E se for eu mesma que, nalgum momento, por descuido ou por cansaço ou pelos dentes cravados na minha perna, resvale por estes caminhos molhados, tropece em alguma das suas avultadas rugosidades e desvaneça? Ninguém notaria a minha ausência... mas claro, isso é perfeitamente compreensível, porque para os outros e, será mau admiti-lo mas como eles para mim, sou uma pessoa como outra qualquer. E por isso, vou estar bem mais atenta.
A ler
08.10.2020 | por Candela Varas
Contact Zone questiona o que significa viver numa sociedade multi-cultural onde a identidade, cultura e costumes são diariamente negociados. Contact Zone é um termo cunhado pela linguista Mary Louise Pratt para referir “espaços sociais onde culturas se encontram, chocam e lutam umas com as outras, frequentemente em contextos de assimétricas relações de poder, no caso do colonialismo, escravatura ou, consequentemente, em muitas partes do mundo de hoje.”
Jogos Sem Fronteiras
08.10.2020 | por Isabel Lima
Este crescimento da extrema-direita tem parasitado o modo como a acumulação neoliberal cria, em significativas parcelas da população, um cenário de expectativas socioeconómicas minguantes. Um tal quadro favorece populismos de direita que se declaram anti-sistema ao mesmo tempo que mantêm o extrativismo capitalista a salvo. A estratégia consiste em mobilizam preconceitos contra alvos de expiação concretos: LGBTQ+, imigrantes, negros, ciganos, Estado Social, corrupção, etc.
A ler
08.10.2020 | por Bruno Sena Martins
Recorro aos materiais produzidos por Carvalho durante um longo período de tempo para mostrar algumas dimensões do seu processo criativo, procurando fornecer uma primeira interpretação destas em relação a algumas das suas obras. Uso livremente várias áreas exploradas pelo autor, concentrando-me, porém, sobretudo em dimensões gráficas e visualmente estimulantes. Combino essa discussão com a apreciação de alguns resultados do que chamo “animar” este arquivo obtidos através da inventariação e apresentados na exposição, e termino enquadrando um dos vídeos baseados em material de arquivo nela apresentado.
Ruy Duarte de Carvalho
08.10.2020 | por Inês Ponte
A partir de Fogo no mato. A ciência encantada das macumbas (Rio de Janeiro, Mórula Editorial, 2018), de Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino. Lemos em Fogo no mato o eco desse grito do século: terreiros terreiros terreiros... Há muitas diferenças e mais de uma semelhança aí. Mas além de conectar com a veia antropofágica do livro dedicado à “ciência encantada das macumbas”, representada pela boca de Enugjaribó, novo e ancestral Abaporu, vale desdobrar o significado da expressão fogo no mato, que chega a soar incorreta no presente brasileiro, nesse segundo ano de queimadas liberadas Brasil afora. Digamos que justo por isso é um bom exemplo da inversão de perspectiva que os Luízes propõem, adotando a mirada afro-ameríndia das macumbas.
A ler
07.10.2020 | por Jorge "Joca" Wolff
The Calming é um filme que comove profundamente com a serenidade que este lança. Serenas são particularmente as cenas de neve no filme que são nada mais do que uma homenagem prestada ao escritor japonês vencedor do Prémio Nobel de Literatura: Yasunari Kawabata.
Segundo os comentários que pude ler no site chinês Douban (ou Tao Pan em cantonenese), este género de serenidade não foi bem acolhida por toda a gente. Contudo, foi bastante apreciada no filme que ganhou um prémio na Berlinale.
Afroscreen
07.10.2020 | por Cheong Kin Man e Mathilde Denison
Todas as peças destes Essenciais são também uma terceira coisa: autobiografia, retratos tocantes de todos os envolvidos numa altura crítica. Será talvez por isto, por assumirem uma subjectividade que é simultaneamente estética e política, que estes vídeos são “rascunhos” e estão “errados”: não são de todo a versão passada a limpo de uma “História dos vencedores”, é essa a sua verdade (frágil e resistente ao mesmo tempo).
Palcos
02.10.2020 | por Francisco Frazão
A grande revolução do género foi e é marcada pelo objectivo de que um dia este não seja mais um problema, por isto o alvo é a dissolução da mesma quando esse momento chegar que deve ser lá para o século XXII. O dia em que ser pessoa conta mais que ser de um género ou de outro, ou mesmo transitar nesse corredor, ainda está muito longe.
Cidade
02.10.2020 | por Adin Manuel
Os seus membros podem optar pelo celibato ou pelo matrimónio para levar a cabo a evangelização através do exercício de piedade e caridade, animação espiritual e social, promovendo a família e o espírito cristão. Os membros consagrados vivem a vida fraterna, estando à disposição da Igreja naquilo que esta necessitar, assumindo na sua consagração a pobreza, a castidade e a obediência através da efusão do Espírito Santo. Os membros estudam a Bíblia, valorizando a participação na missa e a adoração do Santíssimo Sacramento, procurando estar unidos à Igreja.
A ler
01.10.2020 | por Eloisa Andrade Ramos e Carlos Alberto Alves
Quando convidei a Isabél, antes de tudo é a artista que ela é e a parceria que nós temos. Depois a ideia da Uma Voz era — talvez mais que uma mulher negra — uma mulher. Uma mulher que fala até porque “o porta-voz”, normalmente, é masculino. Tem um pouco isso de portar a voz e de importar a voz. E a Isabél tem muita...ela fez um personagem em que é a escrava do Tira Dentes e que tem um caso com ele. O modo como ela desenhou esse personagem é muito forte. Porque muitas vezes em filmes, no Brasil, esse papel ele é feito com uma doçura em que, curiosamente, há uma mistura de colocar personagens que eram escravos como se eles fossem empregados e é totalmente diferente. Assim, muita da violência da escravidão é escamoteada...alguém a chamava de preta e ela disse “preta é cor. Eu tenho nome”.
Palcos
30.09.2020 | por Marta Brito
Esta ideia de simpoiésis, o fazer com, esta rede imbrincada de emaranhamentos, aparece sempre nestas histórias – e por histórias também quero dizer estas pequenas unidades de imagem que funcionam sozinhas ou em relação entre si – porque existe o tal awareness dos vários feixes, sobrepostos e simultâneos, que compõem a pessoa, e que são tão necessários reiterar no caso da pessoa-mãe, e que fica tão claro nestas narrativas, em que a intensidade da relação simbiótica entre as entidades mãe\filho também permite (e até vive de) outras histórias e outras vivências.
Corpo
28.09.2020 | por Patrícia Azevedo da Silva
E será que conseguimos sequer imaginar um mundo sem o constante stress da competição capitalista, sem o infinito stress da imersão tecnológica nas redes, sem o horrível stress do fluxo informativo ininterrupto, que quanto mais diz, menos sentido produz? À medida que as Crónicas avançam, e se aproximam do ponto onde nos encontramos quando as publicamos a questão que ocupa um espaço cada vez maior é a da nova “normalidade” que se impõe a partir do momento em terminaram os confinamentos. Na verdade, as perspectivas não são boas: o provável é que todas estas coisas, a luta pela sobrevivência, a exploração tecnológica, a psicose informativa, e outras ainda saiam reforçadas. Como já o era desde o início da pandemia, também para Berardi.
A ler
24.09.2020 | por Ana Bigotte Vieira e Nuno Leão
São tempos de fogo e crime. A Amazónia arde e o mundo reduz a indignação a lamentos inconsequentes. Os povos indígenas estão praticamente sozinhos na luta contra o colapso. Em 2018, começaram a exigir a proteção institucional de uma terra ancestral na América do Sul que une os Andes, a Amazónia e o Atlântico. O “Caminho da Anaconda”, assim lhe chamam, é um corredor ecológico, espiritual e cultural. Por aqui serpenteiam espíritos e voam rios.
A ler
23.09.2020 | por Pedro Cardoso
A Primeira Exposição Colonial Portuguesa realizada no Porto em 1934 foi a consequência visível do impulso que Salazar quis dar à «política colonial» portuguesa e a uma orientação imperial em que colonizar e civilizar as populações indígenas eram as palavras de ordem. Como corolário da exposição foram produzidos, entre outros, dois importantes álbuns, hoje documentos de inegável interesse histórico, não só enquanto discurso de propaganda do regime do Estado Novo, mas também enquanto narrativas visuais ou “visões do Império”. São eles, o Álbum Fotográfico da autoria do fotógrafo Domingos Alvão e o Álbum Comemorativo, com reproduções de pinturas e desenhos do pintor Eduardo Malta. Neste trabalho pretendemos reflectir sobre essas “visões do Império”, pois elas expressam uma visualidade e um imaginário que se traduz em práticas sociais, em valores e em relações de dominação que definem uma política do olhar, onde o corpo se torna um espaço de inscrição, bem como de categorização racial e cultural. Em suma, é através dessas imagens que vemos as relações de poder e as formas de dominação sobre o outro, que impregnaram a exposição.
A ler
21.09.2020 | por Filomena Serra
Em saltos quânticos temporais, resolvem-se assim os finais e põe-se a roupa nos estendais, enquanto sonhamos ser mais que os nossos pais. E porque vais? Ficar parado não conta, prefiro ser a ponta da lança daquele que não alcança e que, cheio de confiança, não percebe que caiu na sua própria matança. Por isso avança, arromba as portas, rega as hortas e colhe a tempestade do acumular da idade, sem perder a vontade, faz a tua faculdade e ultrapassa a puberdade, que isso fica-te mal, não é por sinal que levas tudo a mal, é mania, não é saber é querer,
Palcos
21.09.2020 | por Eric Medeiros a.k.a. Eric Hanu
Muitas crianças de rua transportam consigo estas tenebrosas estórias. Ao chegar ao meu local de trabalho na baixa de Luanda, cumprimentei o Strong, miúdo de rua por quem passava todos os dias. Com a sua t-shirt encarnada, fez-me sinal, disse-me que me queria mostrar uma coisa, para o acompanhar ao Sambila. Não sei o que me deu para confiar assim num miúdo e ir com ele até ao Sambizanga. Mas a convicção dele mostrava que era caso sério e a verdade é que confio nos meus gestos impetuosos. Esperou que eu saísse, e lá fomos, no Starlet comprado em terceira mão, de passeio ao subúrbio. Pelo caminho soube que ele vinha das Lundas. Perguntei-lhe porque estava em Luanda sozinho então.
Cidade
20.09.2020 | por Marta Lança
Existem diferentes potenciais camadas testemunhais e mnemónicas implicadas no álbum passíveis de serem exploradas em futuras pesquisas históricas. Uma primeira camada prende-se com a legibilidade atribuída a cada fotografia isolada; uma segunda prende-se com a relação entre essa legibilidade, as legendas das imagens atribuídas por Albano e o seu testemunho da participação na guerra; uma terceira camada consiste ou consistiria numa análise comparativa dos elementos das outras camadas com outros documentos e fontes da guerra ou, simplesmente, com outros álbuns de fotografia.
Afroscreen
16.09.2020 | por Ana Gandum
Esse rumor, que nos leva de uma pequena cidade ucraniana em que se destruiu uma estátua de Lenine a uma grande metrópole americana em que Colombo se retira do pedestal, murmura que as fronteiras que os historiadores traçam para demarcar o presente do passado são bem mais frágeis do que se supunha. Trata-se, então, de discutir os modos de usar o passado, mas também que país é esse que dizemos passado.
A ler
16.09.2020 | por José Neves
Numa sociedade ainda marcada por profundas desigualdades de género, entendemos a emancipação e liberdade como processos assentes em contínuas e escorregadias disputas no quotidiano. Nestes dias, partilhamos abordagens de cineastas, artistas, curadoras, investigadoras para avançarmos com perspectivas de mundo onde as práticas de liberdade se inscrevem em cada gesto ou situação propostos.
Vou lá visitar
15.09.2020 | por Marta Lança
É o ano em que todas as máscaras se tornam visíveis. Em palco, há uma que nos acompanha o tempo todo. Vemos através dela. A pandemia não nos permite tirar as nossas. As do racismo vão caindo. As pretas ocupam a casa. Irrompem caixa preta adentro. Falam com os seu fantasmas e os nossos, confrontam-nos. Confrontam-nos a nós, público. Aqui, o público é parte do problema e da solução. Não se iludam: Aurora Negra diz e faz o óbvio, o que é esperado, o que é desejado. O que foi solicitado. Por quem? Para quem?
Palcos
12.09.2020 | por Gisela Casimiro