Afro Portugal 2022

A canção “Canto dos Torna-Viagem”, de José Mário Branco, interpela as grandes narrativas coloniais que ainda sustentam a identidade nacional portuguesa, a partir do símbolo da viagem de descoberta. A provocação é forte e incisiva no sentido de fazer as contas de uma “Pátria Moratória” que foi deixando “Desperdícios coloniais” entre os seus, e onde chegou e dominou. É preciso, pois, inverter a perspetiva sobre a história e tentar “ver a coisa/do ponto de vista de quem não chegou”, de quem já estava nas colónias, dos que já cá estão, ou de cá são, sem que a “Pátria imaginária” os reconheça, na sua “consistência vária”. Este amplo programa insere-se, assim, nos debates atuais sobre memória colonial, o racismo, e coloca em destaque as vozes artísticas negras, africanas e afrodescendentes em Portugal, de várias gerações. Inclui performances, exposições, filmes, debates, literatura, música, workshops e ações socioeducativas, culminando na peça “Aurora Negra”.

Curadoria: Catarina Martins (FLUC/CES)

Coprodução: Teatro Académico de Gil Vicente, A Escola da Noite

Parceria: Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), Casa da Esquina, Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Doutoramento em Estudos Feministas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Projeto CROME (CES).

12 — 22 OUT 

Contas de Torna-Viagem

12 OUT palestra • 18h00

Vamos ver a coisa ao contrário? Desconstruir o racismo nas artes com Catarina Martins (FLUC/CES)

Local: Auditório José Manuel Melo, Escola Secundária D. Duarte/Agrupamento de Escolas Coimbra Oeste

Inscrição e participação gratuita

14 E 15 OUT

curso de formação*

Racismo, antirracismo e as artes com Marta Araújo (CES) e Gonçalo Cholant (FLUC)

Local: CES e Teatro da Cerca São Bernardo

Inscrição e participação gratuita

*inclui Oficina de Teatro do Oprimido

15 — 22 OUT

exposição

Black youth: weaving identities

Artistas visuais e intérpretes de diversas proveniências, com origem e percurso em contexto pós-colonial, propondo uma reflexão sobre ancestralidade, o corpo negro, a família e a memória, essencialmente orientada para o cruzamento de novos eixos de identidade, especialmente nas gerações mais jovens.

Curadoria: Madalena Bindzi

Local: Casa da Esquina

Inauguração: 15 de outubro - 18h00 - entrada gratuita

15 OUT

performance* • 18h00

Nome próprio

de Hamilton Francisco Babu

Uma narrativa da desconstrução da nomeação. O apagamento dos nomes africanos como apagamento de identidade. A dislexia da minha origem, nem sou cá, nem sou lá, sou apenas uma fragmentação dessa dislexia, sou um criptocorpo, sou uma concha difratada. Sou uma experimentação do outro, que nunca me deixou expressar, sou um ser híbrido vivo no meio de dois mundos, onde me tento expressar em paisagens visuais e sonoras reinventadas por mim. Vivo num limbo de esquizofrenia, como que habitando duas identidades ou mais, deambulo entre essas paisagens, na procura incessante da minha origem. Sou um objeto em constante vigilância. Vivo num processo em constante desenvolvimento e negociação.

Local: Casa da Esquina

Duração aprox.: 15 min - M12

Entrada gratuita

*performance integrada na exposição Black Youth: Weaving Identities

17 — 21 OUT

feira do livro • 14h00 — 24h00

Literaturas Afrikanas

Com: Literatura de autoria negra, sobre racismo e, em particular, teatro de autoria negra Editora: Falas Afrikanas (projeto editorial sem fins lucrativos)

Local: Foyer TAGV

17 OUT

documentário • 18h00

Viver e escrever em trânsito: entre Angola e Portugal de Doris Wieser (DOC., 2001)

Baseado em seis entrevistas com escritoras e escritores cujas vidas têm transitado de diferentes maneiras e em diferentes épocas entre Angola e Portugal – Ana Paula Tavares, Aida Gomes, Kalaf Epalanga, Raquel Lima, Yara Monteiro, Zetho Cunha Gonçalves – este documentário apresenta narrativas de rutura e de (re)conciliação.

Documentário no âmbito do projeto: Identidades Nacionais em Diálogo: Construções de Identidades Políticas e Literárias em Portugal, Angola e Moçambique (1961-presente), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e sediado no Centro de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Conversa pós-filme com: a realizadora Doris Wieser e a escritora angolana Ana Paula Tavares

Local: auditório TAGV

Duração: aprox. 2h00 + conversa • M12 • €5 • €3,5


17 OUT

filme • 21h00

Chelas Nha Kau de Bataclan 1950 & Bagabaga Studios (PORTUGAL, 2020)

Dizes que Chelas é isto, dizes que Chelas é aquilo… Cala a boca, estás a falar à toa”, é com a batida e as rimas do rap que os Bataclan 1950 autorizam a entrada no seu mundo. Mas o aviso está feito: os preconceitos são para ficarem à porta. Chelas nha Kau (Chelas meu lugar) é um caleidoscópio de imagens captadas entre 2016 e 2019. Um filme que revela várias camadas do que é ser jovem num bairro social e mostra o universo interno de um grupo de amigos para quem “Chelas é a capital de Lisboa e Lisboa é a capital de Portugal”.

Estreia mundial: Doclisboa 2020

Local: auditório TAGV

Duração aprox.: 57 min. • M12 • €5 • €3,5

18 OUT

documentário-reportagem • 18h00

Por ti, Portugal, eu juro

Por divergente

Esta é uma reportagem dividida em quatro capítulos, resultado de uma investigação que decorreu entre os anos 2016 e 2021. Durante a Guerra Colonial, milhares de africanos combateram ao lado de Portugal e arriscaram a vida pela pátria que acreditavam ser sua. Uma história de denúncia de um Estado que os usou, explorou e, por fim, descartou.

Conversa pós-filme com: Sofia Palma Rodrigues, Diogo Cardoso, Abdulai Djaló, Juldé Djaquité sobre a história dos comandos africanos

Local: Teatro da Cerca São Bernardo

Duração aprox.: 2h00 + conversa • M12 • entrada gratuita

19 OUT

debate • 18h00

Pátria moratória-portugal e a memória colonial

Em Canto dos Torna Viagem, magnífico tema que dá o mote a este ciclo, José Mário Branco fala-nos de uma “pátria moratória” despida da grandiosidade épica com que um certo afã nacionalista a foi imaginando. A dado momento, convida-nos a olhar a história com o olhar “dos outros”: aqueles que não têm culpa “se quem p’ra cá veio / Não se incomodou ao saber do horror”. Este debate pretende seguir nesse trilho de questionamento dos passados coloniais e dos seus legados. Tomaremos como ponto de partida o modo como em Portugal se tecem essas seletividades eloquentes que tendem a glorificar a gesta das Descobertas e o impulso ecuménico que teria gerado encontros de culturas e frutíferas miscigenações, esquecendo a realidade concreta do colonialismo enquanto ordem intrinsecamente produtora de hierarquias, desigualdades e opressões.

Com a participação de: Miguel Cardina, Bruno Sena Martins, Jorgette Dumby

Co-organização projeto: CROME Crossed Memories, Politics of Silence. The ColonialLiberation Wars in Postcolonial Times (StG-ERC-715593), Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

Local: Café TAGV • entrada gratuita

performance • 21h30

Álbuns de guerra

de Catarina Laranjeiro e Tânia Dinis

É sobre a Guerra Colonial, a partir das imagens e memórias partilhadas por mulheres da zona do Vale do Ave que, ao longo dos 24 meses de serviço militar dos então namorados, noivos ou maridos, materializaram a sua relação amorosa, trocando fotografias, aerogramas e cartas. Mais do que o homem que foi para a guerra, interessa a mulher que ficou à espera e cujos amores de juventude são o fio condutor para uma outra história, mais privada e sensível, sobre este conflito global.

Coprodução: Teatro Oficina - PACT (Plano de Apoio à Criação Territorial) e Associação Cultural Tenda de Saias

Arquivos pessoais e histórias de vida: Emília Ribeiro, Jandira Henriques, Fernanda Lobo, Esperança e Casimiro Martins, Delfina de Fátima Ribeiro, Teresa Silva, Lurdes Matos, Ludovina Martins, Rosalina Fernandes, Rosa Leite apoio Fundação Calouste Gulbenkian mistura de som Rui Lima voz Sara Pereira

Local: Sala Brincante da Cena Lusófona

Duração aprox.: 35 min. • M12 • entrada gratuita

20 OUT

debate • 18h00

Olhares de quem (não) chegou

Um debate sobre as identidades africanas, afrodescendentes e crioulas, as memórias nacionais e diaspóricas, e a literatura de autoria negra em Portugal, na Europa e no Brasil.

Com os escritores/as africanos: Aida Gomes (Angola), Mário Lúcio Sousa (Cabo Verde), Kalaf Epalanga (Angola) apoio Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, FLUC; Doutoramento em Estudos Feministas (CES/ FLUC)

Local: Sala Brincante da Cena Lusófona

Duração aprox.: 2h00 • entrada gratuita

20 E 21 OUT

teatro • 21h30

Aurora negra de e com Cleo Tavaras, Isabél Zuaa, Nádia Yracema

O canto começa na voz de uma mulher que fala. Fala crioulo. Fala tchokwe. Fala português. Em cena, três corpos, três mulheres na condição de estrangeiras onde são faladas essas três línguas. Em cada mulher uma essência, personalidade e trajetória que se cruzam com a certeza de que nada voltará a ser igual. Nesta Aurora Negra, Cleo Tavares, Isabél Zuaa e Nádia Yracema buscam as raízes mais profundas e originais dessas culturas, celebrando o seu legado e projetando um caminho onde se afirmam como protagonistas das suas histórias.

Produção: Cama A.C

Coprodução: Teatro Nacional D. Maria II, Centro Cultural Vila Flor, O Espaço do Tempo, Teatro Viriato

Apoios: Alkantara, Casa Independente

Este espetáculo venceu a 2ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço criada pelo Teatro Nacional D. Maria II, o Centro Cultural Vila Flor, O Espaço do Tempo e o Teatro Viriato para apoiar a produção de espetáculos de jovens artistas e companhias emergentes, com o intuito de promover a renovação da criação teatral portuguesa

Local: auditório TAGV • Duração aprox.: 1h30 • M12 • €7 €5

21 OUT

performance • 18h00

Pelo peso da palavra P

de Marinho Pina

Uma mistura de poesia, música, dança, comédia e outras acrobacias de contar história. Esta performance promete passear pela palavra “P” para processar parte dos problemas que a palavra “P” projeta. Promete-se, portanto, pensar e palrar dos potenciais, dos perigos e dos preconceitos que prepotentemente permeiam a palavra “P”. Hoje, neste nosso ambiente todo decolonial e descolonial e pós-colonial e retro-colonial e qualquer sufixo-que-queiras-colonial, é necessário fazer colonoscopias às colunas dos colonos (seja quem forem esses) e às suas colonizações, sem todavia ridicularizar, nem invalidar o trabalho que se tem vindo dentro da problemática da palavra “P”. Pelas histórias, estórias, vídeos, contos, cantigas, músicas, poesias, adivinhas e outras blablaquices, vamos fazer um DJUMBAI (convívio em kriol) que é caracterizado pela oralidade e diversão! O convívio tem de ser divertido e para isso todos devem/ podem participar: quem não conta, escuta… quem não canta bate o pé… quem não dança, bate palmas, caramba! Mas a ideia é todos procurarmos a nossa palavra “P” interior.

Local: Sala Brincante da Cena Lusófona

Duração aprox.: 1h20 • M12 • entrada gratuita

22 OUT

música • 16h00

Batucadeiras bandeirinhas da boba

Espetáculo musical, narrativas e memórias de mulheres negras

Sediado no Casal de São Braz no Concelho de Amadora em Lisboa, o grupo de batucadeiras Bandeirinha foi criado em 2016 por um conjunto de mulheres cabo-verdianas, empregadas domésticas, com o objetivo de construir um espaço de intimidade, cumplicidade e partilha, através do batuque, este género cultural cabo-verdiano, profundamente griótico na sua metodologia, onde a palavra é cantada, dançada, performada a partir da língua cabo-verdiana.

Parceria: Gender Workshop/CES

Local: Pátio do CAV - Centro de Artes Visuais

Duração aprox.: 1h00 • entrada gratuita

por vários
Vou lá visitar | 14 Outubro 2022 | afro portugal, Aurora Negra, cinema, cultura, exposição, pos-colonialismo, teatro