O Paulo, actor e performer, registou-as com a sua câmara, guardando os sons das vozes e os silêncios ruidosos da natureza. A Joana, artista visual, percorreu-a em busca dos lugares que o seu pai Carlos tinha fotografado durante os anos noventa, em película colorida, procurando também sabores da fruta que, nessa mesma época, o seu pai lhe trouxe numa pequena cesta. Memórias que nunca esqueceu. A Ana, também artista visual, foi à descoberta das memórias de Portugal nesta ilha, que são património de São Tomé e Príncipe.
14.08.2020 | por Inês Valle
Na ida para Zemba, aos saltos dentro do camião de transporte de tropas que mal cabia na picada, a cabeça de Manoel Barbosa começou a projetar os seus “desenhos de guerra”. São constituídos por linhas geométricas que evocam movimentos pulsantes, aberturas e fechamentos, como obturadores de objetivas fotográficas ou, segundo o texto dos curadores, “máquinas de visão”. A ordenação das linhas varia entre geometrias verticais e masculinas, ou a suave sobreposição de uma vulva-paisagem, feixes de luz atravessados por fractais ou diamantes, em evocações possíveis de uma “terra de sangue”, fonte de emoções dilacerantes e difusas.
28.03.2020 | por Carla Baptista
Belfast, março de 2015. O muro, sem ser contínuo, apresenta cerca de 34 km (em 2017). A maior parte das suas passagens ou portas encerram às 19h. A visita guiada, feita num cab, às memórias dos Troubles, encerrados pelo acordo da Sexta-feira Santa em 1998, conduz-nos aos murais nos bairros independentistas, republicanos e maioritariamente católicos, e nos bairros unionistas e maioritariamente protestantes. Visitámos ainda memoriais a vítimas nos lugares onde estas tombaram, civis católicas queimadas nas suas casas e membros do Sinn Fein, assassinadas por forças paramilitares pró-britânicas.
01.03.2020 | por Josina Almeida
O programa As coisas fundadas no silêncio — verso de Sophia de Mello Breyner — apresenta nove atividades, em Lisboa, para explorar este tema na sua relação com o corpo, com o tempo, com a linguagem, a música, o cinema e com as artes plásticas.
11.02.2020 | por Marta Rema
A geografia não é tudo na proposta de Lavrar o Mar – um projeto com direção artística de Madalena Vitorino e Giacomo Scalisi — mas inspira e bombeia o coração da programação que, desde 2016, tem apresentado espetáculos em circulação pela Europa e criações originais na área da dança, do teatro e da música, “no alto da serra e na costa vicentina”.
06.01.2020 | por Carla Baptista
Numa abordagem que não pretende de todo fechar-se, mas oferecer-se, como escuta, à pluralidade de histórias e vozes, à sua vulnerabilidade, Ícaro Lira dá conta de uma profunda empatia pelas experiências vividas. A exposição na galeria Salle Principale aparece como um nó. Um nó temporário de vozes, encontros e histórias, de territórios atravessados, habitados e carregados em cada um, de temporalidades distintas constantemente reconduzidas por colagens renovadas.
24.12.2019 | por Elena Lespes Muñoz
É neste espanto respeitoso de quem inventou o que não existia que o visitante vai sendo surpreendido pela sinestesia das obras que habitam o despovoado, fantasmagórico e potente convento-quartel, irmanadas pelos fios do conto do escritor Guimarães Rosa, que dá o mote e entrelaça todos os contributos. “Como assentar num lugar sistematicamente invadido por tamanha força?”, interroga o guia da exposição, fazendo dessa pergunta o centro político do projeto bienal.
18.12.2019 | por Carla Baptista
Jimmie Durham traz à superfície a verdade da obra de arte, provavelmente um dos temas mais relevantes num mundo que esquece permanentemente a natureza ficcional da arte – o que não implica que não inscreva, na sua materialidade e no caráter representacional, uma intrínseca verdade paradoxal. A fragilidade e aparente vernacularidade das obras que integram a exposição joga, portanto, com a fina linha entre a produção do real e a recolha de objetos do mundo, num palimpsesto de sentidos que gera uma tensão entre o que nos é dado e o que construímos.
02.12.2019 | por Delfim Sardo
Eu venho do futuro. Estive nele durante sete dias. Levei o gravador, o bloco de notas, a caneta. Ouvi vozes: todas disparam premências, discursos de preocupação do hoje que serão futuro durante muitos anos. Viajei pelos continentes europeu, americano, asiático e africano, sobretudo. Trago coordenadas que podem ajudar a pensar. Trago muitas urgências. Vai ser assim: tem feminismos, um exército de mosquitos a espalhar febre amarela, curadores a tentar mudar narrativas históricas dominantes, resistência indígena, sociologias da urgência, conferências-performance. E até uma arte depois do fim do mundo, psicadélica.
19.11.2019 | por Vanessa Ribeiro Rodrigues
os Encontros convocam os lugares da história colonial, com enfoque no passado colonial português, ao mesmo tempo que se ancora no presente para pensar os lugares a partir dos quais defendemos a construção de outras narrativas e ampliamos as possibilidades para outras «imaginações». Nesse sentido, é também o lugar de um posicionamento ativo em relação a estas questões.
18.11.2019 | por vários
Há uma suspensão da subjetividade e vontade na sua relação com o real. Como se ficássemos entre parênteses, descontextualizados. É um pouco da lógica proustiana, misturar o instante com a eternidade. Estar no tempo e ao mesmo tempo fora dele. Assistir ao espetáculo do mundo e ver que o seu fluxo não nos compromete, numa serena promiscuidade entre passado, presente e futuro.
13.11.2019 | por Marta Rema
Numa Europa que deixou de ser o centro de gravidade do mundo, mas que permanece infraestrutural na globalização de regimes de poder neoliberal, patriarcal e (neo)colonial, e que condiciona não só geopolíticas epistemológicas e ontológicas, como a própria sustentabilidade do planeta, convocamos outras forças de gravidade para um olhar crítico sobre algumas estruturas que perpetuam estes mesmos regimes.
12.11.2019 | por Alexandra Balona
Reflexão acerca da documentação pública arquivada pelo Estado Brasileiro: como ler esses arquivos? Como construir memória a partir deles? Como aprender coletivamente sobre a história do país e de seu povo, a partir de sua análise? Como preservar esses acervos e, como consequência, a memória dos processos civilizatórios que alicerçam a sociedade atual?
03.11.2019 | por vários
Segundo Carlos Correia afirmava, por um lado existem as obras que partem de imagens preexistentes, por outro, aquelas que não têm modelo. O mediatismo das pinturas exteriores difere radicalmente da depuração das pinturas interiores, assentes na perspetiva, a par de uma vigorosa pesquisa cromática, são geométricas, abstratas, em camadas, espaços fechados que abrem para outros espaços fechados e vazios que abrem para outros vazios.
13.10.2019 | por Marta Rema
Estados patológicos como «doença da terra», «doença da cabeça cansada» ou ainda «doença feita com-a-mão» aludem aos estados de ansiedade, precariedade e vulnerabilidade destas comunidades, mas também de perda de localização em relação ao espaço cultural e geográfico que os sujeitos ocupam. Traduzem igualmente o estado de negociação intensa entre as «forças sobrenaturais negativas» e as estruturas sociais e políticas desiguais, num lugar a meio caminho entre a terra de origem e a terra de chegada.
23.09.2019 | por Rita Fabiana
O FUSO regressa a Lisboa entre os dias 27 de Agosto e 1 de Setembro com os trabalhos de dois artistas convidados, Antoni Muntadas e Pedro Barateiro, e sessões de videoarte programadas por curadores portugueses e internacionais. A 11ª edição do único festival de vídeo ao ar livre em Lisboa, apresenta assim seis noite de verão, com sessões gratuitas, em espaços únicos, como os jardins e claustros dos principais museus de Lisboa. Artistas convidados: Pedro Barateiro e Antoni Muntadas Programas dos curadores: Tom Van Vliet (Holanda), Sandra Vieira Jürgens (Portugal), Moacir dos Anjos (Brasil), Margarida Mendes (Portugal), Lori Zippay (EUA)
26.08.2019 | por vários
O Aljube funcionava sobretudo como plataforma de trânsito, uma espécie de depósito de detidos que vinham de esquadras espalhadas pelo país e que depois, caso se considerasse necessário, eram trasladados para a sede da PIDE para serem interrogados ou/e eram transferidos para outras prisões. Assim, este Museu acaba por representar um dos processos mais marcantes da ditadura portuguesa: a detenção por delitos de opinião, a tortura e a morte de tantos defensores da liberdade. Deste modo é que constitui um espaço cuja carga simbólica é muito forte para receber esta exposição sobre prisões contemporâneas, e por isso mesmo importa que as duas narrativas não sejam confundidas.
18.08.2019 | por Fátima da Cruz Rodrigues
"Cabeça acústica", construída com bacias de alumínio, catalisa uma experiência acústico-perceptiva que, diferentemente do material que a constitui, não tem nada de trivial. Instalada como uma espécie de epígrafe à mostra “Marepe: estranhamente comum”, com curadoria de Pedro Nery, a obra encarna aspectos da poética do artista
10.08.2019 | por Icaro Ferraz Vidal Junior
Aqui, a visão da catástrofe está a olho nu. João Louro contrapõe imagens do teatro de guerra com tabelas periódicas dos elementos, expõe colagens e palavras não já impressas, mas sim bordadas. O artista recria, com grande clareza, a forma como os dadaístas se interessaram por outras culturas, sobretudo a africana.
29.07.2019 | por Marta Rema
Sobre as condições políticas e histórico-geográficas da produção e controle do conhecimento, nos fala a exposição Lost Lover, com curadoria de Lara Koseff, originalmente apresentada no Rio de Janeiro, no exterior do espaço Lanchonete e presentemente no espaço Rampa, no Porto.
Numa das salas, onze vídeos projectados em loop de artistas maioritariamente sul-africanos confrontam-nos com o abandono do medo, assim convocando questões habitual e estrategicamente silenciadas.
12.06.2019 | por Eduarda Neves