A etnia kuvale para além de observada e estudada do ponto de vista antropo-sociológico constituiu e constitui um elemento importante na construção da memória e identidade angolanas, sendo transversal ao período colonial e pós-colonial. Através de três olhares antropo-literários, de Augusto Bastos, Pepetela e Ruy Duarte de Carvalho, reconstruiremos esse simbolismo e a actualidade do mesmo, percorrendo o caminho que medeia entre a recolha etnográfica (muitas vezes com base na compilação de relatos orais) e a sua exposição sob a forma da palavra escrita.
Ruy Duarte de Carvalho
23.09.2010 | por Cátia Miriam Costa
Através dos provérbios e de outras manifestações colectivas da sua cultura, abre-se a uma voz impessoal capaz de captar tanto as observações mais terra-a-terra, relacionadas com a vida de todos os dias, como os mitos fundadores da cultura local.
O seu discurso nada tem de dogmático; ele faz-nos ler as reflexões do autor sobre o seu próprio trabalho, o seu medo obsessivo de trair ou de conhecer mal este ou aquele acontecimento, este ou aquele comportamento, a alegria decorrente do sentimento de ter penetrado no que é a beleza feminina, de ter avaliado a importância das transumâncias, de ter conseguido fazer de uma zona desértica o seu momento de vida material e intelectual.
Ruy Duarte de Carvalho
23.09.2010 | por Gérard Chalendar e Pierrette Chalendar
O congresso iniciou-se com um murro na mesa. Depois das habituais formalidades inaugurais com as figuras competentes, a conferência de abertura, de Aminata Traoré, quebrou imediatamente o tom retórico das politicas ocidentais relativamente ao continente africano.
Vou lá visitar
22.09.2010 | por Francisca Bagulho
LÚCIA
O pai foi para Moçambique muito novo. Sabes? Ele foi para Moçambique com a mesma idade com que eu vim para aqui: aos seis anos. Se eu voltasse agora para Moçambique também não me ia sentir em casa.
BEATRIZ
E quantas décadas ele precisava para se adaptar aqui?
Mukanda
21.09.2010 | por Nuno Milagre
A estória começa quando Menino e Tio, fatigados de andar pelas estradas de terra batida do interior Moçambicano, correndo para uma periferia longe do ruído das minas e das bombas, encontram um machibombo, um autocarro perdido e carbonizado depois de ter sido pilhado por marginais.
Afroscreen
20.09.2010 | por Rui Manuel Vieira
Meias~irmãs é um espectáculo de simetrias: de um lado o vestido amarelo (Crista Alfaiate), a não mulata (filha da mãe portuguesa), a irmã bem comportada que ainda vive no Alentejo e toma conta do pai acamado, e do outro o vestido vermelho (Carla Galvão), a irmã mulata com pronúncia espanhola que partiu para longe em busca de uma vida melhor (porque... não é ela a bastarda?).
Palcos
20.09.2010 | por Ana Bigotte Vieira
No princípio é a vontade de desenterrar a História oficial para escovar a mitologia pátria a contra-pêlo. Da epopeia à tragédia, o programa de NON mais não é do que um virar de Os Lusíadas ao contrário. Trata-se de pesar o destino da “primeira nação da Europa”, não à luz das suas vitórias militares – e a História, como o nota Benjamin, costuma ser contada pelos vencedores –, mas a partir das batalhas perdidas.
Afroscreen
20.09.2010 | por António Preto
Desde o seu lançamento que o Festival propõe-se oferecer, aos diferentes públicos da cidade de Maputo, a dupla oportunidade de se confrontarem com parte do melhor que se faz no mundo do cinema, no seu género documentário, e poderem fazer uma pausa na vulgaridade audiovisual que lhes é oferecida o resto do ano.
Afroscreen
20.09.2010 | por Pedro Pimenta
No conjunto das disciplinas artísticas, e não só, que perseguem a representação da realidade, o documentário é, certamente, uma das que mais interrogações provoca. Tradicionalmente virado para um olhar fragmentado do mundo que nos rodeia e do devir do que acontece, o documentário actual coloca-nos problemas e desafios acrescidos quer na tentativa de enquadrá-lo dentro de uma determinada tipologia, quer na interpretação dos significados que dissemina.
Afroscreen
20.09.2010 | por Francisco Noa
Estou te dando muito trabalho, não é, minha filha? Me desculpa, disse a mãe, os olhos lacrimejando. Seus olhos sempre lacrimejaram com facilidade, mas aquele dia estavam como uma bacia, as órbitas azuis circulando como duas luas sem rumo.
A filha não se deixava lacrimejar.
Mukanda
19.09.2010 | por Christiane Tassis
António Tomás acolhia os elogios nesse momento de grande realização pessoal depois de tanta luta e sacrifício para um livro exigente como este dar à estampa. "O Fazedor de Utopias" mostrou novas facetas de um pensador e combatente africano.
Cara a cara
18.09.2010 | por Marta Lança
Amílcar Cabral, a nossa maior referência política, parecia adivinhar os efeitos que Bissau iria provocar nas convicções dos dirigentes políticos do Partido que havia liderado a luta pela independência, o PAIGC. Analisou como ninguém as falsas partidas das independências concedidas pelas potências colonizadoras europeias às suas colónias, nos anos 60. Seguiu e apercebeu-se em directo das atribulações de Sekou Turé na construção de um país que resvalou rapidamente para o autoritarismo, a repressão popular e as divisões étnicas.
Cara a cara
18.09.2010 | por Carlos Schwarz da Silva
AFRICA: SEE YOU, SEE ME! retrata a história da fotografia africana e a sua influência em imaginários não-africanos de África e nos imaginários da diáspora africana em toda a sua diversidade. Juntas, as fotografias são textos de subjectividades africanas, arquivos de história e sociedades, que na sua elaboração e métodos ajudam a compreender de que forma as imagens contribuem para a emancipação.
Vou lá visitar
17.09.2010 | por Awam Amkpa
A professora brasileira Carmen Tindó Secco entrevista o historiador moçambicano João Paulo Borges Coelho. "Actualmente, conquistamos a paz, e o valor desta é incalculável. Com ela veio um certo desenvolvimento material, mas também todos os problemas que normalmente andam associados àquilo que referimos como neo-liberalismo."
Cara a cara
17.09.2010 | por Carmen Lucia Tindó Secco
_É chegada a minha hora,
balbuciou a velha, que se encontrava havia mais de três meses no seu leito, diga-se mais morta do que viva, com forças apenas para aquelas palavras, como se as tivesse poupado para, desse modo, dar por anunciado o fim da mulher mais beata que o mundo alguma vez conhecera, estranha pronúncia foi aquela, a penúltima, uma cabala de uma morte evidente, porque a última da morte ninguém sabe, mas todos sabiam que era sem dúvida o adeus esperado da mais abnegada pessoa que a igreja e a sociedade alguma vez baptizaram naquelas ilhas abandonadas...
Mukanda
17.09.2010 | por Mário Lúcio Sousa
Celebrar o centenário de Lubumbashi leva, por isso, a lembrar meio século de expansão colonial e industrial que andou de mãos dadas com uma forte segregação cujas marcas se encontram no urbanismo (vejam-se os trabalhos de Johan Lagae) e nas convulsões sociais que surgiram imediatamente após a segunda guerra mundial. Mas os últimos cinquenta anos marcam igualmente a “nacionalização”, depois das independências, da cidade pelos congoleses.
Vou lá visitar
15.09.2010 | por association PICHA
Argumentos que são resíduos da história recente do continente ditada e escrita pelo Ocidente. Esquecem-se que a população deste continente foi pioneira na história da humanidade em conceber estruturas sociais, económicas e políticas que possam garantir o máximo em termos de sobrevivência humana no contexto de uma natureza material e humana adversa. Estruturas estas ainda prevalentes e que fizeram com que África sobrevivesse à catástrofe do tráfico atlântico de escravos e à ocupação colonial.
A ler
14.09.2010 | por Aida Gomes
Posso talvez dizer que esta viagem aumentou a nossa percepção dos aspectos incontroláveis da natureza (o vulcão islandês serviu agora de aviso aos distraídos) e desvendou-nos a existência de populações que sabem conciliar uma organização social complexa e uma apropriação simples de recursos naturais, que só pode ser resultado de seu profundo conhecimento do território.
Ruy Duarte de Carvalho
11.09.2010 | por Cristina Salvador
Para falar de África é sempre preciso, primeiro, explicar África, o que é uma pena e muito redutor. Quando queremos falar de África, tratar determinados assuntos, temos que lidar sempre com a terrível culpa de não estar a fazer justiça a nada porque estamos a falar de uma coisa que não é verdadeiramente África mas aquilo que nós conseguimos perceber de África, que é muito pouco. A única maneira de lidar com isso é sacudir essa culpa e pensar que se falarmos de sentimentos e emoções universais, as nossas hipóteses de sermos injustos são mais reduzidas...
Afroscreen
10.09.2010 | por Margarida Cardoso
Se, aparentemente, o discurso da mulher do capitão, Helena, alcunhada de Helena de Tróia pela sua beleza, parece não ser mais do que a expressão do pensamento cruelmente racista do marido, a sua submissão não é total. E é nesse jogo de aparente adesão ideológica àquela guerra que Helena vai revelando os atropelos que os militares cometem e a cumplicidade do tenente Luís, marido de Evita, nos massacres da população autóctone.
Afroscreen
10.09.2010 | por Mariana Brito