Orfeu da Conceição: uma tragédia não negra

Orfeu da Conceição: uma tragédia não negra Orfeu da Conceição se realiza, em termos de modelo compositivo, a partir das determinações de uma “plagiotropia”[4] (êxito: signans o aspecto sensível do signo estético) isto é, Vinicius, como um típico modernista tardio, serve-se de dados da tradição tendo em vista sua transfiguração no presente. A transformação do modelo trágico e do mito grego de Orfeu – herói que inspeciona o Hades arrastado pelo amor – nesse outro Orfeu, sambista do morro carioca, imaginado pelo poeta brasileiro, diz respeito a uma transposição intersemiótica.

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24.04.2017 | por Ronald Augusto

Não é o Antropoceno, é a cena da supremacia branca ou a linha divisória geológica da cor

Não é o Antropoceno, é a cena da supremacia branca ou a linha divisória geológica da cor Este ensaio é, ao mesmo tempo, uma provocação e também uma abertura para uma discussão muito mais ampla. É o resultado da pergunta: “o que quer dizer #BlackLivesMatter (referência ao movimento iniciado nos EUA e que pode ser traduzido como #VidasNegrasImportam) no contexto do Antropoceno?” Hoje, de acordo com o senso comum, o Antropoceno é a denominação de uma nova era geológica, a era humana mais recente. Esse entendimento se baseia na identificação de “uma única manifestação física de mudança registrada em uma seção estratigráfica, muitas vezes, refletindo um fenômeno de mudança global”

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23.04.2017 | por Nicholas Mirzoeff

Reflexões Pós-Parto. Uma crítica a Parto Rosa de Renata Torres

Reflexões Pós-Parto. Uma crítica a Parto Rosa de Renata Torres O presente texto debruça-se sobre a peça Parto-Rosa, da qual Renata Torres é autora e intérprete. A encenação é de Torres e Matamba Joaquim. Parto Rosa estreou em Luanda, no Centro Cultural Brasil Angola, no dia 31 de Março, numa apresentação única. O que trazemos aqui não é um resumo da peça com citações transcritas, mas uma curta análise do trabalho da autora, cuja visão crítica interessa reflectir um pouco.

Palcos

20.04.2017 | por Maria-Gracia Latedjou

CARTA ABERTA Um regresso ao passado em Gorée. Não em nosso nome

CARTA ABERTA Um regresso ao passado em Gorée. Não em nosso nome Porque este não-reconhecimento tem constituído a pedra angular da política da memória preconizada pelo poder político em Portugal desde essas datas, a omissão presidencial nada trouxe de novo. No entanto, ela foi acompanhada de declarações que, marcadas por uma inquietante imprecisão histórica, fizeram ecoar uma narrativa de pioneirismo humanista português cujo paternalismo implícito foi liminarmente rejeitado por portugueses e africanos quando, em 1974-75, optaram por solidarizar-se na defesa do princípio da autodeterminação dos povos e no repúdio do colonialismo.

Mukanda

19.04.2017 | por vários

Hélio Oiticica e a destruição das máquinas identitárias

Hélio Oiticica e a destruição das máquinas identitárias Para Oiticica, a invenção desta nova forma de expressão não se tratava, como poderia fazer supor o nome parangolé, de uma folclorização na sua experiência ou a tentativa de uma valorização da “cultura popular”, que considerava uma camuflagem opressiva do “mostrar o que é nosso, os nossos valores…” mas de uma reinvenção da própria ideia de uma arte política. Tanto que sempre se distanciou dos projectos culturais da esquerda, de tradição marxista, que pretendiam figurar discursos sobre a “realidade brasileira” como estratégia de luta contra o regime militar.

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19.04.2017 | por Mariana Pinho

O olhar de Claudia Andujar para os yanomami é uma sedução sem fim

O olhar de Claudia Andujar para os yanomami é uma sedução sem fim O Arquivo Fotográfico mostra Visão Yanomami, exposição no âmbito da Lisboa Capital Ibero Americana da Cultura 2017 que revela o quão intensa foi a ligação entre a fotógrafa brasileira e os ameríndios yanomami. É um namoro que já dura há mais de 40 anos.

Vou lá visitar

13.04.2017 | por Sérgio B. Gomes

A outra história brutal da Alemanha: deve o “Quarteirão Africano” de Berlim ser renomeado?

A outra história brutal da Alemanha: deve o “Quarteirão Africano” de Berlim ser renomeado? Numa cidade aparentemente especialista na monumentalização e memorialização, o passado colonial da Alemanha, e por extensão a história por detrás do Quarteirão Africano, esteve até recentemente ausente da consciência pública.

Cidade

11.04.2017 | por Ana Naomi de Sousa

Páginas em branco: a indústria literária e o livro enquanto objeto

Páginas em branco: a indústria literária e o livro enquanto objeto A expansão da Literatura para o meio digital, porém, representa um processo diferente, no qual decorre a mecanização e alteração de objeto e não necessariamente de percepção. O cinema e a fotografia, cada qual a seu modo,possuem tempos diferentes que, para serem compreendidos, necessitam de percepções diferentes.Será o livro digital apenas uma alteração de formato ou também de significado?

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11.04.2017 | por Maria Isabel Machado

O coma do criptozoólogo Svart através da chuva

O coma do criptozoólogo Svart através da chuva Em 2008 o escritor luso-sueco Miguel Gullander acompanhou uma expedição pela mata angolana na pegada da palanca negra, na qual se inspirou para escrever o romance "Através da Chuva". Entre vários episódios alucinantes, cruzamo-nos com um curioso protagonista, o criptozoólogo Svart.

Cara a cara

05.04.2017 | por Marta Lança

Trump no Portugal dos Pequenitos

Trump no Portugal dos Pequenitos A construção dos ‘bons’ e ‘maus imigrantes’ pelo centrão partidário, para justificar políticas restritivas da imigração e se desresponsabilizar pela discriminação racial. Os refugiados, umas escassas centenas até 2015, num país que se auto-declara campeão da tolerância. E que os portugueses ‘preferem’ aos imigrantes, como indicava a European Social Survey publicada em 2016. Os escravos comparados a imigrantes. Em incalculáveis momentos solenes, discursos políticos, monumentos e exposições, panfletos e manuais, para mostrar como Portugal colonial foi pioneiro da globalização e da interculturalidade. E o Portugal dos Pequenitos, quando vamos falar do Portugal dos Pequenitos?

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05.04.2017 | por Marta Araújo

Descolonizar os currículos na SOAS, Filosofias do Mundo

Descolonizar os currículos na SOAS, Filosofias do Mundo Da mesma forma, o profundo pensamento filosófico desenvolvido ao longo de milhares de anos na China pode passar sem uma única menção em muitos currículos de filosofia no ocidente. Os estudantes de filosofia devem ser encorajados a travar contacto com o trabalho desafiador de pensadores como Kwami Anthony Appiah, Franz Fanon, Achille Mbembe, Valentin-Yves Mudimbe, Enrique Dussell e Walter Mignolo do mesmo modo que o fazem com Parfit e Strawson. Ou não devemos nós todos assumir a tarefa de nos envolvermos, para citar Nietzsche, com “o que pode ser pensado contra o nosso pensamento”?

Mukanda

04.04.2017 | por World Philosophies

Ideologia, ciência e povo em Amílcar Cabral

Ideologia, ciência e povo em Amílcar Cabral O texto contribui para o debate de uma questão de interesse histórico e historiográfico mais geral: a das relações entre ciência e ideologia. Traçando as distintas proveniências do conceito cabraliano de “povo”, consideraremos tanto a emergência do pensamento nacionalista anticolonial no antigo Império português como desenvolvimentos dos estudos agrários no Portugal metropolitano.

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01.04.2017 | por José Neves

Quase XX anos depois

Quase XX anos depois O machismo e a violência de género nos comportamentos de homens e mulheres portugueses é resultante de forças perenes de inculcação dos modos de ser homem e mulher guiados pelas estruturas discursivas do poder. Depois da leitura deste livro, espero que não restem dúvidas acerca das raízes de uma ideologia perfeitamente devastadora em relação ao papel de cão de guarda atribuído à mulher, nada mais, nada menos que uma mulher-ser-silêncio. Essa ideologia não esteve – em absoluto – centrada no Estado. Foi promovida por muitos outros sectores da sociedade e contou com uma forte regulação intra-género, mas onde é possível encontrar resistência também a partir do Estado.

Mukanda

27.03.2017 | por Inês Brasão

Vinte anos depois, encontrei uma América mais negra

Vinte anos depois, encontrei uma América mais negra Mais activista, mais politizada, mais feminista e mais negra. É também assim a América, que defende a cultura da inclusão e diversidade, da justiça social e racial e onde a academia está consciente das desigualdades e empenhada em desafiá-las. Como se coaduna isto com a presidência de Donald Trump?

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23.03.2017 | por Filipa Lowndes Vicente

“O povo é o peão do xadrez da História de Angola”, entrevista a Alberto Oliveira Pinto

“O povo é o peão do xadrez da História de Angola”, entrevista a Alberto Oliveira Pinto Alguns factos: a formação dos presídios do Kwanza, iniciados com Paulo Dias de Novais em 1575; a aliança entre os Imbangala e os portugueses no início do século XVII; a coligação de Estados africanos liderada pela rainha Njinga Mbandi entre 1635 e 1648; as campanhas militares de Luís Lopes de Sequeira, o “Mulato dos Prodígios”, que desmantelou os Estados do Congo, do Ndongo, do Libolo e da Matamba; a terrível guerra civil no Congo na viragem para o século XVIII; a Independência do Brasil em 1822 marcou uma viragem na política colonial portuguesa em relação a Angola e São Tomé.

Cara a cara

22.03.2017 | por Marta Lança

Protesto, coletividades e festa - cartazes do período 2010-2016

Protesto, coletividades e festa - cartazes do período 2010-2016 De uma primeira época de protestos vigorosos, até ao final 2012, com uma dimensão de massas e de transformação do quadro da correlação de forças na sociedade portuguesa, passa-se a uma fase de emudecimento, mas continuidade, que vem a ser por fim abandonada e substituída por formas de protesto significativamente diferentes. O protesto passa a estar ligado a causas pontuais e específicas, de menor presença nas ruas, com novas linguagens e as comunidades que o organizam perdem a transversalidade desenvolvida entre 2010 e 2012.

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21.03.2017 | por Catarina Leal e Miguel Carmo

Acabar com o mundo, torcer o mundo

Acabar com o mundo, torcer o mundo O trabalho de um artista, como o de qualquer trabalhador imaterial, implica portanto recusar o status quo, isto é, a obrigação de “fazer sem pensar, sentir sem emoção, se mover sem fricção, se adaptar sem questionar, traduzir sem pausa, desejar sem propósito, se conectar sem interrupção.” De forma a inverter esse processo, poderíamos começar por reclamar empatia com a imaginação não-humana e inumana dos mundos, tendo em conta que a aliança e a empatia fazem parte do processo enraizador da imaginação na política.

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21.03.2017 | por Ritó aka Rita Natálio

In the Days of a Dark Safari

In the Days of a Dark Safari Diversas narrativas literárias e artísticas da época colonial refletem o trabalho do colonialista que coleta informações na floresta e as depõe em vitrinas de museus. O esforço para realizar um Museu de História Natural torna-se simétrico à narrativa hostil do olhar forasteiro, que coloniza mantendo-se à distância, remetendo um continente inteiro a Lugar das Trevas. A paisagem concebida pelo homem torna-se aqui ponto de partida para uma visão crítica que, para além de levantar questões sobre a narrativa histórica, rebate o discurso político que tem enorme impacto na construção de identidades modernas em África.

Mukanda

20.03.2017 | por Kiluanji Kia Henda e Lucas Parente

Primavera na FCSH, Contra o Fascismo

Primavera na FCSH, Contra o Fascismo Convidamos todas as pessoas que estudam e trabalham, ou que já estudaram e já trabalharam na FCSH a juntarem-se a nós no dia 21 de março, pelas 16h na esplanada da faculdade. Para que esta celebração da Primavera seja um momento de afirmação de que o fascismo não passará na FCSH.

Cara a cara

17.03.2017 | por vários

“Estávamos em terreno desconhecido, com hábitos particulares. É preciso ter sensibilidade e ter em conta tudo isso”, entrevista a Bruno Moraes Cabral

“Estávamos em terreno desconhecido, com hábitos particulares. É preciso ter sensibilidade e ter em conta tudo isso”, entrevista a Bruno Moraes Cabral Mesmo nas filmagens correu tudo espantosamente bem. Mas houve também muito cuidado da nossa parte. Estávamos em terreno desconhecido, com hábitos particulares. É preciso ter sensibilidade e ter em conta tudo isso. Tivemos sempre essa preocupação: não era chegar a um sítio e filmar tudo o que nos apetecia como se estivéssemos à porta de nossa casa. Não agimos assim. Tento sempre filmar da mesma forma que filmaria aqui numa aldeia: falar com as pessoas primeiro e perceber que espaço tenho para fazer o que gostaria, e adaptando-me sempre a essas sensibilidades. E fazendo assim as coisas acabam por correr bem.

Cara a cara

14.03.2017 | por Mariana Pinho