portanto, a partir deste capítulo de desvinculação colonial tão “desconhecido” quanto contundente, da longa primavera da África (por relação aos acontecimentos políticos recentes no Oriente Médio), e de um novo pensamento ideológico e cultural (o exemplo da “pedagogia da revolução” de Amílcar Cabral, nas palavras de Paulo Freire), que as responsáveis – Ligia Nobre e Cécile Zoonens – pela plataforma exo experimental org., em colaboração com Anne Sobotta, “imaginaram” uma aproximação renovada e necessária. Mas qual a importância contemporânea desta aproximação? O que alimenta esta necessidade hoje, em que o Brasil se assume como uma potência no mundo? O que existe para além da histórica descendência afro, de milhões de brasileiros?
21.08.2013 | por Marta Mestre
O transeunte que ao início da noite tivesse tomado a estrada de Santa Luzia que desce da Fortaleza da Amura, junto à foz do Geba, ao Quartel General, e que, à altura do antigo restaurante Casa Santos, tivesse feito um detour à direita, teria entrado numa ruela estreita ladeada de casas sóbrias ao fundo da qual teria visto uma dezena de viaturas estacionadas ao lado de uma vistosa vivenda. E se, por curiosidade, tivesse entrado naquela vivenda pelo portão metálico lateral que dá acesso ao quintal, ter-se-ia encontrado num restaurante caseiro mudialmente conhecido.
21.08.2013 | por Geraldo Martins
O sangue ferveu numa manhã de Maio passado. De catanas em punho, a população impediu o avanço das máquinas. A Agripalma suspendeu as operações e agora vêem-se no local apenas alguns trabalhadores a seccionarem grandes árvores já abatidas. Num país onde a falta de emprego é um problema, a perspectiva de trabalho no projecto Agripalma não entusiasma a todos. "São trabalhadores extras. Não têm regalias, segurança social, se ficam doentes ninguém lhes paga", diz Adelino dos Prazeres, outro morador de Porto Alegre.
31.07.2013 | por Ricardo Garcia
Mundialmente conhecido pelo seu acervo em arte Lunda/Tchokwe, o Museu do Dundo possui documentação composta por centenas de relatórios dos diferentes serviços da Companhia de Diamantes de Angola (Diamang), cobrindo detalhadamente cerca de meio século da ocupação colonial da área. O acervo compreende ainda milhares de fotografias e outra documentação relativa à vida cultural das populações do Leste de Angola.
31.07.2013 | por Carlos Lousada
Doidão vive por dentro da cultura afro-brasileira e seus representantes mais antigos e legítimos, como a Dona Dalva do Samba de Roda, ou as negras da Irmandade da Boa Morte. Era amigo de Jorge Amado e aproximou-o da vida cultural e social de Cachoeira, acompanhando-o na descoberta irmandade da Boa Morte e outros traços importantes desta cidade banhada pelo rio Paraguaçu. A arte do escultor está embrenhada nessa cultura afro-brasileira, nos sincretismos do candomblé e nas miscigenações culturais que fazem a história brasileira. Essa vivência cultural é inteira, como a que referiu Jorge Amado no Livro “Carta a uma Leitora sobre Romance e Personagens”.
11.06.2013 | por Maria Prata
Tudo isto seria mais ou menos evidente não fosse o caso das pinturas mais recentes de Eugénia Mussa não serem abstratas (lugares, sensações, ideias – ou a sua recusa – encontrados no ato da pintura). Em rigor são paisagens localizáveis (ainda que apenas situadas decorrido o processo de pintura). O lugar representado foi de facto encontrado pela artista primeiro na pintura e depois na paisagem; invertendo assim a lógica da ilusão ótica da miragem: a referência da realidade passa a ser a da placa sensível.
28.05.2013 | por Maria do Mar Fazenda
Dois anos antes da Exposição de Mundo Português, realizou-se em Luanda uma muito grande Exposição-Feira que não ficou para a história colonial. Teve por objectivo exibir o desenvolvimento económico de Angola num “documentário expressivo e completo”, em lugar de encarecer o programa historicista e a mística imperial do regime, como era norma das exposições coloniais e ocorrera por exemplo em 1937 na Exposição Histórica da Ocupação, em Lisboa no Parque Eduardo VII.
18.03.2013 | por Alexandre Pomar
O lugar, no cruzamento de dois uádis, é conhecido pelos pastores nómadas de Laas Geel como “os poços dos camelos”. Foi ali que arqueólogos estupefactos descobriram uma constelação de pinturas, em cerca de vinte grutas. Dezenas de vacas, homens, cães e até mesmo uma girafa.
15.02.2013 | por Marie Wolfrom
O regime do Estado Novo criou a Casa dos Estudantes do Império com o objetivo de fortalecer a mentalidade imperial e o sentimento da portugalidade entre os estudantes das colónias. No entanto, desde cedo, a Casa despertou neles uma consciência crítica sobre a ditadura e o sistema colonial, mas também a vontade de descobrir e valorizar as culturas dos povos colonizados.
26.01.2013 | por João Carlos
Há um verdadeiro mercado de especialistas em pintura de anúncios de parede, e há pátios cheios de chapas de madeira e metal com anúncios de corte de cabelo e venda de unhas de gel prontos a colocar. Entrar num centro de implantação de dentes postiços na penumbra e perceber que está forrado de pinturas do tecto ao chão pode ser um espanto.
07.01.2013 | por Manuel Bivar
Vela 691 baseia-se no diário de bordo de uma oficial da Marinha Sul-Africana, a tenente Lindsey Rooke, que participou num teste nuclear atmosférico realizado secretamente em 1979 próximo da costa do continente Antártico. O teste validou o programa de armas nucleares e o poderio militar desenvolvidos pelo regime de apartheid sul africano que desestabilizou toda a África Austral durante mais de uma década.
07.01.2013 | por vários
Em Setembro de 1979 a África do Sul realizou secretamente um teste nuclear atmosférico entre a ilha Marion no Índico Sul e a costa da Antártida. O teste validou o programa de armas nucleares e poderio militar desenvolvidos pelo regime de apartheid sul africano que desestabilizou toda a África Austral durante mais de uma década. Um desconhecido antropólogo angolano e uma oficial da marinha sul-africana que participou no teste, nunca se encontraram, mas os seus registos, descobertos anos após a morte de ambos, deram origem a uma incessante reconstrução que Victor Gama levou a cabo entre o deserto do Namibe e a Antártida.
07.01.2013 | por vários
Vídeos de artistas portugueses – Daniel Barroca, Jorge Santos, José Carlos Teixeira, Maria Lusitano, Monica de Miranda, Paulo Mendes e Rui Mourão – nascidos na década de 70 e descendentes de um país com um passado colonial do qual já não participaram, propõem-nos uma reflexão artística sobre certos mitos, marcas e percursos que um certo passado ligado a África deixou num certo Portugal pós-colonial.
04.01.2013 | por Rui Mourão
O complexo da De Beers é apenas uma coordenada ilusória; à parte do mundo lunda-tchokwe que ali se edificou, entre as paredes que falam em inglês, hesitam em falar português e onde o tchokwé ficou soterrado, longe dos lençóis luzentes de pedras preciosas.
A fronteira com o Congo oferece apenas a alusão à famosa vida das fronteiras, dos contrabandos, dos kilapes, da iminência da sobrevivência, dos idiomas que se fusionam em dialetos de notas musicais quase intocáveis, dos filhos feitos à sombra do camião de carga que espera voltar à estrada e das incontáveis gasosas.
20.12.2012 | por Sílvia Norte
Desde 6 de Dezembro, Maputo está temporariamente ocupada por seis intervenções artísticas de igual número de artistas, tendo como mote a palavra “Estrangeiros”.
17.12.2012 | por colectivo
Cada um dos percursos deste guia corresponde a uma aventura, mas também a uma prova de que é possível viajar de maneira segura e descontraído pelo imenso território de Angola. As dicas e informações que recolhi e compilei para este livro são uma boa ajuda para reduzir os imprevistos e aumentar o prazer de uma viagem por este país intenso e inesquecível, tanto nos seus paradoxos como nas suas gentes e paisagens.
05.12.2012 | por Joost De Raeymaeker
A identidade terá a nacionalidade que seja o eu. E o eu será esse empastamento, camadas sobrepostas que não correspondem à cronologia ou à soma dos meses, das décadas e da dissolução… Camadas de existência que residem em locais detectados, mapeados e circunscritos. Mónica de Miranda dá continuidade a uma pesquisa que visa o conhecimento aprofundado das suas matrizes culturais, a retoma da ancestralidade, fruto de uma lucidez e rigor que vai do sociológico e antropológico para o estético.
29.11.2012 | por Fatima Lambert
Viagens no imaginário de Monica de Miranda torna-se uma metáfora para o que Walter Mignolo chama de "ferida colonial": como uma maneira de explorar seus múltiplos movimentos e da sua família entre lugares ligados por uma matriz colonial comum, onde ela constrói o seu próprio mapa emocional em uma variedade dos mediums. Pode-se argumentar que os lugares escolhidos para o seu trânsito sugerem uma reflexão sobre a descolonização que nos termos dos zapatistas nos levaria a um mundo que se encaixa em muitos mundos: uma proposta pluriversal- em oposição ao universal - à leitura da realidade.
27.11.2012 | por Gabriela Salgado
Por um lado Kapuschinsky é um jornalista 'em campo', um jornalista 'no terreno' e, por isso ou apesar disso, o seu legado é também o de um olhar europeu a descrever um continente a arruinar-se no final do século passado. Mas uma frase como «Acima de tudo salta à vista a luminosidade. Luz por toda a parte. Claridade por toda a parte. Sol por toda a parte», com que inicia a sua obra Ébano, é um modo único de afirmar África.
21.11.2012 | por António Pinto Ribeiro
Da prática de Filipe Branquinho o júri do BesPhoto 2013 refere que “incide na forma como o espaço funciona enquanto ‘contentor’ de elementos díspares que se aglutinam” – “usando Maputo como ponto de partida, e o retrato como ímpeto, Filipe Branquinho capta o tecido urbano e a forma como os seus espaços são habitados, não apenas pelas pessoas, mas também através de sua arquitectura”.
21.11.2012 | por Filipe Branquinho