Temos de Falar, à conversa com Gisela Casimiro (7)

Temos de Falar, à conversa com Gisela Casimiro (7) Maria Giulia Pinheiro é escritora, poeta, performer e pesquisadora feminista. Irmà Estopiña é poeta e arte-terapeuta/psicoterapeuta. Juntas organizam há alguns anos a "Ginginha Poética", um exercício de poesia comunitária e celebratória que emprestam ao Temos de Falar.

Palcos

09.08.2022 | por vários

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima.

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima. São Tomé e Príncipe, diz Conceição Lima, vive numa tensão entre a impaciência e a paciência. Por um lado, há uma forte insatisfação com o estado de coisas: “temos uma curta esperança de vida e queremos assistir a mudança!” Por outro, quarenta e sete anos é “um lapso de história muito curto, quase insignificante no grande plano.” A solução passa por um equilíbrio entre os dois: “é preciso cultivar a paciência para remendar e semear, mas nunca permitindo que se esvaia a tão importante impaciência.” Parece que estamos perante uma identidade formada a partir e contra um trauma histórico, que teima em resistir, contra todas as probabilidades. A poetisa responde com um poema: Um pássaro ferido./ Um pássaro ainda ferido / e teimoso.

Cara a cara

12.07.2022 | por João Moreira da Silva

A Caixa

A Caixa A poesia, a performance e a música conversam sobre segredos clandestinos, verdades proféticas e viagens ancestrais, e tentam responder à pergunta: O que fazer depois da redescoberta de nós próprios(as)? A Caixa é sobre a libertação anterior e interior à revolução, a libertação da mente dos paradigmas coloniais encaixotados, é sobre pensar fora da caixa mesmo estando dentro dela, e sobre reconhecer as várias caixas destruídas ao longo da história.

Mukanda

09.07.2022 | por Ilha dos Poetas Vivos

Danço-Congo na IX Bienal de São Tomé e Princípe

Danço-Congo na IX Bienal de São Tomé e Princípe Com o seu caráter original e “foco nos movimentos e falas, nas piadas de bobos, no ritmo dos tambores”, no Danço Congo “a história como um todo, assim contada pelas pessoas mais idosas, diluiu-se e deixou de ter importância.” Todos os participantes vestem-se a rigor, com destaque para os “capacetes feitos de banças de palmeira decoradas com coloridos pedacinhos de plástico.”

Palcos

30.06.2022 | por João Moreira da Silva

"Não há realmente diferença entre poesia e vida", entrevista a Patrícia Lino

"Não há realmente diferença entre poesia e vida", entrevista a Patrícia Lino Se deste lado do mundo, o assunto é debatido há já algum tempo e institucionalmente desde os anos 80, o interesse pelo tema começa, decisivamente, a chegar ao lado de lá. O Kit de Sobrevivência materializa, com recurso ao exercício paródico e interdisciplinar, esse movimento. Uma mulher portuguesa escreve tão cínica quanto criticamente sobre o grande passado português cujos paradoxos e ilusões decorativas, e penso nas audiências que conheci ao longo de 2021 e 2022, são familiares para as leitoras e os leitores de muitas outras línguas e culturas. Afinal, assim como não há mistério algum no riso, não há mistério algum na violência. As suas dinâmicas desdobram-se em vários idiomas e lugares do mapa.

Cara a cara

17.06.2022 | por Alícia Gaspar

O jardim selvagem de Laura do Céu (ou de Soraia Simões de Andrade)

O jardim selvagem de Laura do Céu (ou de Soraia Simões de Andrade) Hoje, de um modo geral, falta à nossa poesia o fundamental: o diálogo com a vida e com o desconhecido. Nesse género de livros, ditos meta-poéticos, o autor aparece somente como máquina de citações e especialista em pastiches literários. Este livro é diferente. Os poemas de Laura do Céu, em Em/Sem Terra, estão repletos de pessoas e de estarrecimentos vários ante as coisas comezinhas e menos comezinhas da vida. É um livro para os que, como a autora escreve em “Poetagem”: “Amam Gina Lollobrigida e destroem Deleuze”.

A ler

19.04.2022 | por Luís Carlos S. Branco

Memórias Aparições Arritmias, de Yara Nakahanda Monteiro (Companhia das Letras, 2021)

Memórias Aparições Arritmias, de Yara Nakahanda Monteiro (Companhia das Letras, 2021) É difícil ler 'Memórias Aparições Arritmias' sem pensar nos estudos da memória. A memória é uma presença constante neste livro de Yara Nakahanda Monteiro. As suas memórias e as memórias da sua família que lhe foram chegando, ao longo da vida. A poeta faz uso daquilo a que Jan e Aleida Assmann chamaram de “memória comunicativa” (kommunikatives Gedächtnis), que se constitui na interação informal do quotidiano: pelas histórias, imagens e emoções que se transmitem nas famílias e entre pessoas com contacto direto e que abarca as vivências das três a quatro gerações vivas. Essa familiaridade e esse mundo pessoal, que é tanto afetivo como doloroso, pautam grande parte das memórias que pululam de poema em poema, recordando muitas vezes um tempo e um espaço a que a poeta, ou os seus eus líricos, só de forma indireta poderiam ter acesso.

A ler

30.01.2022 | por Luciana Moreira e Doris Wieser

No centenário do nascimento de Francisco José Tenreiro (1921-1963): mediações e perspetivas

No centenário do nascimento de Francisco José Tenreiro (1921-1963): mediações e perspetivas Através desse cliché usado (ironicamente) por Pessoa, FJT levantava uma outra questão para a qual ainda não temos grandes respostas: como é possível que “África” seja uma presença tão negativa, ou aparentemente indelével, na obra do nosso maior modernista? Ou, não estaremos perante um problema da crítica literária oficial, que durante anos procedeu a um “branqueamento” da obra de Almada Negreiros? Que essa miopia ou parcialidade crítica existiu prova-o o estimulante ensaio de Pedro Serra, “Usos do 'Primitivo' Africano na cena de Orpheu. Uma incorporação de Fernando Pessoa”, cujo título ilustra uma abordagem quase inédita da obra pessoana. Movendo-nos noutras direções, e inspirado por este ensaio, talvez seja possível proceder a outras revisitações quer da obra de Pessoa quer da de outros poetas maiores da literatura portuguesa no sentido de aí rastrear a presença africana e estudar o seu papel (poético-linguístico, por ex.) no contexto das respetivas obras. Ainda não se estudou em profundidade a influência de “África” (Guiné e Cabo Verde) e de outros lugares multiculturais e poliglotas (como Londres) na obra de Maria Velho da Costa. Como ainda não se estudou suficientemente a “coisa africana” na obra de Herberto Helder, a “frase ocre africana”.

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26.01.2022 | por Maria de Lurdes Sampaio

Temos de Falar 5, à conversa com Gisela Casimiro

Temos de Falar 5, à conversa com Gisela Casimiro Gisela Casimiro conversa com Odete e Rafaela Jacinto: performers do teatro e do cinema, poetas, artistas premiadas e activistas pelos direitos LGBTQIA+, trans e queer, amigas e companheiras de palco, de lutas.

Palcos

14.12.2021 | por vários

Murmúrio e momentos de um Poeta-a-Dias

Murmúrio e momentos de um Poeta-a-Dias Dos cinquenta e cinco poemas que fazem o livro, onze estão escritos originalmente em kriol (língua guinense), aparecendo ao lado das suas traduções em português, que em nada diminuem os seus efeitos líricos, sendo que, no fim, ainda há um glossário para as expressões não traduzidas ao pé dos textos. Entre estes poemas, destaca-se Fos ku Pitrol (p. 110), “I e ski kontrada di fula ku mandinga”, numa alusão à guerra de Turban (Kansala), entre fulas e mandingas, um acontecimento ainda hoje vivo nas relações entre as duas etnias, permitindo sentir, por exemplo, o sabor local de que também são feitos estes momentos murmurados pelo poeta, que a nós nos coube apenas escutar os sussurros deixados escapar entrelinhas.

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03.12.2021 | por Sumaila Jaló

Temos de Falar 4, à conversa com Gisela Casimiro

Temos de Falar 4, à conversa com Gisela Casimiro O 4º episódio de "Temos de Falar" contou com a presença de André Tecedeiro, artista plástico e poeta e Laura Falésia, académica das áreas de estética, filosofia e gestão.

Palcos

29.11.2021 | por vários

A poesia desencaixada de Arménio Vieira

A poesia desencaixada de Arménio Vieira Portentoso cartapaço de 416 páginas, Safras de um triste Outono é um livro de esconjuro e de catarse, arquitectado sobre uma vasta panóplia de motivos, ritmos, imagens e recorrências estilísticas, num jogo polifónico de meditação inquiridora sobre a finitude e a morte, ou os desvairados processos da própria criação poética, mas também de celebração da Vida e suas contingências em permanente estado de Humor rejubilante e libertário, nos seus múltiplos cambiantes. Socorrendo-se A.V. da fábula, da parábola, do poema dramático, do epicédio, da sátira e do poema lírico, onírico ou fescenino, num rigoroso equilíbrio harmónico − posto que, como assevera o próprio poeta, «entre o veneno e o remédio / a dose faz toda a diferença» −, é de sublinhar e saudar o facto nada despiciendo de se não encontrar um poema bambo, excrescente, excessivo ou a embotar este longo e monumental poema fragmentário, verdadeira epopeia do Riso inteligente e transgressor.

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01.10.2021 | por Zetho Cunha Gonçalves

“As solas dos meus pés não saíram nunca das quedas do rio Cutato” Entrevista a Zetho Cunha Gonçalves

“As solas dos meus pés não saíram nunca das quedas do rio Cutato” Entrevista a Zetho Cunha Gonçalves Criar uma voz pessoal é um trabalho duma vida inteira e nunca estamos satisfeitos. Qual é o meu melhor livro? O meu melhor livro é aquele que eu ainda não escrevi e que apenas existe na minha cabeça. Tenho alguns poemas para um próximo livro, escrevi dois pequenos livros, cada um tem dez poemas. Um, durante a pandemia, que é A respiração suspensa, e um outro, Exorcismos para ler em voz alta. Em alguns desses poemas entram o quimbundo, o nganguela e umbundo. Toda poesia, toda manifestação de arte, é um acrescento de beleza à beleza que o mundo não tem. Não é o real quotidiano que deve fazer a poesia, mas, ao contrário, a poesia é que deve, em absoluto, criar o real quotidiano.

Cara a cara

07.09.2021 | por Doris Wieser, Zetho Cunha Gonçalves e Paulo Geovane e Silva

Sarah Maldoror, a poesia da imagem resistente

Sarah Maldoror, a poesia da imagem resistente Esta é uma retrospetiva praticamente integral da obra de Sarah Maldoror (1929-2020), realizadora conhecida sobretudo pela dimensão mais militante do seu cinema associada às lutas contra o colonialismo, e autora de uma obra multifacetada determinante para a afirmação de uma cultura negra, que, permanecendo em grande parte invisível, assume particular relevância no contexto português pela sua ligação ao nosso passado colonial.

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18.08.2021 | por Joana Ascensão

Regina Guimarães: uma poética do devir

Regina Guimarães: uma poética do devir A descoberta não aconteceu de facto, pelo menos no sentido de um reconhecimento capaz de activar os mecanismos da crítica, esse discurso de mediação entre os autores e os leitores, discurso de apresentação e de revelação (mesmo quando veicula juízos negativos), e discurso último da legitimação e do reconhecimento. Talvez a popularidade que a banda rapidamente alcançou tenha afinal contribuído para a diluição da imagem da poetisa na imagem da letrista, com todos os preconceitos que esta imagem ainda carrega: a ideia de ligeireza, de facilidade, etc. Assim, a poesia de Regina continua a ser até ao presente uma poesia de minorias. Jogo, com alguma ironia, com as palavras de um título que fui buscar a um jornal de há alguns anos, numa pesquisa frustrada sobre a obra poética da autora

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13.07.2021 | por Maria de Lurdes Sampaio

"Só quero saber do que pode dar certo"

"Só quero saber do que pode dar certo" Sozinha, bebendo uma bica, penso nas estradas que me levaram ao sol, antes de estar tudo tão ocupado com a carreira, os filhos, e os editais. Sempre derivei para o sol, sem conseguir bem explicar. Estou tão cansada. Porque não me organizei a tempo de usufruir de um certo status? No entanto, vejo que está toda a gente farta dos maus vinhos, de comer o doce depois do salgado, e de esperar eternamente pelos arroubos de Verão. Quando foi que a magia se perdeu?

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03.07.2021 | por Rita Brás

Sankofa: “Acredito que a poesia falada pode curar"

Sankofa: “Acredito que a poesia falada pode curar" Sem desprimor para quem pensa o contrário, eu considero essa discussão importantíssima em Angola. Isso porque a maioria das pessoas desta terra que é Angola, ainda se vê presa pela matriz colonial e pela razão imperial. Na construção dos meus textos eu tento passar a ideia de que precisamos de virar os conteúdos de cabeça para baixo. É necessário rever o que se pensa sobre o saber, como se pensa a história ou as estórias e recuperar os modelos de conhecimento, de produção do saber, de transmissão de experiências de uma geração para outra e incluir outras vozes para escrever outras histórias. Só assim vamos deixar de perpetuar o modelo imposto pelo Estado colonial e o sujeito branco burguês.

Cara a cara

16.04.2021 | por André Soares

A poesia vanguardista de Paulo Leminski, um dos poetas mais importantes do Brasil

A poesia vanguardista de Paulo Leminski, um dos poetas mais importantes do Brasil Em 55 anos de vida, Paulo Leminski deixou um legado único e sui generis, que o posicionou como um dos poetas mais vanguardistas do Brasil, enquanto os cânones ainda eram muito respeitados. De poeta a tradutor, crítico literário e professor, a sua predileção pela cultura japonesa levou-o a ser um judoka e a apaixonar-se pelos haikais (a poesia curta japonesa composta somente por uma estrofe de três versos — o primeiro e o terceiro com cinco sílabas métricas e o segundo com sete —, que resulta da junção de “hai” — brincadeira — com “kai” — harmonia ou realização).

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16.03.2021 | por Lucas Brandão

A hora poética

A hora poética A construção de cidade exige a confluência em fogueiras que agregam os adversários dispostos a conversar e a uma experiência do tempo sem tempo em que eu procuro acompanhar as razões do que se me afigura como estranho, inflexível ou irracional. As cidades fazem-se de paciência e de acumulação no transcorrer indiferente dos séculos. É nas dinâmicas tensionais da coabitação e no labor anónimo do quotidiano, no quase-nada em que se negociam ganhos e perdas, reputações e amizade, dívidas e gratidão para o resto da vida, a distração prosaica que engendra a saúde de uma cidade que nunca é a mesma. Onde a fúria, os gestos de rutura, o embate frontal e as clivagens têm lugar nobre e merecem atenção.

Mukanda

04.03.2021 | por João Sousa Cardoso

O sal da História na memória da pele

O sal da História na memória da pele Não existe a Praia - Venho como um náufrago trago o sal da História na memória da pele, e espinhas nas pontas dos dedos, o mar não se repete, perscruto-o desde o útero, e escuto-o como o pulsar de um coração alteroso, germinado sob o pulmão de um céu forte, é nessa cintura do horizonte que fixei o tracejado do meu olhar sobre o Mundo, o Azul não é uma cor, é um filtro óptico para a absorção da atmosfera, e da poeira bacteriana nutriente dos ventos do Destino.

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19.01.2021 | por Brassalano Graça