A primeira longa-metragem de ficção da realizadora brasileira Maya Da-Rin, A Febre (2020), deixou uma sólida contribuição para o cinema brasileiro com um filme que traz o universo indígena para o centro da narrativa cinematográfica, resultado de um trabalho construído a partir de alianças entre indígenas e não-indígenas que cuidaram de forma empenhada e objetiva a representatividade de uma cosmovisão ancestral.
19.05.2021 | por Anabela Roque
A insistência em repetir que a guerra colonial carece de registos visuais tende a desprezar o facto de que a imprensa portuguesa a apresentou ao público com a maior das campanhas de imagens de choque. E isto foi determinante na forma como o conflito foi travado, narrado e como viria a ser relembrado. Foram precisos 60 anos, e apenas uma fotografia em sentido contrário, para que se questionasse esta exposição.
04.05.2021 | por Afonso Dias Ramos
Os primeiros filmes brasileiros são realizados em 1897. Nove anos antes, o Brasil fora o último país ocidental a abolir a escravatura. Os portugueses começam o tráfego negreiro pouco após a descoberta e, durante 350 anos, deportam no mínimo 5 milhões de africanos, número que não inclui os desaparecidos no oceano. Soldados da conquista, mão-de-obra no campo e na cidade, empregados e artesãos, os africanos edificam o Brasil. Quando D. Pedro, herdeiro da coroa portuguesa e rei do Brasil, proclama a independência, em 1822, dois terços dos brasileiros são afro-descendentes, na sua maioria alforriados e livres. No entanto, durante décadas, o cinema oculta esse passado fundador, o cinema apaga a escravidão.
30.04.2021 | por Ariel de Bigault
Se logo na primeira cena do filme vemos Ventura levado em braços, numa rua junto ao cemitério, só o ouvimos depois, já morto, e ele diz “a vela cai no colchão”, mas soa “a vela cai no caixão”. Nessa cena, Joaquim Ventura afirma a dificuldade da vida que levou, da fome, da exploração, questiona o seu lugar de corpo, o lugar de homem, na casa, no trabalho, no beco… Sem lugar, está-se vivo ou morto? No colchão, ou no caixão? Pois o filme é delimitado temporalmente por duas mortes: a de Ventura e a de Marina, ambas num colchão, ambas apontando para o adormecimento como morte, um sono sem sonhos, morte simbólica.
21.04.2021 | por Joana Lamas
No cinema brasileiro, Karim Aïnouz (Fortaleza, Ceará) não trabalha exclusivamente com o universo feminino, mas quando o faz trata-o de um modo muito particular. Entre a ficção e o documentário, ou misturando as duas linguagens, o realizador, que também assina os guiões dos seus filmes, explora a identidade feminina a partir dos seus desejos e frustrações, das suas aspirações sociais e condição económica, do lugar que ocupa na família, no trabalho, etc. Constrói uma galeria de personagens femininas que atravessa os tempos, num contínuo de histórias de opressão, e atualização de resistências. São mulheres fortes, ativas frente a uma sociedade hipócrita.
31.03.2021 | por Anabela Roque
Breve tentativa de pensar “o herói” a partir de uma peça de roupa, que é a t-shirt interior de alças normalmente branca formely known as “wifebeater” ou Parte #1 de uma reflexão from wifebeaterism to saviourism.
Como escrevia Derrida no seu “Archive Fever”, Let us not begin at the beginning, nor even at the archive. Porque que se tivéssemos de ir ao princípio teríamos de falar de Saussure e de Barthes, de Benjamin e de Simmel, e até vou faze-lo, mas não é para já.
07.03.2021 | por Patrícia Azevedo da Silva
“Ressignificar” é o resultado de um projeto criativo que aliou a arte ao desenvolvimento humano. Da autoria de Iolanda Oliveira, esta curta-metragem, selecionada para o Festival Horizontes e para o Lift-OFF Sessions, é um elogio ao universo feminino, sem pretender determiná-lo, porque «uma mulher é pura imensidão»; um trabalho que tenta “trazer consciência para algo muito puro que nos habita e transcende qualquer pressão de imagens ideais e modos de estar em relação, proliferados pelos mass media”.
Iolanda Oliveira, formada em artes plásticas, estuda atualmente psicologia, e este projeto é resultado da sua vontade de fazer a ponte entre estas duas áreas e de, “através da arte, conseguir trabalhar temas sobre o desenvolvimento humano.”
16.02.2021 | por Flávia Brito
Conversei com a realizadora sobre a sua criação cotidiana com o audiovisual até à sua relação pessoal com os cultos de matriz africana. As narrativas que permeiam a vida de Milena partem da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e desembocam no atlântico, fazendo parte das grandes confluências que têm sido os cinemas negros contemporâneos.
25.01.2021 | por Marco Aurélio Correa e Milena Manfredini
O Lover’s Rock contribuiu para mudar a percepção da música negra nos média britânicos. Apesar da sua origem transnacional, o Lover’s Rock é visto como um género distintamente britânico. De certa maneira, o Lover’s Rock foi o primeiro género musical pós-colonial a surgir no Reino Unido, ao qual se seguiram outros géneros internacionalmente conhecidos, como o Brit Funk, Acid House, Jungle, UK garage, Dubstep, Grime, ou o UK drill.
21.01.2021 | por Marcos Cardão
Os angolanos e angolanas têm-se construído socialmente também fora de Angola e em diálogo com o mundo. Nessas partidas e chegadas levam uma bagagem do intangível, o imaterial: a intuição, a fé, a dança e o olhar triste e profundo da permanente incerteza. E o sorriso como resistência última de se esconder a tristeza, os infortúnios da vida. Talvez à chegada e na partida não seja preciso falar muito. Talvez seja preciso escutar em silêncio e num abraço. Um abraço em escuta.
21.12.2020 | por André Castro Soares
Num ano complicado no plano da saúde pública, bem como do ponto de vista social, político e económico, a escolha de existir é nada mais, nada menos do que heróica. Mas o Plateau 2020 existiu, sim, desta feita em pequeníssimos ecrãs digitais espalhados pelo mundo inteiro, com uma audiência internacional e provavelmente maior que nunca. Durante cinco dias, o cinema exibiu-se a partir de Cabo Verde.
03.12.2020 | por P.J. Marcellino
O triunfo do filme consiste, por isso, em mostrar, mas sobretudo em interromper e interpelar os filmes que mostra, com comentários, observações e justaposições, demonstrando que não há neles rigorosamente nada de natural. Tomando em consideração o modo sistemático como se tem vindo a demonstrar quão artificiais, postiças, desequilibradas, encenadas e ocultadoras são as imagens dominantes que foram produzidas em contextos imperiais, Benjamin Stora perguntou recentemente: será que a imagem colonial ainda mantém uma ligação ao real? Ariel de Bigault levou esta inquietação a sério no documentário, dando-lhe uma resposta enfática na negativa, concentrando-se no imaginário e ficção do cinema colonial como se uma história de fantasmas.
01.12.2020 | por Afonso Dias Ramos
Com curadoria de Alexey Artamonov, Denis Ruzaev e Ines Branco López, “Os olhares em confronto” é um ciclo que faz parte do programa da 14ª edição do Lisbon & Sintra Film Festival. Organizado entre Lisboa e Sintra, de 16 a 23 de novembro, este evento consiste na exibição de vários filmes/documentários sobre temas como feminismo, emancipação feminina, sexualidade, etnia, pobreza, infância, negritude, identidade, memória coletiva e saúde mental.
21.11.2020 | por Alícia Gaspar
O Porto/Post/Doc: Film & Media Festival é um festival de cinema do real. Na edição de 2020, o festival apresenta, pela primeira vez, a programação em formato VoD (Video on Demand), promovendo um encontro seguro entre o público e os realizadores para além fronteiras. O evento físico terá lugar entre 20 e 29 de Novembro, nos espaços habituais: Teatro Municipal do Porto - Rivoli, Cinema Passos Manuel, Planetário do Porto, Escola das Artes - UCP e Casa Comum - Reitoria da Universidade do Porto.
17.11.2020 | por Porto Post Doc
'Cacheu Cuntum' apresenta em imagem o que nem a distância, nem o tempo, nos permitiram até hoje compreender, acerca da percepção que o povo bissau-guineense tem sobre o seu passado. Falo de um passado velado por inúmeras falsidades geradas pela ocupação territorial no período da escravatura e colonial. Esse passado quer-se resgatar através da impressão e fixação de um renovado registo vivo, daquilo que é o cotidiano atual e “metaficional” daquilo que poderia ser a reminiscência dos que resistiram à opressão ao longo de 4 séculos de ocupação e exploração desumanas.
13.11.2020 | por Welket Bungué
Uma nova edição do Festival Internacional de Cinema Africano da Argentina chega totalmente online e gratuita. Esta versão permite-nos mais dias, mais filmes e abrange todo o território argentino. A Exposição Espelhos e Miragens estará disponível exclusivamente na Plataforma OctubreTv. Esta nova modalidade também abre um grande desafio: atingir novos públicos em mais cidades do país. Haverá 10 dias para ver mais de 30 filmes de 20 países diferentes. 32 filmes entre curtas, médias e longas metragens de diferentes géneros: ficção, cinema documental e experimental, organizados em 5 secções de modo a que cada espectador possa escolher o seu próprio percurso.
13.11.2020 | por OctubreTv
Para celebrar o 45º aniversário da independência de Angola, a Associação Tchiweka de Documentação e a GERAÇÃO 80 em parceria com a TPA, a plataforma Mostra de Cinemas Africanos e a PlatinaLine vão exibir vários documentários do projecto “Angola - Nos Trilhos da Independência.”
“Independência”, “Mulheres de Armas”, “São Nicolau - Eles Não Esqueceram” e “A Persistente Fragilidade da Memória”.
11.11.2020 | por Geração 80
Portugueses de origem africana manifestam o orgulho comum do seu legado e cultural, reacriação e mistura. E é através da música que o perpetuam. Kuduro, Afrohouse, Ghetto, Funaná, Rap Crioulo, Batuque, são vários os estilos que procuram disseminar e fazer chegar aos mais diversos públicos. Ao longo do documentário observamos que todas estas vertentes musicais africanas unem as comunidades num ambiente de descontração e interação. E Portugal? Que papel tem nesta história? Desde sempre “senhorio”, quer em terras estrangeiras injustamente expropriadas, quer na sua própria “casa”. Se é assim acolhedor quanto se pinta, qual é a razão para tanta discriminação?
20.10.2020 | por Alícia Gaspar
O 18º festival internacional de cinema decorrerá de 22 outubro a 1 novembro, com algumas estreias mundiais. A sessão de abertura terá a estreia mundial do filme Nheengatu - A Língua da Amazónia, do José Barahona, um filme sobre o Nheengatu, uma língua imposta pelos colonizadores portugueses que moldou a paisagem e os povos daquela região e que, através do confronto atual entre dois mundos, levanta questões importantes sobre antigos e novos colonialismos, tradição e futuro.
19.10.2020 | por Doclisboa
O documentário aborda os fundamentos de cidadania e direitos humanos, através da educação artística nomeadamente:
Música, artes plásticas, dança, teatro, literatura, entre outras nas suas múltiplas dimensões (cognitivas, sociais, políticas, afectivas, éticas e estéticas).
12.10.2020 | por Faradai