Sankofa: “Acredito que a poesia falada pode curar"

Sankofa: “Acredito que a poesia falada pode curar" Sem desprimor para quem pensa o contrário, eu considero essa discussão importantíssima em Angola. Isso porque a maioria das pessoas desta terra que é Angola, ainda se vê presa pela matriz colonial e pela razão imperial. Na construção dos meus textos eu tento passar a ideia de que precisamos de virar os conteúdos de cabeça para baixo. É necessário rever o que se pensa sobre o saber, como se pensa a história ou as estórias e recuperar os modelos de conhecimento, de produção do saber, de transmissão de experiências de uma geração para outra e incluir outras vozes para escrever outras histórias. Só assim vamos deixar de perpetuar o modelo imposto pelo Estado colonial e o sujeito branco burguês.

Cara a cara

16.04.2021 | por André Soares

António Ole: Matéria Vital / Vital Matter

António Ole: Matéria Vital / Vital Matter Com uma obra marcadamente atenta aos ritmos e rostos, às matérias e construções, às superfícies e texturas urbanas – em especial, de Luanda, dos seus musseques e das suas ilhas –, desde cedo Ole observou também essa outra Angola tão dissemelhante da capital, as suas diversas paisagens e modos de vida. António Ole: Matéria Vital / Vital Matter desvela, precisamente, alguns desses outros ritmos e texturas, as matérias vitais para lá das paredes e da pele da cidade.

Vou lá visitar

14.04.2021 | por Ana Balona de Oliveira

Cultura e Educação em Cabo Verde

Cultura e Educação em Cabo Verde Cabo Verde é um arquipélago rico a nível cultural, mas subaproveitado a todos os outros níveis. Temos, ao longo do tempo, ficado órfãos dos grandes embaixadores da nossa cultura. Passo a citar alguns nomes: Ildo Lobo, Cesária Évora, Bana, Katchas, Codé di Dona, Nha Nacia Gomi, Bibinha Cabral, todos eles no panorama musical. Pouco ou quase nada sabemos sobre a forma como muitos deles sentiam, viviam, ou sobre o que os levou a enveredar pelo caminho da música e, sobretudo, quais as suas fontes de inspiração. Todas estas perguntas ficaram sem uma resposta.

A ler

12.04.2021 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes

Raoul Peck: “Não quero provocar só por provocar. Quero revelar”

Raoul Peck: “Não quero provocar só por provocar. Quero revelar” Já ultrapassámos a questão das queixas. Ao fim de centenas de anos de queixas que nunca foram ouvidas, a queixa não resulta! Além do mais, se eu me queixar, vão-me reduzir mais uma vez ao estado de vítima. E, lamento, mas não sou uma vítima. É também uma maneira educada de me dirigir ao outro, de lhe dizer: “Quero só conversar consigo, não esteja tão na retranca.” Quero manter o espectador numa situação permanente de expectativa, sem saber o que virá no plano seguinte, para o manter desperto, atento. Quero bombardear o espectador com coisas fortes, belas, tristes, chocantes, mas verdadeiras. E quero convidá-lo a viajar comigo, não para o magoar, mas para que juntos nos tornemos melhores.

Cara a cara

12.04.2021 | por Jorge Mourinha

Incêndios e Vítimas: Uma primeira abordagem à Pós-Memória no Pós-Conflito Colombiano

Incêndios e Vítimas: Uma primeira abordagem à Pós-Memória no Pós-Conflito Colombiano Num recente texto de opinião, publicado em Outubro de 2020, Ricardo Silva Romero (Bogotá, 1975), um dos mais importantes escritores e colunistas da imprensa da Colômbia hoje, refletia sobre o lugar da sua geração na – infelizmente duradoura – história da violência colombiana.

A ler

10.04.2021 | por Felipe Cammaert

Ekwikwi V, Reino do Mbalundu… Porquê destituição do “Rei”?

Ekwikwi V, Reino do Mbalundu… Porquê destituição do “Rei”? O debate sobre a retradicionalização do poder das autoridades tradicionais endógenas angolanas torna-se cada vez mais estimulante a partir do caso da “realeza do Bailundo”, cujo apogeu anedótico da destituição do rei marca o início de 2021. Os acontecimentos de Ekwikwi V são uma oportunidade para aprofundar as reflexões já iniciadas, quer em fóruns oficiais, quer em ambientes académicos.

A ler

10.04.2021 | por Armindo Jaime Gomes

Sou Quarteira, entrevista a Dino d’Santiago

Sou Quarteira, entrevista a Dino d’Santiago Os meus pais protegeram-me sempre muito para eu não crescer com estigma. Só já bem adulto é que adquiri noção de algumas coisas que vivemos. Como sou do bairro, habituei-me muito cedo a coisas como ser seguido por um segurança de cada vez que entrava numa loja. E em Cabo Verde não havia disso. Éramos todos iguais. Foi lá que me apercebi do racismo de cá. Quando voltei, pensei «eu não estou no meu país. Por mais que tenha nascido aqui eu nunca vou ser um português inteiro, porque sou filho de imigrantes, porque sou negro». Decidi que tinha de ver isto num outro prisma, de mostrar às novas gerações que, independentemente disso, podes ser tudo, podes triunfar.

Cara a cara

07.04.2021 | por Sara Goulart Medeiros

Portugal, raça e memória: uma conversa, um reconhecimento

Portugal, raça e memória: uma conversa, um reconhecimento Hoje, encontramo-nos ainda em pleno processo de aprendizagem. A invisibilidade pode omitir e silenciar, mas não pode extinguir. E sim, podemos “desaprender” o colonialismo; mas primeiro, para que assim seja, as suas marcas e efeitos terão de ser confrontados. A desmemória do colonialismo é uma doença política - uma doença para a qual ainda não foi encontrada a cura. Ao contrário das palavras proferidas pelo assassino de Bruno Candé, não existem mais senzalas às quais se possa regressar. Mas, alinhado com o tema que hoje nos trouxe aqui, “reckoning”, ou reconhecimento, para se desaprender o colonialismo, e para que nos descolonizemos a nós próprios, assim como ao mundo à nossa volta, o passado tem de ser confrontado.

A ler

05.04.2021 | por Patrícia Martins Marcos

Pandemia obriga grupos de teatro a se reiventar

Pandemia obriga grupos de teatro a se reiventar Os teatros, por serem ambientes fechados, com pouca circulação de ar e gerarem aglomerações, estão entre os primeiros espaços que foram fechados, no início da pandemia, em março de 2020, no Brasil. Sem ter onde se apresentar, os artistas precisaram se reinventar. "Exatamente no dia que a gente ia começar o ensaio, foi anunciado o lockdown e a gente pensou que a pandemia duraria 15 dias. Pensamos que logo retomaríamos o ensaio presencial", conta o dramaturgo, roteirista e ator Herton Gustavo Gratto, que escreveu e atuou em O ensaio sobre a perda. Não foi o que aconteceu.

Palcos

03.04.2021 | por Dom Total

Representações do feminino na cinematografia do realizador brasileiro Karim Aïnouz

Representações do feminino na cinematografia do realizador brasileiro Karim Aïnouz No cinema brasileiro, Karim Aïnouz (Fortaleza, Ceará) não trabalha exclusivamente com o universo feminino, mas quando o faz trata-o de um modo muito particular. Entre a ficção e o documentário, ou misturando as duas linguagens, o realizador, que também assina os guiões dos seus filmes, explora a identidade feminina a partir dos seus desejos e frustrações, das suas aspirações sociais e condição económica, do lugar que ocupa na família, no trabalho, etc. Constrói uma galeria de personagens femininas que atravessa os tempos, num contínuo de histórias de opressão, e atualização de resistências. São mulheres fortes, ativas frente a uma sociedade hipócrita.

Afroscreen

31.03.2021 | por Anabela Roque

A fantástica história do palacete (com fama de) assombrado em plena Lisboa

A fantástica história do palacete (com fama de) assombrado em plena Lisboa Por trás de uma paisagem verdejante esconde-se uma casa em ruínas. Situa-se, precisamente na Quinta das Conchas e dos Lilases, no Lumiar em Lisboa, resultado de recuperação de duas quintas do século XVI, agora espaço público de lazer. Após ter passado por várias famílias, esta quinta tornou-se propriedade de Francisco Mantero que a adquiriu em 1899 e foi seu proprietário até 1927. Da casa pouco resta, mas consegue-se ver a sua estrutura apalaçada, fazendo lembrar as antigas casas coloniais.

Cidade

30.03.2021 | por VxMag

Silvia Federici: “Espero que esse momento impulsione uma forte mobilização de movimentos feministas”

Silvia Federici: “Espero que esse momento impulsione uma forte mobilização de movimentos feministas” Sobre governo Bolsonaro, a ascensão de uma nova extrema-direita no mundo e o fundamentalismo religioso que coloca feministas e população LGBT como principais inimigos, Silvia Federici fala em uma nova caça às bruxas: “Não existe o desejo de proteger a vida mas sim o de controlar os corpos das mulheres, assegurar-se de que as mulheres sejam subordinadas, sacrificadas, que possam ser exploradas por suas famílias e pelo capitalismo. É uma questão econômica também, a igreja com essa aparência da defesa da vida, da família, na verdade está defendendo a produção do trabalho não assalariado das mulheres. E quando a igreja vê que não pode mais nos convencer de tudo isso então nos trata como inimigas, cria novas divisões entre mulheres e homens e entre mulheres também. Porque colocam algumas mulheres como aliadas do diabo”.

Cara a cara

28.03.2021 | por Andrea DiP

A memória ensina ou ensina-se a memória?

A memória ensina ou ensina-se a memória? Nunca tivemos acesso a tantos arquivos e documentos como hoje, usando simplesmente um teclado. É desnecessário ir à procura do passado: se quisermos, o passado, nas suas multíplices dobras, está - ainda que no simulacro digital - ao nosso alcance. Está à nossa frente. No entanto, o paradoxo é evidente, pois a facilidade de acesso corresponde não a uma potencialização, mas a uma deterioração da nossa capacidade de reter e entender o passado aproximando-nos dele e de construirmos uma memória menos precária; uma memória que ultrapasse as barreiras das recordações individuais ou das sombras de imagens projetadas nos ecrãs que não remetem para nenhum conhecimento.

Jogos Sem Fronteiras

27.03.2021 | por Roberto Vecchi

O rap cabo-verdiano enquanto plataforma pan-africana

O rap cabo-verdiano enquanto plataforma pan-africana Apesar de muito consumido pelos jovens, sobretudo os da classe privilegiada ou aqueles com contacto com a diáspora cabo-verdiana, o rap era ainda pouco explorado nos anos de 1980. O seu desenvolvimento acontece no início dos anos de 1990 enquanto imitação da cultura urbana americana. Na Praia, a geração a seguir à pioneira, em que se destacam, entre outros, grupos como Niggas Badiu, Black Power, Tchipie, apesar de forte influência dos beats caribenhos, começaram desde cedo a desenvolver um trabalho de (re)construção de uma identidade de resistência.

Palcos

25.03.2021 | por Redy Wilson Lima e Alexssandro Robalo

“Ser mulher é como correr a maratona no deserto mas o chão é revestido de arame farpado, está em chamas e seguimos descalças”

“Ser mulher é como correr a maratona no deserto mas o chão é revestido de arame farpado, está em chamas e seguimos descalças” Já mais tarde, com 13 anos, e ao entrar numa nova escola e ciclo comecei a deparar-me com padrões de beleza femininos irrealistas. No entanto, para mim e para a maioria das raparigas, não eram irrealistas. Ter uma pele perfeita, olhos verdes num dia e no outro roxos, o cabelo loiro puro e umas ancas largas mantendo uma cintura de 3cm era possível! E sem as tretas do Ómega 3. Claro que não eram precisos os milagrosos produtos por apenas 49,99€ o comprimido, existia algo ainda melhor e - atenção, atenção - gratuito! O photoshop.

Corpo

24.03.2021 | por Alícia Gaspar

As três mortes de Marisela Escobedo

As três mortes de Marisela Escobedo A história trágica de Rubi e Marisela transformou-as em ícones num México habituado à violência. Os seus nomes ecoam em versões de “Canção sem Medo”, de Vivir Quintanar, um hino dos movimentos feministas latino-americanos que exigem o fim da impunidade. Com voz forte, cumprem nas ruas o apelo de Marisela: “Saiam de dentro das suas quatro paredes. Se uma porta se fecha hoje, amanhã outra se abre. E procurem justiça até ao último canto da terra. Para que as nossas filhas possam viver em liberdade, para que não sejam vítimas de violência, muito menos de homicídios.“ Sem medo.

Corpo

23.03.2021 | por Pedro Cardoso

Negros na URSS: as crianças da África Soviética procuram a sua própria identidade

Negros na URSS: as crianças da África Soviética procuram a sua própria identidade “Quanto sabemos sobre a nossa herança africana varia de indivíduo para indivíduo,” diz Johnson Artur. O que têm em comum, contudo, é a história de luta contra a resistência deparada face à presença de pessoas negras na Rússia. “Aqueles que cresceram e vivem na Rússia ainda têm de justificar no dia-a-dia o facto de eles também serem russos.” Johnson Artur espera que seu projeto contribua para conectar e tornar visível a geração de negras russas que cresceram chamando o país de casa.

Mukanda

23.03.2021 | por Red Africa

A antropofagia e o tropicalismo na formação da identidade cultural brasileira

A antropofagia e o tropicalismo na formação da identidade cultural brasileira A formação da identidade cultural brasileira desdobrou-se num processo que foi buscar as origens indígenas, assim como a própria herança europeia. No entanto, parte da sua expressão cultural começou a ser orientada por um ideal modernista, também fruto dos movimentos artísticos da Europa. Porém, a grande distinção seria a sua integração nestas ramificações que advêm das origens primárias do povo brasileiro, disperso por um território tão amplo. Por isso, faz sentido viajar ao conceito de antropofagia e à emergência do tropicalismo, ambos cruciais naquilo que é a cultura brasileira tal como é conhecida hoje.

Mukanda

22.03.2021 | por Lucas Brandão

A classe, a raça e o género em Angela Davis

A classe, a raça e o género em Angela Davis Angela Davis tenta dar voz às mulheres de etnia negra, silenciadas durante o percurso da história, ao desconstruir as correntes feministas convencionais para poderem abarcar a questão da raça e das suas vicissitudes. Portanto, nunca é transparente que Davis se assuma como uma feminista, já que a sua preocupação em momento algum descarta essa dimensão racial. É uma linha de pensamento que, cruzando o ativismo e a militância política com a formação intelectual, se vai desenvolvendo da classe e da raça até à questão do género, que lhe chega nas relações profissionais que vai experienciando na própria militância, mesmo no próprio seio das comunidades negras.

Mukanda

22.03.2021 | por Lucas Brandão

Mediterrâneo: "As mulheres foram apagadas da história da migração"

Mediterrâneo: "As mulheres foram apagadas da história da migração" A imagem da mulher passa pelo estereótipo profundamente enraizado que remonta à antiguidade. É a ideia de que as mulheres estão imóveis, à espera, no espaço do lar e da reprodução da família. Estão, portanto, ancoradas enquanto os homens navegam. Esta é uma das razões pelas quais a migração das mulheres não foi discutida durante muito tempo. Não parece natural imaginar mulheres em movimento.

Cara a cara

22.03.2021 | por Brahim Nejma e Schmoll Camille