Isabelle Kouraogo trata o tema do abandono paterno com segurança e respeito, acrescentando detalhes invulgares e inesperados a uma narrativa que é a realidade de muitos milhares de crianças. Os dois atores representam com eficácia e sobriedade as respetivas personagens e espelham bem todas as vivências e desejos que os habitam.
05.03.2019 | por Luísa Fresta
Este artigo surge do interesse pelo contexto de produção do cinema brasileiro contemporâneo, caracterizado por um redimensionamento dos aspectos políticos de sua atuação a partir de uma breve digressão sobre o cinema da Retomada até o filme O som ao redor. Analisaremos também o filme Vazante cujo tema abordado está contido no interior de rearranjos culturais do cinema contemporâneo tornando-se um filme importante para compreensão do atual contexto cultural e político no Brasil.
19.02.2019 | por Michelle Sales
No limite, talvez um homem deva prescindir da sua própria existência para dar lugar a uma nova vida, e é essa uma das linhas mestras da história de Ahmed Zeda. Há uma mensagem que cada espectador desvendará segundo os seus próprios referentes. O cineasta é sobretudo o projetor que ilumina a cena, como um sol potente que afasta as nuvens mais carregadas.
18.02.2019 | por Luísa Fresta
O filme de Nebyinga Kafando traz a lume a questão: quais os desafios para os mais jovens e para a sociedade em geral no que diz respeito ao acompanhamento dos mais velhos nos dias de hoje e num futuro próximo, nomeadamente em África, quando a doença bate à porta e o idoso, já algo afastado do convívio da família nuclear, se torna ainda mais excluído por via da invalidez?
06.02.2019 | por Luísa Fresta
Mekas nos deixa em um momento sombrio, quando todas as forças parecem querer apartar os laços que unem uma mão à outra e autoridades celebram o exílio dos que ousam sonhar outros mundos. Que ele e seus filmes permaneçam como as “coroas da vida” de que falou quando escreveu sobre Richter; pontes sinalizando que, mesmo em tempos graves, é possível seguir adiante para (como diz o título de um de seus filmes) “ocasionalmente encontrar lampejos de beleza”.
28.01.2019 | por Patrícia Mourão
A propósito da estreia em Portugal da adaptação cinematográfica de 'Mais Um Dia de Vida', um percurso pelos lugares e personagens do livro clássico do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski, que descreve Angola em 1975, o fim do colonialismo, o nascimento de um novo país e o início de uma guerra civil.
28.01.2019 | por Susana Moreira Marques
Em Mais um Dia de Vida, encontramos uma estética hollywoodesca, de construção e celebração do herói Kapuscinski. Terá a mais valia de dar a conhecer a outros públicos (em particular ao mais jovem, pelo estilo de filme de ação) o xadrez político regional e internacional que se jogava em Angola. Porém, ao centrar a narrativa de forma tão redutora na figura do ‘herói jornalista’, o filme não responde à evocação de Carlota, ficando suspenso num jogo dúbio de uso (e abuso) da memória e do esquecimento.
21.01.2019 | por Hélia Santos
Este livro traz-nos, pois, o registo escrito de um processo de resgate e releitura de um tempo que surge vivo na exata medida em que a sua dimensão de ruína envolve o cuidado para que se recuperem os fragmentos existentes e, simultaneamente, um exercício hermenêutico que os torna visíveis e contemporâneos.
13.01.2019 | por Miguel Cardina
Durante dois anos, o artista holandês, qual Conrad, viaja pelo profundo Congo, ferida aberta do xadrez de interesses em mais uma das suas guerras civis. De câmara à mão, foi escarafunchar na indústria da pobreza que beneficia tanta gente à excepção dos pobres: empresas que enriquecem à custa dos recursos que os pobres não podem reivindicar, o ouro e coltan, ong’s que empregam os jovens sem trabalho na Europa, os media que vendem essas imagens e os especialistas em resolução de conflitos. Vimos o filme em tempos diferentes e juntamos aqui os nossos comentários.
05.01.2019 | por Ricardo Falcão, Marta Lança e Joana Areosa Feio
Um projeto da Afrolis - Associação Cultural que olha para afrodescendentes na tela e discute as representações disponíveis das nossas comunidades. Para a temporada de 2019 , a Afrolis convida o ator e realizador Welket Bungué a retomar o projeto fazendo a curadoria das sessões cinematográficas que serão feitas em ambiente intimista com uma regularidade mensal na Casa Mocambo.
13.12.2018 | por vários
Lucy está internada num hospício em Moçambique. Sonha com o seu filho Zacaria e o marido Pak, soldado numa zona de guerra ao norte do país.
Lucy toca um instrumento musical curioso: a própria cama. Aquela virtuosidade musical atrai a atenção das enfermeiras. Um dia a música passa num programa da Rádio Moçambique e Rosa Mário, pastora evangélica, vai ao hospital para conhecer a intérprete da canção.
04.12.2018 | por vários
O programa coloca a hipótese de estéticas africanas e afrodiaspóricas em contraponto às formas visuais dominantes, apelando mesmo a uma releitura das declinações históricas do par dialético hegemonia/subalternidade. Nestes filmes, o ato de centrar decorre, em larga medida, de um processo de descentramento: descentramento histórico e formal, acompanhado do descentramento das posições enunciativas e cognitivas convencionais através de poéticas relacionais que deslocam a reflexão sobre as categorias de identidade e alteridade rumo a um pensamento da relação nos sistemas de representação.
30.11.2018 | por Raquel Schefer
Gamboa contribui para a descolonização do imaginário ao reclamar memórias e reenquadrar a história, mas também como esta redenção e transmissão da memória se encontra limitada pelos constrangimentos de produção e de distribuição enfrentados pelo próprio filme e determinados pelas configurações de poder características do espaço lusófono pós-colonial. As estratégias alternativas empregues n'O Grande Kilapy, tais como a transmissão oral de histórias, são essenciais para superar estes limites.
24.09.2018 | por Katy Stewart
Os filmes com temática afro ainda são um tabu em função da ignorância e insensibilidade de grande parte dos curadores de festivais do Brasil (e, que infelizmente, apesar da crescente busca por visibilidade preta em todas as mídias, ainda permanece). Durante boa parte da trajetória do CAN, ele se consolidou como um espaço aberto para exibição e lançamento dessas obras.
10.09.2018 | por Clementino Junior
O espírito do mundo sai-lhe pelos olhos. Lucrecia volta a emprestar o corpo ao mundo – desta vez radicalmente - e transforma-o em cinema. Em Zama, voltamos a encontrar-nos com uma coreografia de corpos e animais, de crianças e adultos, de oprimidos e opressores, de torrentes de água e de naturezas asfixiantes, onde a beleza é o lugar onde repousam os segredos, como atrás dos habituais longos e brilhantes cabelos, que sussurram desejos e histórias perdidas.
12.06.2018 | por Cláudia Varejão
O filme Martírio é talvez um dos mais importantes e perturbantes documentos da atualidade brasileira e do etnocídio indígena em curso, perpetuado pelo governo brasileiro. Vincent Carelli, em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tatiana Soares de Almeida, recolhe imagens históricas da resistência guarani Kaiowá ao conflito com as instituições governamentais.
26.05.2018 | por Ritó aka Rita Natálio e vários
Tomara que "O Canto do Ossobó" seja amplamente visto. Primeiro porque a história da escravatura praticada sob o império e colonialismo “à portuguesa” precisa de ser conhecida na sua complexidade, contrapondo a realidade dos factos ao persistente mito lusotropicalista dos brandos costumes. Depois, por ser a voz de um santomense que perscruta a dor de “homens e mulheres esgotados pelo peso do trabalho”.
15.04.2018 | por Marta Lança
Uma onda de cinema negro é a grande novidade na história recente do cinema brasileiro, acentuando com originalidade e com tensões uma característica que se fazia notar nos últimos trinta anos, uma cinematografia de muita diversidade temática, de estilos e até regional. Entretanto, apesar desta multiplicidade de narrativas, esse mercado audiovisual se recusava a incorporar uma maior participação de cineastas, elenco, e o protagonismo da parcela negra, maioria populacional do país.
04.04.2018 | por Joel Zito Araújo
Olhando para o passado, essa melancolia tropical e sensual, encoberta por folhas de palmeiras, e registrada com luz estourada por sob um sol de rachar, talvez não estivesse consciente do fracasso que viria a seguir, quando mais uma vez voltaríamos a ser o país que poderia ter sido o do futuro. É no contexto dessa derrota que o Videobrasil chega a sua 20º edição. Mas no lugar de expandir e tensionar nosso entendimento do Sul hoje, a escolha pela melancolia parece encampar e reafirmar um consenso hegemônico dentro de uma epistemologia que se quis e se quer desterritorializante, vasta e dinâmica.
28.02.2018 | por Patrícia Mourão
“Falar das trajetórias das mulheres negras no cinema brasileiro é remontar uma história de invisibilidade e apagamentos. Até por isso, o que é impactante na produção atual é a sua coletividade e a pluralidade de projetos e obras. Uma série de iniciativas das próprias cineastas marcam esse cenário de transformação e afirmação, propondo novas formas de viabilizar e divulgar o cinema feito pelas mulheres negras.
27.11.2017 | por vários