Por isso, só podemos estar moderadamente optimistas com o futuro imediato e a médio prazo das duas línguas da República de Cabo Verde, desde que finalmente se ouse dar o passo decisivo: a co-oficialização plena dessas nossas duas línguas, assim instituindo de uma vez por todas o bilinguismo oficial em Cabo Verde (e sem quaisquer restrições que não sejam as advenientes da norma constitucional programática e relativa à natureza gradual dessa mesma oficialização plena da língua caboverdiana (aliás, complementar daquela que venha a oficializar de forma plena se bem que somente político-simbolicamente), bem como a introdução com a máxima urgência da língua caboverdiana no ensino formal caboverdiano.
06.12.2022 | por José Luís Hopffer Almada
O construtor da charca e das inúmeras tentativas contra a burocracia para plantar árvores autóctones, toma a palavra dos carvalhos e do monte e das rãs. Mas é na condição de vivente igual e honesto que o faz. Transporta para o corpo, o seu, o resgate, possível, da vida. Não temer a morte, pois. As pedras e a sua charca dizem-lhe a todo o momento que a vida se transmigra de qualquer maneira, também lhe dizem que faz parte delas. Por isso e porque a charca secará em breve, um jardim, onde a tentação e o trabalho acabaram, servirá não de paraíso mas de momentâneo epílogo.
04.12.2022 | por Josina Almeida
o privilégio é branco e o beneficiário da branquitude é maioritariamente branco. Mas a África não está fora dos grilhões da branquitude, porque a branquitude é mais do que a cor branca, a branquitude não é sobre indivíduos nascidos de motivos biológicos não decididos por eles mesmos, mas sobre o sistema que opera na base de uma regra odienta que cega e nega afeto ao mundo preto. Porém, paradoxalmente, há pretos que têm benefício com isso. A branquitude usa o racismo para operar e segregar; e o racismo, apesar de branco (se falarmos só da Europa, porque, caro amigo racializado, temos a China ali ao lado também a racializar-nos), o racismo opera noutro nível, controlando povos e economias, mas concentrando-se mais na cor.
02.12.2022 | por Marinho de Pina
Nos finais dos anos 90, José Saramago deu o corpo e pena ao manifesto pela causa zapatista. A denúncia das atrocidades contra os indígenas de Chiapas fez do escritor uma figura incómoda para o então governo do México. A 100 anos do nascimento do Nobel da Literatura português, escolas, universidades e movimentos sociais mexicanos comemoram com carinho o escritor que um dia atirou: ‘Se não me encontrarem no meu país, procurem-me no México’”.
01.12.2022 | por Pedro Cardoso
Com frequência é ignorado que não és o culpado do estado das coisas, apenas um beneficiário, ativo ou passivo, de um sistema de enganos criados e estruturados para reduzir a cacos determinados fulanos quando não são brancos. E quando não fazes parte dos prejudicados, és um privilegiado. Quando não tens de lidar com uns quantos obstáculos só pelo facto de seres branco, é isso, bacano, que é chamado de privilégio branco.
17.11.2022 | por Marinho de Pina
Sempre identificada com ousadias, ou, como se verifica na imprensa internacional, marcadas com “polémicas” e mesmo “escândalos”, o evento é entre os maiores e mais importantes no mundo da arte. Esta décima-quinta edição, recentemente realizada, não foi isenta de um “escândalo”: a unanimidade da imprensa alemã no seu julgamento de anti-semitismo.
02.11.2022 | por Cheong Kin Man
No primeiro capítulo intitulado “A Literatura Cabo-Verdiana em Face das Outras Literaturas Africanas de Língua Portuguesa”, o autor intenta contextualizar, com sucesso, o surgimento da escrita de autoria caboverdiana e, em especial, da literatura de marca identitária caboverdiana no quadro mais vasto das escritas de autoria lusógrafa africana e das literaturas africanas de língua portuguesa.
01.11.2022 | por José Luís Hopffer Almada
Referindo-se às diferentes vertentes da intervenção escrita dos claridosos, nomeadamente na poesia, na prosa de ficção, na crónica, na crítica literária, em entrevista, na reportagem e na prosa cientifica (em especial na linguística do idioma crioulo e na antropologia da mestiçagem cultural e biológica ocorrida nas ilhas), dizia Baltasar Lopes da Silva que, nas condições de Cabo Verde, os mesmos escritores claridosos eram, de algum modo, obrigados a ser policlínicos no exercício do seu ofício de letrados.
31.10.2022 | por José Luís Hopffer Almada
Estarão as obras literárias de autoria afrodescendente criadas em Portugal a contribuir também para desafiar a identidade europeia, na sua complexidade e diversidade? Tendo presente a «ferida aberta» que o colonialismo continua a ser, mas não se limitando ao seu tratamento, que novas relegações sociais e invisibilidades político-culturais poderão estas vozes [contribuir para mostrar] apontar na paisagem europeia?
25.10.2022 | por Liz Almeida
Disponibilizamos agora a versão portuguesa actualizada de um diálogo que fizemos há um ano com Sala por duas razões. Primeiramente, estamos a organizar a primeira exposição individual, em Novembro, em Berlim, da iniciativa cujos membros principais têm formado uma colectiva de artistas com a mesma denominação “Arbeitspause”. Em segundo lugar, com os tempos já frios e enfrentando os elevados preços de energia, ficamos a pensar, de novo, num isolamento possível, no contexto de uma Berlim que tem sido afectada pela invasão russa contra a Ucrânia.
18.10.2022 | por Cheong Kin Man
A exposição, que visa dar voz a uma jovem geração de fotógrafxs da Polónia, inclui ainda o trabalho de Irena Kalicka, jovem artista crítica à tendência do seu país em virar para a extrema-direita. Tive a oportunidade de apresentar uma fotografia dela na revista “Fantasia Macau” no ano passado.
13.10.2022 | por Cheong Kin Man
Eram significados semióticos que me alertavam que, em caso de ser inevitável isto de ser artista, seria preciso mudar, ser assimilada, enquadrada em um devir. A macaca já era fêmea, de território inóspito. Não seria permitido que fosse ainda incontornável, barulhenta. Era preciso adequar-se. Ser silenciosa, discreta, enigmática, misteriosa. E não, eu não era a Clarice Lispector.
06.10.2022 | por Manuella Bezerra de Melo
A comunidade internacional está alerta e denuncia que Bolsonaro representa uma grave ameaça à Democracia para o Brasil e para o mundo. Hoje, este candidato reitera ataques ao Estado de Direito, incitando golpes e pondo em dúvida o sistema eleitoral brasileiro, comprovadamente seguro e confiável, referência internacional.
29.09.2022 | por Coletivo Andorinha
Depois de mais de um ano e meio de investigação artística, história oral, recolha pública de documentação, palestras e sobretudo as correspondências à distância entre as irmãs Sala em Berlim e Sniderman nos EUA, os três artistas plantaram, no dia 3 de Julho, um jovem salgueiro-chorão num espaço aberto do antigo Largo da Ester (que traduzi anteriormente como “Praça de Ester” em português) da cidade polaca de Chrzanów, situada a 21 quilómetros do antigo campo de concentração e de exterminação de Auschwitz.
23.09.2022 | por Cheong Kin Man
Centenas de pessoas manifestaram-se este sábado para exigir respostas sobre a morte de Daniel, Danijoy e Miguel, e para denunciar os permanentes atropelos aos direitos humanos nas prisões.
19.09.2022 | por Mariana Carneiro
A jovem violetista revela a sua cultura na pergunta que me fez – para quê pensar no futuro? No entanto, ela está inscrita no núcleo e tem diariamente aulas de música. Será que os professores fazem um esforço para compreender quem são os seus alunos, as suas culturas, as suas histórias de vida, os seus percursos? Será que encontram técnicas de ensino que permitem aos alunos atingir resultados no quotidiano? Como preparar um futuro sem o enunciar, concentrando-se apenas na ação prática ahora? Qual a importância do objeto que é o instrumento musical para que haja uma vinculação ao núcleo?
Surgem então as questões ligadas à música como instrumento de “transformação pessoal e social”, tal como o enuncia o El Sistema. A música parece ter uma função importante, mas qual? Como é que os professores ensinam? Para atingir que resultados? A música como instrumento (no presente) ou como objetivo a atingir (no futuro)?
16.09.2022 | por Alix Didier Sarrouy
O visionamento deste tipo de imagens, então amplamente difundidas, preencheu o lazer quotidiano da burguesia oitocentista, instigou os seus impulsos colecionistas e constituiu a sua cultura visual. Ao analisar a construção histórica do observador, Jonathan Crary descreve-nos o surgimento de um novo tipo de indivíduo, fruto dos modos de circulação, consumo, produção e racionalização que emergiram no século XIX. Em Techniques of the Observer, Crary descreve como, desde 1840, e em particular desde o surgimento de uma série de dispositivos, entre os quais o estereoscópio, a experiência visual se passa a autonomizar do seu referente, podendo assim circular no fluxo dos meios de mobilidade e consumo do mundo capitalista e industrial que as imagens começam a integrar.
13.09.2022 | por Daniela Rodrigues
Imediatamente pensei em toda a campanha da direita e da extrema direita nos países da América do Sul nestes últimos quatro anos. Nas mentiras, na vontade de romper com o consenso mínimo do diálogo democrático e lançar a sociedade civil numa guerra de todos/as contra todos/as. É o momento preciso para tomar consciência do papel histórico das forças democráticas; de opor-nos fortemente à naturalização da violência política na América do Sul.
07.09.2022 | por Menara Guizardi
Num momento indeterminado na costa do Pacífico da Nova Espanha, atual México, escravos africanos disfarçaram-se de diabos e desfilaram pelas ruas de pequenos povoados. Pediam aos deuses ancestrais a liberdade. Com máscaras de seres do inframundo e à cadência de harmónicas e puítas reinventadas, criaram a Dança dos Diabos. O ritual é uma das expressões máximas dos afromexicanos, minoria invisibilizada durante séculos e que só em 2019 foi oficialmente reconhecida com povo originário.
02.09.2022 | por Pedro Cardoso
Salman Rushdie não inventou os versículos satânicos. O título da obra que maior alvoroço causou na história recente refere-se a um episódio problemático nas próprias fontes do islão. Na origem da controvérsia está uma passagem do Alcorão (o versículo 53:21,22), que em parte terá sido corrigida depois de o profeta Maomé ser tentado por Satanás, proferindo palavras que admitiam a existência de outras entidades divinas além de Alá.
18.08.2022 | por Diogo Vaz Pinto