Cadernos chilenos: tragédia e sopro
Tenta-se entender que Chile é este que hoje esperneia – perna esquerda, perna direita, perna esquerda, perna direita – ante meio século de trauma e negação. 50 anos depois do assalto das tropas de Pinochet ao Palácio de la Moneda, em Santiago, a 11 de setembro de 1973, e o corte brutal do sonho socialista de Salvador Allende. Um democrata que concretizou, então, melhor que ninguém, o sonho progressista de uma nação.
Estas são cenas avulso de uma revolução, golpe, morte, de um conflito. Com fantasmas que nunca partiram. E outros monstros que ainda caminham por aí, no tumultuoso país cor de cobre.
I
Espectro
Pode um espectro sobreviver 50 anos? Pode uma consciência adormecer, cobarde, tanto tempo? Um disparo no último dia 29 de agosto explodiu um “sim, pode”. Nessa terça-feira, a justiça chilena condenou sete ex-militares de Pinochet por envolvimento no sequestro, tortura e assassinato de duas figuras ícones do regime de Allende: o cantautor Victor Jara e o advogado Littré Quiroga. 50 anos depois. Ambos foram assassinados a 15 ou 16 de setembro de 1973 (as versões variam) no Estádio Chile, em Santiago.
Nesse tal 29 de agosto de há duas semanas, as autoridades chilenas bateram, então, à porta de Hernán Carlos Chacón Soto, um dos acusados. Com uma pena de 25 anos de prisão aos ombros, o antigo brigadeiro do exército chileno, 86 anos, abriu. Ao perceber o que acontecia, pediu um momento para tomar um medicamento e entrou em casa. Descobriram-no, já morto. Os fantasmas do Estádio Chile romperam em pranto.
II
Viva o Chile!
“Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no vosso destino. Outros homens superarão este momento cinzento e amargo, onde a traição procura prevalecer. Continuai a saber que, muito mais cedo do que tarde, voltareis a abrir as grandes avenidas por onde passa o homem livre para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores!”
Despedida do Presidente Salvador Allende a 11 de setembro de 1973, a partir do Palacio de la Moneda, aos microfones da Radio Magallanes. Poucos minutos depois, ante o avanço das tropas de Pinochet no recinto, suicidou-se.
III
Espectro II, o perplexo
O suicídio de Hernán Carlos Chacón Soto, o ex-militar que a Justiça demorou 50 anos em condenar é, talvez, o melhor exemplo do novelo de feridas e fantasmas em que o país se emaranha cada vez mais. O Chile está fraturado na gestão da memória e do legado de Salvador Allende e Pinochet. A oportunidade para refletir sobre a história de todos esvai-se em negação, revisionismo e ódio reacendido.
Em maio passado, uma sondagem da CERC MORI, “Chile à sombra de Pinochet – A Opinião Pública sobre a ‘Era Pinochet’ 1973 – 2023”, indicava que 36% dos chilenos, mais 20% do que em 2013, consideram que houve uma razão para um golpe de Estado no Chile. “33 anos após a retomada da democracia e 50 anos após o golpe militar, o Chile vive um ressurgimento de Pinochet no meio da mais importante crise social, política e económica desde o retorno à democracia”, concluiu a instituição, alertando ainda para o “baixo conhecimento da ditadura”, sobretudo entre “os mais jovens com menos de 35 anos”.
A todos os níveis, o desconcerto é absoluto. Apesar da importância da data, os partidos nunca chegaram a consenso sobre como assinalar ao certo estes 50 anos. No mês passado, o impensável aconteceu em pleno congresso, com uma declaração parlamentar anacrónica e enviesada da direita e da ultradireita a defender que Salvador Allende violou, sim, a ordem institucional.
O presidente Gabriel Boric, de esquerda, e eleito em 2021 (também a braços com uma Constituição herdada da ditadura cuja revisão está encravada num processo constituinte sem fim à vista), já avisou que não pactuará com “revisionismos”. Prega um pouco no deserto. Nem o Plano de Busca de Desaparecidos da ditadura chilena que apresentou, o primeiro liderado pelo Estado ao fim de tantas décadas, conseguiu reuniu consenso.
“Acho que a sociedade chilena está desorientada, não temos um norte claro. Qual o projeto de país? Quais são as normas básicas que nos congregam? (…). Estamos num remoinho com correntes diversas que deixaram a cidadania perplexa”. Análise à BBC, do chileno Hugo Rojas, Doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford e professor de Direitos Humanos da Universidade Alberto Hurtado, em Santiago do Chile.
IV
A História, entonces
1970. Pela primeira vez na História, e numa época convulsa de guerras polares, um presidente marxista era eleito popularmente para liderar um país. Salvador Allende chegava à presidência do Chile. O espanto varreu o mundo. A esquerda revitalizou-se. Os Estados Unidos, paranoicos com um “tsunami comunista”, e com o fim do monopólio nas gigantes minas de cobre chilenas, tremeram.
Os anos que se seguiram trouxeram mudanças profundas. Apoiado pela população e odiado pelos oligarcas, Allende implementou uma reforma agrária, nacionalizou o cobre (o tal que estava antes nas mãos dos EUA), melhorou os direitos dos camponeses e trabalhadores. Propôs-se a tirar da miséria milhões de chilenos.
Dois anos durou este caminhar no fio da navalha da ordem mundial. Como admitiria anos mais tarde Henry Kissinger, os EUA de Nixon tudo fizeram para minar a economia chilena e derrubar o sistema. A estratégia resultou. Em pouco tempo, a superinflação asfixiou o país e o desabastecimento alimentou um crescente mercado negro. A desestabilização estava em marcha e os passos seguintes não tardaram a surtir efeito. O Democracia Cristã, maior partido da oposição desses tempos, cerrou fileiras. Grupos de ultradireita entraram em cena, financiados, treinados e dirigidos pelos artífices da infame Operação Condor com que os EUA sangraram a América Latina progressista nos anos 70. Atentados terroristas a infraestruturas sucediam-se, imparáveis.
Em meados de 1973, a tensão política e militar estava a ponto de estalar. Ante a instabilidade e os maus resultados da economia, que afetavam diretamente as classes mais pobres que tentava proteger, a 11 de setembro de 1973, Allende preparava-se para apresentar um plesbicito para que os chilenos decidissem se permaneceria ou não no poder. Antes de o poder sequer fazer, militares golpistas liderados por Augusto Pinochet (à frente do comando militar apenas há um par de semanas, depois de um golpe palaciano), bombardearam o Palácio de la Moneda, a sede do governo em Santiago do Chile, onde estava o presidente, desatando o caos. Com os soldados no seu encalço, Allende suicidou-se.
O resto já se sabe. O novo regime pôs de imediato em marcha uma brutal máquina de repressão, e um sistema de políticas económicas neoliberais, tão selvagens como a brutalidade que se estendeu por 17 anos, até 1990, quando a ditadura acabou, finalmente. Os números demonstram a dimensão conhecida da tragédia. Segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação do Chile, 28 mil 429 pessoas foram vítimas de tortura durante a ditadura no país. Mais de 3 mil e 200 foram assassinadas ou desaparecidas.
Pinochet morreu em 2006, no Chile. Tentaram apanhá-lo, são bem conhecidos os esforços de Baltazar Garzón para o julgar por genocídio, crimes de lesa humanidade e terrorismo. Sete vezes lhe retiraram a imunidade judicial. 300 processos pendiam sobre sua cabeça. Apesar de tudo, nunca foi julgado.
V
“Deputada Ocasio-Cortez pede aos EUA que desclassifiquem documentos sobre o golpe de Estado de 1973 no Chile
A deputada americana Alexandria Ocasio-Cortez disse, no Chile, que é imperativo que os Estados Unidos desclassifiquem documentos que possam lançar luz sobre seu envolvimento no golpe de Estado de 1973.”
AFP, 17 de agosto de 2023
VI
Manifestações no Chile reivindicam Pinochet
“Várias centenas de pessoas manifestaram-se este sábado em frente ao palácio presidencial de La Moneda, na capital do Chile, para reivindicar a figura do ditador Augusto Pinochet, dois dias antes do 50.º aniversário do golpe militar que mudou o destino da nação sul-americana.
Com faixas em espanhol e inglês onde se lia ‘50 anos depois, o Chile contra o comunismo, de novo’, e com bandeiras nacionais e muita iconografia alusiva a Pinochet em forma de pinturas, fotos, bandeiras ou bustos, os manifestantes – entre 200 e 300, segundo estimativas da imprensa – elogiaram a figura do ditador, que continua a dividir o país.
‘Eu amo o meu país, amo o Chile’, dizia uma faixa empunhada por uma mulher, com a figura de Pinochet vestida com traje militar. Uma bandeira mostrava também as caras de vários generais golpistas proeminentes.”
AFP, 9 de Setembro de 2023
VII
Resenha de ‘El conde’, sátira feroz sobre Pinochet de Pablo Larraín para a Netflix e versão vampiresca e latina de ‘Succession’
No filme “El Conde”, “o chileno Pablo Larraín oferece uma sátira feroz sobre a longa sombra de Pinochet, que se estende como um espectro através da realidade chilena atual. O filme estreia-se na plataforma Netflix a 15 de setembro, é candidato ao Leão de Ouro do 80º Festival de Veneza.”
“O Pinochet que constrói Larraín não é um fantasma, mas um vampiro (interpretado por Jaime Vadell) que vegeta num rancho no sul do Chile depois de simular a sua morte. Transformado num velho indolente e desencantado, o ditador vive com a sua esposa, a pérfida Lucía Hiriart (Gloria Münchmeyer), e um empregado (Alfredo Castro) que o conde vampirizou depois de exercer como torturador durante o período da ditadura. Pinochet sente-se traído pelo seu país, que o considera um ladrão corrupto e ganancioso, e depois de viver 250 anos anseia encontrar a morte. No entanto, o seu desejo colide com os interesses dos seus cinco filhos, que tentam saquear a fortuna do pai, e com a misteriosa aparição de uma jovem freira contratada para exorcizar o ditador.”
“Para além do exercício da fabulação histórica, ‘El Conde’ dispara com raiva contra o legado de Pinochet, que sobrevive fortemente num Chile que, após a eclosão social de 2019, parece agora à mercê da ascensão de uma ultradireita liderada por José Antonio Kast, herdeiro do ditador. Larraín sabe bem o que significará para o público chileno contemplar a imagem icónica do vampiro Pinochet cruzando os céus da atual Santiago do Chile e passeando pelo Palácio de la Moneda. E o diretor de ‘Neruda’ também acerta ao afirmar que, além de seus crimes contra a humanidade, a cruzada de Pinochet soube transformar o país num ninho de ‘heróis da ganância’”.
VIII
Victor Jara, sempre
Voltamos a Jara, mais além do seu carrasco suicida.
Victor Jara é “o trovador do governo socialista de Allende”. Campesino de família pobre, depois da morte da sua mãe, viajou para Santiago do Chile, onde ganhou fama como diretor de teatro. A música veio depois. Influenciado pelo folclore chileno, descobriu o seu mundo como compositor e intérprete.
Militante comunista e artista profundamente comprometido com o movimento social e político do Chile daqueles anos, durante o governo de Allende criou autênticos hinos que cantavam essencialmente a vida dos mais pobres. Era extremamente popular.
O golpe de 11 de Setembro de 1973 apanhou-o na Universidade Técnica do Estado (UTE), onde era professor. Ombro a ombro com 600 académicos, estudantes e funcionários, resistiu aos golpistas, até que os militares bombardearam a torre da reitoria. Foram imediatamente presos.
Em 2009, o corpo de Victor Jara foi exumado de onde fora enterrado às pressas depois do fuzilamento, em 1973, e enterrado com todas as honras. O jornal El Pais condensou na reportagem “A morte lenta de Victor Jara” os últimos instantes do cantautor no Estádio Chile, em Santiago, pelos olhos do amigo de cárcere e hoje advogado, Boris Navia.
“Cansados e com as mãos apertadas na nuca, os 600 académicos, estudantes e funcionários da UTE, feitos prisioneiros pelos militares golpistas, entravam no Estádio Chile, um pequeno recinto desportivo perto do palácio de La Moneda. Um oficial de óculos escuros, rosto pintado, metralhadora, granadas penduradas ao peito, pistola e faca no cinto, observava de cima de um muro os prisioneiros, que tinham permanecido na universidade para defender o governo do presidente socialista Salvador Allende. Era 12 de setembro de 1973, um dia após o golpe militar.
De repente, ao ver um prisioneiro de cabelos encaracolados, o oficial gritou, com uma voz histérica:
– Aquele filho da puta, trá-lo aqui!”
– Aquele, aquele! – gritou para um soldado, que empurrou violentamente o prisioneiro assinalado.
– Não o trate como uma mulher, caramba! – berrou, insatisfeito. Ao ouvir a ordem, o soldado deu uma coronhada no prisioneiro, que caiu a seus pés.
–Então tu és o Victor Jara, o cantor marxista, filho da puta de comunista, cantor de merda pura! – gritou o oficial.
“O polícia batia e batia [em Jara]. Uma e outra vez. No corpo, na cabeça, dava pontapés furiosos. Quase lhe explodiu um olho. Nunca vou esquecer o som daquela bota nas costelas. O Victor sorria. Sempre sorria, tinha um rosto sorridente e isso decompunha ainda mais os soldados. De repente, um deles tirou uma pistola. Pensei que o ia matar. Continuou a bater-lhe com o cano da arma. Partiu-lhe a cabeça, o rosto do Victor estava coberto de sangue que descia pela testa.”
“Os presos ficaram atordoados ao olhar para a cena. Quando o oficial, conhecido como ‘El Príncipe’ (…) se cansou de bater, ordenou aos soldados que colocassem Jara num corredor e o matassem se ele se mexesse.”
“[Jara] está caído no chão. Um estudante peruano que é confundido com um cubano tem a orelha cortada com uma faca. A um professor de estudos sociais que trazia testes corrigidos dos seus alunos pedem-lhe as duas melhores notas. Entrega-as e obrigam-no a comer as folhas. Ameaçam cortá-los com ‘serras de Hitler’, metralhadoras de grande calibre cujas balas cortam corpos. Um trabalhador grita: ‘Viva Allende!’ e atira-se das bancadas, sangrando até à morte. O complexo tem capacidade para 2 mil pessoas, mas está superlotado com mais de 5 mil prisioneiros.”
“El Príncipe tem visitas de funcionários e quer expor Jara. Um oficial da Força Aérea tira um cigarro e pergunta a Jara se fuma. Ele nega com a cabeça. ‘Agora vais fumar’, avisa, atirando-lhe o cigarro. ‘Toma!’, grita. Jara estende o braço, a tremer, e pega no cigarro. ‘Vamos ver se vais tocar guitarra agora, seu comunista de merda!’, grita o oficial, pisando as mãos de Jara.
Quando chegaram mais prisioneiros e os soldados foram buscá-los, Victor ficou sem custódia. Entre vários, arrastámo-lo para onde estávamos e começámos a limpar-lhe as feridas. Estava sem comida ou água há quase dois dias. Um detido recebeu de um soldado um ovo cru. Deram-lho. Com um fósforo, ele fura o ovo nas duas extremidades e bebe-o. Disse-nos que foi assim que aprendeu a comer ovos na sua terra”.
“De repente, dois soldados agarram-no e arrastam-no (…) Começa uma surra mais brutal que as anteriores. Outros prisioneiros ainda verão Jara vivo algumas horas depois. Um polícia, José Paredes, confessou, 36 anos depois, que jogaram roleta russa para ver quem lhe disparava.”
“Ao anoitecer de sábado, 15 de setembro, os prisioneiros são transferidos do Estádio do Chile para o maior local desportivo do país, o Estádio Nacional. ‘Quando saímos, vimos um espetáculo dantesco. Havia entre 30 e 40 cadáveres empilhados (…) Todos estavam crivados de balas e tinham uma aparência fantasmagórica, cobertos com pó branco, porque nas proximidades havia sacos de cal para fazer reparações. O pó cobria-lhes os rostos e secava o sangue. Reconheci o Victor, em primeiro lugar, e depois o advogado e diretor dos presídios, Littré Quiroga”.
“Naquela noite, soldados despejam seis desses corpos, Jara entre eles, ao lado do Cemitério Metropolitano, no acesso sul de Santiago. Um vizinho reconhece o cantor e compositor e pede para o irem buscar. Quando o corpo chega à morgue, um funcionário deste serviço, que era comunista, também reconhece Jara e avisa a sua esposa, Joan, para sepultá-lo antes que fosse enterrado numa vala comum.
O corpo do cantor e compositor estava ao lado do de centenas de vítimas na morgue, no final de uma fila de jovens. Apenas três pessoas acompanham Joan no funeral semiclandestino que se realizou no Cemitério Geral de Santiago, onde foi sepultado num nicho humilde, aos 41 anos.”
“A primeira autópsia, em 1973, revelou 44 tiros. A nova, em 2009, confirma que morreu de múltiplos impactos.”
IX
O último poema
Instantes antes de ser arrastado pelos soldados e de ser fuzilado, Jara escreveu os últimos versos num caderno arranjado clandestinamente. Quando foi levado pelos militares, atirou o caderno para Boris Navia, que o conseguiu passar para fora da prisão.
As folhas mergulharam na clandestinidade, saindo à luz um ano depois em duas versões. Ao longo dos anos, foi musicado por múltiplos artistas, como Isabel Parra em “Somos cinco mil”, e inspirou artistas plásticos e de cinema. Tornou-se símbolo de resistência à ditadura, tal qual como todas as canções de Jara. Há dias, uma versão de Inteligência Artificial calculou como Jara a teria composto e cantado, o clip circula pelas redes.
A horas de ser brutalmente assassinado, o poema originalmente conhecido por “Estádio Chile”, o lugar onde o executaram e que leva agora o seu nome, “Estádio Victor Jara”.
“Estádio Chile”
Somos cinco mil
Somos cinco mil aqui.
Nesta pequena parte da cidade.
Somos cinco mil.
Quantos somos em total
Nas cidades e em todo o país?
Somos aqui dez mil mãos
Que semeiam e fazem andar as fábricas
Quanta humanidade
Com fome, frio, pânico, dor,
Pressão moral, terror e loucura!
Seis dos nossos perderam-se
No espaço das estrelas.
Um morto, outro espancado como jamais pensei
Que se poderia agredir um ser humano.
Os outros quatro quiseram tirar-se todos os temores,
Um saltando ao vazio,
Outro batendo com a cabeça contra o muro,
Mas todos com o olhar fixo da morte.
Que terror causa o rosto do fascismo!
Levam a cabo os seus planos com precisão astuta
Sem importar-lhes nada.
O sangue para eles são medalhas.
A matança é um ato de heroísmo.
É este mundo que criaste, meu Deus?
Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?
Nestas quatro muralhas só existe
Um número que não avança.
Que lentamente quererá a morte.
Mas de repente me bate a consciência
E vejo esta maré sem latido
E vejo o pulso das máquinas
E os militares mostrando o seu rosto de matrona
Cheio de doçura.
E o México, Cuba, e o mundo?
Que gritem esta ignomínia!
Somos dez mil mãos que não produzem
Quantos somos em toda a pátria?
O sangue do Companheiro Presidente
Golpeia mais forte que bombas e metralhas.
Assim golpeará o nosso punho novamente.
Canto, que mal me sais
Quando tenho que cantar terror.
Terror como o que vivo, como o que morro, terror.
De ver-me entre tantos e tantos momentos do infinito
Em que o silêncio e o grito são as metas deste canto.
O que nunca vi, o que senti e o que sinto
Fará brotar o momento…