Ao longo de 10 anos uma equipa constituída por artistas visuais, antropólogos, arquitetos, designers, engenheira agrónoma, participaram e realizaram um conjunto de projetos artísticos, documentais e cinematográficos no bairro da Quinta da Vitoria, com o pressuposto de contribuir para uma representação mais inclusiva destas comunidades. Ao mesmo tempo que o bairro foi sendo construído pelos próprios moradores, foi crescendo uma barreira invisível que o delimita da cidade. Esta divisão crescente, preconceitos e representações abstratas, contribuíram para a exclusão social e cultural destas comunidades.
10.08.2022 | por Sofia Borges
Em resumo, os moradores de rua localizam-se territorialmente, sobretudo, através do seu
corpo. Por um lado, suportam as mazelas físicas e morais impressas pelas interdições à sua presença, sofrem uma tensão latente que encurva e amarra seus movimentos, comprimem os corpos de maneira a caber nos interstícios e espaços ociosos dos quais se apropriam. Por outro, desviam-se dos obstáculos, moldam técnicas corporais de sobrevivência, demarcam lugares de intimidade, arranjam maneiras de saciar suas necessidades corporais, tornam-se miméticos do espaço acomodando a sua presença à paisagem urbana, criam visibilidades desnorteantes quando necessitam se fazer notar. Essa corporalidade pressupõe resistência à sua eliminação. E se não existe tenacidade possível na manutenção de uma propriedade material, há na forma de preservar sua existência material e simbólica. A subjetividade garantindo o corpo vivo.
05.06.2022 | por Simone Frangella
O remapeamento das memórias de Lisboa e Hamburgo foi o objetivo do ReMapping Memories Lisboa – Hamburg: Lugares de Memória (Pós)Coloniais, do Goethe-Institut Portugal. Susanne Sporrer, diretora do instituto, e Marta Lança, coordenadora do projeto, explicam a importância de descolonizar a cidade e fazem o balanço destes dois anos que se assinalam a 28 de maio, com uma festa que é para continuar.
27.05.2022 | por Catarina Pires
O presente estudo, tem como objetivo esclarecer acerca da importância do património cultural imóvel, visando proporcionar um enquadramento cultural e histórico do mesmo, e simultaneamente a recolha de informação sobre a função que desempenha, averiguando qual o contributo gerado para a dinamização na cidade de Lisboa. Considerando que património cultural imóvel e cultura estão intimamente próximos e que sem a noção de cultura não existiria a noção de preservação do património, a pertinência deste trabalho reside, entre outras, na hipótese de fornecer elementos que permitam compreender as inúmeras interligações existentes, e sem as quais não seria possível experienciar e usufruir do património nos moldes em que atualmente o fazemos. Analisa-se esta interligação com o espaço público, partindo de uma definição de cultura e oferece-se uma caracterização abrangente.
26.05.2022 | por Alícia Gaspar
Outros Céus Fechados de Lisboa aparece como inquietação perante as distopias urbanas, apoiadas pela financeirização que evidentemente tem os espaços abandonados como ativos económicos permanentes, bastante distante de quaisquer alternativa que visa prolongar os direitos à cidade e à habitação, como meios inadiáveis na construção do Estado Social.
11.05.2022 | por Lubanzadyo Mpemba Bula
A relação entre os corpos e o espaço é inescapável, sendo através do segundo que os primeiros se cumprem enquanto agentes móveis e livres, e exercitam os seus direitos de cidadania. Contudo, o que importa nomear é a privação do pleno acesso ao espaço a determinados corpos, os corpos de pessoas negras, das comunidades ciganas/romenas e migrantes.
Partindo da tese de bell hooks acerca da antítese margem-centro, a vedação do acesso ao centro dos corpos racializados atua enquanto instrumento de periferização desses mesmos corpos, segregados pelos caminhos de ferro.
13.04.2022 | por Catarina Valente Ramalho
A viagem começa pelo Fortim Del Rei, um dos lugares onde acedemos a uma das mais bonitas vistas do Mindelo, numa panorâmica para o Monte Cara e para a Avenida Marginal. Trata-se de um espaço onde restam apenas ruínas de um Forte construído em 1852, guarnecido e partilhado com sete peças de ferro, fundidos em Londres e que serviu de prisão.
10.02.2022 | por Sidneia Newton
Diz-se que a história é escrita por vencedores; os mapas também o são. Propõem uma linguagem, um discurso, uma ideologia. Dizem o que existe e o que não existe e circunscrevem o possível, estabelecem o governável. Na sofisticação das suas linhas não há espaço para perguntas. As suas omissões são nossas, delas dependem vidas, territórios, decisões.
21.01.2022 | por António Brito Guterres
Promover a diversidade, a representatividade e a igualdade são pilares desta missão conjunta, através da qual nos dedicamos a ser agentes ativos no fortalecimento e na criação de pontes por via da aproximação e da partilha de experiências, valorizando o respeito pelo “outro”, tendo como veículo a educação e a aprendizagem intercultural. É este o mote da Lisboa Criola, que nos une na diferença, abraçando o desafio de, através das artes e da cultura, aproximarmos e promovermos o diálogo entre pessoas de comunidades, culturas e origens diversas.
29.06.2021 | por vários
ReMapping Memories Lisboa – Hamburg: Lugares de Memória (Pós)Coloniais propõe pensar a relação da cidade com a colonialidade: o modo como o colonialismo e a resistência anticolonial são transmitidos na memória coletiva, nos vestígios materiais e no espaço público das cidades portuárias de Hamburgo e Lisboa. Partindo destes dois antigos centros do colonialismo europeu, procura-se evidenciar como as relações de poder de matriz colonial perduram até hoje, e encontrar modos de inscrever outras histórias nos debates sobre as disputas de memória e estratégias de descolonialização das cidades europeias.
24.06.2021 | por vários
A Liberdade pode ser a avenida-símbolo do 25 de Abril, mas outras vias de Lisboa também tiveram papel importante de resistência nos anos sombrios. A Almirante Reis tem algo a dizer sobre o assunto: sobre os seus teatros, cafés e cinemas que foram refúgios de ativistas, intelectuais e artistas, reunidos em volta de uma chávena a conspirar e, principalmente, a sonhar com outros melhores dias, livres dos tons de cinza do Estado Novo.
08.06.2021 | por Álvaro Filho
“Nós por cá, todos bem” é a expressão que ficou da correspondência dos anos 60 e 70. O que é mais interessante nesta expressão não é o “todos bem”, que era o que era sempre apropriado dizer, nem o “cá”, que remete para uma metrópole a comunicar com terras distantes, tão apaixonantes quanto ameaçadoras, mas o “nós”. O que é que significa que o “nós” fosse o pronome que fica desse tempo?
08.06.2021 | por Susana Moreira Marques
"A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture" expressa a decisão de “trabalhar de forma intuitiva e cumulativa para construir uma série de experimentações escultóricas que constituem uma proposta de uma visão mais inclusiva de um todo na arquitetura africana. Em direção a uma arquitetura panafricana”.
22.05.2021 | por vários
Por trás de uma paisagem verdejante esconde-se uma casa em ruínas. Situa-se, precisamente na Quinta das Conchas e dos Lilases, no Lumiar em Lisboa, resultado de recuperação de duas quintas do século XVI, agora espaço público de lazer.
Após ter passado por várias famílias, esta quinta tornou-se propriedade de Francisco Mantero que a adquiriu em 1899 e foi seu proprietário até 1927. Da casa pouco resta, mas consegue-se ver a sua estrutura apalaçada, fazendo lembrar as antigas casas coloniais.
30.03.2021 | por VxMag
Apesar da importância da escravidão na formação de Portugal e do seu império ultramarino, esta horrenda história da submissão “negra” é completamente abafada na memória pública lisboeta. Em contraste ao (recentemente criado e bem tardio) Museu da História e Cultura Afro-Americana nos EUA ou ao Museu Afro-Brasileiro em São Paulo, Brasil, não há museus deste género ou um memorial público de condenação tal como em Nantes, França. Mais recentemente, apesar de tudo, um museu de escravatura foi criado no histórico mercado negro “Mercado de Escravos” no sul de Portugal, no porto de Lagos, o qual é considerado o primeiro local de troca comercialde escravos africanos na Europa. No entanto, Lisboa permanece ainda largamente calada face ao seu legado de terror branco e cativeiro negro.
04.02.2021 | por Yesenia Barragan
O racismo entre as duas comunidades dividia, de cima a baixo, a sociedade luandense, do poder judicial ao comércio que se fazia no interior dos musseques. A retórica usada pelo procurador, ao tentar abanar os alicerces sociopolíticos dessa justiça racial e ao pôr a descoberto a hipocrisia, o subjetivismo e a parcialidade dos juízes, invocava três imagens sobre o mesmo espaço: o recorrente dualismo entre a cidade branca e a cidade negra; um roteiro da modernidade urbanística conspurcada pelo terrorismo e a geografia punitiva do império.
04.01.2021 | por Bernardo Pinto da Cruz, Nuno Domingos, Diogo Ramada Curto, Juliana Bosslet, Marcelo Bittencourt e Pedro David Gomes
Nas últimas décadas, o conflito na África subsariana não só devastou as aldeias e criou campos de refugiados em lugares dispersos, como também transformou as cidades e vilas onde agricultores aterrorizados procuravam segurança e oportunidade. Apesar dos subúrbios desordenados – fruto de um crescimento urbano não planeado – não escaparem à visão dos gabinetes das autoridades do Estado e das instituições de apoio internacional, estas organizações não têm abordado a relação entre conflito e urbanização. Tal negligência compromete a reconstrução pós-conflito, desperdiça oportunidades para o desenvolvimento e arrisca-se a quebrar uma paz muito débil.
02.01.2021 | por Simone Haysom
Um dos elementos mais marcantes da expressão criativa e artística portuguesa está nos pés daqueles que percorrem o seu território, para além de outros tantos nos quais os portugueses foram importantes no seu ordenamento: é, precisamente, a calçada. Repleta de motivos tradicionais e de aspetos geométricos notáveis, é um esforço que, por mais prolongado pelo país, está na mão de um sem número de laboriosos indivíduos, que, de picareta na mão, colocam pedra sobre pedra, materializando essa visão profunda. Os calceteiros são, assim, os mestres práticos de uma teoria que desenha uma das marcas de referência da portugalidade.
22.12.2020 | por Lucas Brandão
O projeto foi uma sucessão de textos literários, e não em forma de um guião convencional, entreguei à Rita Palma [argumentista] e “vê lá o que conseguimos fazer com isto?”. Resumindo, as coisas foram construindo com Lisboa, com as personagens extraídas de Maria Judite Carvalho e Irene Lisboa, das suas vidas e ainda um parte … muito pequenina … da minha relação com a cidade e com a minha família.
22.12.2020 | por Hugo Gomes
As doze performances pensadas para a câmara fotográfica habitam a tensão entre duas dimensões de representação - a cidade como espaço e o mundo como corpo - uma vez que a cidade é-nos apresentada pelo seu betão anónimo e o mundo é tido como a experiência acumulada e materializada do indivíduo através do seu corpo.
15.12.2020 | por Raquel Lima