Pedagogia palmatória

Pedagogia palmatória A pedagogia de palmatória reforça a violência simbólica na sociedade e sobretudo no que tange à violência doméstica tendo em conta a divisão de tarefa e responsabilidade de uma forma machista, colocando o marido como o absoluto e resto da família sob suas ordens e perspectivas, negando toda a possibilidade de diálogo e visões opostas sobre os problemas no seio da família. Essa violência simbólica encontra-se nas escolas através de subordinação dos usos e costumes dos outros grupos sociais.

12.02.2025 | por Kumpaku Bua Pogha

Maria Eugénia: uma mulher como as outras

Maria Eugénia: uma mulher como as outras   Apesar de ser autónoma financeiramente e não se sentir pessoalmente descriminada, Maria Eugénia da Cruz era sensível à «condição colonial» inspirada pela sua consciência política, motivando-a a tomar ação perante as circunstâncias do seu tempo, facto que a torna uma mulher invulgar, não só naquela época específica, mas em qualquer época que exija rejeição da convenção e conformismo perante uma ordem social injusta. Maria Eugénia não foi guerrilheira, nem enfermeira, nem conselheira política do movimento nacionalista. Juntou-se aqueles que queriam mudar o destino de Angola. Foi camarada, foi companheira e esposa de um nacionalista angolano.

06.02.2025 | por Aida Gomes

Loto

Loto Há um vazio gritante no continente de vozes inspiradoras e contagiantes. O colonialismo eliminou parte das lideranças históricas de África, mas, paradoxalmente, a maior parte dos líderes que seriam imperiosos no devir pós-colonial de África foram eliminados, assassinados, pelos próprios africanos. A História não se faz sem líderes visionários, sem génios. Foi esse o segredo da revolução europeia – foram os seus génios, religiosos, científicos, políticos e humanistas.

02.02.2025 | por Brassalano Graça

Conversa com Justino Pinto de Andrade sobre Mário Pinto de Andrade, memórias e militância política (parte 2/3)

 Conversa com Justino Pinto de Andrade sobre Mário Pinto de Andrade, memórias e militância política (parte 2/3) Gentil vinha da China e tinha percebido que havia uma certa desmobilização por parte de alguns quadros do MPLA. E quando ele lança o “Movimento de Reajustamento”, ele é o homem do Reajustamento, ele mais o Gika, ele queria transformar aquele facto do Movimento de Reajustamento, num estímulo para a participação dos quadros na luta. Mas isso seria feito de forma faseada e cuidada. O Neto, do meu ponto de vista com “todos para o interior”, levaria a… Porque a PIDE sabia de tudo, de todas as rotas de passagens. E nós sabíamos.

02.02.2025 | por Elisa Scaraggi

Carlos Veiga, a figura histórica e humana de Amílcar Cabral e o significado político e simbólico da independência política de Cabo Verde

Carlos Veiga, a figura histórica e humana de Amílcar Cabral e o significado político e simbólico da independência política de Cabo Verde Todas as correntes e sensibilidades político-ideológicas, salvo quiçá a nacionalista moderada representada por Manuel (Lela) Rodrigues, parecem ter esquecido e ignorado (e/ou, talvez, até ter desconhecido) completamente o plano constante do Memorando do PAIGC apresentado ao Governo português, em Dezembro de 1960, e que, afinal, se aplicou em vários casos similares ao da ambiência democrática existente em Cabo Verde do período imediatamente posterior ao 25 de Abril de 1974 até aos inícios do mês de Dezembro de 1974. Perderam sobremaneira Cabo Verde e o povo caboverdiano, sobretudo em ganhos históricos de execução política de experiências em democracia pluralista. Não por causa de Amílcar Cabral, mas apesar de Amílcar Cabral e do seu plano de transição plenamente democrática para a nossa independência política, de matriz indubitavelmente democrático-liberal, hoje tão justamente incensada e festejada!

02.02.2025 | por José Luís Hopffer Almada

Crise na Amazônia: a luta pela educação indígena que mobiliza povos originários e tradicionais, professores e a sociedade civil contra o governo do Pará

Crise na Amazônia: a luta pela educação indígena que mobiliza povos originários e tradicionais, professores e a sociedade civil contra o governo do Pará O protesto, que começou com a ocupação da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em Belém, a capital do estado, já reúne mais de cinquenta etnias, professores, ativistas sociais e o apoio de entidades nacionais e internacionais. A cidade será sede, em novembro de 2025, da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que reunirá líderes mundiais, cientistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil para discutir e negociar políticas climáticas globais, com foco no combate às mudanças climáticas e na implementação do Acordo de Paris.

29.01.2025 | por Gabriella Florenzano

Entrevista a Sumaila Jaló

Entrevista a Sumaila Jaló Numa conversa extensa, o académico e ativista guineense Sumaila Jaló ajuda a entender mais uma crise complexa, que adia novamente o futuro da Guiné-Bissau. Neste xadrez, Sissoco Embaló é peão, é rei e dita as regras. Os oponentes acusam-no de instaurar uma ditadura no país, perseguir os opositores, cooptar as instituições do país e de alinhar-se com militares envolvidos no tráfico internacional de droga.

21.01.2025 | por Pedro Cardoso

Epítome para as revisitações dos tempos da provação e da disseminação continental e diaspórica da pátria africana do meio do mar

Epítome para as revisitações dos tempos da provação e da disseminação continental e diaspórica da pátria africana do meio do mar moribundo mundo imperial português do seu privilegiado estatuto da sua subversiva condição de suboficiais e de estudantes ilhéus da Casa dos Estudantes do Império para a sua futura transmutação em responsáveis e dirigentes políticos em comandantes da luta armada de libertação bi-nacional dos povos irmanados da Guiné e de Cabo Verde

20.01.2025 | por José Luís Hopffer Almada

Fogo Amigo - parte 1

Fogo Amigo - parte 1 O meu adultecer foi uma transição triste: de um lado a rapariga punk que lutava para nunca ser igual (nem a si, nem aos outros), de outro lado a rapariga frágil e aflita que só queria ser acolhida. Já não confrontativa mas em conformidade. Como fazer isto sem ser cúmplice de tudo aquilo contra o que antes me tinha revoltado? Constituí-me num processo contra as instituições e contra um tempo heterossexual, apenas para perceber que o meu ódio à família só seria equiparado à minha necessidade absurda de família. Estudar, trabalhar, viajar, fazer amigas: tudo isto fazia parte de um projecto maior e mais abrangente que era ser mãe.

14.01.2025 | por Patrícia Azevedo da Silva

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 13)

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 13) O que fariam os tugas de bens pobres se toda essa gente que limpa as cidades, colhe as frutas e tomates cherries que enchem as suas mesas, calceta os seus passeios, limpa as suas casas e escritórios, leva-os de uber de um sítio para outro e entrega as suas comidas, se fossem embora? Se os tugas de bens pobre ou os pretos ou os ciganos ou os sul-asiáticos distraídos acordassem para as questões das desigualdades estruturais, o medo e a diferença usados para dividir, entenderiam que a luta não é uns contra os outros, mas todos ao lado uns dos outros, porque os problemas são comuns: salários baixos, habitação precária, falta de oportunidades, escassez de transportes públicos, guetização, falta de acesso a espaços culturais, entre outros.

13.01.2025 | por Marinho de Pina

Ao que nos levou o fracasso do Estado Social

Ao que nos levou o fracasso do Estado Social Há muito que sentimos que o Estado se distanciou das suas responsabilidades com a população, sobretudo a mais pobre e vulnerável. E engane-se quem pensa que os governantes não se aperceberam disso. Basta contarmos o número de vezes que o Presidente da República inaugurou torneiras com direito a fitas decorativas, champanhe e cobertura mediática em cadeia nacional. Um país no qual abrir fontes de água para uma comunidade faz manchete na imprensa nacional diz muito da sua realidade social e política. Há problemas sérios no acesso a serviços básicos, as pessoas metem os pés nos rios, ceifam excrementos de animais e tiram água para beber; percorrem quilómetros para ter acesso a serviços que funcionam no horário normal de expediente nas repartições e quase sempre faltam medicamentos; a electricidade para todos é uma miragem; a educação resume-se ao debate sobre salas de aulas (que são árvores), o livro escolar que nunca chega - e, se chega, tem erros graves - e a falta de pagamento aos professores. Podemos parar por aqui porque a lista é extensa.

05.01.2025 | por Eduardo Quive

O que dignifica?

O que dignifica? Porque são eles invisíveis?, perguntaria a criança a seguir. Porque sempre existiram mas ninguém deu conta deles, não vestem adequado, não cheiram aos aromas de Paris, nem à moda milanesa, antes à contrafação chinesa ou nigeriana; sempre andaram aos gritos que só os arrepiava a si mesmos, porque quem os devia escutar cercou-se de vozes semelhantes, de igual poder e cheiros, cantando todos em uníssono as canções de embalar os saciados. O que ficou para estes, resquícios de uma solidão e angústia só sufocada nas promessas e nos sonhos vistos em ecrãs de smartphones de segunda mão, tal como as roupas, vindas de contentores para o descarte. Os pensamentos da mãe podiam continuar a escalar, não fosse a criança ir-se tornando incómoda, impaciente, um tormento para quem também tem os seus porquês da vida. Está na hora de responder à criança que não se cala, em coro com os inaudíveis.

27.12.2024 | por Eduardo Quive

Tomar balanço. 2024 e os livros que exigem ser lidos

Tomar balanço. 2024 e os livros que exigem ser lidos O que neles podemos encontrar de comum diz sobretudo do tempo em que se mostram, do seu vazio. Como se o que os justifica fosse a circunstância de se encontrarem num enorme campo aberto, e não a sua fixação definitiva enquanto objectos orientados para a sua própria posteridade. São livros não academizados, para retomar ainda Maiakowski, não dependem da ilusão do futuro, e é isso que lhes permite coincidirem numa experiência concreta de leitura capaz de, eventualmente, gerar e propagar um eco.

26.12.2024 | por Fernando Ramalho

O período da transição política de Cabo Verde para a sua independência política e soberania nacional e internacional

O período da transição política de Cabo Verde para a sua independência política e soberania nacional e internacional sses acontecimentos demonstraram-se como sumamente necessários para uma catarse psicológico-cultural de amplas repercussões identitárias e político-ideológicas e, assim, para a total ruptura com o assimilacionismo colonial e a tutela assistencial portuguesa, considerada até aí, tanto em franjas extensas das camadas mais humildes e vulneráveis das populações, como também por importantes sectores das elites letradas, burocrático-administrativas, comerciais e fundiárias do povo das ilhas, como indispensável, senão insubstituível, para a viabilização da emigração caboverdiana para Portugal,

22.12.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Comunicado de Imprensa Rua do Benformoso

Comunicado de Imprensa Rua do Benformoso Na Rua do Benformoso há muitas carências que devem ser tratadas com urgência, incluindo a melhoria na recolha de lixo, programas de cuidado para toxicodependentes, articulação das instituições com a sociedade civil, policiamento de proximidade. As comunidades residentes nesta área, portuguesas e de outras origens, estão desagradadas com estas operações policiais absolutamente desproporcionais à criminalidade que ali existe e revoltadas pois o investimento necessário para melhorar a situação não está a ser feito.

22.12.2024 | por vários

A legítima desconfiança em relação aos intelectuais

A legítima desconfiança em relação aos intelectuais Estas tensões entre formas de vida e saberes diferentes foram também teorizadas pelo historiador francês Michel de Certeau, que considerou que os diversos campos de construção do conhecimento tendem a entrar em conflito não pela validade das suas ideias, mas pela necessidade de as verem priorizadas nos processos de transformação do quotidiano.

18.12.2024 | por Jessemusse Cacinda

80 anos de Chico Mendes

80 anos de Chico Mendes Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, é um ícone na luta pela preservação da Amazônia e pelos direitos das populações extrativistas. Se estivesse vivo, celebraria 80 anos hoje. Nascido em 1944 no seringal Porto Rico, em Xapuri, no Acre, Chico Mendes passou sua infância cortando seringa ao lado do pai, enquanto testemunhava a exploração e injustiças impostas aos trabalhadores da floresta.

16.12.2024 | por Gabriella Florenzano

Cais-do-Sodré

Cais-do-Sodré Tinha ido na tarde calorenta entregar um volume de As Farpas emprestado pelo pai e encontrara-o sentado num banco, à porta de casa, com um manduco a escavar e a fazer riscos no chão. Mirrado, possivelmente devido à muita nhongra e fominha, possuía contudo um falar alterado. Assarapantava quem nunca o tivesse ouvido. As palavras enrolavam-se-lhe na boca como cascalhos arrastados até à praia por ondas bravias. Saíam, ao cabo, soltas, desconsertadas, e sempre intencionais. Falava assim por ser maçónico, dizia-se. Era da maçonaria, confirmava o povo, fazia artes como as feiticeiras.

16.12.2024 | por Orlanda Amarílis

Emissora Católica de Angola /A rádio mais antiga do país que não consegue ficar velha

Emissora Católica de Angola /A rádio mais antiga do país que não consegue ficar velha Um passado que fala bem, mas às vezes muito mal mesmo, da forma como Angola se tem estado a movimentar no território das liberdades fundamentais ao mesmo tempo que nos dá ideia de como os jornalistas de uma pequena estação emissora souberam afirmar o projecto com a necessária liberdade e independência editorial. Uma afirmação que teve sempre como referência mais crítica a relação do projecto Ecclésia com o poder político, cuja natureza controlista é sobejamente conhecida, mas nem sempre reconhecida pelos seus responsáveis quando são confrontados com este tipo de avaliação.

15.12.2024 | por Reginaldo Silva

Dança Não Dança? Pois dancemos…

Dança Não Dança? Pois dancemos… Dança Não Dança incorpora as genealogias culturais das danças africanas e das da diáspora negra nas Américas, viajando de Josephine Baker ao Ballet Nacional da Guiné-Bissau e do charleston à breakdance. A exposição como que observa o processo de contaminação do colonizador ocidental (e português) pela África colonizada e neocolonizada depois das independências, numa claríssima proposta de mudança das mentalidades no próprio berço do arranque esclavagista e imperial do capitalismo, Lisboa – urgente numa altura em que esse mesmo Ocidente, Portugal incluído, está a ser palco de um regresso dos fascismos.

10.12.2024 | por Rui Eduardo Paes