Em Regresso à pintura baiana, de 2002, Ayrson Heráclito revê o meio de expressão com o qual iniciou sua experimentação artística, bem como o contexto a partir do qual tem atuado desde meados da década de 1980. Ele redimensiona não apenas algumas questões que mobilizaram a pintura no século XX — muralismo e all over, monocromo e minimalismo, pintura de ação e automatismo — mas também a história da arte local.
28.03.2022 | por Roberto Conduru
Numa altura em que quase que nos obrigam, como mulheres negras, a manifestar e a reclamar a nossa “Identidade”, como se tudo o que escrevemos, falamos, desenhamos, pintamos e fazemos tem de ser africano esbarro-me com a explosão de cores da expressão de Nalia Agostinho onde me revejo, apenas, como mulher. Também revejo um universo feminino de décadas com várias outras parceiras de caminhada nas lágrimas, gargalhadas, partilhas, conversas, dúvidas e certezas.
Ou apenas tentarmos abraçar um imbondeiro e simplesmente sentir-me nua e livre como as obras “Colibri” e “Corpos Insubmissos”.
25.03.2022 | por Magda Burity da Silva
Cada contexto nacional tem a sua especificidade histórica. Se os arquivos históricos visuais dos EUA são indissociáveis da escravatura oitocentista ou da segregação recente, as imagens de pessoas negras nos arquivos portugueses, como nos franceses, britânicos ou alemães são inseparáveis de uma história recente em que a cronologia do colonialismo coincidiu com a da fotografia nas suas múltiplas formas de reprodução – postais, livros, jornais e folhetos.
Nos últimos anos têm sido muitos os académicos, artistas, curadores e arquivistas – muitos deles negros e da diáspora africana – a abordarem criticamente a relação entre visualidade e negritude, entre imagens e racismo, entre direito a representação no espaço público como modo de justiça racial e social; ou, as muitas implicações éticas em lidar, hoje, com os legados visuais do passado.
Neste ciclo de conferências, iremos ouvir e debater com algumas destas vozes.
14.03.2022 | por vários
O Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra reabre o programa da quarta edição, intitulada Meia-Noite, no dia 9 de abril, exatamente às 00h00. Com curadoria de Elfi Turpin e Filipa Oliveira, a bienal apresenta um Circuito de Exposições em cinco espaços emblemáticos da cidade e reúne obras, muitas das quais inéditas, de mais de 40 artistas e coletivos.
09.03.2022 | por vários
São artistas que pintam e mostram uma nova Angola, com técnicas e estéticas tão ousadas como os seus discursos e olhar para o cenário artístico. Nas artes visuais angolanas, a produção mais potente vem da periferia, longe do centro onde se encontram as galerias e salas de exposição.
Em outubro do ano passado fui desafiado a sair da minha zona de conforto — a música — para entrevistar os jovens da residência artística ResiliArt que produziram obras para a II Bienal Africana da Cultura da Paz. Aceite a proposta, tornou-se evidente que essa produção artística não está na elite de Luanda e que apenas uma parte destes artistas entra nos grandes centros durante as exposições e não tem acesso às condições de produção e mercado.
16.02.2022 | por Analtino Santos
Tem-se dito que a beleza está nos olhos de quem vê. Usando essa premissa, Joca Faria cria e amplia beleza no que vê. De outro modo, o porto de Maputo seria tão-somente um lugar de desembarques, um lugar que está sempre por limpar e ancorado às máquinas. Mas não. É um lugar artístico em potência. Transições é ainda um projecto que incita a pensar a condição do estivador e de um porto que se desenvolve ao ritmo da cidade e de uma nação inteira.
06.02.2022 | por José dos Remédios
Para além da música, do movimento e da sua forma, para o coreógrafo surge também a importância de questionar, através deste solo, a relação entre toda a sua experiência profissional europeia em dança, fortemente influenciada pelo movimento pós-moderno norte-americano, e o corpo brasileiro dentro de uma expectativa de estética predominante branca. Importa redescobrir o corpo constantemente colonizado por ideais de estética e de comportamento que não condizem necessariamente com a sua história e ancestralidade.
25.01.2022 | por Renan Martins
Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.
Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.
05.01.2022 | por Inês Ponte e Maria José Lobo Antunes
“A mecânica do efémero” parte da ideia de arte enquanto mecanismo que nos permite viajar por diferentes temporalidades, através de uma abordagem que muitas vezes recorre à fantasia, mas onde a imaginação se torna uma importante aliada de questionamentos históricos e sócio-políticos. Embora os discursos dos artistas convidados sejam diversos na sua abordagem e na navegação deste fluxo temporal e identitário, existe o denominador comum na sua relação com um continente onde repousam os sonhos e desvarios de fantasmas forasteiros. Existe e urge ainda abordar um futuro que continua sustentado por inócuas promessas de progresso e liberdade, algo que não é exclusivo do continente africano, acolhendo também as influências de diversas linguagens artísticas e referências que constituem este trabalho conjunto, extravasando as fronteiras nacionais e plataformas continentais.
22.12.2021 | por Gisela Casimiro
RASURA, vídeo concebido em Agosto em São Tomé, realização do Lubanzadyo Mpemba e a edição de som de Sara Morais. Penso na rasura lida desde a efemeridade do meu percurso de poesia oral e performativa, uma poética do corpo presente que vive dessa passagem do corpo/voz por diferentes palcos, desde a ideia de corpo enquanto arquivo.
20.12.2021 | por Raquel Lima
À nossa chegada, num cartaz gigante, escrito em chinês e tibetano: Administre os assuntos religiosos de acordo com a lei, não são permitidos templos ou monges ilegais. Do outro lado da estrada, novo letreiro dá voz a mais uma campanha do Partido Comunista Chinês para combater a pobreza. Lê-se: Seja grato ao partido, ame a pátria, respeite a lei e esforce-se por uma vida confortável.
Neste lugar retirado de tudo, vem-me à memória a nossa viagem a Xinjiang, no ano anterior, a ubiquidade da propaganda, dos postos de controlo, de um constante desassossego, Está tudo em ordem, digo para mim, e recordo alguns exercícios de respiração enquanto avançamos finalmente em direcção a Yarchen Gar.
05.12.2021 | por Catarina Domingues
"1000 anos de alegrias e tristezas" é o título do livro de memórias do artista chinês Ai Weiwei (艾未未). Digo artista mas podia também dizer ativista. Digo chinês mas poderia também dizer cidadão do mundo, ou inconformado ou até mesmo cidadão do mundo inconformado. Ai Weiwei fala-nos do passado mas parece estar sempre a explicar o presente. Como se para se entender uma flor, tivéssemos que começar pelo seu caule e depois seguir atentamente cada pétala. E não basta entender a flor, mas saber onde se posiciona: se é um girassol num cartaz de propaganda maoista ou se é uma orquídea colhida naquele dia e colocada por cima das câmaras de vigilância de Caochangdi, perto da morada de Ai Weiwei em Pequim. A memória, essa corda que se pode agarrar e avançar ou voltar para dias que ficaram no passado.
15.11.2021 | por Sara F. Costa
O ponto de vista sobre a guerra não é portanto aqui o mais habitual – por ser o de mulheres do campo em Portugal, não protagonistas do palco da guerra. É o ponto de vista do impacto do acontecimento nas vidas (banais) daquelas que permaneceram em contextos rurais ou semi-urbanos em Portugal, e de como as suas vivências e sociabilidades (também) se constituíram pela guerra e pela influência, por vezes quase espectral, daqueles que para ela foram mobilizados: noivos, maridos, ou quase desconhecidos.
31.08.2021 | por Ana Gandum
Fuckin'Globo, provavelmente, o mais ousado dos eventos de arte contemporânea que acontece na cidade, num momento em que as tensões políticas, económicas e sociais do ano pré-eleitoral, em Angola, estão à flor da pele.
23.08.2021 | por Adriano Mixinge
A exposição EXPLORANDO: Kubanga Kukatula é a primeira apresentação pública de um projeto de criação artística e pesquisa, centrado em residências, produção de obras e exposições, de Lino Damião e Nelo Teixeira, artistas angolanos sediados em Lisboa, com curadoria de Paulo Moreira.
29.07.2021 | por vários
projecto que junta que junta profissionais africanos e afrodescendentes residentes em Portugal – ou com ligação ao país –, com o propósito de partilhar experiências, valorizar competências, criar alianças, divulgar e suportar negócios. Integra também ainda um laboratório de fotografia, uma oficina de palavras, e uma roda de conversa sobre o documentário As vozes da Mulher Negra.
26.07.2021 | por vários
A partir do dia 14 de Julho está aberto ao público o portal da Associação Tchiweka de Documentação (ATD) colocando online uma grande parte do arquivo que, desde 2006, o seu Centro de Documentação tem vindo a gerir, organizar e ampliar.
13.07.2021 | por Associação Tchiweka de Documentação
Uma visão mais alargada dos contornos dos acontecimentos do 27 de Maio, prestando especial atenção aos sentimentos dos que ficaram, em particular as mães. Com isso, não pretendemos de todo ignorar os restantes familiares, mas sim começar por onde a humanidade tem o seu início: no ventre materno.
As consequências destes acontecimentos foram de tal maneira nocivas, que pretendemos dar início a um longo processo de cura, humanizar a tragédia para mitigar a dor e buscar a paz interior.
11.07.2021 | por vários
Pele escura - da periferia para o centro", de Graça Castanheira, parte de uma ideia original de Kalaf Epalanga. Representa a viagem da periferia ao centro de seis amigos afrodescendentes, inscrevendo-se na paisagem branca e nas suas marcas exteriores de prosperidade.
24.06.2021 | por vários
A 8ª edição da Arquiteturas tem como objetivo refletir sobre a construção social do espaço conectado a um fio que circula dentro de suas próprias narrativas de dominação. Narrativas também sobre identidade que muitas vezes é retirada ou forçada a representar o nosso corpo. Contra algumas suposições atuais, vemos este paradigma perceptivo — um epítome da visão de nossos tempos — como fundamentalmente social, espacial e corporal.
A arquitetura trabalha com poderes administrativos, económicos, políticos e estruturais que controlam, segregam e colonizam, mapeando ativamente os territórios espaciais habitados pelos nossos corpos.
30.05.2021 | por vários