tem um lugar, dizia eu, tem um ponto no mapa do Brasil, tem um vértice que é onde os estados de Goiás, de Minas Gerais e da Bahia se encontram, e o Distrito Federal é mesmo ao lado. Aí, sim, gostaria de ir... é lá que se passa muita da ação do Grande sertão: Veredas... e depois descer para o alto São Francisco, que é o resto das desmedidas paisagens de Guimarães Rosa... e ao baixo São Francisco, podendo, ia também... porque encosta aos Sertões euclidianos... sou estrangeiro aqui e nada me impede de incorrer no anacronismo de querer ir ver, de perto, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha...
Ruy Duarte de Carvalho
14.08.2010 | por Ruy Duarte de Carvalho
São pedras a perder de vista. Lápides irregulares espalham-se sobre a areia por centenas de metros. O cemitério domina o campo de refugiados de Smara. As tendas e as casas de cor da terra estão lá em baixo, ocupam o horizonte, confundem-se com o deserto. Cada pedra assinala alguém que morreu. A maioria dos habitantes fugiu aos bombardeamentos marroquinos em 1976, mas muitos já nasceram, viveram e terminaram aqui para todo o sempre. São a prova que o conflito do Sahara Ocidental dura há tempo de mais.
Vou lá visitar
13.08.2010 | por Nuno Ramos de Almeida
Prémio Camões 2009. Cabo-verdiano. Conde. Arménio Vieira no seu laboratório de criação: Pracinha do Liceu, Cidade da Praia. O que se segue não é um discurso milimetricamente estruturado e óbvio. É, antes, um desenrolar de frases, pensamentos e memórias às vezes desconexos e non sense na aparência, que evidenciam, nesse jeito irónico e mordaz, a dimensão humana e artística do poeta e ficcionista.
Cara a cara
12.08.2010 | por Pedro Cardoso
E julgo, chegado a esta altura da vida, não poder deixar de ter que entender que o mundo, por toda a parte e não só aqui, se urde e se produz recorrendo sempre, ou quase sempre, ao uso e ao abuso da boa-fé dos outros. Temo não conseguir nunca chegar, mesmo velhinho, a conformar-me com isso e a tornar-me no sujeito bem acabado, dissimulado, pirata, adaptável e finalmente adaptado que nunca, durante toda a vida, consegui ser.
Ruy Duarte de Carvalho
12.08.2010 | por Ruy Duarte de Carvalho
Esta foi a 15ª edição do Andanças que teve como tema a Comunidade. Segundo Diana Mira, da PédeXumbo, o essencial do festival não mudou desde o remoto 1995 em Évora, onde estiveram 200 participantes. “Continua a ser um festival que é um espaço de encontro onde se pode vir dançar e também um espaço de partilha onde se dá as mãos e se olha”.
Vou lá visitar
12.08.2010 | por Maria Prata
Dak’Art deve ampliar o seu público e aliar-se cultural e artisticamente à América do Sul, para inscrever as artes contemporâneas africanas num contexto global, numa abordagem prospectiva cuja aposta é conseguir desbloquear e alargar a esfera de produção e de visibilidade das artes contemporâneas africanas.
A ler
12.08.2010 | por Boubacar Traoré
Dir-se-ia que o Tchiloli tem um carácter exemplar, representando a difícil harmonização entre duas culturas (africana e europeia) que se encontraram por imperativos históricos, mas cujos sujeitos africanos conseguiram ultrapassar o vazio cultural resultante de um encontro catastrófico, reinventando os empréstimos europeus e criando uma cultura própria mas universal.
Palcos
11.08.2010 | por Agnela Barros
A mudança? Passa pela aceitação do Outro na sua opacidade que Gissant reivindica em alto e bom tom, através de uma extraordinária história sobre brócolos de que ele afirma não gostar sem saber porquê! O racista é aquele que recusa o que não compreende. A barbárie é impor ao outro a sua própria transparência. As fronteiras? Deviam ser permeáveis para os migrantes, mas não deviam ser abolidas, para preservar o sabor de cada ambiente.
Afroscreen
10.08.2010 | por Olivier Barlet
Salvador, na Bahia, e Luanda, em Angola, são cidades primas. Mas são como primas distantes: elas têm uma forte ligação familiar, mas perderam o contato uma com a outra com o passar dos anos. Por meio dessa imagem, o artista plástico e curador angolano Fernando Alvim sintetiza sua visão sobre as relações entre a capital de Angola e a capital da Bahia, o estado com maior presença negra no Brasil.
Cidade
09.08.2010 | por Juliana Borges
Embora com toda a violência da ditadura salazarista e a indefectível mentira do império ultramarino, os poetas moçambicanos procuraram desconstruir os cânones impostos pelo colonizador europeu enaltecendo, por meio do verbo poético, o chão moçambicano e a pluralidade étnica. Rui Knopfli, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Virgílio de Lemos, Fernando Couto e, nos primórdios, no século XIX, Campos Oliveira. A partir de um Índico hibridizado, confluente oriente/ocidente, denota-se a busca identitária.
A ler
09.08.2010 | por Ricardo Riso
De Hegel a Lenine, o capitalismo sofre mutações, assim como a situação africana e a luta no terreno dos povos africanos contra os colonizadores. Vimos como a África e os africanos passaram de objectos a sujeitos no pensamento marxista. A partir de quando, e de que forma, o marxismo passou a ser um sujeito em África?
A ler
07.08.2010 | por Cristina Portella
Com apenas 33 anos Ondjaki é já um dos nomes em crescente ascenção na literatura angolana, sem negar o gosto de passear por outras artes, cruzando-as entre si. Apesar de viver intensamente Angola, todos os lugares podem ser propícios às viagens pelo mundo das palavras. Interessa-lhe sempre escrever sobre espaços e pessoas, sobre a vida.
Cara a cara
06.08.2010 | por Ricardo Palouro
O Tchitundo-hulo constitui uma das mais importantes estações arqueológicas do sudoeste de Angola. Situa-se na faixa semi-árida que orla o deserto do Namibe. É um complexo formado por um grande morro granítico, o Tchitundo-hulo Mulume e por três elevações muito próximas dele: o Tchitundo-hulo Mucai, a Pedra da Lagoa e a Pedra das Zebras, igualmente com gravuras rupestres esculpidas na superfície rochosa.
Vou lá visitar
05.08.2010 | por Dario Melo
Assistíamos à gravação do extra intitulado “Roda de Semba” para o dvd da cantora brasileira Martinália, que acaba de sair. Tudo improviso, com muito samba no pé e alegria. Foi numa tarde de Abril, com feijoada e música no jardim de uma moradia em S. Conrado, Rio de Janeiro. Todas as vozes inconfundíveis, e carismáticas as figuras. Ali marcaram presença Martinho da Vila, Gilberto Gil, Carlinhos Brown e Mayra Andrade, cantora caboverdiana radicada em Paris
Palcos
05.08.2010 | por Marta Lança
Tenho uma forte relação entre a África, particularmente a zona sul da África, incluo aí onde eu nasci, Moçambique, e a África do Sul, e este canto da Europa mais ibérico. Se eu tiver de me definir culturalmente em termos de identidade, é algures entre essas duas zonas do mundo que encontra as referências da minha pessoa..
Cara a cara
04.08.2010 | por Lúcia Ramos Monteiro
- sobre três vídeos d’Ângela Ferreira « Untitled » (1998), « Pega » (2000), « Joal la Portugaise » (2004). Se a dualidade territorial, indissociável de um certo percurso biográfico, das deslocações constantes entre África - Moçambique e a África do Sul - e a Europa, marca, indubitavelmente, a obra de Ângela Ferreira, é precisamente essa dualidade territorial que vem inscrever a história no espaço indeterminado do discurso videográfico, apontando para questões relacionadas com a geopolítica e remetendo-nos, simultaneamente, para o trabalho de desconstrução da iconografia e do imaginário coloniais e pós-coloniais que vem sendo sistematicamente desenvolvido pela artista.
Afroscreen
04.08.2010 | por Raquel Schefer
De Melila à Polónia, de Chipre às Canárias, milhares de pessoas tentam quotidianamente abandonar os seus locais de origem e atingir o continente europeu em busca de melhores condições de vida, deixando para trás os mais variados cenários – guerras, incêndios, secas, inundações, regimes repressivos, desemprego maciço, salários de miséria, fundamentalismos vários – e confrontando-se, em todo o lado, com a mesma estratégia repressiva, as mesmas barreiras e perseguições, o mesmo racismo e a mesma violência.
Jogos Sem Fronteiras
01.08.2010 | por Ricardo Noronha
...desconfio dos apelos feitos em nome de uma população, particularmente em locais culturalmente não emancipados e economicamente empobrecidos como Nova Orleães ou o Haiti. Também acho que existem preocupações legítimas em torno da natureza neo-colonial desta tendência mundial das Bienais, que se inclina para a imposição de um modelo cultural ocidental, como o mais popular e triunfante, em localidades não-ocidentais, cujas práticas artísticas e herança cultural muitas vezes desmentem a noção de que a arte contemporânea é um valor cultural partilhado por todo o mundo.
Cara a cara
27.07.2010 | por Claire Tancons
Cinco meses de dúvidas, de miséria, mas cinco meses de partilha e de luta. Luta contra o mundo colonial, brutal e completamente ultrapassado pelo formidável espaço de democracia que se cria diante dele, ultrapassado pelo entusiasmo popular pela luta e cuja única resposta, antes de admitir por fim a sua derrota, será a recusa de negociar e a violência. Mas se o texto é tão forte, é porque ele ultrapassa o âmbito espácio-temporal da África e nos mostra o que o homem é capaz de fazer, de criar por um ideal, pelo que ele considera justo para a sua família, para si próprio e para as gerações futuras.
A ler
27.07.2010 | por Pierre Gomel
A proliferação de confins, a sua prismática decomposição e recomposição, constitui o outro lado da globalização. E acrescentaram: o sonho de um espaço totalmente fluído e transitável é talvez a última utopia do século XX. A suavidade característica do espaço contemporâneo dissolve-se, porém, mediante um olhar mais próximo. Um dos resultados mais imediatos dos movimentos e das interligações globais, parece ser a proliferação de confins, sistemas de segurança, checkpoints, fronteiras físicas e virtuais. É um fenómeno visível, quer a nível microscópico, nos territórios em que nos movimentamos no dia-a-dia, quer a nível macroscópico, nos fluxos globais: os confins estão, de facto, por todo o lado.
Jogos Sem Fronteiras
26.07.2010 | por Sandro Mezzadra