Com "Desmedida" o autor parecia introduzir uma deslocação de território e de género, abordando a crónica num espaço aparentemente estranho a Angola. No entanto, partilhará a mesma obsessiva procura de uma «autocolocação» que o próprio tem vindo a afirmar como determinante, mantendo o livro próximo do imaginário dos anteriores e introduzindo a partir da forma da crónica, na tensão entre o imprevisto e o livro que daí resultará, algumas interessantes figuras unificadoras desse discurso transversal.
13.09.2011 | por Clara Rowland
estamos cientes de que qualquer filme angolano, partindo de elementos culturais muito diferentes daqueles que normalmente alimentam os mercados do cinema, de uma maneira geral afectos a configurações sociais mais ou menos próximas de quadros ocidentalizados, tem que se haver com problemas muito específicos de leitura, da ordem pelo menos dos que ocorrem com outras cinematografias regionalizadas, africana sou não.
10.09.2011 | por Ruy Duarte de Carvalho
O Ruy Duarte de Carvalho, poeta, antropólogo, cineasta, artista plástico, angolano por adopção, nascido em Portugal, morreu na Namíbia, em Swakopmund, numa espécie de exílio voluntário. Soube da sua morte, por mensagem do Gégé Belo, e logo pensei: “É mesmo verdade, os grandes homens já morreram, e muitos deles morrem no exílio…”
10.09.2011 | por Justino Pinto de Andrade
Uma narrativa que é um relato apurado, baseado em longo trabalho de pesquisa sobre os [i]kuvale[/i], povo pastoril que vive na região sul de Angola e que vem sendo objeto das pesquisas antropológicas realizadas por Ruy Duarte de Carvalho desde o início dos anos 90.
28.07.2011 | por Rita Chaves
Angola porém, mesmo que até aqui não se tenha manifestado muito nos terrenos da análise social, existe ainda assim e também em relação a tal esfera de interesses. Só que à sua própria medida, quer dizer, "em grande" e sempre imprevisivelmente. É desta forma que, na sequência da constituição de uma associação de antropólogos e de sociólogos angolanos, está em curso em Luanda a criação de uma revista de ciências sociais. Chamado naturalmente a filiar-me na primeira, acedi também a integrar o conselho editorial da segunda. Como antes, e inapelavelmente, estou inserido no processo. De facto, embora possa contestar o bem fundado das verdadeiras intenções que terão levado à instituicionalização da associação, matéria que não desenvolverei aqui, nada tenho, em boa verdade, contra o aparecimento de uma tal formação de classe.
11.07.2011 | por Ruy Duarte de Carvalho
...... fazendo eu parte, cívica, emotiva e intelectualmente, da categoria geral do OUTRO em relação à Europa, também por outro lado a questão do OUTRO, e dadas as condições fenotípicas e de origem que me assistem, tem feito sempre parte da minha experiência existencial e pessoal dentro do próprio contexto, africano e angolano, em que venho exercendo a vida e ofício...... isso me tem levado, para poder ver se consigo entender o mundo e entender-me nele e com ele, a identificar e a reconhecer uma multiplicidade de OUTROS........ no presente caso retive apenas três categorias de OUTRO, que são as que me parecem capazes de permitir-me tentar expor o que poderei ter para dizer aqui....
17.06.2011 | por Ruy Duarte de Carvalho
Ao chegar a Valvys Bay até Swakop, uns 30 quilómetros, de um lado o mar e do outro só dunas, onde se praticam desportos radicais.
O mar é lindo, agreste, ondas fortes e água fria, pois ali passa a corrente fria de Benguela. Chegamos a casa cheios de areia, o cabelo crespado, a pele seca, as malas por fora perderam a sua cor natural.
O aconchego de sua casa, para descansar e depois continuar.
16.06.2011 | por Eva Carvalho
Detém-se no Brasil enquanto caso de estudo e de pasmo, exímio na “produção social do inédito”, onde tantos se pasmaram “diante do inédito, da anarquia e do escândalo da exuberância da flora brasileira” e de outras questões, tendo sido o deslumbramento a causa do enriquecimento (e provavelmente enviesamento) das investidas científicas (e românticas), dos exploradores e observadores do século XIX e demais.
02.06.2011 | por Marta Lança
Pretendemos divulgar aspectos mais dispersos da obra de Ruy Duarte de Carvalho através deste arquivo digital que disponibiliza alguns textos do autor e sobre autor, fotografias e audiovisuais, facilitando a acessibilidade a conteúdos diversificados que intersectam a sua obra. Uma obra que permanece intensa, por ler e descobrir, pensar e relacionar.
24.05.2011 | por Buala
inútil dizer: o deserto
é rosto afogueado de mulher
iminência de revelação constelada
apocalipse imenso do braseiro;
o deserto é ar e areia
ar e areia quente e seco;
19.04.2011 | por Breyten Breytenbach
Ruy Duarte Carvalho vai ser homenageado num encontro de familiares e amigos, com uma Exposição documental e biográfica, uma mostra e visionamento dos seus filmes e a análise antropológica da sua filmografia, no próximo dia 23 de Março (quarta-feira), pelas 17 horas, na Escola Secundária Dr. Ginestal Machado.
19.03.2011 | por vários
Voltar a Swakopmund é estranho, fora da estação há sempre uma neblina na cidade e, dado que tudo fecha às cinco da tarde, a cidade fica deserta, quase abandonada, uma velhinha que passeia por ali, uns namorados acolá, mas fora isso é Twin Peaks
17.01.2011 | por Luhuna de Carvalho
Namibe vasto é um belo livro de fotografias de Jorge Ferreira “sobre paisagens, gentes, animais e plantas da província do Namibe”, com texto e legendas de Cristina U. Rodrigues e design gráfico do João Ribeiro Soares.
17.11.2010 | por Cristina Salvador
Esta é a história de um rio que desce pelos sertões. De uma viagem que foram três e deu um livro. De uma amizade entre uma brasileira e um angolano. Em 2006, Daniela Moreau acolheu e acompanhou Ruy Duarte de Carvalho ao longo da bacia do São Francisco. E esteve na homenagem in memoriam ao escritor, no festival de cinema do Estoril.
12.11.2010 | por Alexandra Lucas Coelho
Ruy Duarte de Carvalho foi o grande impulsionador da viagem e o guia deste relato. A comitiva era a seguinte: o Luhuna, que ia recolhendo numa câmara materiais de observação direta; o Miguel, certeiro nas impressões e navegações espaciais; e as Martas – avivando a conversa, gerindo a logística da viagem. Ninguém, à exceção do Ruy, sabia grande coisa sobre a África do Sul para lá das suas tensões recentes.
08.11.2010 | por Marta Lança
Embora defenda sempre a necessidade de distinguir o pessoal do profissional, percebo que essa distinção hoje mostra-se impossível para mim. Não há como não me sentir, nesse momento, misturada ao tentar falar desse notável Desmedida, que ficou como um dos últimos legados deixados pelo Ruy Duarte. E dos mais valiosos para nós brasileiros. Porque a emoção é indisfarçável, eu antecipo o meu pedido de desculpas por não conseguir a dose de rigor que foi sempre uma das marcas essenciais do autor desse e de outros livros fundamentais.
12.10.2010 | por Rita Chaves
O papel de mediação do etnógrafo, o sujeito “ocidental”, o viajante, colocado entre os mundos de partida e as culturas de contacto, apresenta uma flagrante afinidade com o perfil itinerante dos autores de ficções africanas, em diferentes momentos da História recente. De formas distintas, muitos destes autores preocuparam-se em transmitir imagens e conteúdos representativos das culturas a que estavam expostos, tanto a partir de universos de localização regional como de contextos marcados pela experiência urbana, em boa medida cosmopolita.
08.10.2010 | por Ana Maria Mão-de-Ferro Martinho
A etnia kuvale para além de observada e estudada do ponto de vista antropo-sociológico constituiu e constitui um elemento importante na construção da memória e identidade angolanas, sendo transversal ao período colonial e pós-colonial. Através de três olhares antropo-literários, de Augusto Bastos, Pepetela e Ruy Duarte de Carvalho, reconstruiremos esse simbolismo e a actualidade do mesmo, percorrendo o caminho que medeia entre a recolha etnográfica (muitas vezes com base na compilação de relatos orais) e a sua exposição sob a forma da palavra escrita.
23.09.2010 | por Cátia Miriam Costa
Através dos provérbios e de outras manifestações colectivas da sua cultura, abre-se a uma voz impessoal capaz de captar tanto as observações mais terra-a-terra, relacionadas com a vida de todos os dias, como os mitos fundadores da cultura local.
O seu discurso nada tem de dogmático; ele faz-nos ler as reflexões do autor sobre o seu próprio trabalho, o seu medo obsessivo de trair ou de conhecer mal este ou aquele acontecimento, este ou aquele comportamento, a alegria decorrente do sentimento de ter penetrado no que é a beleza feminina, de ter avaliado a importância das transumâncias, de ter conseguido fazer de uma zona desértica o seu momento de vida material e intelectual.
23.09.2010 | por Gérard Chalendar e Pierrette Chalendar
Posso talvez dizer que esta viagem aumentou a nossa percepção dos aspectos incontroláveis da natureza (o vulcão islandês serviu agora de aviso aos distraídos) e desvendou-nos a existência de populações que sabem conciliar uma organização social complexa e uma apropriação simples de recursos naturais, que só pode ser resultado de seu profundo conhecimento do território.
11.09.2010 | por Cristina Salvador