Não deixa de ser curioso que, ainda no século XVIII, o artista seja retratado como aquele que se esconde na multidão — tema que ficaria célebre com o flâneur de Baudelaire — e que, supostamente livre das amarras sociais, “tira proveito” dos acontecimentos. Ou seja, idealmente, nem os convivas, tampouco os artistas presentes num vernissage, fazem parte das classes trabalhadoras.
Se, com a “pestilência” da atual pandemia, os vernissages foram proibidos — ou, pelo menos, bastante restritos — há quem diga que a arte será uma espécie de “salvação”, algo capaz de suspender a profunda violência e a desigualdade que estruturam as sociedades e, quem sabe, indicar-nos uma saída: arte como um “exercício experimental da liberdade”, para citar a expressão de Mário Pedrosa, atualizada por alguns comentadores contemporâneos.
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11.03.2022 | por Mariana Leme