Há 50 anos, 30 de Março de 1971, os três juízes do Tribunal Plenário de Lisboa - Fernando António Morgado Florindo, Bernardino Rodrigues de Sousa e João de Sá Alves Cortês - ditavam a sentença de um processo de dez pessoas acusadas de apoio ao MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola.
A presença entre os arguidos do Presidente de Honra do MPLA, Padre Joaquim Pinto de Andrade – antigo chanceler da arquidiocese de Luanda e, à data da prisão, a frequentar a Faculdade de Direito de Lisboa – garante a curiosidade internacional e há na sala delegados da Amnistia Internacional, Associação Internacional dos Juristas Democratas, Liga Belga dos Direitos do Homem, Federação Internacional dos Direitos do Homem e Associação Internacional dos Cristãos Solidários.
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13.03.2021 | por Diana Andringa
Invisibilidade pandémica nos melhores filmes de 2018:
33 filmes sem personagens negras ou mulheres afroamericanas; 54 filmes sem personagens asiáticas ou mulheres asiáticas;
70 filmes sem personagens latinas;
89 filmes sem mulheres LGBT;
51 filmes sem mulheres multirraciais;
83 filmes sem personagens femininas com deficiência.
Corpo
13.03.2021 | por Daniel Morais
O Negro ergueu-se contra «iniquidades, opressões e tiranias», exigiu da 1ª República o fim da desigualdade racial, reivindicou uma África que fosse «propriedade social dos africanos» e não retalhada pelas nações e pessoas que a conquistaram, roubaram e escravizaram.
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09.03.2021 | por Cristina Roldão, Pedro Varela e Falas Afrikanas
Breve tentativa de pensar “o herói” a partir de uma peça de roupa, que é a t-shirt interior de alças normalmente branca formely known as “wifebeater” ou Parte #1 de uma reflexão from wifebeaterism to saviourism.
Como escrevia Derrida no seu “Archive Fever”, Let us not begin at the beginning, nor even at the archive. Porque que se tivéssemos de ir ao princípio teríamos de falar de Saussure e de Barthes, de Benjamin e de Simmel, e até vou faze-lo, mas não é para já.
Afroscreen
07.03.2021 | por Patrícia Azevedo da Silva
“O cinema colonial é sempre um confronto de dois olhares. Mesmo que um dos olhares esteja completamente subjugado, ele está lá. Há um momento em que alguém, que foi apanhado pela câmara, olhou para a câmara e, de repente, num simples olhar, transmite um mundo que, aparentemente, na retórica do filme, está completamente esquecido ou está completamente subjugado. Nenhum realizador colonialista, por mais que queira fazer propaganda, consegue fazer um plano escondendo toda a realidade”.
Palcos
07.03.2021 | por Mariana Carneiro
Espero que esta carta te encontre de boa saúde, a gozar a juventude em toda a sua plenitude, que nunca madures e que continues sempre cheio de ideais nobres de uma mudança que valha o seu nome, pois, meu caro, da forma como isto anda nesta banda, esta demanda de mudar o mundo está cada vez mais a ir para o fundo e eu acho, meu caro revolucionário que, neste caso, ao contrário do que proclamamos, o problema somos nós. Pois…
Mukanda
05.03.2021 | por Marinho de Pina
A construção de cidade exige a confluência em fogueiras que agregam os adversários dispostos a conversar e a uma experiência do tempo sem tempo em que eu procuro acompanhar as razões do que se me afigura como estranho, inflexível ou irracional. As cidades fazem-se de paciência e de acumulação no transcorrer indiferente dos séculos. É nas dinâmicas tensionais da coabitação e no labor anónimo do quotidiano, no quase-nada em que se negociam ganhos e perdas, reputações e amizade, dívidas e gratidão para o resto da vida, a distração prosaica que engendra a saúde de uma cidade que nunca é a mesma. Onde a fúria, os gestos de rutura, o embate frontal e as clivagens têm lugar nobre e merecem atenção.
Mukanda
04.03.2021 | por João Sousa Cardoso
Rituais públicos como casamentos, aniversários e funerais de reis e da família real, celebrações religiosas, procissões, embaixadas, entradas solenes, entre outros, tiveram um papel fundamental na construção do governo do império português nos séculos XVI-XVIII. Mas por vezes foram também espaços de negociações, tensões e conflitos.
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03.03.2021 | por Sara Ceia e Joana Fraga
O conceito de subalterno/subalterna desempenha uma função estratégica na argumentação de Spivak, neste e noutros textos. Trata-se de um conceito originado na reflexão de Antonio Gramsci sobre «a questão do Sul» e que, no contexto indiano, foi adoptado pelo Subaltern Studies Group, de inspiração marxista, a que Spivak esteve associada, mas do qual viria a demarcar-se. Entre outros aspectos desta demarcação, a crítica desconstrutivista à noção de sujeito desempenhou um papel fundamental: o subalterno/a subalterna definem-se, não enquanto classe, no sentido marxista convencional, mas sim pela posição não-hegemónica que ocupam no seio das relações de poder.
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01.03.2021 | por António Sousa Ribeiro e Gayatri Chakravorty Spivak
A COLÓNIA é a versão colonial portuguesa do Monopólio. Capaz de destruir as melhores amizades e ser efetivamente a origem de brigas acesas entre os participantes, a COLÓNIA continua a ser jogada por milhões de pessoas em Portugal e outros lugares.
O objetivo do jogo consiste em reconstruir o império geográfico, religioso e espiritual português e evitar a perda dos territórios. Ao contrário do Monopólio, não há perdedores.
A COLÓNIA é um jogo de vencedores.
A duração do jogo depende inteiramente do grau da dedicação dos participantes.
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28.02.2021 | por Patrícia Lino
A descolonização política já aconteceu. Falta cumprir-se a difícil descolonização de mentalidades.
Ela está em marcha há anos. É um processo, como todas as mudanças, com fases de avanços e recuos, adormecimentos e efervescências, durante muitos anos remetida para circuitos académicos, educacionais ou culturais, e agora também presente no espaço público como um todo.
Mukanda
28.02.2021 | por Vítor Belanciano
É um lugar-comum dizer-se que a produção de memória arrasta consigo, inevitável e concomitantemente, a produção de esquecimento. Há muitas formas de esquecimento, a mais insidiosa das quais é, sem dúvida, a rasura da memória, a reescrita do passado como parte de uma estratégia deliberada de intervenção no presente.
Jogos Sem Fronteiras
28.02.2021 | por António Sousa Ribeiro
“Há uma predominância de narrativas ligadas à história colonial e uma ausência de narrativas relacionadas com a escravatura. Não há qualquer menção na toponímia, nos monumentos ou em qualquer manifestação urbana no espaço público que relembre ou simbolize o passado escravocrata do Porto”, acrescenta. Ao trazer intervenientes de fora do espaço geográfico da cidade que reflectiram mais sobre o problema, a discussão de quinta-feira alarga-se obrigatoriamente aos casos de cidades como Lisboa e São Paulo e, no debate seguinte, também a Luanda.
Jogos Sem Fronteiras
27.02.2021 | por Isabel Salema
O hip hop africano, como no resto do mundo, tira referências e imita sons da cena americana. Uma vez que é o berço do estilo e onde a sua produção está centrada, é lógico que seja este o caso. E embora o rasto do hip hop americano seja demasiado longo, há artistas do estilo que tentam seguir o seu próprio caminho e adaptá-lo ao seu próprio contexto. Art Melody, um nativo do Burkina Faso, é um caso paradigmático. A sua carreira, que começou depois de uma viagem sem sucesso e truncada à Europa por terra como imigrante ilegal.
Palcos
25.02.2021 | por Javier Mantecón
A literatura do Gana nunca foi uma referência no continente. A sua pequena produção foi sempre considerada pequena quando comparada com as cenas frutíferas dos seus países vizinhos. Estar situado entre o Togo e a Costa do Marfim e demasiado perto do gigante Nigéria não ajudou ao desenvolvimento da literatura ganesa. Demasiado talento à volta e muito pouco interesse entre a sua população, que dificilmente pode aceder a livros publicados, não por falta de meios, mas devido à ausência dos mesmos. Em suma, até há cinco anos, a cena literária do Gana era pouco mais do que um terreno baldio. Mas o Gana está, finalmente, a despertar da letargia cultural que o assola desde o final dos anos 80, e a literatura não é excepção.
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25.02.2021 | por Javier Mantecón
Entendamo-nos: se quisermos olhar para os casos de Caupers e Mamadou sob a perspetiva da liberdade de expressão, teremos de concluir que são o exato contrário um do outro. A Mamadou querem retirar não só a fala como o direito de existir neste país, condenando-o à morte simbólica do degredo por desafiar a ideia de que as minorias devem contentar-se com ser toleradas e invisíveis; a Caupers querem ver reconhecida a liberdade de poder ser simultaneamente presidente do tribunal que interpreta a Constituição e defender, contra essa mesma Constituição, que a maioria tem e deve ter domínio sobre as minorias - e nem sequer ser por isso criticado ou interpelado.
Mukanda
24.02.2021 | por Fernanda Câncio
José (ou Zeca) Afonso é uma referência nacional. Entre as vozes de contestação ao regime do Estado Novo, a ditadura que já se prolongava desde 1928 em Portugal, era ele que encabeçava. Era precisamente a partir da arte, da composição lírica, da música que expressou a sua indignação em relação ao estado do país, fazendo-o de forma tão sagaz e subtil que foi fintando a austeridade da censura. Após a queda do regime, manteve-se firme e vincou as promessas de Abril, que asseverou até 1987, ano em que faleceu, vítima de esclerose lateral amiotrófica. No entanto, o seu legado perdura e é, cada vez mais, um alimento para a alma de quem não é só português, mas de quem respira e usufrui da liberdade.
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24.02.2021 | por Lucas Brandão
O passado colonial português é ainda hoje uma cortina de fumo, um quase tabu, um não assunto. Sobre o colonialismo português gravita um enredo de silêncios comprometidos, onde se aliam adesões instantâneas a versões adocicadas da história e formas de organizar publicamente uma narrativa que não convém que se discuta. E uma das formas de contornar a discussão, de omitir os problemas, de prolongar os impensados, é impor a visão única no meio da praça, no meio da rua, encorajando os transeuntes a não pensar para além do que lhes salta imediatamente ao caminho. É a velha estratégia de pôr uma pedra no assunto e organizar publicamente o esquecimento, num processo naturalmente mais grave para as suas vítimas diretas.
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23.02.2021 | por Hugo Monteiro
A realidade dos habitantes equato-guineenses é desastrosa. Atualmente grande parte da população vive em barracas de ferro e metal com dificuldades de acesso a água potável e de acesso a saneamento básico nos arredores das grandes cidades, pois viver na cidade é muito caro e pressupõe um nível de vida muito acima do salário médio nacional. Malabo rivaliza com Luanda como uma das capitais africanas mais caras do continente. Além de viverem mal, vivem oprimidas.
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23.02.2021 | por Álvaro Amado
A Pátria discutia-se a sério, pela primeira vez. Se antes o “Ultramar” parecia um tabu intransponível, tanto nas forças apoiantes do regime como mesmo nos diferentes campos ideológicos e políticos da oposição ao regime, agora a discussão sai da Assembleia Nacional e dos círculos restritos do regime para se tornar pública e inevitável.
Spínola anuncia uma “encruzilhada” do regime e do problema ultramarino.
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22.02.2021 | por Luís Farinha