É preciso voltar a olhar para o que está presente e ver os futuros que brotam, a abundância da qual pode provir o futuro. Para deixar em aberto as suas possibilidades, instalemo-nos no presente quotidiano, naquilo que está mais à mão de semear. Sejamos permeáveis ao que vive, quer viver e contraria a ausência de futuro. O que pode romper com o “realismo”, essa espessa cortina que oculta as possibilidades de futuro.
A ler
14.09.2024 | por Liliana Coutinho
Todos nós éramos
todos nós fomos
espelhos quebrados
alquebrados reflexos falantes
das deambulações dos nossos parentes
embarcados dos nossos familiares
emigrados no vasto mundo
dos seus eventuais encontros
com o filho mais velho
do professor Juvenal Cabral
e da costureira Iva Évora
desde há muito banido
das menções expressas na roda
das pessoas comprometidas
com o bem da nação
valente e imortal
por isso tão somente
sussurrado na sua
omnipresente ausência
e cumplicemente apelidado
como Aquele Homem
ou melhor dito e falado
como o Homem Grande
Mukanda
12.09.2024 | por José Luís Hopffer Almada
A Conferência foi muito boa, vamos ver a prática. Foi também um grande triunfo para o nosso Partido, para o nosso povo e a luta. No final, falei em nome de todos os ML, e toda a gente gostou imenso do meu discurso. Depois te contarei. Tive contacto com vários chefes de Estado, inclusive com o Imperador. Vou seguir amanhã muito cedo via Roma, e irei certamente a Stockholm por um ou dois dias, a fim de arrumar o problema da ajuda. Conto estar em casa dentro de uma semana, passando por Dakar. Escreve-me, se puderes.
Mukanda
11.09.2024 | por Amílcar Cabral
Spent manifesta-se nas paredes urbanas, que são as suas telas, um papel importante na sua vida, o mesmo permite-lhe manter uma relação com a sociedade, pela via discursiva e visual. Este meio é talvez um espaço onde consiga articular melhor os seus problemas e questionamentos existenciais, de crises, da natureza imagética, e de outras propostas estéticas e filosóficas.
Cidade
07.09.2024 | por Selso Zua
Apelamos a todas as pessoas, coletivos e demais forças da sociedade portuguesa e comunidade internacional que se juntem a nós na exigência de revogação da sentença e de reparação da violência infligida pela polícia e pelo sistema judicial a Cláudia Simões. Neste momento, em que ela se prepara para recorrer da decisão, a solidariedade de todes é indispensável, com Cláudia Simões e com todas as vítimas de violência policial e do estado.
A ler
05.09.2024 | por vários
Na verdade, não é a qualquer escritor que acontece, como a Uanhenga Xitu, a criação de um personagem literário que extrapola a própria literatura e o seu criador, como é o caso desse Mestre Tamoda, para tomar vida própria e se entranhar na carne e no quotidiano dos seus leitores como um muito velho e bom Amigo, sempre disponível e presente, sem jamais trair ou melindrar, enfim, um desses Amigos que a Vida tão poucos nos dá.
A ler
04.09.2024 | por Zetho Cunha Gonçalves
Não podemos permitir que instrumentalizem a cidade de Guimarães e a tornem o centro do ódio para legitimar e normalizar ideologias racistas. Assim, as pessoas de Guimarães, assim como as associações e os coletivos de Guimarães e do país inteiro, estão unidas na realização da Marcha Guimarães pela Liberdade, para assinalar e celebrar a República e assegurar que, quer Guimarães, quer o resto do país não são racistas e não compactuam com a instigação ao ódio e à segregação social.
Mukanda
26.08.2024 | por vários
Todo este manancial de informações e interpretações desemboca num estuário instigante. A conclusão a que chega o autor, após as razões expostas ao largo do ensaio, é de que “a democracia ainda não conseguiu expurgar a sociedade portuguesa da estigmatização social de que os negros continuam a ser alvo”.
A ler
26.08.2024 | por Márcio Catunda
Foi há quase três meses. A 10 de Junho, pela primeira vez na história, a justiça norte-americana condenou uma multinacional daquele país por violação de direitos humanos fora dos EUA. A sentença contra a Chiquita Brands confirmou a responsabilidade do gigante bananeiro pelo assassinato de oito camponeses colombianos por paramilitares, nos anos 90. A decisão do tribunal da Flórida abre agora passo à punição de multinacionais pelas décadas de abusos na América Latina. Pelo caminho, revive fantasmas de massacres antigos.
Jogos Sem Fronteiras
23.08.2024 | por Pedro Cardoso
Sorvi o grito de Sly Stone e acolhi, entusiasmado, o "na-na na-na boo-boo" de Rose Stone. Hino à harmonia racial, social e étnica, Everyday People tornou as minhas tardes mais coloridas, pacíficas e alegres. Agarrei-a pela cintura, dancei com ela sem me mexer. E comecei a cantá-la, os lábios levemente abertos, perdido diante do último verso desta sequência: I am no better and neither are you. We're all the same, whatever we do, You love me, you hate me, You know me and then, You can't figure out the bag I'm in. Sim, foi em You can't figure out the bag I'm in que o meu ouvido ficou a bailar.
Palcos
18.08.2024 | por José Marmeleira
Na Venezuela não existe candomblé como no Brasil, estando a tradição de afrodescendentes ou expressa pela religião católica ou na denominada de santeria. A santeria foi trazida sobretudo a partir de Cuba, mas há também muita charlatanice reconhecida por todos, mas disseminada. Por vezes, grupos são convidados a tocarem algumas celebrações de santeria, como as de Santa Bárbara. Os afrodescendentes venezuelanos celebram os santos populares, como em Portugal. O São João, o Santo António e São Pedro têm festas grandiosas.
Vou lá visitar
18.08.2024 | por Maria Prata
Todos os dias chegam cubanos. No DIP criou-se uma sala só para as peças contra os carcamanos e os fantoches. Eu continuo na projecção das reportagens e de alguns filmes. O 2 dentes de ouro já foi bater continência ao Brejnev (Paiva foi com ele) e assim que chegou, afastou o camarada ministro da defesa, ao que parece vai fazer uma superação profissional no estrangeiro. Nos comitês de bairro só se fala de “aprender, aprender, aprender sempre".
Afroscreen
14.08.2024 | por Fradique
Depois de ler e ouvir os mais recentes arquivos de Isaurino, tive de dar um tempo, falar com algumas pessoas e mergulhar em outros arquivos. Senti que estava a ser enganado, que talvez a vida e as notas deste projecionista angolano fossem apenas uma imaginação de um mais velho que se perdeu ao longo das suas memórias na diáspora. Só uma certeza existia. Os meses agitados e de grande conflito para Isaurino Lisboa no final 1979 continuaram durante todo o ano seguinte.
Afroscreen
14.08.2024 | por Fradique
a maior virtude deste livro: a capacidade de nos dizer, sem nos dizer, o quanto da guerra está em não sabermos como viver. Deixo-vos com uma hipótese dada, talvez, pela própria autora e que poderia dispensar todo o tempo que vos tomei. Que resume, na confissão de uma alma errante, que a força da escrita, da palavra, da imagem, reside na abolição das fronteiras ou, melhor, no arco em esforço da imaginação: Hoje sou daqui / ontem fui de longe... / Quero-me assim / segundo a segundo / ponte / sempre ponte.
A ler
12.08.2024 | por Frederico Martinho
No ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril de 1974, revolução impulsionada por militares que combateram em África, a guerra continua votada a um certo esquecimento. Muito embora todos nós tenhamos familiares ou histórias de pessoas próximas que estiveram envolvidas na guerra colonial, esta continua a representar um campo memorial de traumas e silêncios. O sacrifício de homens e mulheres que direta ou indiretamente estiveram envolvidos neste fatídico conflito deve continuar a ser (re)lembrado.
Vou lá visitar
10.08.2024 | por Inês Vieira Gomes
Compreender o percurso de Paulo Moreira e do INSTITUTO é importante para percebermos que este trabalho tem uma continuidade, que há um comprometimento no tempo com as questões aqui pensadas, e um interesse que se fortalece a cada projeto. Este aspeto reveste-se de particular importância num tempo em que as palavras decolonial (que em português não quer dizer nada, porque nada quer dizer o prefixo ‘de’), descolonizar e reparações, entre algumas outras, são cada vez mais esvaziadas de significante político e a própria ideia de aprender a desaprender tem feito o seu caminho e chegará em breve a muitos títulos.
Cidade
10.08.2024 | por Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado)
E tragam também
as outras estações e temporadas todas
transaccionadas pelas mulheres das ilhas
na quotidiana demanda
dos horizontes submersos
na metade sonegada dos céus
A ler
09.08.2024 | por José Luís Hopffer Almada
Esta tese explora o semba, uma expressão cultural artística de dança e música urbana, profundamente enraizada na cidade de Luanda. Analiso como este bem cultural tem sido transformado em património cultural imaterial enfrentando desafios como a patrimonialização, comercialização, objetificação e turistificação. A investigação contextualiza a iniciativa global de elevar gêneros musicais e de dança à categoria de património imaterial pela UNESCO e examina as políticas culturais do Estado angolano, nesta corrida ao património imaterial. Foco-me particularmente nas interações entre a comunidade de práticas do semba e comunidade autorizada do património, explorando como estas comunidades, grupos e indivíduos gerem, performam e representam o semba como património cultural intangível.
Palcos
08.08.2024 | por André Soares
A divulgação das circunstâncias do combate travado na floresta é uma chamada à mobilização global pela Amazónia, no sentido de equilibrar as forças para que este bioma deixe de ser a região com o maior nível de conflitos e assassinatos no Brasil e para que documentários como O Território e Somos Guardiões, gravados em pontos geográficos distantes e com povos indígenas distintos, não tenham guiões tão semelhantes.
Afroscreen
05.08.2024 | por Anabela Roque
A etnografia e a etnologia desenvolveram-se a par dos museus desde o século XIX, o interesse pelo primitivo, os objetos, hábitos e culturas das sociedades rurais ou pré-industriais despoletou mecanismos de estudo, inventariação e musealização. Destes processos não esteve ausente a construção de identidades, coincidente com o período de afirmação dos Estados-nação, e, na Europa do Sul, a constituição de regime autoritários de feição nacionalista, no caso português verificou-se na apropriação do primitivo/ingénuo para uso de propaganda política (a invenção de um povo que “vivia habitualmente” / “política do espírito” de António Ferro).
Vou lá visitar
03.08.2024 | por Josina Almeida