A travessia dos sertões e a promessa de um filme de Miguel Gomes
Desde 2015 que o realizador português Miguel Gomes1 se encontra a trabalhar na adaptação cinematográfica do clássico da literatura brasileira Os Sertões, escrito por Euclides da Cunha2 em 1902 - uma obra incontornável, cujo potencial tem vindo a ser ampliado ao longo dos séculos XX e XXI.
Os Sertões aproxima-nos aos poucos de Canudos, povoação do interior do Sertão nordestino - localizada a cerca de 400 km de Salvador, no Estado da Bahia - palco, no final do séc. XIX, de uma guerra fratricida entre os seus habitantes e o exército brasileiro que, depois de derrotado três vezes, investiu uma quarta vez, com resultados aniquiladores. A destruição total da povoação custou a vida a cerca de vinte mil sertanejos e cinco mil militares.
Ao longo dos tempos, a Guerra de Canudos tem gerado uma disputa de narrativas, algumas delas conflituantes, que partem tanto dos representantes dos envolvidos na luta, como daqueles que a procuraram estudar e atualizar. Os Sertões é um referente comum em todas estas discussões. A sua existência tem garantido que o conflito continue a ecoar nos nossos dias. Walnice Nogueira Galvão, estudiosa da obra de Euclides da Cunha, sinaliza que o livro “é um elemento instigador da memória brasileira que nos faz lembrar o que já fizemos e continuamos a fazer com a maioria de nossos compatriotas”3. Ao propor a sua adaptação ao cinema, passados 125 anos sobre o início do conflito, Miguel Gomes oferecer-nos-á uma nova oportunidade de refletir sobre o passado colonial que nos concerne, a portugueses e brasileiros, e sobre o Brasil de hoje.
A força deste clássico da literatura brasileira pode impor-se a qualquer um que se proponha afrontá-lo. O escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho resumiu assim - no seu livro Desmedida, crónicas do Brasil - o que encontrou no Os Sertões: “fantasia e razão crítica, poesia e ciência, uma dialética entre o descobrir e o encobrir, explicar e murmurar, elucidar e iludir, espaço dado ao incomensurável, ao desmedido, ao irracional, ao horroroso, ao esmagador, majestoso, indizível, paradoxal. É um livro magnético, onde, em última análise, tudo é milagre.” (p.288)
Este milagre deve-se também, em grande parte, à transformação que o impacto da violência e da injustiça exercida sobre a população de Canudos causou em Euclides da Cunha, o que o incita a escrever um livro vingador, como o próprio lhe chamou. Para Ruy Duarte de Carvalho, o escritor “levou uma volta” em Canudos, que o fez “pôr o sistema em causa”.(p.284)
Esta transmutação do autor consiste num dos grandes desafios que a adaptação cinematográfica de Os Sertões coloca, tendo em conta que será Euclides da Cunha “o protagonista do filme, com a sua narrativa apresentada em voz off”4. Será ele a figura mediadora da diegese, o que nos oferece a possibilidade de ver recriadas as suas “flutuações de estados de alma, que passam do arrebatamento dramático a securas irónicas, da fúria ao cansaço” como identificou Miguel Gomes.5
Apesar de entregar o protagonismo a Euclides, o realizador já revelou que “não seguirá com ortodoxia as palavras do autor” porque tal opção “iria ignorar o fato de ter decorrido mais de um século desde o momento da escrita do livro; de que o autor do filme não pode ser o autor do livro; e de que brevemente vai andar um português (vários na realidade) pelo Sertão. Para Miguel Gomes, o filme “só fará sentido se o seu autor puder juntar as suas impressões (verdadeiras ou ilusórias) às do autor do livro.6
O título da transposição de Os Sertões ao cinema será Selvajaria. O guião é resultado do trabalho conjunto de Miguel Gomes, Maureen Fazendeiro, Mariana Ricardo e Telmo Churro. Embora a escrita deste esteja em aberto, já sabemos que, no primeiro ano, procuraram elaborar uma “versão que encontrasse equivalentes aos mecanismos e estruturas do livro”7 e que, no ano seguinte, repensaram a narrativa fílmica de forma mais radical. Segundo o realizador, “juntando-lhe elementos que não faziam parte do livro, mas que nos vieram através do que observamos e vivemos nas sete semanas passadas no Sertão. Tornou-se uma regra de ouro para nós: alterar os sertões de 1902 a partir de Canudos de 2019”.8
Quais serão as sensações ou comoções que Miguel Gomes já experimentou em Canudos e ainda irá experimentar? Não podemos ignorar a sua condição de estrangeiro, de novo um português, num território com profundas marcas colonialistas que, de certa forma, ainda atingem grande parte da população atual que vive sob graves desigualdades económicas e sociais. Será que, assim como se deu a transmutação do escritor, assistiremos a um processo equivalente no realizador?
O certo é que, de Selvajaria, sairá mais uma representação do Sertão nordestino e do seu povo através de um olhar externo, o que requer uma alteridade criteriosa. Sobre a dialética de olhares é importante recordar que Euclides da Cunha, vindo do litoral brasileiro, também viu o Sertão sob a mesma perspetiva, mencionando-o, em alguns momentos, como outro país quando comparado com São Paulo ou Rio de Janeiro. Por outro lado, mais de um século depois, “os sertanejos ainda falam como se o Rio, São Paulo ou Brasília fossem noutro mundo”, como refere Isabel Lucas na reportagem “Brasil, a crónica dos vencidos”.9
Miguel Gomes chegará de outra cidade, bem mais distante, e levará consigo os cânones europeus com os quais não lida de forma convencional, como percebemos observando a sua cinematografia e que, seguramente, não o fará agora perante uma oportunidade riquíssima de descentramento dos mesmos.
O Sertão nordestino, de território literário a paisagem cinematográfica
Até ao momento, não existe nenhuma adaptação cinematográfica de Os Sertões como tal, embora o universo apresentado no livro seja uma referência para o cinema brasileiro, que se aproximou dele, sobretudo, através do conflito canudense e de Antônio Conselheiro, o líder dos fiéis reunidos na povoação. Para a ensaísta e professora de cinema Sheila Schvarzman, que pesquisou a influência dos temas de Os Sertões na cinematografia brasileira, “talvez o livro, por ser monumental, intimide os cineastas brasileiros, que nele entraram apenas de viés.”10
Apesar do cinema brasileiro contar com inúmeros documentários sobre Canudos, o mesmo não acontece relativamente às ficções - constam apenas a longa-metragem do realizador brasileiro Sérgio Rezende, Guerra de Canudos (1997) como adaptação cinematográfica do conflito e a curta-metragem A Matadeira do cineasta Jorge Furtado, que, em 1994, conseguiu resumir a narrativa principal do livro em quinze minutos.
A história épica de Canudos tornou-se uma das mais importantes representações identitárias da riqueza cultural e sociológica do Sertão nordestino, um lugar de natureza árida e desértica que escritores como João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Ariano Suassuna e José Lins do Rego transmutaram em território literário e, mais tarde, cineastas como Lima Barreto, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Ruy Guerra em paisagem diegética de filmes que se tornaram clássicos da primeira fase do Cinema Novo brasileiro.
Glauber Rocha - natural de Vitória da Conquista, interior baiano - entendia que os escritores, acima mencionados, denunciavam a miséria do ponto de vista social e que, com a força das imagens, cabia ao cinema exibir aquelas condições de miserabilidade segundo uma perspetiva que suscitasse o debate político. (Silva p.56) Sob essa premissa, a representação do sertanejo e do seu território, nos seus filmes, foi construída em torno, quase invariavelmente, da seca, da violência, do sofrimento do povo, da fé exacerbada, das mortes e conflitos que daí advinham. Esses recortes identitários foram, mais tarde, demasiadas vezes estereotipados noutros filmes e produções audiovisuais, ao longo dos anos.
Com o séc. XXI, outras leituras e reinterpretações do Sertão foram surgindo, e muitas delas pela mão de realizadores da região ou estados circundantes. Marcelo Gomes, cineasta pernambucano realizou Cinemas Aspirinas e Urubus, em 2005 e mais tarde, em 2010, Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo com o realizador cearense Karim Aïnouz. Ambos os filmes entram pelo interior sertanejo, tal como o fizeram em 2006, os realizadores mineiros Cao Guimarães e Pablo Lobato no filme Acidente. Em 2019, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, cineastas pernambucanos, apresentaram a mais recente atualização cinematográfica do imaginário sertanejo no consagrado Bacurau.
No texto Os sertões do Cinema, Sheila Schvarzman fala de “um novo Sertão cinematográfico” sem “todos os clichês que o Sul se acostumou a receber e a criar a seu respeito. Esse novo olhar, produzido de dentro, não procura nem valorizar o sertanejo e seu mundo, nem focar a miséria produzida pelo mundo exterior (o sul, o estrangeiro, o imperialismo…”. É um Sertão, com voz própria, “onde ainda convivem a antiga rudeza, o machismo, até o primitivismo, com o verniz de pós-modernidade das motos e celulares…”11
Filmes e livros falam dos vários sertões, geralmente resumidos na definição de Sertão nordestino. Esta pluralidade resulta do seu vasto território, que se estende pelos estados brasileiros de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. No livro Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa, Riobaldo, o protagonista, herói errático pelas terras sertanejas, deixou-nos algumas das mais belas definições elaboradas sobre um território de difícil síntese: “O Sertão é do tamanho do mundo” (Rosa, p.73) “Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados (…) O Sertão é sem lugar”(Rosa, p.354).
Terra de coronéis e outras heranças do colonialismo
Historicamente, o nome de Sertão associa-se a essa ideia de um não-lugar e atribui-se, geralmente, a espaços vastos e selváticos, com escassos assentamentos populacionais e sem grandes vias de contacto com a civilização. A denominação remete à época colonial e às áreas desconhecidas do Brasil, não cartografadas, tidas como zonas a ser desbravadas. Neste sentido, a utilização deste termo geográfico carrega uma implícita intenção apropriadora que, ao longo do tempo, se foi objetivando de várias formas.
Nestes territórios, as ondas colonizadoras tendem a desenvolver um processo de transformação que procura a extinção do Sertão como tal, através da sua integração e ocupação. “Foram, primeiro, as grandes concessões de sesmarias, definidoras da feição mais durável do nosso feudalismo tacanho” (Cunha, 2000 p.83) escreve Euclides no Os Sertões, onde acrescenta também que a região foi “teatro das missões”, “terra clássica do regímen pastoril, único compatível com a situação económica e social da colónia. (…) Bateram-lhe por igual as margens o bandeirante, o jesuíta e o vaqueiro (…) buscando o ouro ou o escravo, desvendavam desmedidas paragens, que não povoavam e deixavam porventura mais desertas…” (p.75)
Euclides da Cunha relata ainda que os “povoados sertanejos se formaram de velhas aldeias de índios, arrebatadas, em 1758, do poder dos padres pela política severa de Pombal”.12 Eram, salvo raras exceções, vilarejos isolados, esquecidos, pobres e mal aprovisionados. A abastança estava concentrada em algumas fazendas, geralmente pertencentes a coronéis, latifundiários, onde se concentrava a produção rural, fruto da força de trabalho dos mais pobres: mestiços, ex-escravos e indígenas. Estes últimos, segundo Euclides escreveu, eram incorporados à vida nacional pela “solicitude calculada do jesuíta e pela rara abnegação dos capuchinhos e franciscanos.” (p.81)
No Brasil pós-monarquia13 os grandes fazendeiros mantinham um poder dominante na esfera política nacional. A primeira República brasileira, instaurada em 1889, ficou conhecida como República Velha, era a República dos Coronéis ou a República dos Oligarcas, porque como se descreve no Os Sertões, o velho agregado colonial continuava imutável, o que frustrava as expectativas de quem ansiava libertar-se do Coronelismo, uma herança colonialista muito presente no Sertão nordestino.
A nova República (Velha) trouxe, contudo, esboços de modernização, como a chegada do telégrafo ao interior do país e novas políticas, algumas delas polémicas como a separação do Estado e Religião, a autorização do casamento civil e a ampliação da cobrança de impostos. Estas medidas foram especialmente mal recebidas no interior nordestino, onde a população era maioritariamente pobre e religiosa. A resistência a estas medidas foi uma contribuição essencial para a Guerra de Canudos acontecer.
Perante esta evolução histórica, torna-se evidente que Guimarães Rosa, no seu Grande Sertão: Veredas diga, mais uma vez pela voz de Riobaldo, que “no Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias…”(Rosa p.19). Tomando diversas formas, definições e objetivos, as incursões sobre caatingas, cerrados, florestas e campos, persistiram, alheias às populações originárias, à diversidade ambiental e à riqueza cultural. Terá observado Miguel Gomes essa dinâmica na Canudos dos dias de hoje? Como será “a realidade medieval aparentemente imutável”14 que refere ter encontrado nas suas visitas ao território? Que perspetiva nos apresentará da herança colonista descrita no Os Sertões?
O sebastianismo em território de esperanças messiânicas
A terra “ignota”, “agreste”, “inóspita” que Euclides descreve nos primeiros capítulos de Os Sertões sem grande parcimónia, era também para Riobaldo de Guimarães Rosa, um território onde “viver é muito perigoso”. A seca, a exploração, a violência e a pobreza são de uma persistência cíclica, há séculos. Talvez por isso o “Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar” – ainda nas palavras de Riobaldo (Rosa p.25). Se entendermos esse pensamento como espiritualidade, o sertanejo revela-se especialmente místico: crenças, esperanças messiânicas e profecias são possibilidades de redenção e libertação.
Alimentando a fé e congregando os fiéis em grupos de seguidores, surgiram no Sertão todo o género de líderes que, com frequência, se transmutavam no processo: de conselheiros a pregadores, de padres a messias, de beatos a santos, todas as combinações eram possíveis. Quando as congregações assumiam dimensões políticas contestatárias, rapidamente passavam a ser consideradas uma ameaça à ordem estabelecida. Para as autoridades e representantes do catolicismo oficial, o líder religioso passava então à qualidade de impostor, revolucionário ou bandido. A polícia ou o exército ocupavam-se de reduzir os rebeldes - líder e seguidores.
Uma das referências necessárias para entender a força messiânica no Sertão – assim como noutros lugares do Brasil – trata-se de mais uma herança colonial: o sebastianismo. Euclides da Cunha deixa constância que o sebastianismo persistia, naqueles finais do século XIX, de “modo singularmente impressionador, nos sertões do norte”. (p.110) A herança peninsular foi “extinta na orla marítima pelo influxo modificador de outras crenças e de outras raças, no Sertão ficou intacta.” As populações que a levaram para o interior, “vinham cheias daquele misticismo feroz em que o fervor religioso reverberava à cadência forte das fogueiras inquisitoriais, lavrando intensas na Península”. (p.109)
A disseminação deste misticismo mereceu uma dura crítica por parte de Euclides, que descreveu o sertanejo como um “primitivo deixando-se arrebatar pelas superstições mais absurdas”, e por “profecias esdrúxulas de messias insanos”, (pp. 108-109) embora mais adiante, no seu livro, reconheça no Sertão nordestino - numa das suas tantas contradições ou transmutações - um quadro de religiosidade com aspetos muito interessantes.
Alguns dos agrupamentos de fiéis em torno de um líder religioso chegaram realmente ao patamar do fanatismo apocalíptico e sacrificial, que Euclides da Cunha classificou de “aberrações brutais”. Referia-se às manifestações sebastiânicas, que ficaram conhecidas como a “Tragédia do Rodeador”, em 1820, e a da “Pedra Bonita” ocorrida em 1837.15 Ambas terminaram aplacadas por intervenções do exército que causaram centenas de mortes, às quais se somaram as que resultavam dos rituais que induziam a sacrifícios humanos. Ambas anteciparam o que viria ser o grande desastre da Guerra de Canudos.
Estes movimentos foram cruciais para a forma como o governo da República, os intelectuais e jornalistas da época enquadraram o assentamento de Antônio Conselheiro, que acusavam de instigador deste tipo de fanatismos. Visto de fora, o culto ao rei-santo em terras do Sertão representava um atavismo associado à monarquia e ao absolutismo, e configurou-se rapidamente como uma ameaça política, primeiro para a Independência do país e, depois, para a República. O jornal O Jacobino, do Rio de Janeiro, manteve até 1897, a tese de que em Canudos havia um ajuntamento sebastiânico, logo, de inspiração restauracionista e produto da herança supersticiosa portuguesa. Contudo, devemos ter em conta que muitas destas considerações serviam o jogo político da época, e nem sempre eram fiéis aos factos.
No entanto, ao longo dos anos, os diversos estudos levados a cabo sobre a essência do assentamento de Canudos, nunca comprovaram sua a associação ao sebastianismo. O debate continua vivo, contando com uma ressonante contribuição de Agostinho da Silva16 que se referia a Canudos como “a última revolta sebastiânica”.
Atualmente o sebastianismo faz parte do imaginário sertanejo. Foi-se atenuando, mas permanece vivo na identidade brasileira como mito messiânico associado a um ideal sociopolítico. No filme Deus e o Diabo na Terra (1964) de Glauber Rocha, o beato que congrega os fiéis, líder autoritário ou rebelde metafísico segundo a perspetiva, chama-se Sebastião e algumas das palavras dos seus sermões são as de Antônio Conselheiro, autor da profecia de que “o certão virará praia e a praia virará certão” como transcreve Euclides no Os Sertões (p.132), e que se tornou popular como “o Sertão vai virar mar e o mar vai virar Sertão.”
Antônio Conselheiro, messias ou revolucionário?
N’Os Sertões vários capítulos abordam a vida de Antônio Conselheiro. No início, Euclides da Cunha posiciona-o como “documento vivo de atavismo” e ironiza: “o infeliz destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência superior, bater de encontro a uma civilização, indo para História como poderia ter ido para o hospício.” O “grande homem pelo avesso” era, contudo, um “representante natural do meio em que nasceu” (pp.116-119), no ponto de vista de Euclides, que não lhe deixou de reconhecer a força das suas prédicas e o poder de atrair e arregimentar fiéis, que o seguiram nas deambulações por terras sertanejas até se fixar no assentamento de Canudos.
O jovem Antônio Vicente Mendes Maciel (mais tarde Antônio Conselheiro) teve uma educação rigorosa com o propósito de seguir a carreira eclesiástica. Antes de se dedicar à peregrinação, teve várias profissões em várias cidades ou vilarejos - desde caixeiro, escrivão de Juiz de Paz, Solicitador no Fórum. Euclides aponta nestas mudanças um “descambar para a vadiagem franca” (p. 124) que o levaram, depois de abandonado pela sua companheira, a uma “queda formidável” que o fez “fulminado de vergonha procurar o recesso dos sertões, paragens desconhecidas, onde não lhe sabiam o nome; o abrigo da absoluta obscuridade”. (p.125)
Será certo que, no início dos seus périplos erráticos, por volta de 1860, ninguém lhe soubesse o nome, mas rapidamente lhe atribuíram um, aquele com que passou à história, o de Conselheiro, por se ter tornado “em pouco tempo árbitro incondicional de todas as divergências ou brigas, conselheiro predileto em todas as decisões”. (p.126)
O conselheiro evangelizador não teve, no início, oposição da Igreja que estimulou a existência de pregadores leigos que fizessem chegar o catolicismo onde esta ainda não tinha chegado, desde que respeitassem a ordem de não celebrar missas ou sacramentos. Limitações que o pregador Conselheiro rapidamente ignorou, extravasando a sua missão, depurando a sua transformação em líder messiânico. A sua força começou a congregar grupos de mal-aventurados, como o próprio os definia, que se juntavam a ele em modo de peregrinação, fugindo desesperadamente de vidas precárias. Por onde passava, Conselheiro convocava os fiéis para construir ou reconstruir cemitérios e igrejas, algumas delas ainda hoje de pé. Deste modo, começou a desafiar os representantes da Igreja e ganhou a sua desconfiança.
A demonização de Conselheiro começou pelos relatos oficiais que se publicavam na época, ampliados de forma fantasiosa pelos principais jornais, às ordens de certos representantes da Igreja e políticos influentes. A desonestidade de algumas dessas descrições e conexões – sobre Conselheiro e, mais tarde, sobre a Guerra de Canudos - tem paralelo no que hoje conhecemos como fake news, o que, de acordo com Walnice Nogueira Galvão, era uma prática comum da imprensa, no final do séc. XIX.
Durante grande parte do séc. XX, a figura histórica de Antônio Conselheiro continuou a ser construída através da voz dos vencedores. A sua surge, de forma indireta, através do estudo e publicação dos seus manuscritos Apontamentos dos preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Christo para a salvação dos homens de 1895 e Tempestades que se levantam no Coração de Maria de 1897. Os manuscritos foram descobertos depois do fim da Guerra de Canudos e não consta que Euclides tivesse conhecimento da sua existência à época da publicação de Os Sertões.
Os documentos, que fazem hoje parte dos arquivos da Universidade Federal da Bahia, têem sido escassamente estudados. Destacam-se, contudo, os trabalhos desenvolvidos recentemente por Walnice Nogueira Galvão, Fernando da Rocha Peres17, Ataliba Nogueira18 e Pedro Lima Vasconcellos19.
Contradizendo a descrição de Euclides, mimetizada ao longo do séc. XX, alguns destes investigadores identificaram nos manuscritos características de um discurso coerente, com uma força revolucionária que pode, também esta, ter impulsionado a congregação dos seus fiéis. Estes documentos testemunham que o pregador tinha em conta as experiências vividas pelos sertanejos, e defendia uma forma de organização comunitária, que desafiava as práticas de cunho colonialista que seguiam vigentes. Para Ariano Suassuna, tratava-se de um “Pré-Socialismo que um Conselheiro profético estabelecera como centro e ponto de apoio da organização social de Canudos.”20
Contudo, ainda não existe hoje, um consenso sobre a figura de Conselheiro. A revisão histórica da sua personalidade, assim como dos seus propósitos, continua a ser discutida por estudiosos e intelectuais. Miguel Gomes referiu-se a essa disputa, na Festa Literária Internacional de Paraty (2019), na edição dedicada a Euclides da Cunha: “Ao falar com as pessoas, percebi que há quase uma divisão entre conselheiristas e euclidianos e eles não são muito amigos uns dos outros.”
Voltando aos Apontamentos, Antônio Conselheiro nada deixou registado que apontasse ambições políticas de derrotar a República que, segundo este, não atendia as demandas da população pobre e se contrapunha ao regime monárquico - divino na sua perspetiva. Conselheiro opunha-se sobretudo ao aumento dos impostos, ao casamento civil e à separação entre a Igreja e o Estado, medidas que eram por ele criticadas – abertamente - nas suas prédicas.
Euclides da Cunha também coloca em perspetiva a transição de regime como uma mudança excludente: “Vivendo quatrocentos anos no litoral vastíssimo, em que palejavam reflexos da vida civilizada, tivemos de improviso, como herança inesperada, a República. Ascendemos, de chofre, arrebatados no caudal dos ideais modernos, deixando na penumbra secular em que jazem, no âmago do país, um terço da nossa gente. (p. 157). Trata-se de uma observação surpreendente para o republicano convicto que era Euclides, antes da sua viagem a Canudos, e que evidencia como a guerra lhe golpeou fortemente a confiança no novo regime.
Uma considerável parte dos “deixados na penumbra” seguiram Antônio Conselheiro até Canudos em 1893. O assentamento cresceu de forma tão vertiginosa que deixou desabitadas algumas das povoações da região, tornando-se, em quatro anos, a segunda maior comunidade do Sertão da Bahia. Tal movimentação e popularidade começou por canalizar a atenção das elites e autoridades regionais, mas, em pouco tempo, tornou-se uma questão nacional passando a ser vista como uma ameaça à República, que era urgente destruir.
Canudos, o Belo Monte
A partir da análise dos Apontamentos de Antônio Conselheiro, Pedro Lima Vasconcellos defende que Canudos se edificou para que “encarnasse princípios e valores que viabilizassem a salvação eterna tão almejada, a atenção aos mais pobres e abandonados, o amparo à gente desvalida – (tudo) alimentado por rezas e regras.”21 O assentamento, ao qual os seus habitantes chamavam de Belo Monte, passou a ser uma espécie de terra prometida, onde uma organização mais solidária permitiria uma vida melhor, sem impostos, com terras comunitárias e uma produção repartida entre todos.
Mas para Euclides, a povoação nada tinha de Belo Monte, “sem a alvura reveladora das paredes caiadas e telhados encaliçados, a certa distância era invisível. Confundia-se com o próprio chão”. (p.143) Nesta descrição, o escritor expõe, de certa forma, a condição de invisibilidade que se impunha ao assentamento e aos seus habitantes, assim como os seus preconceitos racistas. O que viu ou não viu no lugar serviu-lhe para o associar imediatamente a uma “decrepitude da raça”. (p.142): “Jugulada pelo seu prestígio, a população tinha, engravecidas, todas as condições do estádio social inferior.” (p.145)
E quem era essa população? Segundo Euclides pessoas de “todas as idades, todos os tipos e cores”. Ao descrever as mulheres destacava que “grenhas maltratadas de crioulas retintas; cabelos corredios e duros, de caboclas; trufas escandalosas, de africanas; madeixas castanhas e louras de brancas legítimas embaralhavam-se, sem uma fita, um grampo, sem uma flor ou toucado…” e, por seu lado, os homens mostravam “idênticos contrastes, vaqueiros rudes e fortes, trocando, como heróis decaídos, a bela armadura de couro pelo uniforme reles de brim americano (…) e menos numerosos, porém mais em destaque, gandaeiros de todos os matizes, recidivos de todos os delitos.” (p.153)
Mas este lugar, tão cruamente descrito, também operou conversões em Euclides da Cunha que, conforme se aproxima da sua realidade e testemunha o massacre perpetuado pelos militares, passa a entender a dimensão mística e religiosa dos canudenses, reconhece-lhes a condição social de excluídos e descarta a ameaça política à República. Canudos deixa de ser um território especulativo e configura-se-lhe através do desígnio de Belo Monte.
A conversão de Euclides da Cunha transfigura-lhe o sertanejo
Em 1897, quando Euclides da Cunha se desloca a Canudos como correspondente de guerra para o jornal O Estado de São Paulo, era ainda um jovem engenheiro, militar formado na Escola Militar do Rio de Janeiro, com influência jacobina, seguidor dos ideais da Revolução francesa, apologista da República brasileira. Ariano Suassuna escreveu a propósito “Euclides da Cunha – deformado pela Rua do Ouvidor e pelo Palácio, que no tempo dele era o do Catete como hoje é o da Alvorada – partiu de São Paulo para o Nordeste como um cruzado da República positivista e da cidade, que então queria ser francesa como hoje quer ser caricatamente americana. Partiu para ajudar a destruir aquilo que, para ele, era ameaça, barbárie e fanatismo sertanejo – e que, na verdade, era o esboço em bruto da nossa grandeza, da nossa justiça, da nossa futura verdade singular de nação”.22
Mas na sua breve passagem pelo cenário de guerra, Euclides conheceu a força da barbárie infligida à população de Canudos por parte das tropas republicanas, numa vitória que era, como escreveu, um triunfo que repugnava, envergonhava. (p.461) Saiu de lá, por isso, com a certeza de que se tratava de um crime da nacionalidade. Na sua reflexão sobre a postura do governo frente aos acontecimentos, Euclides indica, no seu livro, que os princípios de civilização que a justificaram “eram europeus e não brasileiros”.
Ao longo do livro e da sua viagem a Canudos, o olhar do escritor transmuta-se, a visão sobre o outro, o sertanejo, é ampliada. Chama-lhe irmão/patrício e reconhece-lhe valores legítimos, em que alavanca uma abordagem embrionária do que viria a ser a identidade brasileira. “Aquela rude sociedade, incompreendida e olvidada, era o cerne vigoroso da nossa nacionalidade.” (p.79) escreveu Euclides formulando a grande herança deixada no Os Sertões, que abriu caminho, no séc.XX, para a construção de uma perspetiva mais plural sobre o Brasil, a partir das suas singularidades socioculturais.
Ao observar os sertanejos, do outro lado da trincheira, Euclides da Cunha reconhece que estes invertiam toda a psicologia da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota.” (p.454). Sem rodeios, deixou escrito que o sertanejo é, antes de tudo, “um forte”. “Trasmudam-se, em lenta metamorfose…”(p.34)
Como filmar isso hoje em dia? Miguel Gomes reconhece que este é o seu principal desafio: “Será que ele [o sertanejo] é hoje como foi descrito há cem anos? Às vezes eu acho que sim; às vezes, que não.”23 Independente das metamorfoses operadas, Miguel Gomes já anunciou que os habitantes locais serão os protagonistas de Selvajaria. “O filme não terá atores profissionais, o elenco será formado pela população de Canudos”20, o que poderá oferecer aos canudenses a possibilidade da auto-representação.
Em declarações ao BUALA, o realizador pontuou ainda a intenção de propor à população de Canudos que interpretem os participantes nos dois lados da guerra, ou seja, os sertanejos conselheiristas e as tropas do exército. Sobre a representação do conflito, já sabíamos que Miguel Gomes tem intenção de estabelecer “uma estreita colaboração com os descendentes dos que viveram a guerra”24 e que as cenas de batalhas deverão ocupar aproximadamente vinte minutos do filme, seguindo a “dimensão cómica-burlesca que o livro oferece” e que lhe interessa particularmente25.
As frentes da guerra.
Nos vários capítulos de Os Sertões dedicados à Guerra de Canudos, Euclides faz um relato detalhado dos avanços e recuos das tropas do exército e dos contra-ataques dos sertanejos. Estes últimos foram descritos num tom de realismo-fantástico, que evidencia como os conselheiristas eram intangíveis para as tropas do governo: “o jagunço começou a aparecer como um ente à parte, teratológico e monstruoso, meio homem e meio trasgo; violando as leis biológicas, no estadear resistências inconceptíveis; arrojando-se, nunca visto, intangível, sobre o adversário; deslizando, invisível, pela caatinga, como as cobras, resvalando ou tombando pelos despenhadeiros fundos, como espectro; mais leve que a espingarda que arrastava; e magro, seco, fantástico, diluindo-se em duende, pesando menos que uma criança, tendo a pele bronzeada colada sobre os ossos, áspera como a epiderme das múmias…” (p. 375)
Estas sofisticadas tácticas de guerrilha desconcertavam as tropas do governo, que ao chegarem ao Sertão nordestino se deparavam com um meio hostil e, segundo Euclides, vivenciavam uma transição violenta. “Viam-se em terra estranha. Outros hábitos. Outros quadros. Outra gente. Outra língua mesmo, articulada em gíria original de pitoresca. Invadia-os o sentimento exacto de seguirem para uma guerra externa. A separação completa dilatava a distância geográfica; criava a sensação nostálgica de longo afastamento da pátria.” (pp.396-397)
Muitos dos soldados desertaram, os que ficavam retiravam-se, aos poucos, desolados em condições penosas, feridos. No seu caminho de regresso encontravam-se, como registou Euclides, “páginas de protesto infernais escritas nas paredes das casas por onde passavam (…), nelas deixavam, a riscos de carvão, um reflexo de agruras (…) aqueles cronistas rudes, deixavam por ali, indelével, o esboço real do maior escândalo da nossa história….” (p. 402)
Na última fase da luta, depois de três expedições derrotadas, a República reage desesperada, atacada no seu brio, teme que o conflito se alastre ao resto do país e convoca tropas “de todos os pontos, do extremo norte e do extremo sul, do Rio Grande ao Amazonas…” (p. 189). “A República estava em perigo; era preciso salvar a República. Este era o grito dominante sobre o abalo geral” (p. 275) escreve Euclides quando introduz a quarta expedição militar que avança para Canudos, em finais de Junho de 1897, para pôr fim a um cerco que já durava (salvo em breves períodos de alto fogo) desde Novembro de 1896.
Durante esses meses de conflito circularam nos principais jornais “versões disparatadas e mentiras heroicas” (p.279) assim como informação desfasada e nacionalista. Ainda que a Guerra de Canudos tenha contado, pela primeira vez, com repórteres no local e notícias atualizadas regularmente - graças à recente instalação do telégrafo - tal não garantiu que o relato fidedigno dos acontecimentos prevalecesse.
Veiculavam-se narrativas que justificavam as derrotas militares. A teoria de que os sertanejos não agiam isolados era uma frente de guerra da qual os próprios não se podiam defender. Insinuava-se que o Conselheiro seria apoiado por mandões locais que lhe forneciam recursos e que os sertanejos eram um “exército instruído, disciplinado”. (p. 279) Generalizou-se a ideia de que a guerra era a confirmação da força dos monarquistas. Com ou sem aliados, os sertanejos contavam com uma proteção orgânica, que Euclides definiu de forma muito precisa: “a natureza toda protege o sertanejo, talha-o como Anteu, indomável. É um Titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos.” (p. 187)
No ajuste de contas final, o exército ocupou-se de degolar grande número de prisioneiros a quem “impunham invariavelmente à vítima uma viva à república, que era poucas vezes satisfeito. Era o prólogo de uma invariável cena cruel.” (p. 430) Uma das fotos históricas de Flávio de Barros, autor das únicas imagens conhecidas da guerra, testemunha o estado dos prisioneiros que sobreviveram. Eram segundo Euclides “Trezentas mulheres e crianças e meia dúzia de velhos imprestáveis” (p. 461) que por fim abandonavam o arraial que chegara a reunir 25 mil habitantes.
Antônio Conselheiro, que tinha morrido a 22 de agosto, foi desenterrado. A sua cabeça foi cortada e levada para a Bahia, para que se pudesse estudar, na expectativa que a ciência respondesse a questões insondáveis. No dia 10 de setembro, o exército incendeia Canudos. A República estava consolidada, o assentamento dizimado.
No final do seu livro vingador, Euclides reconhece a “fragilidade da palavra humana” para descrever os detalhes da violência vivida e questiona: “a quem devemos preciosos esclarecimentos sob esta fase obscura da nossa história?” (p. 456) “Canudos tinha muito apropriadamente, em roda, uma cercadura de montanhas. Era um parêntesis, era um hiato. Era um vácuo. Não existia. Transposto aquele cordão de serras, ninguém mais pecava”. (p. 435) “Ademais, não havia temer-se o juízo tremendo do futuro. A História não iria até ali”. “E lá não chegaria, certo, a correção dos poderes constituídos.” (p.434)
Sobre as ruínas de Belo Monte reergueu-se, a partir de 1909, uma nova Canudos que atraiu alguns sobreviventes da guerra, mas, sessenta anos depois, a cidade foi submersa pela barragem de Cocorobó, mandada construir, nos anos 40, pelo presidente Getúlio Vargas. Os vestígios dos factos históricos ficaram cobertos de água, evitando assim que se tornasse num destino de peregrinação. Nas proximidades, a 20 km, edificou-se a terceira Canudos que existe desde 1985. Miguel Gomes planeia construir em 2023, com os habitantes da região, uma quarta Canudos, aquela que será cenário de Selvajaria.
Bibliografia:
CARVALHO, Ruy Duarte; Desmedida, Crónicas do Brasil (na capa) / Desmedida, Luanda – São Paulo – São Francisco e volta. Edições Cotovia, Lda. Fevereiro 2008, Lisboa. Primeira edição em 2006
CUNHA, Euclides; Os Sertões. Coleção Livros do Brasil. Abril 2000. Lisboa. Primeira edição em 1902
ROSA, João Guimarães; Grande Sertão: Veredas. Nova Fronteira, Julho 2010, Rio de Janeiro. Primeira edição em 1956.
SILVA, Humberto Pereira da; Glauber Rocha: Cinema, Estética e Revolução. Paco Editorial. Jundiaí, 2016
Nota: Todas as declarações de Miguel Gomes incluídas no texto, anteriores a 2021, foram recentemente confirmadas ao BUALA pelo realizador, assegurando que as intenções mencionadas seguem vigentes. Os fotogramas que acompanham o texto foram gravados em Super8 durante as visitas de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro a Canudos. Fazem parte do vídeo de apresentação do projeto do filme “Selvajaria” ao Festival de Locarno, em 2020.
- 1. Realizador, entre outros filmes, de Aquele querido mês de agosto (2008), Tabu (2012) e As mil e uma noites (2015). Em 2021, lançou Diários de Otsoga co-realizado com Maureen Fazendeiro. A rodagem da adaptação de Os Sertões foi adiada devido à pandemia Covid-19. O orçamento do filme estava estimado, em 2019, num valor que rondava os cinco milhões de euros. O filme será financiado principalmente por instituições públicas e privadas europeias. Selvajaria recebeu o prémio Campari Award, no Festival de Locarno de 2020, atribuído no âmbito do programa The Films After Tomorrow, que se destinava a apoiar as produções que foram suspensas pela pandemia, contribuído assim para a sua finalização. Em 2020, recebeu também o apoio do fundo cultural da Cineuropa, Eurimagens. A produção será de O Som e a Fúria em co-produção com a RT Features (Brasil), e outras produtoras de França, Alemanha e México. O filme será rodado em 35 mm e a cores.
- 2. Euclides da Cunha, escritor e jornalista, natural do Rio de Janeiro, viveu entre 1866 e 1909. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu tornar-se primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências físicas e naturais. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 1903.
- 3. No texto Os Sertões para estrangeiros - extraído do livro Gatos de outro saco, de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo, Brasiliense, 1981. W.N. Galvão é professora emérita da USP. Entre os seus mais de quarenta livros publicados, doze tratam da obra do autor.
- 4. Declarações de Miguel Gomes publicadas no artigo “Sertões à portuguesa”, de Gian Amato na revista Piauí, julho 2019.
- 5. Declarações de Miguel Gomes publicadas no artigo “Os Sertões pelo olhar de Miguel Gomes”. IstoÉ/Estadão, maio 2019.
- 6. Texto de Miguel Gomes publicado pela Folha de São Paulo, a 7 julho 2019.
- 7. Texto de Miguel Gomes publicado pela Folha de São Paulo, a 7 julho 2019.
- 8. Texto de Miguel Gomes publicado pela Folha de São Paulo, a julho 2019. *Nota: a data de 2019 refere-se à data da escrita do texto e não à da rodagem do filme, que foi adiada devido à pandemia Covid-19. A nova data para o início da rodagem é apontada para 2023/2024.
- 9. “Brasil, a crónica dos vencidos” de Isabel Lucas (jornalista e crítica literária) foi a primeira de 12 reportagens publicadas no Jornal Público/Ípsilon entre 2019 e 2020, e que foram reunidas recentemente no livro Viagem ao país do futuro. Companhia das Letras, setembro de 2021.
- 10. Os Sertões do cinema - Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho 2011. Sheila Schvarzman é professora do Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi.
- 11. Os Sertões do cinema - Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho 2011. Sheila Schvarzman é professora do Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi.
- 12. A 3 de Setembro de 1759 foi promulgada a “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus” de Portugal e dos territórios colonizados. Aconteceu durante o reinado de D. José I, sob a orientação do seu Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino, o futuro Marquês de Pombal.
- 13. A Independência do Brasil data de 1822 e a abolição da escravatura, no país, aconteceu em 1888, através do decreto conhecido como Lei Áurea.
- 14. Declarações de Miguel Gomes publicadas no artigo Sertões à portuguesa de Gian Amato na revista Piauí, julho 2019.
- 15. Os acontecimentos na Serra do Rodeador, Província de Pernambuco foi a primeira manifestação sebastiânica coletiva do Brasil colonial. Sobre ela escreveu o historiador Flávio Cabral, no seu livro Paraíso Terreal: A rebelião sebastianista na Serra do Rodeador, Pernambuco – 1820. O movimento da Pedra Bonita encontra-se representado nos livros: Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta, romance de Ariano Suassuna publicado em 1971; O Reino Encantado de Araripe Júnior, escrito em 1878; Pedra Bonita, e ainda Cangaceiros de José Lins do Rego, escritos em 1938 e 1953, respetivamente.
- 16. Agostinho da Silva (1906-1994) foi um filósofo, poeta e ensaísta. Viveu parte da sua vida no Brasil.
- 17. Fernando Peres, Professor emérito da Universidade Federal da Bahia. Em 2002, este investigador apresentou O Breviário de Antônio Conselheiro, através do qual se conhece parcialmente o conteúdo do seu manuscrito.
- 18. Ataliba Nogueira (1901 -1983) foi um jurista, político e professor formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. A partir da análise do manuscrito, Ataliba Nogueira publicou Antônio Conselheiro e Canudos. Companhia Editora Nacional. Coleção Brasiliana. São Paulo. 1974.
- 19. Pedro Lima Vasconcellos com mestrado em Ciências da Religião é professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Coordenou a publicação dos Apontamentos no livro Antônio Conselheiro por ele mesmo, em 2018.
- 20. Ariano Suassuna (1927-2014) natural de João Pessoa, Paraíba, foi dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta. Grande parte do seu discurso, na posse na Academia Brasileira de Letras, a 9 de agosto de 1990, é dedicado a Euclides da Cunha e ao Os Sertões.
- 21. Pedro Lima Vasconcellos com mestrado em Ciências da Religião é professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Coordenou a publicação dos Apontamentos no livro Antônio Conselheiro por ele mesmo, em 2018.
- 22. Ariano Suassuna (1927-2014) natural de João Pessoa, Paraíba, foi dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta. Grande parte do seu discurso, na posse na Academia Brasileira de Letras, a 9 de agosto de 1990, é dedicado a Euclides da Cunha e a’Os Sertões.
- 23. No texto “Os Sertões para estrangeiros” - extraído do livro Gatos de outro saco, de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo, Brasiliense, 1981. W.N. Galvão é professora emérita da USP. Entre os seus mais de quarenta livros publicados, doze tratam da obra do autor.
- 24. Segundo escreve Daniela Persico, do comité de seleção do prémio The Films After Tomorrow do 74ºFestival de Locarno
- 25. Declarações de Miguel Gomes publicadas no artigo “Sertões à portuguesa”, de Gian Amato na revista Piauí, julho 2019.