Num plano sobretudo interno à sociedade caboverdiana das ilhas, a componente culturalista afro-crioula, porque vivenciada por caboverdianos de diferentes origens raciais e sociais, e subsistente como parte irrenunciável da caboverdianidade, como componente essencial da identidade crioula, no arquipélago e na diáspora.
A ler
28.03.2013 | por José Luís Hopffer Almada
Há muito tempo que versos e petiscos se cozinhavam na minha mente, em lume brando, como convém a uma receita que se quer apurada, insinuando no meu espírito aromas irresistíveis de cozinha de infância.
Nasci numa família em que a gastronomia foi sempre – ao longo de gerações – um culto e um prazer, com honras de biblioteca e pesando, até, na escolha de itinerários de viagem. E o que pode haver de mais poético do que as memórias de um tempo em que tudo era assim, brando e promissor, sem pressas nem atropelos, apesar da sede imensa de uma vida inteira pela frente, por beber ainda?
Enquanto tudo se espera, tudo pode acontecer…
Mukanda
15.05.2012 | por Ana Vidal
Os que se viram implicados nas lutas pelas independências, mesmo os que não se integraram aos movimentos de luta armada, têm que lidar com as relações entre literatura e política, inevitavelmente, como também com uma idéia de nação, que podem querer formar ou questionar. Nesse sentido, a relação com as sociedades tradicionais e suas produções culturais se torna decisiva. As gerações que se viram, como no caso de Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, assoladas por guerras civis se vêem demandadas a lidar com seus escombros. Bem, posso dizer que, pelo que tenho lido, a denúncia da desigualdade social e da corrupção dos governos tem se tornado muito presente nessas literaturas africanas, desde os finais dos anos 1980.
A ler
09.02.2012 | por Cláudio Fortuna
Globalmente, Eneida Nelly colocava uma forte expressão sentimental na sua poética, tanto quanto à memória colectiva e à natureza ainda que agreste, como quanto ao tema do amor
A ler
26.01.2012 | por Eurídice Monteiro
à espera de outros fazendo coro e “cantando mais alto por detrás do lamento” celebrando a vida, pausadamente, lucidamente, convocando as mulheres e os homens de boa vontade, cabeça limpa e bom coração para outro modelo, nesta existência trôpega, agressiva, cada vez mais sem razões que lhe dêem um sentido; à espera que exemplos como o teu frutifiquem e que as gerações seguintes saibam que, mesmo num tempo cinzento, às vezes bafiento e triste, houve gente a cantar, a encantar, a trabalhar, a amar, a viver, plena e inteiramente
Palcos
20.12.2011 | por Carlos Ferreira (Cassé)
E será com esta nova gente que nos alinhamos na nova África, na renascença de uma Africanidade diferente, outra e emancipada, que não tem pejos, nem esteios de colonizados, nem complexos encravados de identidade; será com esta gente de liberto pensamento e de discurso livre, enquanto África múlplica e plural, ao tempo que assume suas especificidades, que nos assumimos, transculturais e mestiços, prontos para a intermediação do diálogo entre todos os mundos, inclusive com aquele que também nos é de pertença, que é o da Cultura de matriz Ocidental, pela sua vertente também da lusofonia,
A ler
02.10.2011 | por Filinto Elísio
Deixemo-nos de rodeios: K3, de Nuno Dempster, é um dos melhores livros de poesia publicados em Portugal nos últimos anos e a mais espantosa aproximação ao horror da Guerra Colonial desde Catalabanza, Quilolo e Volta, de Fernando Assis Pacheco (1976). Poema longo e de fôlego épico, K3 narra a experiência militar do autor na Guiné e procura arrancar às trevas do esquecimento os «anti-heróis» que combateram a seu lado, esses representantes involuntários das «gerações vencidas a quem coube / fechar impérios», homens usados como carne para canhão por um regime caduco.
A ler
29.06.2011 | por José Mário Silva
Não existe, no nosso caso, um documento comparável ao Manifesto de Légitime Défense, que propunha uma “ideologia de revolta” e formulava uma orientação precisa para os escritores negros de expressão francesa; o facto literário surgiu, porém, com ardor e talento, muito antes dos anos trinta deste século, ficando bloqueado, pelo condicionalismo colonial, no interior das fronteiras dos países de eclosão.
Mukanda
21.06.2011 | por Mário Pinto de Andrade
A angústia apodera-se do sujeito lírico, somente a poesia pode recompor o que o homem perdeu após tantos caminhos equivocados, decisões injustas refletidas no uso incorreto do verbo: “Apunhalaram a palavra. Feridas crónicas no reverso do verso. O sangue tem a cor da minha voz, no avesso do silêncio. Permite-me abrir a passagem do limite.// Repara. A palavra é uma fronteira. É uma meta fora. A poesia é a água sem a metáfora da mágoa”
A ler
21.06.2011 | por Ricardo Riso
João Vário (João Manuel Varela, 1937-2007), poeta caboverdiano. Em toda a poesia deste autor encontramos o mesmo imenso obstáculo à decifração – perseverança na opacidade, que se gera pela reflexão que hesita e pela atenção ao que vem, o nascer do mundo, na sua irreconhecível e demasiado próxima escrita. Estamos perante uma afirmação da poesia como enigma desencadeador de enigmas, isto é, como pensamento inspirador de pensamento.
A ler
31.03.2011 | por Silvina Rodrigues Lopes
Reconstruir o país pelos livros, pela cultura...
Claro. Cada um tentando contribuir como pode. Está muita coisa a ser feita, mas é preciso também, além das estradas e pontes, trabalhar com a cultura, com os livros, com os hábitos de leitura.
E falta muito?
Falta sempre muito, num país em reconstrução. Trata-se de uma tarefa gigantesca, que passará pelos esforços da população e do governo também. É preciso retrabalhar as ideias, os ideais, os valores. Retrabalhar constantemente a democracia, habituarmo-nos a expressar a nossa opinião e que os nossos dirigentes nos possam escutar, e não simplesmente fingir que escutam.
Cara a cara
27.03.2011 | por Paulinho Assunção
E de repente o ar se esboroa
A sombra de seu cheiro vibra a meus pés
Minha terra é apenas uma ilha de areia perdida
E minha pele um alvo escuro
Um tecido rígido de lamentos
Quem imaginaria uma mãe capaz de algo diferente do amor
Mukanda
16.03.2011 | por Céléstin Monga
O LUGAR DO MORTO
Neste espaço escritores já desencarnados reflectem, a partir do além, sobre os dias que correm.
"O Pensamento nunca é totalitário. O pensamento é sempre revolucionário. A estupidez, sim – a estupidez é fascista."
Mukanda
15.03.2011 | por José Eduardo Agualusa
Ben tem a medida intransferível de um modo de cantar que não abole o acaso nem o erro. Seu canto e sua música se projetam sobre uma ludicidade harmônico-discursiva menos nonsense do que jongueira. Sua alegria contagiante, o poder de sua simpatia está em ser um compositor que tematiza — sem dor e sem o menor detrimento de sua competência como inventor — a possibilidade de fazer música para aprender a fazer música.
Palcos
14.02.2011 | por Ronald Augusto
É inegável que existe em Lisboa uma aproximação natural dos falantes da língua portuguesa, que não portugueses, mesmo quando não partilham a mesma raça e cultura. As diferenças nacionais diluem-se em virtude da discriminação a que todos estão submetidos. E faz todo o sentido pensar nesta diluição como necessidade de resistência à discriminação, no sentido em que a metrópole torna homogéneos todos os ex-colonizados, arrumando-os nas categorias de “pretos”, “negros”, “imigrantes”.
A ler
21.01.2011 | por António Tomás
Não sei como posso partir de ti sabendo eu que te amo tanto e que viverei atormentado por estas visões o resto da vida que sobra em mim para vivê-las e como hei-de dormir, e como hei-de ler e escrever, e como seguramente poderei cheirar uma flôr, colher algum odor do teu rio, se eu morro a cada instante que o tempo me chega, diminuto, pouquíssimo, intransigente, se eu choro com essa criança por uma boca que já não me serve para dizer outra coisa se não o teu nome e se tenho um homem que se mata e se anicotina em nome do que és e se, finalmente, Lisboa, para mim, deixar-te é incontornavelmente deixar de me exercer.
Cidade
15.01.2011 | por Eduardo White
Desde Philadelpho Menezes e das suas experiências poético-sonoras a solo ou em conjunto com Wilton Azevedo, mais voltadas para a componente tecnológica da palavra, e do soberbo “Nome” de Arnaldo Antunes, que não ouvia uma obra de poesia sonora de um autor brasileiro que me soasse de um modo inovador e entusiasmante como esta obra de Wilmar Silva.
A ler
25.12.2010 | por Fernando Aguiar
Recaredo Silabo Boturu nasceu em 1979, na Guiné Equatorial, mais propriamente na ilha de Bioko, antiga Fernando Pó, onde continua a viver. Luz en la noche, como o próprio título anuncia, parece uma combinação de paradoxos, sem o ser. É, antes de mais, definível através de duas palavras: desencanto e esperança, sendo que esta última marca a sua presença no derradeiro poema, que dá nome ao livro, de forma indelével.
A ler
16.12.2010 | por Cátia Miriam Costa
Como se situa "Portuguesia contraantologia" (Minas entre os povos da mesma língua...), obra organizada pelo poeta Wilmar Silva, relativamente aos tópicos do “bom gosto” e de uma, por assim dizer, particular “orientação curatorial”? Nesse verdadeiro corso antropoético de 500 páginas, que abriga 101 poetas, Wilmar põe em questão o sentido estrito de tais categorias. A qualidade literária, a bem de verdade, não está descartada, mas apenas ficou em segundo plano, porquanto um dos traços de Portuguesia é a justaposição em nível de igualdade de toda uma rosácea de vozes que se correspondem desde o lugar transcultural de uma poesia multifária de matriz lusófona.
A ler
26.11.2010 | por Ronald Augusto
Nasci na Huíla, no meio de uma sociedade colonial injusta. Os pastores estavam ali. À sociedade Nyaneka eu devo a poesia, a música, o sentido do cheiro, a orientação a sul. O contacto era-nos (a quem estava em processo de assimilação) interdito. E, também por isso, o desejo era mais forte. Conhecer, saber quem eram e quem éramos deu um sentido à vida. A escrita, em português, ficou para sempre ligada ao paradigma da oralidade, da chama do lugar, do acompanhamento dos ciclos, do respeito pela diferença, do horror à injustiça.
Cara a cara
07.11.2010 | por Pedro Cardoso