupação a este setor é menos vigente. O cumprimento do desenvolvimento no país significa o exercício contínuo da educação como parte dos constituintes no processo de desenvolvimento.
A ler
28.02.2020 | por Armando Arnaldo Correia
Como reaver uma certa efectividade nos gestos dissidentes? Como construir um comum que se levanta? De que forma? O recuo do império é inseparável da potência do contra-poder. (...) Nos momentos de crise dos impérios, o senso comum tende a sofrer alterações muito rápidas e só aí a palavra emancipação ganha a possibilidade de estar em todas as cabeças. É preciso desejar a surpresa de recém-chegadas sensibilidades radicais para que a revolta não nos apanhe ciumentos, rancorosos e ultrapassados.
Mukanda
07.11.2019 | por Maria Ampá
manifesta a contestação à imagem “extrovertida” que a política assimilacionista e colonialista nos legou da dita “Guiné Portuguesa”, isolada, exótica e inexistente como fato histórico, antes da presença dos europeus. Essa visão lusocêntrica estabeleceu fronteiras entre “civilizados” e “indígenas” e tentou ocultar as dinâmicas internas da sociedade guineense, anteriores a essa chegada.
A ler
27.07.2019 | por Ricardino Jacinto Dumas Teixeira
“Será a língua portuguesa um instrumento ideal a usar no processo de ensino-aprendizagem para a libertação do povo da Guiné?”. Tendo em conta que a língua portuguesa foi um dos instrumentos usados pelo colonialismo para a dominação do povo da Guiné, não seria normal o mesmo instrumento de opressão servir para um processo educativo que pretenda a libertação do mesmo povo da alienação colonial.
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02.06.2019 | por Sumaila Jaló
A resistência traz aos jovens uma fase mais enérgica de intervenção e focam em assuntos como questionamento do papel dos servidores do estado, democracia e governança e mobilização política. “Estamos numa fase muito interessante, em que o desafio da construção das novas formas de mobilização protagonizadas pelos jovens está a ser confrontada com desafios de encontrar, também, novas formas de representação e legitimação da governação democrática”.
Cara a cara
14.04.2019 | por Henri Chevalier
Este livro traz-nos, pois, o registo escrito de um processo de resgate e releitura de um tempo que surge vivo na exata medida em que a sua dimensão de ruína envolve o cuidado para que se recuperem os fragmentos existentes e, simultaneamente, um exercício hermenêutico que os torna visíveis e contemporâneos.
Afroscreen
13.01.2019 | por Miguel Cardina
Acabe-se com esta realidade que desajuda, que incapacita, que incha, desincha e passa. Que deixa a sua pegada ecológica – viagens de avião, contentores carregados, megabytes de internet despendidos – e um EU muito cheio, muito transformado, uma lágrima na despedida aos sorrisos rasgados dos pobres meninos africanos. E ainda assim, o avião parte, a vida das pessoas continua, com mais uma camisola do Benfica, mas sem nada desenvolvido, sem nenhuma aprendizagem feita, sem nenhuma nova competência adquirida.
A ler
21.06.2016 | por Alice Gomes
Bobô é o futuro, a menina que se nega à crueldade cega de uma tradição nefasta (embora já proibida por lei na Guiné Bissau, é uma prática que assenta em convicções amplamente difundidas e portanto difícil de erradicar apenas através do formalismo da Justiça). Ela representa também o passaporte de Sofia para o mundo real, com a sua dose de contradições e de dramas palpáveis, alguns deles evitáveis.
Bobô é, finalmente, o livre arbítrio, a liberdade, o factor de união entre mundos díspares e distantes. O ponto de confluência da condição feminina.
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06.05.2015 | por Luísa Fresta
Pelo meu relógio são horas de perder todas as vergonhas, as timidezes, são horas de tomar o tempo do mundo e de pôr em prática uma espécie de filosofia de pontapé na porta.
Cara a cara
19.02.2015 | por Maria Ampá
Aqui revisitamos a biografia de Iva Pinhel Évora (1893-1977) nas fronteiras da vida pública e privado. Por outro lado, propõe-se uma abordagem sobre a sua influência na formação do líder e teórico da luta de libertação da Guiné e de Cabo Verde.
A ler
16.09.2014 | por Eurídice Monteiro
Apesar de entre os anos 80 e os anos 90 do século XX o tráfico ilegal da cocaína ter atingido proporções globais, infiltrando não apenas os mercados tradicionais como o dos Estados Unidos da América e da América Latina, mas também os da Europa ocidental, da Rússia e mais recentemente alguns países da costa ocidental africana, que têm-se tornado em países de “trânsito” dos cartéis da droga. Foi sobretudo no início do novo milénio que a região oeste africana foi marcada por um maior envolvimento no tráfico internacional da cocaína com destino à Europa ocidental.
Palcos
24.01.2014 | por Miguel de Barros e Patrícia Godinho Gomes
O transeunte que ao início da noite tivesse tomado a estrada de Santa Luzia que desce da Fortaleza da Amura, junto à foz do Geba, ao Quartel General, e que, à altura do antigo restaurante Casa Santos, tivesse feito um detour à direita, teria entrado numa ruela estreita ladeada de casas sóbrias ao fundo da qual teria visto uma dezena de viaturas estacionadas ao lado de uma vistosa vivenda. E se, por curiosidade, tivesse entrado naquela vivenda pelo portão metálico lateral que dá acesso ao quintal, ter-se-ia encontrado num restaurante caseiro mudialmente conhecido.
Vou lá visitar
21.08.2013 | por Geraldo Martins
Para a maior parte das pessoas a Guiné é apenas o terceiro país mais pobre do mundo.
Coincidência ou não as suas ilhas foram dos primeiros lugares a ser descobertos (e comercializados) pelos portugueses e a escravatura o seu primeiro negócio. Voltar hoje à Guiné é encontrar os rastos deste trauma colectivo, é encontrar a apregoada auto estima da população a "menos que zero". E no entanto... no centro da Guiné passa-se algo de extraordinário. Encontramos a ideia deste projecto não na Guiné (onde nunca tinha estado) mas em Berlim. Um jovem alemão, violinista, sonhava viajar para a Guiné para aprender Djembé (tambor de bater com as mãos). Isso apanhou-me logo de surpresa, porque quando era pequeno, em África, os nossos pais mandavam os filhos para a Alemanha para aprenderem violino: agora são os jovens alemães que sonham aprender música em África (?!)
Afroscreen
17.06.2013 | por João Viana
ECAScreening5: Foi em África que decidiu que ia ser cineasta, foi em África que filmou A Batalha de Tabatô, foi África que lhe deu uma menção especial no Festival de Berlim. João Viana, dez anos depois da primeira curta, sente estar a viver “um filme” e não quer embandeirar em arco com a recepção à sua primeira longa.
Afroscreen
16.06.2013 | por Jorge Mourinha