Cais-do-Sodré

Cais-do-Sodré Tinha ido na tarde calorenta entregar um volume de As Farpas emprestado pelo pai e encontrara-o sentado num banco, à porta de casa, com um manduco a escavar e a fazer riscos no chão. Mirrado, possivelmente devido à muita nhongra e fominha, possuía contudo um falar alterado. Assarapantava quem nunca o tivesse ouvido. As palavras enrolavam-se-lhe na boca como cascalhos arrastados até à praia por ondas bravias. Saíam, ao cabo, soltas, desconsertadas, e sempre intencionais. Falava assim por ser maçónico, dizia-se. Era da maçonaria, confirmava o povo, fazia artes como as feiticeiras.

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16.12.2024 | por Orlanda Amarílis

Primeiro os pássaros partiram (first the birds left). Diário e notas

Primeiro os pássaros partiram (first the birds left). Diário e notas As Universidades de Portugal cobram 5 vezes mais o valor de mensalidades para imigrantes brasileiros. O desconto em medicamentos não existe, mas pagamos os mesmos impostos. Eu já vendi todas as câmeras que trouxe do Brasil e comprei este moleskine em promoção por 5 euros na FNAC. (...) Ou achas que me esqueci dos longos anos na fila da Alfândega? O meu algoz chamava Joana. Ela coordenava aquele purgatório melhor que Bosch o pintava. Checa-se bagagem, celular, documentos, repete-se perguntas e religiosamente julga-se. Quem checa a história é meu estômago.

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25.07.2024 | por

Entrevista a Jeanne Waltz a propósito de O Vento Assobiando nas Gruas

Entrevista a Jeanne Waltz a propósito de O Vento Assobiando nas Gruas  Esta história ficcional da autoria de Lídia Jorge, passada no Algarve durante o boom imobiliário dos anos 90, agora tornada filme, aborda várias dimensões da realidade portuguesa contemporânea: o desengano pós-revolucionário, a imigração cabo-verdiana, a herança colonialista e o racismo. 50 anos decorridos da Revolução dos Cravos, e num momento político em que os valores democráticos estão constantemente a ser postos à prova, este filme convida a uma reflexão sobre o discurso de Portugal como uma sociedade não racista e sobre o imperativo de respeitar todos os seres humanos independentemente das suas diferenças, quaisquer que elas sejam.

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12.06.2024 | por Patrícia Martinho Ferreira e Laura Caballero Rabanal

A vida na clandestinidade

A vida na clandestinidade Documentário forte que não só documenta as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes em Barcelona, mas também desafia os espectadores a reconsiderar suas percepções e atitudes em relação à imigração e às políticas sociais, falta muita empatia no mundo e nos dias que vivemos.

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10.06.2024 | por Mariana Ribeiro Mota

Terra Longe / Diásporas - excerto (poema de Nzé de Sant'y Ago)

Terra Longe / Diásporas - excerto  (poema de Nzé de Sant'y Ago) Ai noites de Assomada dos prantos em Fundura suplicando pelas almas redivivas pelas vozes exuberantes nos jardins da Praça Estrela na Praça Camões na Praça do Rossio na Praça Figueira no Largo Martim Moniz no bairro da Mouraria no bairro da Alfama nas colinas da Graça no Canecão no Conde Barão no Lontra no Coquenote no Cave Adão no Monte-Cara lá na Dedês na Casa de Cabo Verde...

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19.12.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Visão de África I

Visão de África I A única solução potencial para a Europa, onde os reformados excedem os trabalhadores, sendo duas vezes mais do que estes, e onde as mortes superam os nascimentos, será contar com um fluxo constante de imigrantes, com a maioria dos recém-chegados a serem oriundos do único continente que ainda apresenta um crescimento na população: África.

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18.10.2022 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes

A fuga dos alemães

A fuga dos alemães Desde Junho de 2021, uma inusitada onda de alemães assentou-se no sul do Paraguai. São milhares de imigrantes. Fogem dos impostos, das vacinas anti-Covid e dos refugiados muçulmanos na Alemanha que, asseguram, são violentos e desvirtuaram a matriz germânica do país. A história mete ao barulho seitas religiosas, falcatruas, corrupção e uma extrema direita europeia com tentáculos no outro lado do oceano.

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02.05.2022 | por Pedro Cardoso

Os olhares de Catarina - novos trabalhadores rurais do Alentejo: entre a esperança e a discriminação

Os olhares de Catarina - novos trabalhadores rurais do Alentejo: entre a esperança e a discriminação Do outro lado, a milhares de quilómetros, estará uma voz familiar e uma condição de miséria que a levou a atravessar meio mundo em busca das migalhas da fatia do bolo que ditou que as muitas Catarinas Eufémias do hemisfério sul não tenham direito a uma vida digna. Muito menos que os seus nomes sejam recordados pelas múltiplas lutas que povoam a sua mera sobrevivência quotidiana.

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21.05.2019 | por Filipe Nunes

Filme 'Gabriel', afectos, direitos, oportunidades e sonhos

Filme 'Gabriel', afectos, direitos, oportunidades e sonhos O desempenho dos protagonistas do filme e a extrema fragilidade de laços sociais faz o espectador mergulhar numa intensidade de cenas portadoras de mágoas, incompreensões e revoltas internas sobre os problemas enfrentados pelas sociedades ditas modernas e globais, que colocam tatuagens em grupos sociais e povos face à pobreza e corrupção do serviço público desumanizante para quem não tem capacidade de montar um sistema alternativo - mesmo que marginal - que possa garantir segurança e possibilidade de continuar a viver com dignidade.

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23.03.2019 | por Miguel de Barros

Esperar, esperar… desesperar. A política imigratória em Portugal

Esperar, esperar… desesperar. A política imigratória em Portugal “Espera, espera…” é a única resposta que recebem do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que em 2016 entendeu fechar ainda mais as portas da Europa-fortaleza. Tão fácil e popular é o medo e a paranoia securitária, que veem terroristas em cada semblante vindo de fora, mesmos naqueles que jazem no fundo do mar Mediterrâneo.

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30.01.2017 | por Filipe Nunes

A carta aberta aos portugueses

A carta aberta aos portugueses Esta "inconsciência", este impensar do passado, não num sentido automortificador mas sim com uma veia prospectiva, continua a ser sublinhada por discursos dominantes. O actual pico da literatura "leve" que evoca a "boa África colonial" ajudará, a continuidade da ideia da "lusofonia" como espaço comum (e com a sua excrescência mal-cheirosa Acordo Ortográfico) é disso motor. A ideia de que as realidades históricas eram brutais desvanece-se. E quase inexiste a ideia que essa brutalidade era sistémica, como lhe chamou Sartre. Estas coisas estão escritas, e há muito.

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06.03.2013 | por José Pimentel Teixeira

A Imigração no Cruzamento dos Discursos

A Imigração no Cruzamento dos Discursos Trata-se tão somente de uma revisitação, em modo crítico, de alguns dos principais temas que fizeram a agenda política, mediática e social-científica da imigração em Portugal nos últimos anos. Crítica no sentido que são os próprios limites das categorias usadas para fazer sentido dos fenómenos assim identificados que são expostos, procurando, desse modo, desnaturalizar conceitos que, pela repetição com que foram empregues, acabaram por se apresentar como transparentes, como reflexos da realidade que são supostos espelhar, quando, muitas vezes, são eles que comandam uma certa intervenção na realidade.

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01.06.2012 | por Bruno Peixe Dias e Nuno Dias

Um silêncio colado à língua - ‘imigrantes’ afro-moçambicanos em Portugal

Um silêncio colado à língua - ‘imigrantes’ afro-moçambicanos em Portugal Quantas vezes pensamos no retorno, no passado, e permanecemos quietos, mudos, perante um silêncio colado aos dias que passam, quotidianamente, pelo calendário das nossas vidas e afectos? Quantos rostos e vozes serão necessários para construirmos uma imagem possível e verdadeira deste Portugal pós-colonial?

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20.12.2011 | por Sheila Khan

E quão livres são os imigrantes?

E quão livres são os imigrantes? Redescobrimos no século XXI em Lisboa a cidade cosmopolita, desaparecido durante a maior parte do século XX. Somos morenos, somos louros, somos negros, somos mulatos, somos asiáticos, somos sul-americanos, somos de muitas nacionalidades, somos europeus, somos portugueses. Somos cada vez mais pessoas crescendo com diferentes coordenadas. Um em cada oito bebés que nascem no país tem pelo menos um dos pais estrangeiro. Falar sobre diversidade não é moda; é o nosso futuro. Este é um debate sobre “migração”, “discriminação”, “integração”, entre jovens para os quais estas palavras são o quotidiano.

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15.06.2011 | por Susana Moreira Marques

De como se constrói um imigrante

De como se constrói um imigrante Quando um “sem-papéis” consegue chegar a Ceuta tem de se apresentar na esquadra. Aí é registado como não tendo papéis, cabendo às autoridades locais decidir o que fazer com ele, o que pode variar entre a deportação e o receber um documento provisório, que permite ao indivíduo deslocar-se em território europeu (sem, no entanto, ter documentos que lhe permitam assinar um contrato de trabalho). Muitas vezes, à porta das esquadras, elementos da Guardia Civil impedem-nos de se apresentar às autoridades, entregando-os aos militares marroquinos.

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10.11.2010 | por Ana Bigotte Vieira e Hugo Maia

Somos todos ilegais

Somos todos ilegais De Melila à Polónia, de Chipre às Canárias, milhares de pessoas tentam quotidianamente abandonar os seus locais de origem e atingir o continente europeu em busca de melhores condições de vida, deixando para trás os mais variados cenários – guerras, incêndios, secas, inundações, regimes repressivos, desemprego maciço, salários de miséria, fundamentalismos vários – e confrontando-se, em todo o lado, com a mesma estratégia repressiva, as mesmas barreiras e perseguições, o mesmo racismo e a mesma violência.

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01.08.2010 | por Ricardo Noronha

As árvores têm raízes, nós temos pés

As árvores têm raízes, nós temos pés O que Mónica de Miranda se propõe é “criar espaço para que os fluxos migratórios e transnacionais sejam vistos como uma realidade diversificada e multi-facetada, como uma plataforma criativa de oportunidades e um lugar de trânsitos para mudanças pessoais, culturais e sociais.” No centro da sua estratégia está o princípio da interculturalidade, que deveria implicar uma promoção sistemática e gradual de espaços e processos de interacção positiva, possibilitadora de uma generalização de relações de confiança, de reconhecimento mútuo, de debate, de aprendizagem e de troca.

Cara a cara

16.05.2010 | por José António Fernandes Dias