Vidas em Português, Memória, Identidade e Cidadania na era digital

Chamada para publicações 

Título: Vidas em Português
Subtítulo: Memória, Identidade e Cidadania na era digital
Editores: Murilo Guimarães e Silvia Valencich Frota
Afiliações institucionais: Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras de Universidade de Lisboa, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Projecto Constelações da Memória: um estudo multidireccional da migração e memória pós-colonial (PTDC/SOC-ANT/4292/2021)

As novas tecnologias da comunicação e da informação fizeram surgir uma esfera de convivialidade baseada no mundo digital. A vida cotidiana foi replicada na rede mundial de computadores, desafiando pesquisadores de distintas áreas do conhecimento a desenvolverem metodologias e conceitos, com vista a compreenderem os impactos políticos, económicos e culturais destas inovações.

Na sociedade da informação, o espaço-tempo estrutura-se em redes, lugares e fluxos, os quais concorrem entre si e a temporalidade desafia o tempo cronológico. Neste contexto, a comunicação torna-se cada vez mais pervasiva e ubíqua; surgem novas formas de registo, construção e preservação da memória e da identidade. Se, num primeiro momento, a criação de perfis online é vista como um ato libertador pelos sujeitos, o debate hoje se torna cada vez complexo, especialmente com o desafio promovido pela desinformação. A experiência individual dissemina marcas virtuais de suas passagens por lugares reais, junto com imagens e textos elucidativos das suas visões sobre o passado, das suas preferências culturais e das cosmovisões que orientam os seus atos e adesões políticas. O ambiente digital configura-se, assim, como um laboratório de exploração identitária.

A partir da projeção individual no ambiente virtual, surge a figura do “gêmeo digital”. O desdobramento da existência individual na internet cria uma identidade destacada da original, cuja vida decorre das suas interações online. Estas, por sua vez, desenham as rotas percorridas entre as mais diversas páginas de internet e redes sociais. O conhecimento e a decifração destes percursos virtuais favorecem a comunicação algorítmica. Ao mesmo tempo, este duplo digital forma-se e é transformado pelas suas viagens pelo ambiente digital.

A possibilidade de associação das publicações a lugares, no tempo em que eles ocorrem, permite um alto grau de exposição individual. Diante disto, percebe-se uma massiva preocupação com a autoimagem, numa possível dissociação do indivíduo real com o seu perfil digital. Por outro lado, incrementam-se os problemas causados pelo stalking, pelo bullying, entre outras práticas nocivas, que desafiam o Direito e levam à elaboração de novos conceitos nesta área do conhecimento e à promulgação de leis relativas a acontecimentos específicos do mundo digital.

Todavia, a experiência individual online é um fenômeno incontornável, a ponto de se poder falar em cidadania digital. A literacia neste campo torna-se uma condição ao acesso a serviços e ao exercício de direitos. Assim comos os indivíduos, também as sociedades se duplicam na internet, levando consigo novas formas de desigualdades e de desequilíbrios, por exemplo, em termos etários, raciais, de género e de classe social.

A profusão de dados continuamente gerados nos ambientes virtuais e a imparável evolução dos dispositivos e das técnicas de inteligência artificial intensificam o desafio de compreensão do fenómeno digital. São inúmeros os desafios interpostos aos Estados e às esferas das sociedades ocupadas com o direito, a religiosidade, a cidadania e a produção e o estudo da cultura. A abordagem transdisciplinar torna-se num imperativo. Faz-se necessário também a aplicação de novas metodologias, entre elas, a etnografia realizada no digital. Esta apresenta-se como um método eficaz para se perceber como as relações interpessoais desenvolvem-se, quando mediadas pelas novas tecnologias.

Com o objetivo de reunir análises sobre este panorama em países falantes da língua portuguesa, buscamos contribuições de pesquisadores oriundos de diferentes áreas do conhecimento. Uma vez que o volume resulta do projeto Constelações da Memória: Um Estudo Multidirecional da Migração e da Memória Pós-colonial, serão privilegiadas as propostas que tenham como norte o entendimento dos fluxos humanos e dos seus desdobramentos, em contextos historicamente marcados pela relação colonial, nomeadamente aquela relacionada ao imperialismo português. Neste sentido, os capítulos do livro deverão abranger diferentes eixos de análise, desde as representações de sujeitos até o uso das ferramentas digitais por lideranças e partidos políticos, tendo em vista a influência sobre os processos legislativos e judiciais de toda ordem, inclusive os eleitorais.

Compreendemos a necessidade de difundir os conhecimentos produzidos sobre estas matérias pelas pesquisas realizadas em instituições dos países falantes da língua portuguesa, bem como por estudos de investigadores de diferentes nacionalidades sobre o contexto desses países. Interessam-nos, em especial, estudos que correlacionam o uso das novas tecnologias a afirmações de pertença ao território, aos mais diversos ativismos, à produção artística e à disseminação de informações. Além dos vínculos de amizade, faz-se necessário conhecer os mecanismos de criação de comunidades em torno de personalidades de influência e as suas relações com empresas, igrejas, movimentos sociais e partidos políticos.

A obra dará ênfase especial aos esforços de trabalhos que valorizem a multidisciplinaridade. As conexões da convivência online com a offline merecem atenção, no que elas poderão esclarecer sobre a criação de memórias, a relação dos sujeitos com o território, o comércio de produtos e serviços e a expressão artística. Também a presença de cientistas nas redes sociais pode sugerir um tópico de relevância. Por esta perspetiva, análises de produção audiovisual para as diferentes plataformas de transmissão audiovisual são igualmente importantes.

Investigadores interessados devem enviar um resumo de 450 a 500 palavras, acompanhado de uma biografia de até 250 palavras, com indicação da instituição a que estão ligados, se houver, até o dia 25 de Maio de 2023, para o e-mail mrguimaraes@edu.ulisboa.pt

Dúvidas sobre este processo seletivo podem ser enviadas a este mesmo endereço eletrónico.

Os autores serão informados se as suas propostas de capítulos foram aceitas até 29 de junho. Os capítulos completos, com até 50 mil caracteres e de acordo com a normativa APA, deverão ser entregues até 14 de setembro. Salienta-se que a aceitação da proposta não condiciona a publicação do respectivo capítulo na versão final do volume.

 

Datas importantes

25 de Maio de 2023 - Envio de propostas

29 de Junho de 2023 - Decisão sobre a publicação (aceite ou recusa)

14 de Setembro de 2023 – Envio dos capítulos completos e revisados

09 de Novembro de 2023 – Conclusão da revisão por pares e envio do texto aos autores para eventuais ajustes

23 de Novembro de 2023 – Entrega da versão final dos capítulos selecionados

por vários
A ler | 19 Abril 2023 | Cidadania na era digital, identidade, memória