Declinações da saudade das mulheres das ilhas e diásporas (poema de Nzé de Sant'y Ago)

Declinações da saudade das mulheres das ilhas e diásporas (poema de Nzé de Sant'y Ago) E tragam também as outras estações e temporadas todas transaccionadas pelas mulheres das ilhas na quotidiana demanda dos horizontes submersos na metade sonegada dos céus

A ler

09.08.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Semba enquanto património imaterial: políticas, imagens e sonoridades da cultura em Angola - defesa de tese

Semba enquanto património imaterial: políticas, imagens e sonoridades da cultura em Angola - defesa de tese Esta tese explora o semba, uma expressão cultural artística de dança e música urbana, profundamente enraizada na cidade de Luanda. Analiso como este bem cultural tem sido transformado em património cultural imaterial enfrentando desafios como a patrimonialização, comercialização, objetificação e turistificação. A investigação contextualiza a iniciativa global de elevar gêneros musicais e de dança à categoria de património imaterial pela UNESCO e examina as políticas culturais do Estado angolano, nesta corrida ao património imaterial. Foco-me particularmente nas interações entre a comunidade de práticas do semba e comunidade autorizada do património, explorando como estas comunidades, grupos e indivíduos gerem, performam e representam o semba como património cultural intangível.

Palcos

08.08.2024 | por André Soares

O cinema com os guardiões da floresta, na linha da frente do combate pela Amazónia.

O cinema com os guardiões da floresta, na linha da frente do combate pela Amazónia. A divulgação das circunstâncias do combate travado na floresta é uma chamada à mobilização global pela Amazónia, no sentido de equilibrar as forças para que este bioma deixe de ser a região com o maior nível de conflitos e assassinatos no Brasil e para que documentários como O Território e Somos Guardiões, gravados em pontos geográficos distantes e com povos indígenas distintos, não tenham guiões tão semelhantes.

Afroscreen

05.08.2024 | por Anabela Roque

Do interesse pelo primitivismo e suas manifestações artísticas

Do interesse pelo primitivismo e suas manifestações artísticas A etnografia e a etnologia desenvolveram-se a par dos museus desde o século XIX, o interesse pelo primitivo, os objetos, hábitos e culturas das sociedades rurais ou pré-industriais despoletou mecanismos de estudo, inventariação e musealização. Destes processos não esteve ausente a construção de identidades, coincidente com o período de afirmação dos Estados-nação, e, na Europa do Sul, a constituição de regime autoritários de feição nacionalista, no caso português verificou-se na apropriação do primitivo/ingénuo para uso de propaganda política (a invenção de um povo que “vivia habitualmente” / “política do espírito” de António Ferro).

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03.08.2024 | por Josina Almeida

Imaginar a libertação: três textos de Walid Daqqah

Imaginar a libertação: três textos de Walid Daqqah Apresento a tradução de três cartas/ensaios de Walid Daqqah – que, como todos os seus textos, tiveram de ser libertados da prisão antes de chegarem ao público. Quero, com isso, partilhar um pequeno fragmento da obra do revolucionário palestiniano em português, estando ciente de que o ato de tradução implica transformação. Contudo, como o entendo, essa não é apenas uma transformação do texto, mas também de quem o lê e tem de se libertar das amarras coloniais para o compreender. Se Daqqah imagina e põe em prática a libertação da Palestina nós não podemos apenas ler o texto, mas somos obrigados a imaginar com ele e convidados a agir com ele.

Mukanda

03.08.2024 | por Bruno Costa

Sem futuro não há paz.

Sem futuro não há paz. Esta visão estrutural da política e da ecologia constitui a lente a partir da qual estas jovens olham e agem sobre as causas locais. Como exemplos, entre os repetidos protestos contra a exploração de combustíveis fósseis, em maio de 2023, as jovens da GCE, em conjunto com outros coletivos, juntaram-se a uma ação de desobediência civil para impedir a chegada de um novo carregamento de gás ao Terminal de Gás Liquefeito do Porto de Sines. Divididas em quatro grupos, as manifestantes conseguiram bloquear, durante sete horas, diversos pontos de acesso ao Terminal e adiar a chegada de gás para a madrugada do dia seguinte.

Jogos Sem Fronteiras

31.07.2024 | por Catarina Leal

Análise de Alguns Tipos de Resistência

Análise de Alguns Tipos de Resistência 'Análise de Alguns Tipos de Resistência' reúne um conjunto de intervenções de Amílcar Cabral, um dos fundadores e líder histórico do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Tiveram lugar num seminário de formação de quadros do PAIGC, decorrido entre 19 e 24 de Novembro de 1969 na sede desse partido, em Conacri, cidade capital da República da Guiné (também conhecida como Guiné-Conacri).

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31.07.2024 | por Inês Galvão, José Neves e Rui Lopes

O mundo de Amílcar Cabral - introdução

O mundo de Amílcar Cabral - introdução Durante os anos 90, o nosso imaginário da globalização inspirou-se frequentemente na paisagem urbana das grandes capitais ocidentais, mas o mundo de Amílcar Cabral oferece-nos uma visão diferente, onde têm lugar imagens da frente ribeirinha de Xangai, da vista panorâmica de Alger ou das ruas de Moscovo. Uma visão onde as próprias cidades icónicas da globalização celebradas no final dos anos 90 pela cultura política liberal revelam novos sentidos, como é o caso de Nova Iorque, com o seu bairro de Harlem, que uma e outra vez acolheu Fidel Castro e os seus discursos em que citava a palavra de Amílcar Cabral.

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28.07.2024 | por José Neves, Victor Barros e Rui Lopes

A ocupação do tempo no espaço de Maria Mello Giraldes

A ocupação do tempo no espaço de Maria Mello Giraldes 5 Espaços é um desses raríssimos livros de estreia sem um verso bambo, frouxo, ou uma palavra a menos, revelador de uma poderosíssima voz pessoal, visceralmente radical, sem dívidas nem epígonos, geradora de vocabulários inaugurais, de uma atentíssima e exaustivamente trabalhada oficina poética na consumação de uma linguagem que se não conturba, criadora da sua própria tradição, cuja fulguração só encontro paralelo entre as suas coetâneas Luiza Neto Jorge (1939-1989) e Maria Velho da Costa (1938-2020) de Da Rosa Fixa e Corpo Verde, o que há-de querer dizer alguma coisa num mundo de desatenções fulminantes e videirinhas celebrações impantes da mediocridade vigente e ululante.

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26.07.2024 | por Zetho Cunha Gonçalves

Primeiro os pássaros partiram (first the birds left). Diário e notas

Primeiro os pássaros partiram (first the birds left). Diário e notas As Universidades de Portugal cobram 5 vezes mais o valor de mensalidades para imigrantes brasileiros. O desconto em medicamentos não existe, mas pagamos os mesmos impostos. Eu já vendi todas as câmeras que trouxe do Brasil e comprei este moleskine em promoção por 5 euros na FNAC. (...) Ou achas que me esqueci dos longos anos na fila da Alfândega? O meu algoz chamava Joana. Ela coordenava aquele purgatório melhor que Bosch o pintava. Checa-se bagagem, celular, documentos, repete-se perguntas e religiosamente julga-se. Quem checa a história é meu estômago.

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25.07.2024 | por

A grande conspiração de Lautréamont. Exercício para um mapa

A grande conspiração de Lautréamont. Exercício para um mapa Mais do que uma crítica à desumanização da sociedade capitalista, o texto de Lautréamont mostra como o capitalismo tornou impossível imaginar outro homem que não o homem – para mantermos os mesmos termos – desumanizado. Do que se trataria, então, seria de abandonar a quimera da humanização e de lançar a guerra ao homem, tal como ao seu Criador, à sua cultura, à sua sociedade, à sua poesia. E onde ele, justamente, encontra um potencial mais elevado de exponenciar essa guerra é nos elementos desumanizados, monstruosos, degenerados.

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21.07.2024 | por Fernando Ramalho

Djam Neguin lança o seu EP Autofagias, a música do cuidado

Djam Neguin lança o seu EP Autofagias, a música do cuidado Djam Neguin tem investido na criação de imaginários afrofuturistas, onde a africanidade é vista em suas potências futurísticas. Com Ka Bu Skeci Tradison iniciou uma fase de contribuição para imaginários afrocentrados, celebrando corpos e identidades diversas. "Incorporar perspectivas queer amplia a representatividade e subverte narrativas tradicionais, moldando percepções e atitudes", explica o artista que trabalhou sonoridades do continente africano como afrobeat, afropop e amapiano. Autofagias emerge como um manifesto de transformação pessoal e coletiva, celebrando a diversidade e a inovação. Basta para isso colocar os auriculares e deixar-se guiar pelo canto de esperança que surgiu de um tempo de grande aflição.

Palcos

20.07.2024 | por André Soares

Isolados no emaranhado da violência amazónica: "A Invenção do Outro", de Bruno Jorge

Isolados no emaranhado da violência amazónica: "A Invenção do Outro", de Bruno Jorge O lastro nefasto da política de destruição da floresta amazónica que ignora os seres que a habitam, humanos e não-humanos perdura no tempo. Em determinado momento da viagem, o realizador regista uma conversa entre os indigenistas Candor e Pereira sobre o processo traumático vivido pela população indígena, durante o regime da ditadura militar (1964 – 1985). Jair recorda que em tempos do Plano de Integração Nacional da Amazónia “o contato era mal feito” e Pereira recorda a lógica de então: “Amansa [os indígenas] que lá vai a estrada! Amansa que lá vem não sei o quê…”.

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08.07.2024 | por Anabela Roque

“Mundividências” judiciais - caso Cláudia Simões

“Mundividências” judiciais - caso Cláudia Simões A sentença do Tribunal apresenta-nos outra explicação – a meu ver – desconcertante. A resistência de Cláudia Simões e a reação das pessoas que viram a ocorrência na paragem de autocarro teriam sido de tal forma desestabilizadoras que, em jeito de “descompressão”, Carlos Canha agride violentamente aqueles dois homens. Se a tese da “descompressão” não permite ilibar, ela aligeira a dimensão moral dos atos do agente. Descontrolou-se, agiu sem verdadeira intenção, sem premeditação, “descomprimiu”.

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03.07.2024 | por Cristina Roldão

Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço

Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço, generosidade sempre pronta ao tratar o alheio macio por natureza, tranquilo com um sorriso que resolvia parte das macas, era uma figura que se destacava por incrível que pareça pela sua discrição com a música a tiracolo sempre!

Palcos

03.07.2024 | por Isabel Baptista

Em busca do pai Natal, acompanhada da leitura de "Afropeu" de Johny Pitts

Em busca do pai Natal, acompanhada da leitura de "Afropeu" de Johny Pitts Desde o início do século XX foram articuladas formulações sobre a identidade negra na Europa, Estados Unidos e África. Do Pan-africanismo ao New Negro Movement, da Negritude ao Renascimento de Harlem, do projeto Back-to-Africa de Marcus Garvey, ao Rastafari e Black Power, para lá de outros. Pitts faz breves incursões a estes movimentos no seu itinerário de Paris, Amsterdão, Moscovo, Berlim e Estocolmo. O desdobramento e esmiuçar do termo Afropeu é para além dos encontros fortuitos com migrantes negros e de outras etnias, uma viagem de aprendizagem sobre os possíveis significados de uma identidade negra neste começo de século e as suas múltiplas heranças provenientes da literatura e do meio artístico.

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01.07.2024 | por Aida Gomes

Bolívia, um Estado em golpe

Bolívia, um Estado em golpe   Na semana passada, o presidente da Bolívia parou em seco uma tentativa de golpe de Estado. À porta do Palácio Queimado, dedo em riste, Luís Arce disparou um “não vou permitir esta insubordinação!” ao recém-destituído (e agora golpista) comandante das Forças Armadas Bolivianas. Com a economia em picada, uma reserva de lítio apetecível e um braço-de-ferro entre o atual presidente e o eterno Evo Morales, o golpe falhado em La Paz levanta mais dúvidas que respostas. A começar por: foi real?

Jogos Sem Fronteiras

01.07.2024 | por Pedro Cardoso

Em direção ao amanhã, na X Bienal de São Tomé e Príncipe

Em direção ao amanhã, na X Bienal de São Tomé e Príncipe Este ano é na roça e não na cidade que se dá o primeiro passo da Bienal, a roça onde tudo começou, Água Izé. A história da roça de Água Izé é a história de tantas outras roças, a história que começa com a ocupação colonial das terras, a plantação, a explosão das roças por toda a paisagem das ilhas, a exploração de pessoas e do solo, a história que culmina na independência, no fim do chicote, na nacionalização das roças, e por fim na sua distribuição a privados nos anos 90.

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30.06.2024 | por João Moreira da Silva

Everything you touch, you change: o legado dos futuros co-criados pelas mais fantásticas ficções

Everything you touch, you change: o legado dos futuros co-criados pelas mais fantásticas ficções Durante o tempo que corria lento, shelter-in-place, fui mergulhando nos universos que estas duas mulheres traziam para mim. Nunca mais parei. Quando comecei a escrever este texto, tinha a forte sensação de que haveria algo mais a ligar estas duas mulheres do que a sua força e uma necessidade de construir narrativas quase tão intensa quanto a sua necessidade de destruir outras (narrativas). Entre o luto da minha cadela e uma busca voraz de futuro que me levou a mergulhar de cabeça na tradução do texto Positive Obsession/Obsessão Positiva, de Butler, descobri esta ligação. O que se segue é a história desta descoberta.

Corpo

27.06.2024 | por Patrícia Azevedo da Silva

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida]

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida] Quem escreve em língua cabo-verdiana, por ponderada e consciente decisão cultural e identitária, por ser esse o meio através do qual melhor se sente, cria ou se exprime, ou ainda por qualquer secreta ou inconfessável tara, mesmo que só por simples briu di korpu o kabesa ka bale, e não por refúgio ou como muleta, por não dominar convenientemente outra língua, já chegou exatamente onde queria chegar.

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27.06.2024 | por José Luiz Tavares