Tina Modotti e o fogo da Revolução Mexicana

Muitos reconhecem-na de “Frida”. No filme realizado por Julie Taymor em 2002, (a personagem) Tina Modotti dança, livre e desafiante, num baile sedutor com a pintora mexicana. A cena talvez não tenha acontecido como tal, mas a sequência retrata um episódio real: Diego e Frida casaram-se na casa de Modotti, com quem lutavam ombro a ombro no Partido Comunista Mexicano para resgatar o país através da arte e da justiça social.

As fotografias da artista italiana são verdadeiros postais do fervor revolucionário. Mas a mulher por trás da objetiva é ainda romantizada. Ao estilo do México a preto e branco – operário e pobre, com ruas boémias por onde deambulam artistas, amantes, artistas-amantes, militantes, comunistas todos. Um labirinto de cantinas escuras e decrépitas onde se pensava mudar o mundo com récitas de Lenine, Marx, Trotsky e Estaline entre tragos de tequila, murros e disparos para o ar.

Tina, então. 

Tina Modotti nasceu numa família de operários em Udine, Itália, em agosto de 1896. Em 1913, emigrou com os pais para São Francisco, na chamada “grande emigração italiana” para os Estados Unidos. Durante um ano, trabalhou numa fábrica de sedas, antes de se tornar modista.

Tina, 1924 (Edward Weston)Tina, 1924 (Edward Weston)Tina Modotti, ícone da fotografia da Revolução Mexicana Tina Modotti, ícone da fotografia da Revolução Mexicana

A arte sempre foi um fascínio. Em 1917, aos 21 anos, casou-se com o pintor Roubaix de l’Abrie Richey, que a lançou como atriz de filmes mudos em Hollywood. Tornou-se depois modelo de Edward Weston. O fotógrafo norte-americano deu-lhe as primeiras noções de fotografia.

O México surgiu na vida de Tina em 1922. Chegou para organizar uma exposição do marido, que morreu aos poucos meses, obrigando ao regresso apressado aos EUA. Um ano depois voltou, agora com o seu mentor Edward Weston. Fotografaram paisagens e gentes por todo o país. O trabalho daria origem ao livro “Idols behind altars”. O impacto da viagem em Tina foi brutal. Quando Weston voltou aos EUA, decidiu ficar. Para não voltar.

Eram tempos fervilhantes. Ao México, chegavam artistas de todo o mundo estimulados pela efervescência da Revolução. O país abria-se ao mundo, à renovação artística, ao protagonismo feminino e à valorização dos povos indígenas e dos camponeses. A jovem captou-lhes a energia. Com esta terra, dizia, tinha “uma relação elétrica”. “O país convida-me todos os dias a ser melhor amante, melhor discípula, melhor fotógrafa, melhor ser humano”, escreveu num documento reproduzido no documentário “Miradas sobre México – Tina Modotti” (parte 1 e parte 2).

Gradualmente, afastou-se da escola do seu mestre (e amante) Weston, e encontrou o seu lugar na arte. Ao contrário do fotógrafo norte-americano, interessado na forma e na estética, Tina focava a lente na vida dos trabalhadores, dos camponeses e dos bairros pobres. Nada disto lhe era alheio. Tina nasceu numa família pobre de obreiros. Ela mesma tinha trabalhado numa fábrica e participara “desde muito pequena em manifestações da classe operária na Itália”, recorda a escritora mexicana Elena Poniatowska, autora da biografia com pinceladas de ficção “Tinísima”.

Mas mais que um vago espelho de si mesma, a linha artística que adotou – “fotografias honestas, sem truques nem manipulações” – foi uma escolha bastante consciente. Escreveu: “Não posso resolver o problema da vida perdendo-me no problema da arte. No meu caso, a vida esforça-se constantemente por predominar, por isso a arte sofre naturalmente. Por arte, refiro-me à criação de todos os tipos. Não posso aceitar a vida como ela é, demasiado caótica, demasiado inconsciente. Essa é a minha resistência, a minha luta.”

“El Machete”

A estética limpa, simples e direta das fotografias de Tina eram compromisso e causa. No jornal “El Machete” encontrou o espaço perfeito para expressá-la. A publicação do Sindicato de Operários, Técnicos, Pinturas e Escultores, era dirigida por Diego Rivera, David Alfaro Siqueiros e pelo sindicalista e também muralista Xavier Guerrero, que se tornaria no companheiro de Tina após a partida de Edward Weston.

Quando se une em 1927 ao Partido Comunista Mexicano (PCM), a fotógrafa dá um giro de 180 graus ao jornal, descreve o historiador John Mraz. “Foi o primeiro momento de um fotojornalismo crítico no México, com fotografias muito fortes contra o sistema, como meninas pobres a carregar água, por exemplo. Antes, as únicas fotos que apareciam em ‘El Machete’ eram imagens desfocadas de líderes soviéticos e coisas do género. Tina teve muito mais espaço para publicar fotos bastantes grandes (…) e muito, muito críticas das promessas fracassadas da Revolução Mexicana”.

Tina Modotti, 1925 (Frances Toor)Tina Modotti, 1925 (Frances Toor)Também atrás da objetiva, o carisma e a personalidade forte de Tina ganhavam brilho. “Ela cativava imediatamente, prendia a tua atenção com o seu trato, a sua afabilidade, além de ser extraordinariamente atraente”, recorda a fotógrafa mexicana Lola Álvarez Bravo. A vida pessoal e a partidária fundiam-se numa só. Em pouco tempo, a sua casa tornou-se refúgio para exilados da América Latina e centro clandestino de reuniões do PCM. Diego Rivera, Frida Kahlo, José Clemente Orozco, Siqueiros, Anita Brenner, Nahui Olin ou Concha Michel eram presenças assíduas, amigos.

Entre as muitas causas que encarava, a luta campesina foi a mais constante na obra de Tina. Trabalhou como fotógrafa das Escolas Livres de Agricultura, criadas pelo líder independentista indiano Pandurang Khankhoje, na altura refugiado no México. Este projeto oferecia educação rural e consultas gratuitas a agricultores pobres, e ajudava-os a desenvolver culturas de milho, trigo e outros cultivos. “As mãos de um camponês a agarrar uma pá” ou “As mãos de uma lavadeira” são algumas das muitas fotografias-missão tiradas ao longo da sua vida, que a converteram num símbolo e síntese do movimento agrário da década de 20 do século XX, no México. 

Esta militância irrequieta e conhecimento profundo do país consolidaram-na como tradutora destacada da “essência mexicana” que a corrente pós-revolucionária “Renascimento Mexicano” tentava recuperar a partir das artes. Escreve Tina: “A fotografia é o meio satisfatório para registar a vida objetiva em todas as suas formas de aparência. De aí vem o seu valor documental. O resultado deve ser digno de ocupar um lugar dentro da produção social para a qual todos devemos contribuir”.

Tina Modotti, 1923 (Edward Weston)Tina Modotti, 1923 (Edward Weston)

Tina Modotti foi casada com o pintor e poeta Roubaix de l'Abrie Richey Tina Modotti foi casada com o pintor e poeta Roubaix de l'Abrie Richey

Para o pesquisador mexicano Caliz Manjarrez, esta postura é a chave que perpetua Tina Modotti no imaginário do país. Uma chave que abriu muitas portas. “Embora o estilo de Modotti seja identificado em qualquer parte do mundo, para o México é uma referência fundamental. Sem Tina Modotti, seria difícil entender a fotografia moderna e vanguardista, mas também o surgimento de fotógrafas como Eugenia Latapí, Lola Álvarez Bravo, Graciela Iturbide, Mariana Yampolsky, porque ela foi a ponta de lança daquelas primeiras mulheres do século XX que impulsionaram as gerações posteriores.”

“Ao seu lado pude enfrentar tudo”

Quando a fotógrafa italiana se tornou militante do PCM, em 1927, o México acolhia revolucionários de várias partes do mundo, em exílio. De Cuba também. 

Tina viu-o pela primeira vez numa manifestação na Cidade do México. “A eficácia misteriosa fazia que as pessoas depositassem nele a sua esperança”, descreveu. Julio Antonio Mella, assim se chamava o jovem dirigente cubano, fundador do Partido Comunista de Cuba, refugiado na capital mexicana. Esse homem mudaria para sempre a vida de Tina.

Num arrebato, corta com o companheiro, o dirigente sindicalista Xavier Guerrero, e entrega-se de corpo e alma a uma relação vertiginosa. “A minha vida entrou num turbilhão. Escolhi o perigo do lado comunista e partilhei a sua clandestinidade, as suas lutas. Acompanhava o Julio aos seus encontros e ouvia-o falar com fervor. Ao seu lado, pude enfrentar tudo”.

Tina Modotti foi atriz de cinema mudo nos EUA, 1920Tina Modotti foi atriz de cinema mudo nos EUA, 1920

Foram quatro meses intensos. “Instalamo-nos no dia, na vida. Um no outro, a pele encimada, a pele encontrada. Ele sempre me dizia: ‘Tina, temos a mesma superfície’. E eu ria. Mas eu pensava para mim, também temos o mesmo perímetro, a mesma boca, um só, atados”.

Um beijo no calor da luta é o melhor, dizem os poetas, mas também o mais perigoso. Esta história idílica seria mais uma a terminar abruptamente. Foi a 10 de janeiro de 1929. Dias antes, em Cuba, um jornal oficial acusara Julio Antonio de ter profanado a bandeira do país. “Estava demasiado consternado. Sabia bem que se tratava de uma manobra do [ditador Gerardo] Machado para ultrajá-lo e tirar-lhe credibilidade pública”, contou Tina.

Nesse dia, desciam a rua Morelos, no centro da Cidade do México, depois de um encontro político. “Demos a volta à esquerda na rua Abraham González quando, de repente, ouvimos dois disparos. Julio Antonio correu para o passeio, sem poder chegar, e caiu ferido”. O assassinato do revolucionário cubano abalou o México e estilhaçou a vida de Tina. 

Foi imediatamente detida. Por dias a fio, suportou longos e tendenciosos interrogatórios que queriam forçosamente carimbar o processo como um “crime passional”. Tina foi julgada em praça pública. Os jornais atiravam acusações indiscriminadas e expunham nus artísticos de Tina, chamando-lhes pornografia.

Mulher com Vasilha, Tina Modotti, 1927Mulher com Vasilha, Tina Modotti, 1927

Às duas semanas de prisão, novas provas e declarações desmontaram a teoria das autoridades. Por essa altura, Diego Rivera já tinha acusado publicamente a investigação policial de ter sido desviada, apontando o dedo a Havana pela morte de Mella. A 16 de janeiro de 1929, Tina Modoti foi totalmente ilibada e regressou a casa.

O velório de Mella na sede do PCM foi uma peregrinação. Num canto, Tina olhava o cortejo desde as sombras. “Assim como Julio, pensava, vão morrer todos. Os da Liga Anti-imperialista das Américas, os do Socorro Vermelho Internacional, os da Liga Nacional Camponesa, os da Federação Comunista do México. Todos condenados, os que aspiram a libertar-se da fome”.

No ano que se seguiu, Tina entrou em modo introspeção. Expôs a sua obra na Biblioteca Nacional do México e partiu numa longa viagem por Oaxaca, no sul do país, onde se reencontrou com a fotografia. No regresso à capital, entregou-se mais que nunca ao partido. “Converteu-se numa espécie de monja comunista”, disse Diego Rivera.

O perigo, no entanto, ainda não passara. Desde a morte de Julio que não deixava de ser assediada. O pior estava por vir. 

Exílios

A 5 de fevereiro de 1930, um atentado contra o presidente mexicano eleito Pascual Ortiz Rubio desatou uma caça às bruxas contra os comunistas. Nesses dias loucos, as instalações do PCM e de “El Machete” foram invadidas e inúmeros militantes encarcerados. Tina Modotti não escapou. Sem preâmbulos, deram-lhe 48 horas para abandonar o México.

Numa carta a Weston, descreveu o pesadelo. “Todo o tipo de provas, documentos, armas e coisas desse tipo foram encontrados na minha casa; ou seja, eu tinha tudo pronto para disparar a Ortiz Rubio. Só que, infelizmente, não calculei bem, e o outro tipo passou-me à frente [e atirou primeiro contra o presidente…]. Esta é a história que o povo mexicano engoliu ao pequeno-almoço. Então não podes culpá-lo por ter ficado aliviado ao saber que a feroz e sanguinária Tina Modotti finalmente deixaria definitivamente as costas mexicanas.”

A 22 de fevereiro de 1929, a fotógrafa é deportada para a Alemanha a bordo de “Edam”, um navio de carga holandês infestado de ratos. Acompanhava-a o dirigente comunista italiano Vittorio Vidali. Antes de deixar o México, deixou o seu acervo de pouco mais de 400 fotos ao também fotógrafo e mexicano Manuel Álvarez Bravo. 

Longe do México, pouco a pouco Tina assumiu de novo a linha da frente. Em Itália, fintou a polícia fascista; em Berlim, viveu praticamente na indigência até conseguir integrar a União de Fotógrafos e publicar trabalhos na revista Der Arbeiter-Fotograf. 

Em 1930, instalou-se com Vidali em Moscovo. Conta-se que deixou de fotografar, porque não queria que o seu trabalho fosse usado como propaganda soviética. Dedicou-se ao dia-a-dia do partido e cumpriu missões na Polónia, Roménia e Hungria. “Ela estava sempre disposta a fazer o que ninguém queria: varrer os escritórios, ir até aos lugares mais remotos, passar noites sem dormir a escrever cartas ou a traduzir artigos”, descreveu Pablo Neruda. 

Tina Modotti é considerada a pioneira do fotojornalismo crítico e político do México Tina Modotti é considerada a pioneira do fotojornalismo crítico e político do México Em 1934, mudou-se para Espanha com o pseudónimo de María del Carmen Ruiz Sánchez. Com o rebentar da guerra civil, alistou-se no Quinto Regimento, que deixaria para se tornar espia. Durante o conflito espanhol, foi enfermeira nos hospitais do Socorro Vermelho e uma das cuidadoras de confiança de Dolores Ibárruri Gómez, a mítica “Pasionaria”, quando esta padeceu de hepatite. Ajudou, ainda, a montar um hospital de tuberculosos do governo republicano, colaborou com as Brigadas Internacionais e apoiou soldados a cruzar a fronteira francesa.

Com a vitória de Franco, Tina fugiu para França, e dali para os Estados Unidos, que lhe negaram o desembarque. Conseguiu uma nova identidade falsa (Maria, uma professora viúva) e rumou a sul, para o México, onde ainda era persona non grata – só em 1940, o presidente Lázaro Cárdenas derrogaria a ordem de expulsão de Tina Modotti do país, emitida dez anos antes. 

Em plena Segunda Guerra Mundial, continuou o ativismo político a partir do México, agora integrada na Aliança Antifascista Giuseppe Garibaldi. Trabalhou também com exilados espanhóis. Apesar da força bruta que nela havia, o semblante, dizem, era diferente. A alegria e vitalidade tinham-se esvaído. Pouco saía de casa, o círculo de amigos de antes desfizera-se; outros tinham sido cancelados pelo partido, como Frida e Diego, acusados de traição por terem acolhido Trostky. Vivia agora com Vidali, conhecido pela brutalidade durante a Guerra Civil Espanhola. “Odeio-o com toda a minha alma, mas tenho de o seguir até à minha morte”, disse certa vez. 

Tina com a Juventude Comunista Mexicana, 1928 Tina com a Juventude Comunista Mexicana, 1928

Tina Modotti e Frida Khalo, 1926Tina Modotti e Frida Khalo, 1926

O final foi solitário. Na madrugada de 5 para 6 de Janeiro de 1942, quando regressava a casa de um jantar, Tina faleceu repentinamente no táxi. Diego Rivera ainda levantou a suspeita de uma purga anticomunista em marcha, liderada por Vidali (o mesmo Vidali que fugiu um dia depois da morte de Tina com medo de ser preso, e sobre quem se desconfiava estar envolvido no assassinato de Julio Antonio Mella), mas a autópsia desfez as dúvidas. Aos 46 anos, Modotti faleceu de um ataque cardíaco.

Na sua lápide, o poema de Pablo Neruda, “Tina Modotti morreu”.

“Tina Modotti, irmã, não dormes, não, não dormes:
talvez o teu coração ouça crescer a rosa 

de ontem, a nova rosa.

Descansa docemente, irmã.

 

A nova rosa é tua, a terra é tua:

puseste um novo traje de semente profunda

e o teu suave silêncio se enche de raízes.

Não dormirás em vão, irmã.

 

Puro é o teu doce nome, pura é a tua frágil vida:

de abelha, sombra, fogo, neve, silêncio, espuma:

De aço, linha, pólen, se construiu a tua férrea,

A tua delgada estrutura.

 

O chacal à joia do teu corpo adormecido

ainda assoma a pena e a alma ensanguentada

como se tu pudesses, irmã, levantar-te,

sorrindo sobre a lama.

 

À minha pátria te levo para que não te toquem,

à minha pátria de neve para que à tua pureza

não chegue o assassino, nem o chacal, nem o vendido:

Ali estarás tranquila.

 

Ouves um passo, um passo cheio de passos, algo

grande desde a estepe, desde o Dom, desde o frio?

Ouves um passo de soldado firme na neve?

Irmã, são os teus passos.

 

Já passarão um dia pela tua pequena sepultura

antes de que as rosas de ontem se estraguem,

já passarão um dia, amanhã,

Onde arde o teu silêncio.

 

Um mundo marcha ao sítio onde tu ias, irmã,

avança cada dia os cantos da tua boca

na boca do povo glorioso que tu amavas.

O teu coração era valente.

Nas velhas cozinhas da tua pátria, nas rotas

empoeiradas, algo se diz e passa,

algo volta à chama do teu dourado povoado,

algo desperta e canta.

 

São os teus, irmã; os que hoje dizem o teu nome,

os que de todas as partes, da água, da terra,

com o teu nome outros nomes calamos e dizemos,

porque o Fogo não morre.

Desfile de Mulheres, Tina Modotti, 1926Desfile de Mulheres, Tina Modotti, 1926Caponeses a ler, Tina Modotti, 1929  Caponeses a ler, Tina Modotti, 1929 Foice, cinta de cartuxo e espiga, Tina Modotti, 1928 (Coleção Manuel Álvarez Bravo)Foice, cinta de cartuxo e espiga, Tina Modotti, 1928 (Coleção Manuel Álvarez Bravo)Marcha dos Trabalhadores, Tina Modotti, 1926Marcha dos Trabalhadores, Tina Modotti, 1926Mulher com bandeira, uma das fotos mais icónicas de Tina Modotti Mulher com bandeira, uma das fotos mais icónicas de Tina Modotti Mulher com bebé em Tehuantepec, Tina ModottiMulher com bebé em Tehuantepec, Tina Modotti

por Pedro Cardoso
Vou lá visitar | 6 Dezembro 2024 | México, Tina Modotti